Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

terça-feira, 28 de janeiro de 2020

Todas as glórias a Srila Prabhupada!!!
 
Reverências.


 
 O que as escrituras falam sobre Srila Prabhupada
(postado ontem no fecebook por: Rocan Krishna Das)
O Brahma-vaivarta Purana, uma antiga escritura, descreve uma conversa que aconteceu em Dwaraka entre o Senhor Sri Krishna e Ganga devi. Falando em nome de todos os rios sagrados, Ganga Devi expressou todo o seu temor com a chegada da Kali yuga (a Era das desavenças) e a eminente partida do Senhor de volta ao mundo espiritual.
Ela disse: “Ó Senhor, podemos ver que Seus passatempos estão para terminar e que as pessoas estão ficando cada vez mais e mais materialistas. O Senhor tem sido muito misericordioso para conosco, no entanto, após Sua partida, todos os pecadores de Kali yuga virão se banhar em nossas águas e secaremos, tomadas pelas reações pecaminosas”.
Sorrindo, o Senhor Krishna respondeu: “Tenha paciência, daqui a cinco mil anos o Meu "Mantra upasaka" (adorador do santo nome) vai aparecer neste mundo e difundir o canto do Meu santo nome em toda parte. Não apenas em Bharata-varsa (Índia), mas em todo o mundo as pessoas cantarão: HARE KRISHNA HARE KRISHNA KRISHNA KRISHNA HARE HARE / HARE RAMA HARE RAMA RAMA RAMA HARE HARE. Através desse canto o mundo inteiro vai se tornar Hari-bhakta, devoto do Senhor Hari (Krishna ou Deus). E porque os devotos do Senhor Hari são muito puros, todos aqueles que tiverem contato com esses devotos irão se purificar das reações pecaminosas. Esses devotos puros virão visitar Bharata-varsa e purificá-la de todas as reações pecaminosas ao se banharem em suas águas sagradas. Esse período de se cantar HARE KRISHNA no mundo inteiro vai durar dez mil anos”.
Esse mantra-upasaka é Srila Prabhupada. Ele próprio dizia freqüentemente que haveria um período de dez mil anos, uma era dourada, dentro de Kali-yuga, quando todo o mundo seria consciente de Krishna. 
Em outro livro, chamado Chaitanya-mangala, está dito que Narada Muni, enquanto visitava o mundo espiritual, chegou até o Senhor Gouranga. O Senhor lhe contou de Sua missão para destruir as atividades pecaminosas da era de Kali: “Com o machado poderoso do nama-sankirtana (o canto congregacional dos santos nomes de Deus), Eu vou cortar os duros nós dos desejos demoníacos dos corações de todos. Mesmo se os pecadores rejeitarem a religião ou fugirem para países estrangeiros, ainda assim eles vão obter a Minha misericórdia. Eu mandarei Meu Mor-senapati-bhakta para lá e dessa maneira vou liberá-los”.
Mor significa “Meu”, senapati significa “comandante geral” e bhakta, “devoto”. Mor-senapati-bhakta refere-se, assim, ao devoto que vai liderar o exército do Senhor Chaitanya ou, em outras palavras, o devoto a quem o Senhor Chaitanya vai dotar de poder para difundir a consciência de Krishna em todo o mundo. Esse comandante do exército de sankirtana é SrilaPrabhupada.
Os sastras (escrituras sagradas) revelam a posição extraordinária de Srila Prabhupada como o Acharya (aquele que ensina através do próprio exemplo) para a era dourada. 
Durante milhares de anos foram feitos preparativos para a chegada de Srila Prabhupada. O próprio Senhor Chaitanya teve um papel importante, arrumando e ajustando tudo, e os Acharya anteriores estiveram todos muito ocupados à medida que se aproximava a chegada de Srila Prabhupada. 
Há uma analogia que explica, resumidamente, a posição de Srila Prabhupada, usando-se o exemplo do arco e flexa: as quatro curvaturas do arco representam as quatro sampradaya Vaishnavas e Sri Chaitanya Mahaprabhu é a corda que as une. Sem a corda o arco fica inútil. O Senhor Chaitanya veio e esticou a corda. Por fim, era necessária uma flecha, junto com a mira apropriada para atirá-la. De um modo geral, uma flecha tem penas em suas extremidades, que ajudam a direcioná-la. Neste caso, os seis Goswami representam as penas. A haste da flecha é a Gaudiya Matha, com seus 64 templos estabelecidos por Srila Bhaktisidhanta Sarasvati Maharaja. O último elemento é a ponta afiada. Essa ponta é Om Vishnupada Paramahamsa Parivrajakacharya Asttotara-sata Sri Srimad Abhay Charanaravindam Bhaktivedanta Swami Prabhupada. Essa é parte da flecha que perfura o alvo e alcança a meta. Essa meta são todas as vilas e cidades. Srila Prabhupada fundou a ISKCON (International Society for Krishna Counciousness). Ele fez o trabalho de base, é o fundador-acharya e devemos compreender essa sua posição. Alguns ou talvez todos os problemas que surgiram em nosso movimento depois que Srila Prabhupada partiu têm sua origem em não compreendermos corretamente essa posição do fundador-acharya. 
Uma escritura da Sri-sampradaya chamada Prapannamata Tapana explica que um fundador Acharya é conhecido por cinco sintomas:
Primeiro, ele é udarikah, que quer dizer que ele é o salvador de todos. O Prapannamata Tapana continua e explica que aqueles que aparecerem após o fundador Acharya na sucessão discipular, que agem como mestres espirituais são uparika, seus ajudantes. Eles nunca devem ser igualados ao fundador-acharya, mesmo após centenas de gerações.
Segundo, ele é dinabhayah. Dinah quer dizer “muito caído”, e abhaya quer dizer “destemido”. O fundador Acharya remove o medo de todas as almas caídas através de seus ensinamentos, cuja natureza é fazer com que todos, em toda a parte, que se abrigarem nele serão destemidos.
Terceiro, ele dá significado às escrituras realçando o Siddhanta vaishnava, tais como o Bhagavad-gita e o Srimad Bhagavatam, e os torna disponíveis no mundo na forma de maha-granta, ou grandes livros.
Quarto, ele também dá significados às canções dos Acharya Vaishnavas.
Quinto, seu nome fica identificado com a filosofia do próprio Senhor Vishnu.
A posição de Srila Prabhupada como fundador Acharya da ISKCON corresponde 
exatamente à essa antiga definição de fundador Acharya. Estabelecer uma relação com um mestre espiritual na linha de Srila Prabhupada significa, antes de tudo, estabelecer uma relação com Prabhupada como fundador Acharya. No mundo de hoje, especialmente na Índia, o título de yuga Acharya é disputado por muitos. Yuga Acharya quer dizer o “Acharya para esta era”. Naturalmente, parece que se aplica bem a Srila Prabhupada. No entanto, se considerarmos o futuro brilhante que espera o movimento para a consciência de Krishna, de acordo com as predições das escrituras, devemos ver o título de fundador Acharya da ISKCON como o mais apropriado para Srila Prabhupada. A era atual é apenas o começo para a ISKCON. A sociedade tem apenas 30 anos de idade, e o nosso universo da ISKCON não é tão vasto, mas na medida em que a ISKCON continuar crescendo nas próximas centenas e milhares de anos e o movimento de sankirtana alcançar todas as vilas e cidades, a fama de Srila Prabhupada como fundador Acharya da ISKCON vai prevalecer por todo o mundo. Os Vaishnavas são famosos como para-duhkha-duhkhi. À medida que a pregação aumentar, a fama de Srila Prabhupada vai aumentar ilimitadamente.  
(Por S. S. Lokanatha Swami)
   
"Ao se realizar o canto congregacional do mantra Hare Krishna, pode-se destruir a condição pecaminosa da existência material, purificar o coração impuro e despertar todas as variedades de serviço devocional."
 

[Não está incluída a mensagem original completa.]

terça-feira, 12 de abril de 2011

Um Convite ao Heroísmo Espiritual - A Call to Spiritual Heroism

ginalmente publicado em Back to Godhead [Volta ao Supremo], revista fundada por Sua Divina Graça Srila Prabhupada no ano de 1944



Artigo referente à edição do bimestre de setembro/outubro de 2008



Um Convite ao Heroísmo Espiritual

A Call to Spiritual Heroism



por Caitanya Carana Dasa



O Ramayana é uma antiga saga Védica de ação, romance, sabedoria e aventura, uma saga que inspirou grande parte da população mundial por milênios; uma saga que descreve um passado em que seres com poderes celestiais - tanto divinos quanto demoníacos - interagiam em nosso reino terrestre; uma saga com a batalha entre o bem e o mal, uma saga na qual Deus advém e ensina virtude, retidão e espiritualidade por meio de Seu sólido exemplo pessoal.



A despeito da antiguidade histórica do Ramayana, seu enredo é similar ao de um filme típico: ele traz um herói, uma heroína e um vilão que deseja a heroína, e narra um empolgante confronto entre o herói e o vilão, confronto este que culmina na morte do vilão e na reunião do herói com a heroína. Mas há uma diferença vital entre o Ramayana e um filme moderno: em um filme, o herói, a heroína e o vilão são todos, na verdade, vilões.



Por quê? Muitos pensam em um vilão como alguém que desfruta através da exploração e da injúria de outros. Embora não incorreta, tal concepção de mal é incompleta e ingênua visto que ignora uma realidade fundamental: nosso pai amável e supremamente responsável, Deus. Muitos de nós jamais tivemos a educação espiritual necessária para entender que é Deus quem abnegadamente nos provê nossa alimentação diária. É verdade que temos que trabalhar para sobrevivermos, mas nosso esforço é secundário. É como o árduo trabalho dos pássaros buscando por grãos: Sem Deus provendo os grãos através da natureza, a busca deles, independente de o quanto minuciosa, seria infrutífera. Similarmente, sem a criação de Deus do milagroso mecanismo da fotossíntese, que transforma "lama em mangas" (uma proeza muito superior ao que fazem os melhores cientistas e computadores de última geração) e nos permite ter acesso a algum alimento, não haveria qualquer relevância para o quanto nos esforçássemos. Todas as nossas necessidades – calor, luz, ar, água, saúde – são similarmente satisfeitas primeiramente por arranjo divino e secundariamente por empenho humano.



Infelizmente, nossas mídia, cultura e educação nos ocupam com tantos atrativos materialistas que ficamos cegos ao fato de nossa dependência de Deus e de nossos deveres para com Ele. Temor a Deus é o começo da sabedoria, assim como o medo saudável de um pai amável é necessário para que uma criança inquieta e levada se torne disciplinada e responsável. E amor a Deus é a culminação da sabedoria, assim como gratidão e amor por um pai benevolente demonstra a maturidade de um filho crescido.



Lamentavelmente, os formadores de opinião de nossa sociedade nem amam a Deus nem O temem, senão que exaltam o materialismo egoísta e ímpio. Consequentemente, nos dias atuais, muitas pessoas são extremamente egoístas em sua relação com Deus. Elas não dedicam sequer alguns instantes à pessoa que lhes deu a própria vida. Em uma família, se um filho não cuida de seu pai, que é sua conexão com seus irmãos, ele logo deixará de se importar com eles também. De fato, ele talvez até mesmo se torne mal disposto com eles porque eles serão seus competidores na obtenção da herança. De maneira similar, egoísmo para com Deus é a origem de todo o mal. Todos nós plantamos essa semente maligna em nossos próprios corações e agora estamos forçosamente tendo de nos alimentar de seus frutos amargos – terrorismo, corrupção, crime, exploração – tudo isso produto de nossa luta entre nós mesmos pelo domínio sob os recursos do mundo, a herança de Deus para nós.



Heróis Divinos



O Ramayana nos brinda com um vislumbre de heroísmo e vilania, de amor desmotivado e de luxúria egoísta. O Senhor Rama e Sua consorte, Sita, são os eternos herói e heroína. Hanuman, o herói religioso, personifica a tendência de desinteressadamente assistir ao Senhor em Seu amor divino; ao passo que Ravana, o irreligioso vilão, personifica a tendência egoísta de nos assenhorearmos da propriedade do Senhor para a nossa própria satisfação luxuriosa. O piedoso herói aspira desfrutar com Deus, enquanto que o impiedoso vilão deseja desfrutar como Deus.



Entretanto, em um filme típico, todos os personagens principais – o herói, a heroína e o vilão – têm a mesma mentalidade nociva de querer desfrutar sem se importar com Deus. No herói e na heroína, as vestes de romance mascaram essa disposição mental, enquanto que o vilão a expressa sem reservas. Mas todos eles são Ravanas, a diferença estando apenas nas tonalidades de cinza.



Nosso empenho egoísta em imitar heróis e heroínas, quer em filmes quer na vida real, é intrinsecamente maléfico, e serve de combustível para todos os males maiores que tememos. Em última instância, nosso mal retorna para nós tal qual um bumerangue, pois ele perpetua a ilusão de nossa identificação corpórea equivocada, e nosso corpo nos sujeita às torturas da velhice, da doença, da morte e do renascimento – mais uma vez, mais uma vez e mais uma vez.



É claro que não temos que sufocar nosso impulso natural de querermos ser especiais. Como Hanuman, todos nós também podemos ser heróis – a serviço do herói supremo. Infelizmente, nossa sociedade apresenta a tendência Ravânica como heróica e a propensão Hanumânica como ultrapassada.



Uma Lição de Esperança



O Ramayana revela que Ravana, apesar de sua extraordinária propensão, nunca estava satisfeito, mas antes sempre ávido por mais. Não é essa a condição de nossa civilização moderna? Todo o poderio e riqueza de Ravana não puderam nem lhe dar felicidade nem salvá-lo da destruição final. A derrota final de Ravana nos lembra do destino que aguarda a nossa sociedade se ela continuar com seu egoísmo ateu.



Contudo, a queda de Ravana não é apenas um aviso apocalíptico; é também um arauto de esperança e felicidade, porque nos ensina que o Senhor é competente na destruição do mal tanto interior como exterior. O mesmo Senhor Rama que destruiu Ravana há milênios apareceu agora como Seu santo nome para destruir o Ravana no íntimo do coração das pessoas. O santo nome nos oferece felicidade verdadeira, não por meio da imitação de Deus, mas por meio do amor a Deus; não nos tornando heróis de imitação, mas nos tornando heróis-servos.

 

Tradução por Bhagavan dasa (DvS) –






sexta-feira, 18 de março de 2011

Gaura-Purnima - Trecho da obra Um Diário Transcendental, de Sua Graça Hari-Sauri Prabhu.

Trecho da obra Um Diário Transcendental, de Sua Graça Hari-Sauri Prabhu. Em breve disponível para compra em http://www.sankirtana.com.br/

Gaura-Purnima


Mayapur, Índia

16 de março de 1976

Gaura-Purnima, o dia do aparecimento de Sri Caitanya Mahaprabhu. Todos jejuaram até o nascer da lua e então comeram um banquete de Ekadasi, embora Prabhupada tenha dito que isso não era compulsório.
* * *
Prabhupada se manteve em sua programação regular, caminhando primeiramente na cobertura e então descendo para caminhar pelos campos.
A atenção de Prabhupada a todo detalhe não é algo pouco impressionante. Tão logo ele saiu para a cobertura ao ar fresco da manhã, ele notou uma lota deixada ao lado de algumas plantas de Tulasi recentemente regadas. Nenhum de nós pensou algo sobre aquilo, mas o rosto de Prabhupada logo revelou descontentamento. Ele pediu a um dos devotos que verificasse se havia uma lota no banheiro.
“Não, Srila Prabhupada”, foi a resposta.
Prabhupada balançou sua cabeça. Ele reconheceu a lota como sendo uma que ele vinha usando. “Vejam quão aparadhi, ofensores. Eles usaram essa lota para regar. Grandes ofensores. Isso prossegue, mlecchas e yavanas”. O pensamento do uso de um receptáculo contaminado para se regar Srimati Tulasi Devi era-lhe abominável, e ele nos alertou a garantirmos que isso não aconteça novamente no futuro. “Aquele que usou isso, ele não tem nenhum senso de como regar a Tulasi. Ele deve ser instruído: ‘Nunca use a lota do banheiro’.”.
Foi ainda outra indicação de nossa falta de consciência de Krsna. Obviamente, alguns de nós ainda pensamos em Tulasi Devi como uma mera planta, mas Prabhupada é plenamente consciente da elevada posição dela.
Durante a caminhada, Srila Prabhupada falou continuamente, ocupando todos em debate, desafiando e expondo os defeitos na filosofia dos comunistas e dos cientistas, e treinando seus homens a como apresentarem a consciência de Krsna como o sistema mais grandioso.


Ele parecia mais enlevado do que o usual, obviamente vigorado pela presença de seus principais pregadores. Ele conversou por toda a caminhada, particularmente sobre o ponto da liderança na sociedade humana. Se mudanças são necessárias, ou uma revolução contínua, como dizem os comunistas, então isso significa imperfeição nos líderes. Nós, todavia, temos o mesmo líder, Krsna, há milhões de anos, sem nenhuma necessidade de troca.


Então, em outro incidente, ele demonstrou sua preocupação sempre atenta ao bem de nossas vidas espirituais. Rodeado por seus sannyasis e GBCs, ele desceu a escadaria central até o primeiro andar. Ele então viu uma mulher aguardando para subir ao segundo andar. Ele parou e lhe perguntou o que ela estava fazendo.
Ela disse que tinha de ir ver Hridayananda Goswami.
Prabhupada ficou muito aflito com aquilo, e me enviou para buscar Hridayananda Maharaja.
Quando ele veio, Prabhupada exigiu saber o motivo para ele receber a visita de uma mulher em sua sala. Com todos ao redor, Prabhupada o repreendeu dizendo que um sannyasi não deveria sequer falar com uma mulher. Hridayananda explicou que se tratava de um mal-entendido. Ela, na verdade, estava vindo com seu esposo para discutir a iniciação dela.
“Isso pode ser”, Srila Prabhupada disse, “mas tenho que responder como compreendi”.

Foi uma lição salutar no sentido de quão cuidadoso alguém deve ser para proteger a própria vida espiritual.


* * *

De algum modo, como se por arranjo divino, o verso do Srimad-Bhagavatam 7.9.38 era uma referência precisa ao aparecimento do Senhor Caitanya. Não foi planejado, visto que Srila Prabhupada vinha palestrando sobre os versos em ordem desde a metade de fevereiro. Ainda assim, foi precisamente apropriado. Pusta Krsna leu com a voz bem alta a tradução para a apinhada assembléia. “Desta maneira, meu Senhor, Você apareceu em diferentes encarnações, como seres humanos, como animais, como uma pessoa imensamente santa, como semideuses e como um peixe e uma tartaruga. Desta maneira, Você mantém toda a criação em diferentes sistemas planetários e mata os princípios demoníacos em toda era. Meu Senhor, Você, portanto, protege os princípios da religião. Na era de Kali, Você não Se impõe como a Suprema Personalidade de Deus. Você, portanto, é conhecido como Tri-yuga, ou o Senhor que aparece em três yugas”.

Srila Prabhupada deu uma longa palestra, revelando o propósito do advento do Senhor Caitanya aqui em Sri Mayapur Dhama, há 490 anos. Ele explicou que o misterioso advento do Senhor pode ser compreendido somente pela misericórdia de grandes devotos, como Srila Rupa Gosvami. “Caitanya Mahaprabhu é descrito aqui como channah kalau. Em Kali-yuga, Ele não aparece como outras encarnações, não como Nrsimhadeva ou Vamanadeva, ou o Senhor Ramacandra. Ele aparece como um devoto. Por quê?”.

“Agora, este é o avatara mais magnânimo. As pessoas são tão tolas, elas não podem compreender Krsna. Quando Krsna diz: sarva-dharman parityajya mam ekam saranam [abandone tudo e renda-se a Mim], elas entendem assim: ‘Quem é essa pessoa ordenando desta forma, sarva-dharman parityajya? Qual o direito?”.
“Essa é a nossa doença material. Se alguém é ordenado a fazer algo, ele protesta: ‘Quem é você para me dar uma ordem?’. Essa é a posição. Deus pessoalmente, Krsna, o que Ele pode dizer? Ele ordena, a Pessoa Suprema, o Ser Supremo. Ele tem que ordenar. Ele é o Controlador Supremo. Esse é Deus. Mas somos tão tolos que, quando Deus ordena que ‘Você, faça isso’, tomamos isso de outra forma: ‘Ah, quem é esse homem? Ele está ordenando dessa maneira. Por que devo Lhe dar?’. ‘Eu criei tantos dharmas, ‘ismos’. Devo abandoná-los? Por que eu deveria abandoná-los?’. Por conta disso, o mesmo Senhor veio novamente como Caitanya Mahaprabhu”.
“Hoje é o dia do aparecimento de Caitanya Mahaprabhu, então devemos discutir isto muito meticulosamente, [o modo com] que Rupa Gosvami compreendeu isso. Assim, temos que ir através do guru. Rupa Gosvami é o nosso guru. Narottama dasa Thakura disse: rupa-raghunatha-pade, hoibe akuti, kabe hama bujhabo, se yugala-piriti. Se queremos entender a posição transcendental da Suprema Personalidade de Deus, então temos que ir através do sistema de guru-parampara. De outro modo, isso não é possível.
“Assim, Ele é channah-avatara. Ele é Krsna, Ele veio dar a vocês Krsna-prema [amor a Deus], mas Ele está agindo como um devoto de Krsna. Ele é encoberto. Ele não está comandando agora: ‘Você, faça isso’; sim, Ele está comandando: ‘Faça isso’, mas de uma maneira diferente”.
“Como as pessoas compreenderam errado: ‘Ah, quem é essa pessoa comandando?’. Até mesmo alguns patifes, pretensos eruditos, eles dizem: ‘É muito para se exigir’. Ele comentam assim. Sim, pessoas sofisticadas, elas estão pensando assim. Mas o nosso processo é submeter-se. A não ser que nos submetamos, não há chance de avanço na consciência de Krsna. Esse é o ensinamento de Caitanya Mahaprabhu: trnad api sunicena taror api sahisnuna/ amanina manadena kirtaniyah sada harih. Se você quer cantar o mantra Hare Krsna, então você tem que adotar este princípio: trnad api sunicena. Você tem que se tornar mais humilde do que a grama. A grama, ela está pela rua. Todos a estão pisoteando. Nunca protesta”.
“Taror api sahisnuna. E mais tolerante do que uma árvore. A árvore está nos dando muita ajuda. Ela está nos dando frutas, flores, folhas, e, quando há um calor escaldante, abrigo também. Sente-se em baixo dela. Tão benéfico – ainda assim, nós cortamos. Tão logo eu queira, eu corto. Mas não há protesto algum. A árvore não diz: ‘Eu lhe dei tanta ajuda, e você está me cortando?’. Não. Tolerante, sim. Portanto, Caitanya Mahaprabhu selecionou”.
“E amanina manadena. Para si mesmo, ninguém deve esperar nenhuma posição respeitosa, mas ele, o devoto, deve oferecer todo o respeito a todos. Amanina manadena kirtaniyah sada harih. Se adquirimos essa qualificação, então podemos cantar o maha-mantra Hare Krsna sem qualquer inquietação. Esta é a qualificação. Então, Caitanya Mahaprabhu veio ensinar estes princípios”.
* * *
Na metade da manhã, Prabhupada falou novamente; desta vez, em uma grandiosa cerimônia de iniciação e yajna de fogo. Ele concedeu sannyasa a sete homens, brahmana a quinze devotos, e iniciação hari-nama a outros vinte e cinco. Os devotos haviam decorado belamente toda a sala do templo com bandeiras, festões e bananeiras. A vyasasana de Prabhupada tinha uma abundante coleção de flores penduradas de sua sombrinha.

Um corredor central foi deixado vazio de Prabhupada à sala da Deidade no outro extremo do templo. De ambos os lados, os novos iniciados sentaram-se diante dele, cada um atrás de um prato de folha contendo alguns grãos e uma banana a serem oferecidos no fogo. Atrás deles, mais de quinhentos devotos abarrotavam-se como podiam, ávidos por assistir à cerimônia.

Srila Prabhupada descreveu a iniciação de brahmana como o meio para se elevar a pessoa à mais elevada posição na sociedade. Não se trata de algo dependente de nascimento, mas de qualificação, e isso culmina em sannyasa. “Caitanya Mahaprabhu também queria introduzir este sistema. Kiba sudra, kiba vipra, nyasi kene naya, yei krsna-tattva-vetta sei 'guru' haya. Ele nunca aceitou isso, que, por nascimento... não. Quer ele seja brahmana ou sudra, por casta ou por nascimento; quer ele seja grhastha ou sannyasi – isso não importa. Ele pode tornar-se guru. Como? Yei krsna tattva vetta. Aquele que conhece os princípios da consciência de Krsna, aquele que compreende Krsna, ele pode tornar-se guru”.

“Assim, guru é o posto dado aos sannyasis, aos brahmanas. Sem se tornar brahmana, ninguém pode tornar-se sannyasi, e cabe ao sannyasi ser o guru tanto de todos os asramas quanto de todos os varnas”.

“Assim, trabalho de pregação... Precisamos de muitíssimos sannyasis. As pessoas estão sofrendo por todo o mundo por falta de consciência de Krsna. Meu Guru Maharaja costumava dizer que não há escassez alguma, isso é falsa propaganda. A única escassez é que não há consciência de Krsna. Essa é a dificuldade. Na verdade, esse é o fato...”.

“Todo aquele que saiba a ciência de Krsna, ele pode disseminar este movimento da consciência de Krsna. E há grande necessidade, grande necessidade. E o trabalho de pregação destina-se aos sannyasis. Assim, temos alguns sannyasis que estão fazendo isso muito bem; hoje, portanto, faremos mais um número de sannyasis para disseminarem a consciência de Krsna por todo o mundo. E aqueles que irão receber sannyasa, eles devem se lembrar de quanta responsabilidade têm. Vivam como sannyasis muito estritos”.



Notando a juventude dos candidatos a sannyasa (todos, exceto Hamsaduta, têm cerca de vinte e cinco anos) e o fato de que todos são do ocidente (Prabhupada decidiu não conceder sannyasa a Tatpur dasa este ano após o levantamento de muitas dúvidas por parte dos outros em relação à sua maturidade), Prabhupada os encorajou a levarem o movimento adiante: “O próprio Caitanya Mahaprabhu tomou sannyasa com a idade de vinte e quatro anos. Então, não é que, na velhice, a pessoa tem que tomar sannyasa. Isso não está no sastra. Do asrama de brahmacari, a pessoa pode entrar no asrama de grhastha ou no asrama de vanaprastha ou no asrama de sannyasa, como ele considerar apropriado. Não há tais regras e regulações de que somente um idoso sem qualquer energia, ele aceitará sannyasa. Não. Ao contrário, o homem jovem... Assim como Caitanya Mahaprabhu fez pessoalmente. Ele tinha uma bela esposa, uma jovem esposa, dezesseis anos. Em casa, uma mãe muitíssimos afetuosa, e Sua posição era muito grandiosa. Quando jovem, Ele juntou centenas de milhares de homens por meio de Sua mera ordem para fazerem um movimento de desobediência civil contra o Qazi, nesta terra. Assim, o movimento de desobediência civil começou com Caitanya Mahaprabhu, por uma boa causa”.

“Assim, há muitíssimas coisas. Eu apelo especialmente aos nativos desta terra a tomarem parte neste movimento de Caitanya Mahaprabhu para o benefício do mundo. E estamos tentando construir um templo muito atrativo aqui. Deixemos que eles cooperem. Não importa se ele é hindu, muçulmano. Caitanya Mahaprabhu é para todos”.

Hamsaduta, Ramesvara, Adi Kesava, Dhrstadyumna, Pramana, Satadhanya e Jagat Guru estavam refulgentes em seus novos lungi e uttariyah açafrões. Um a um, eles prostraram-se perante Srila Prabhupada e receberam das mãos de Sua Divina Graça a tridanda, a qual simbolizará seu completo comprometimento com uma vida de renúncia. Então, cada um daqueles recebendo a primeira iniciação foi à frente para receber um novo nome espiritual e um jogo de contas. Finalmente, o fogo sagrado foi aceso e os mantras cantados, levando a cerimônia a uma conclusão altamente exitosa.

* * *

A frequência de visitas ao nosso templo em razão do dia do Gaura Purnima foi fenomenal. A estimativa do número de peregrinos adentrando o portão principal varia de 9.000 a 25.000 por hora, a depender do horário do dia. O fluxo continuou intenso por mais de sete horas.

A maior parte dos visitantes viu tanto a exposição de fotos como o templo. A rua do portão principal do templo estava tão superlotada que se tornou quase impossível andar. A polícia local relatou que as pessoas estavam vindo de toda a Bengala simplesmente para ver o nosso templo da ISKCON.

Muitos devotos venderam cópias do Gitar-gana, e uma distribuição em massa de halava prasada prosseguiu ao longo do dia.

Prabhupada estava extremamente satisfeito com o comparecimento. Antes do nosso templo da ISKCON ser estabelecido aqui, apenas poucas centenas de pessoas iriam se aventurar até este lado do rio no dia de Gaura Purnima. Ninguém viria após o cair da noite. Agora, dentro de meros três anos, o Sri Mayapur Candrodaya Mandir tornou-se a principal atração, não apenas do distrito local, mas de toda a Bengala. Isto atraiu a atenção de centenas de milhares de pessoas para o local sagrado do nascimento e das atividades do Senhor Caitanya.

* * *

No começo da tarde, Tamal Krishna Maharaja trouxe o grupo Radha Damodara para um darsana especial com Srila Prabhupada. O Radha Damodara tem mais de cem homens trabalhando, sendo seis ônibus em estilo galgo, vinte e cinco homens sob a direção de Tripurari Swami trabalhando em seis aeroportos, e outros dez homens atualmente adaptando outros dois ônibus.

Mais de setenta ávidos rapazes, a maioria deles por volta dos vinte ou vinte e cinco anos, encheram a sala e amontoaram-se nas portas. Eles deram a Prabhupada uma grande doação de cheques de viagem, e ele os encorajou a continuarem seu trabalho de distribuição de livros e levantamento de fundos.

Ele os cumprimentou por seus esforços e lhes mostrou os planos para o futuro desenvolvimento de Mayapur. Encorajando-os a coletarem mais e mais fundos para a construção de Mayapur, ele lhes disse: “Assim, vocês são os pilares deste trabalho de construção. Estamos fazendo todo o nosso trabalho de construção com a contribuição de vocês. Então, continuem pregando e distribuindo livros”.

Srila Prabhupada estava na melhor das disposições e profundamente apreciativo com a obra que seus discípulos estão fazendo para o estabelecimento da consciência de Krsna no mundo. Tipicamente, ele queria saber se eles estavam todos confortavelmente situados. Tamal Krishna o informou que eles estavam ocupando uma ala inteira do andar de baixo.

Prabhupada balançou sua cabeça em leve espanto. Ele disse que, quando esta primeira edificação foi concluída, ele pensou: “Tamanha construção! Como ela será preenchida?”. Agora ela está cheia e é até mesmo insuficiente. Ele comparou isso à aparência de Matsya-avatara, a encarnação do peixe. Quando ele apareceu pela primeira vez, Ele era pequenino, e um muni O manteve dentro de seu pote d’água. Contudo, Ele continuou a crescer e crescer, e, cada vez, Ele era colocado em um recipiente maior. Finalmente, Ele foi colocado dentro do oceano, e, ainda assim, este não era grande o suficiente.

Olhando afetuosamente os rostos jovens e brilhantes, Prabhupada declarou: “Soldados de Caitanya Mahaprabhu para lutarem contra maya!”.

Prabhupada prosseguiu explicando que a cooperação é a essência do movimento. Após citar uma linha do Ohe Vaisnava Thakura, ele lhes disse: “O significado deste verso é que mesmo o Senhor Caitanya Mahaprabhu – Ele é o próprio Deus, o próprio Krsna –, Ele sentiu que, sozinho, era incapaz de cumprir esta tarefa. Assim, essa é a posição. Vocês estão cooperando; portanto, eu estou recebendo o crédito. Do contrário; sozinho, o que eu poderia fazer?”.

“Ekaki amara nahi paya bol. O próprio Caitanya Mahaprabhu quis a nossa cooperação. Ele é Deus, Krsna. Portanto, a cooperação é algo muito importante. Ninguém deve pensar que: ‘Tenho muitíssima habilidade. Eu posso fazer isso’. Não. É simplesmente pela cooperação que podemos fazer algo muito grande. ‘Unidos, seguimos; divididos, caímos’. Então, sejam fortes e levem a consciência de Krsna adiante, e Krsna ajudará. Ele é o mais forte”.

“Ainda assim, devemos nos combinar e nos unir. Sankirtana significa muitos homens juntos cantando. Isso é sankirtana. De outro modo, kirtana. Bahubhir militva kirtayeti sankirtana. Bahu significa muito; muitos combinados e unidos. Essa é a missão de Caitanya Mahaprabhu – combinados e juntos. Todas as nações, todas as pessoas; elas devem se unir. Há esperança em nossa sociedade, combinação. Há hindus, há muçulmanos, há cristãos, há negros, brancos. Combinemo-los. Isso parece muito bonito, tal como a combinação de muitas flores”.

Conduzindo o darsana a um encerramento, Prabhupada os glorificou com algumas poucas palavras finais. “Hare Krsna. Todas as glórias ao grupo de sankirtana Radha Damodara!”.

* * *

Nanda Kumara Swami chegou da África. Ele ofereceu um deprimente relato da missão da ISKCON África. Ele disse que Brahmananda Swami está batalhando muito duramente, mas obtendo pouquíssimo êxito.

* * *
Os dois ônibus da Hamsaduta Swami finalmente chegaram da Alemanha, via Vrndavana; o que motivou considerável fanfarra e interesse entre os devotos. Aksayananda Swami também os acompanhou.

O grupo do carro de boi, que partiu de Hyderabad, também chegou, tendo completado bem-sucedidamente a viagem de cerca de mil e quinhentos quilômetros.

* * *

A bela lua ascendeu às 6 horas e 20 da noite. Brilhante e cheia no céu, ela banhou a paisagem com seus luminescentes e refrescantes raios, simbolizando o aparecimento transcendental do Senhor e o cumprimento de Sua missão.

Prabhupada quebrou seu jejum aceitando prasada às 7 horas e 45.

O terreno e o templo estavam tomados de peregrinos. Era virtualmente impossível descer à sala do templo, e a estreita rua até o portão principal estava congestionada com dezenas de milhares de vaisnavas.
Em um ponto, Prabhupada me enviou até lá fora para que eu visse quantos visitantes haviam vindo, e ele ficou muitíssimo feliz ao ouvir sobre as imensas multidões. Tipicamente, ele queria ter certeza de que prasada estava sendo distribuída a todos.


Tradução de Bhagavan dasa (DvS), revisão de Prana-vallabha devi dasi (DvS) e Prema-vardhana devi dasi (DvS

segunda-feira, 14 de março de 2011

O Bhagavad-Gita. Como Ele Nunca Foi

Tradução dedicada aos sankirtaneiros Nityananda, Abhirama, Raja-Rama e Diego.

O Bhagavad-Gita
Como Ele Nunca Foi

Praghosa dasa

Tradução livre

Capítulo 1:

Observando os Karmis

Vendo que a avenida estava completamente congestionada de carros e ônibus, Arjuna das, acomodado em uma grande van de sankirtan, pediu ao seu líder de sankirtan, Krsna das, para soar a buzina da van, após o que o motorista à frente soou a sua buzina e os motoristas à sua frente também soaram suas respectivas buzinas e logo toda a rua estava buzinando, e o som arrancado dessas diferentes buzinas tornou-se estrondoso. Vibrando ao longo do congestionamento, o buzinaço abalou os corações dos guardas de trânsito.

Naquele momento, Arjuna disse as seguintes palavras:

“Ó infalível líder de sankirtan Krsna, por favor, estaciona a minha van de sankirtan de modo que eu possa ver e decidir onde é melhor distribuir livros. Deixa-me ver as pessoas que saíram hoje para fazer compras”.

Quando Arjuna viu as faces estressadas dos consumidores, ele falou as seguintes palavras:

“Meu querido líder de sankirtan, quando vejo todos esses tolos, patifes e velhacos comprando em tal espírito belicoso, sinto os membros de meu corpo tremer e minha boca secar. Todo o meu corpo está tremendo, meus pêlos estão arrepiados, meus livros estão escorregando de minha mão, e já não sou capaz de continuar aqui. Por favor, encontra para mim uma Lan House ou mesmo um banheiro! Estou esquecendo-me de mim mesmo e minha mente está girando. Parece que tudo traz infortúnio, ó condutor de minha van de sankirtan. Não consigo ver qual o bem que decorreria de parar esses capitalistas, nem posso eu desejar uma boa pontuação”.

“Ó Krsna, embora esses homens, com seus corações dominados pela cobiça, estejam comprando coisas inúteis, por que deveríamos nós, que sabemos que estão completamente fora de si, destruir seu espírito de desfrute?”.

“Que prazer obteremos em fazer farol ou arrastão nesta rua o dia todo? A artrite nos dominará se tentarmos salvar esses consumidores. E que reconhecimento ganharíamos mesmo se o nosso resultado fosse lido em frente aos devotos reunidos em Nova Gokula ou publicado na carta mensal de sankirtana no fórum do prabhu Avyakta? Além disso, todos esses compradores não sabem que é proibido vender livros no estacionamento do supermercado; por que deveríamos nós, que entendemos ser crime semelhante venda, tentar pará-los por 5 reais, ou arriscar queimá-los pedindo que levem pelo menos pelas moedinhas no bolso da camisa?”.

“Por que estamos tentando com estes livros destruir a tradição eterna da família levando seus jovens a trancarem a faculdade e passarem um ano no Seminário de Campina Grande? Quando esses rapazes cortarem o cabelo para morar em Vraja ou Goura, suas mães se poluirão ficando viciadas no pecado de jogar Bingo”.

Arjuna, tendo falado essas palavras próximo ao Shopping, na rua entre o calçadão e a pracinha, pôs de lado sua bolsa de sankirtan e sentou-se em sua van na maior mental.

Capítulo 2:

Resumo do Conteúdo da Mente

Vendo Arjuna com seus olhos rasos d’água, Krsna disse as seguintes palavras:

“Meu querido Arjuna, como foi que tal mental se desenvolveu em ti? Ela não condiz com um homem que conhece o valor do laksmi. Ela não conduz à venda do Gita de luxo, mas à venda de incensos e meia dúzia de Gosto Superior. Não cedas a essa impotência degradante. Isto não te fica bem. Abandona essa patifaria, levanta-te e fala teu mantra de venda, ó vendedor sem recibo!”.

Arjuna disse:

“Ó matador da mente descontrolada, como é que no sankirtan posso distribuir Isopanisads a homens como aquele cantarolando Calipso ou aquele que enrolou na cabeça a camisa do Flamengo?”.

“É preferível viver trabalhando no Govinda do que viver à custa de tentar parar alguém na saída das Casas Bahia. Tampouco sabemos o que é melhor – fazer ônibus, metrô ou porta a porta. Se eu fosse tirar este dia de folga, eu descansaria um pouco as costas e os pés, então agora estou confuso quanto a meu dever, pois essas pessoas são muito pão duras e dificílimas de parar. Nesta condição, estou te pedindo que me digas com certeza o que é melhor para mim, pois eu não ficaria em êxtase nem mesmo se me dessem cinquentinha em um Gita de bolso”.

Tendo falado essas palavras, Arjuna disse: “Prabhu, hoje não farei sankirtan”, e começou a jogar um joguinho no celular. Então, Krsna, sorrindo em meio aos karmis já no campo de batalha do estacionamento do Shopping, sorriu e disse as seguintes palavras:

“Enquanto pareces falar palavras sábias, estás é de falso ego. Nunca houve um tempo em que nós sankirtaneiros não fizéssemos os Shoppings; e, no futuro, nenhum de nós deixará de fazer, pois sempre haverá pobres almas que passam seguidamente da loja infantil à loja de skate e à loja de antiquários, e, chegando o novo salário, a pobre alma retoma novamente o mesmo percurso no Shopping tornando seu dinheiro inteiro em trocadinhos. Um sankirtaneiro sóbrio não fica confuso ao ser pago com moedas de 5 e 10”.

“Ó filho da mataji, o aparecimento transitório de boas vendas e vendas ruins são como o aparecimento e o desaparecimento de musiquinhas de políticos, e, quando a venda é ruim, é preciso aprender a tolerar ver teu nome embaixo do nome de um prabhu que nunca ouviste falar”.

“Quem não se deixa perturbar diante de tudo isso decerto está qualificado para alcançar a posição de facilitador de cursos de sankirtan. Aqueles que vendem livros até em escada rolante concluíram que boa distribuição permanente é praticamente não-existente. Isto eles concluíram estudando a natureza da carta de sankirtan. Aprenda a elevar-te à plataforma brahma-bhuta no que diz respeito ao anartha da falta de troco”.

“Ó poderosíssimo servo da BBT, é sem dúvida muito difícil parar um karmi inquieto; refugia-te, no entanto, no conhecimento de que, cedo ou tarde, a resistência dele cederá. Portanto, luta, ó guerreiro do sankirtan, ou então voltarás para o anonimato dos lavadores de roupa suja. Para alguém que já venceu uma maratona de Prabhupada, tornar-se um dobhi walla é um destino pior do que aquele descrito no Quinto Canto”.

“Considerando teu dever específico de sankirtaneiro, deves saber que não há melhor ocupação para ti do que voltar para a van com a bolsa vazia. Felizes são os distribuidores de livros a quem aparece a oportunidade de vender uma coleção do Bhagavatam, abrindo-lhes as portas para uma pontuação celestial. Se não executares teu dever de sair hoje em sankirtan, na certa incorrerás em pecado e prejudicarás tua imagem como um distribuidor quase tão bom quanto o prabhu Prana-natha, e, para um sankirtaneiro respeitável, a desonra é pior do que a morte”.

“Os grandes presidentes de templo que têm na mais alta estima tua pontuação individual e de teu templo pensarão duas vezes antes de te presentear com a nova camisa da BBT, que faz par com o moletom da BBT e com a garrafinha de água da BBT, e você mesmo terá que comprar para ti teu mp4 caso o atual seja roubado”.

“Vende pelo simples fato de querer dar prazer ao guru e a Krsna, sem levar em consideração se é Gita de luxo ou de bolso, se vais ganhar um prato especial de maha-prasada ou se vais levar amaciada, se a doação cobrirá o custo do livro ou se terás de interar do dinheiro que estavas guardando para visitar a Índia – e adotando este procedimento nunca pararás de fazer sankirtan”.

“Até aqui, descrevi a ti este conhecimento teórico; agora vai e pára alguém colocando um livro em sua mão, impedindo-lhe de te deixar falando sozinho; e lembra-te que, para que no esforço de sankirtan não haja nem perda nem diminuição, guarda sempre dentro da tua meia as notas grandes que acaso ganhes, pois, caso sejas assaltado, estarás protegido do mais perigoso tipo de medo: Perder o dinheiro com o qual comprarias os livros do dia seguinte”.

“Aqueles que estão neste caminho que conduz para dentro do Shopping podem ser resolutos em seu objetivo, mas, com inteligência, iremos pegá-los na entrada de modo que sua avidez por começarem a ver as vitrines os motive a comprar logo um livro para se verem livres de nós”.

“Aqueles sankirtaneiros que vendem pouco são irresolutos e têm várias distrações. Eles são apegados a bancos de praça e são capazes de se convencer de que é perfeitamente normal reservar uma hora e meia do dia para comer algumas maçãs e ir ao banheiro. Por estarem ávidos por ficar no ar-condicionado das Lojas Americanas, eles dizem que isso é tudo o que existe”.

“Nas mentes daqueles que estão muito apegados a bhoguinhas e a ver TV, e que ficam atônitos quando chove, não ocorre a determinação resoluta de estar entre os dez primeiros da maratona internacional de dezembro”.

“Ó meu querido Arjuna, a televisão trata principalmente do tema três modos da programação material – a bondade da TVE, a paixão da SporTV e a ignorância dos horrendos programas de culinária. Ó Arjuna, fica sabendo que a mente pode ser a melhor amiga ou a maior inimiga. Agora, por favor, ouve enquanto te explico como torná-la tua melhor amiga. Entra em contato com prabhu Nityananda Ray pelo e-mail natunidauno@ig.com.br ou pelo telefone (21) 2644-7213 e compra a maravilhosa série conhecida como Novela de Prabhupada e coloca um dos discos em um DVD conectado à TV e aperta play. Com a ajuda da TV, a pessoa deve libertar-se, e não se degradar”.

“Faz isso religiosamente toda noite após o sankirtan e acordarás pronto para cantar empolgadíssimas dezesseis voltas, e cada dia de sankirtan será mais glorioso do que o anterior. Desta maneira, teu presidente de templo ficará novamente satisfeito contigo e terás atingido a perfeição!”.

Tradução de Bhagavan dasa (DvS)

quinta-feira, 10 de março de 2011

DIA INTERNACIONAL DA MULHER

DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Oito De Março
2011, Século XXI, Terceiro Milênio da Era Cristã.
Por Dhanvantari Swami

O Brasil ferve hoje o caldo de seu último dia de Carnaval. Festas, alegria, cores, descontração, desfiles, samba, axé, maracatu, culto a celebridades, vaidade, muito suor, cerveja e dinheiro derramados, é o que se vê pelas avenidas...

Para a sorte de alguns há, por aí, redutos de sobriedade que reúnem refugiados da ilusão. Entre esses redutos o Movimento oferece Nova Gokula, Vraja Bhumi, Goura Vrindávana, Vraja Dhama, Paraíso dos Pandavas, Campina Grande... Mas, paralelo a tudo isso, há uma comemoração hoje que é digna de nossa reflexão. Trata-se do DIA INTERNACIONAL DA MULHER.

Por que apontar um dia específico para as mulheres? A história diz que em 8 de março de 1910, cento e cinqüenta mulheres foram mortas depois de se rebelarem contra uma abusiva carga horária de trabalho na Europa em desenvolvimento tecnológico e industrial. Pode ser que no século XXII esta comemoração já não seja necessária, mas, por enquanto, é preciso apontar esta extravagância da história da civilização humana reservando um dia dedicado à reflexão sobre a mulher...

O tempo está passando. Cem anos depois da chacina das 150 operárias o panorama é muito diferente e nos revela igualdade de direitos e deveres entre homens e mulheres. Porém, a despeito dos avanços, algo assustador ainda permanece. Na intimidade da vida a dois (ou mais), onde as paixões evoluem e se transformam em ira, onde a cama e a mesa são o enredo do samba do lar, a mulher permaneceu como o sexo fraco e alvo da violência machista.

Alguns dizem que são elas que dão o primeiro passo na dança da violência. Já ouvi contar que elas arremessam contra seus maridos tudo que encontram pela frente. Algumas jogam ventiladores; outras, pratos vazios (?) e outras, a própria japa mala com saquinho e tudo. Sim, claro que estou falando dos devotos! Claro que minha reflexão é sobre a problemática da violência no lar dos devotos, no ashrama de grhastha.

Neste ponto preciso pedir desculpas aos devotos antigos, pioneiros do Movimento, que sempre se remetem ao passado como um tempo absolutamente glorioso, onde a presença de Prabhupada automaticamente fazia de nós, seres humanos melhores. Peço desculpas para discordar. E discordo com o testemunho de um “dinossauro” que sou. Mesmo no tempo de Prabhupada as mulheres em nosso Movimento eram definitivamente desprivilegiadas e muitas vezes, alvo da violência dos Prabhus.

Reconhecer isso aí não é vergonhoso nem sacrilégio. Vergonhoso é não reconhecer, é não parar pra pensar, é não refletir nas conseqüências de nossas ações, sejam como membros comuns, sejam como líderes da Instituição...

Quantas mulheres inteligentes, educadas e nascidas em “berço de ouro” tiveram que se afastar de nosso Movimento por sentirem-se desprotegidas e sem oportunidades? Dificilmente faremos uma pesquisa retrospectiva para responder a este questionamento. Mas, muitos de nós lembramos de várias delas...

Há detalhes das relações homem/mulher em nosso Movimento que são realmente enigmáticos. Por exemplo, no começo pregava-se para que todos os brahmacaris permanecessem em seu ashrama ou se esforçassem para aceitar a ordem renunciada de vida, sannyasa. Mas, ao mesmo tempo, pregava-se que toda devota devia se casar bem jovem e ter filhos... Com quem elas deveriam se casar??? Não foi a toa que pelo menos três delas se casaram com motoristas de ônibus. Dos mesmos ônibus onde elas distribuíam os livros de Prabhupada...

Bom, vamos voltar para a violência do lar. Não, não é essa minha proposta. “Para trás, nem pra tomar impulso”. Vamos voltar a refletir sobre o tema da violência no lar.

Antigamente agíamos como se pensássemos que tomar providências contra a violência no lar fosse atribuição da liderança da ISKCON, e que a elevada consciência de Krishna, fosse o único nível de aprimoramento que precisávamos adotar.

Hoje em dia, a liderança do Movimento ficou esperta. Passamos a olhar o mundo com a visão de quem quer interagir e não se isolar; Passamos a olhar com a maturidade filosófica de que tudo pertence a Krishna, mesmo aqueles recursos que não tenham Sua divina “assinatura”... Contamos, portanto, com a Delegacia da Mulher, a lei Maria da Penha e a consciência de cidadania para resolvermos eventuais atitudes de violência contra a mulher devota.

Claro que nossa reflexão como espiritualistas que somos, bem que pode ir mais adiante do simples recurso da cidadania. Podemos aprofundar nosso conhecimento das escrituras melhorando assim nossa capacidade de visão crítica à Instituição que fazemos parte e à qual foi fundada pelo acarya e devoto puro de Krishna, A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada. Podemos aplicar nossa coragem para aprimorar-nos na condição temporária de seres humanos, melhorando assim as condições espirituais para nossos filhos, netos, e devotos e devotas que ainda vão ler os livros de Prabhupada por aí... Podemos identificar os modos da natureza material que atuam em nós, e evitar a paixão que se transforma em ira e segue sua metamorfose levando-nos de volta à ignorância e à sarjeta da ilusão. Podemos cultivar o modo da bondade e, principalmente, a devoção à Radha e Krishna, que nos remete a Seus associados particulares e nos faz enxergar os devotos e devotas como servos dos servos dos servos do casal transcendental...

Prabhupada nos deu tudo, seu exemplo, suas instruções, sua devoção... ao refletirmos devemos ter Prabhupada como referencial. Lembro de um episódio sobre violência contra a mulher descrito por Satsvarupa Maharaj, no livro “Néctar de Prabhupada” da BBT.

Foi um caso de violência dentro de casa. Um marido bateu em sua esposa. Ao tomar conhecimento Prabhupada comentou que na Índia se diz que pode-se bater em três situações: na Mrdanga, no iogurte (pra fazer manteiga) e na mulher... E completou dizendo que nossas devotas não são mulheres, elas são devotas de Krishna, que pertencem a Krishna e que não devem ser tratadas como mulheres comuns.

Este episódio traz muitas lições, uma delas é óbvia e serve para orientar Prabhus e Prabhvis, ou Matajis, de que todos são servos de Krishna e o nível de inter-relacionamento deve comprovar essa verdade. Outra é para alertar-nos sobre as características da cultura meramente indiana. Aqueles que são fãs da Índia como ela é, precisam compreender profundamente o que Prabhupada pensava sobre isso. Mas, isso é assunto para outras conversas... não, para hoje.
Hoje é o dia internacional das Mulheres e devemos reconhecer que ao compartilharmos as oportunidades de servir a Krishna e pregar a consciência de Krishna com elas, podemos mais rapidamente realizar os sete propósitos da ISKCON, enunciados por Prabhupada.

Reverências a todas as devotas da ISKCON.

Civilização e Amor a Deus


Bhaktivedanta Archieves

Civilização e Amor a Deus


O que segue é uma palestra de Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, o acharya-fundador da ISKCON e da BBT, proferida na cidade de Nova Iorque, no dia 26 de novembro do ano de 1966.

* * *

veda-sastra-kahe—‘sambandha’, ‘abhidheya’, ‘prayojana’
‘krsna’—prapya sambandha, ‘bhakti’—praptyera sadhana

abhidheya-nama ‘bhakti’, ‘prema’——prayojana
purusartha-siromani prema maha-dhana

“A literatura védica fornece informação sobre o relacionamento eterno da entidade viva com Krsna, que se chama sambandha. O entendimento da entidade viva desse relacionamento e sua conduta condizente se chama abhidheya. Retornar ao lar, voltar ao Supremo, é a meta última da vida e se chama prayojana. O serviço devocional, ou a atividade sensorial para a satisfação do Senhor, chama-se abhidheya porque pode desenvolver o amor original do indivíduo por Deus, que é a meta da vida. Essa meta é o principal interesse da entidade viva e seu maior tesouro. Deste modo alcança-se a plataforma do transcendental serviço amoroso ao Senhor”. – Caitanya-caritamrta, Madhya-lila 20.124-125

Agora, os Vedas ou as escrituras, por que são criados? Não são criados na prática, mas estão descendo pelo processo tradicional, pela audição. Assim como aceitamos o nosso pai pela audição. A criança nasce, e, quando a criança vê com seus olhos irmãos e irmãs chamando um cavalheiro de “pai”, ela também começa a falar: “Pai”. Não há questão de estudo. Por ouvir. Como a criança aprende a chamar o pai de pai? Porque ela ouve. Outros estão chamando “pai”, então ela também chama: “Pai”. Não há evidência. Não há estudo. De modo semelhante, o conhecimento védico estava vindo pela audição. Não havia necessidade de livro. Mas, quando esta era, Kali-yuga, começou, cinco mil anos trás, eles foram registrados. Os Vedas, primeiro havia apenas um Veda, o Atharva Veda. Então, Vyasadeva, apenas para deixar claro, dividiu em quatro e encarregou seus vários discípulos de se responsabilizarem de uma escola do Veda. Ele, em seguida, fez o Mahabharata, os Puranas, simplesmente para tornar o conhecimento védico compreensível para o homem comum de diferentes maneiras. Mas o princípio é o mesmo.
Assim, o Senhor Caitanya diz que o propósito do Veda é... Veda-sastra kahe—‘sambandha’. Sambandha. Qual é a nossa relação? A nossa relação é, como o Vedanta-sutra diz, janmady asya yatah [SB 1.1.1]. Deste modo, a relação com Deus é que estamos... Tudo nasce a partir da energia de Deus. Então, também nascemos. Portando, chamamos Deus de “pai”. Isso é aceito em toda religião. Não há discussão. Agora, qual é a relação entre o pai e o filho? A relação é apenas extorquir do pai? O filho não tem dever, simplesmente pegar do pai? Não. Há dever. Se um filho é sensível e crescido, ele sabe: “Tenho o meu dever: amar meu pai”. Isto é algo muito simples, amar o pai. “O pai fez tanto por mim, irei simplesmente me apropriar da herança do pai, e estou desfrutando da renda do meu pai. Então, não é meu dever mostrar respeito para com meu pai?”.
Então, aqueles que são contra o princípio de Deus, aqueles que não são inclinados a Deus, eles são as criaturas mais baixas. Eles são as criaturas mais baixas. Na maà duskrtino mudhah prapadyante naradhamah: [Bg. 7.15] “Qualquer um que não reconheça Deus, ele é a mais baixa das mais baixas criaturas”. Duskrtino mudhah. Esses termos foram usados. Assim como o mudha, asno; duskrtina, canalha; e naradhamah, e o mais baixo da humanidade. A humanidade se destina ao reconhecimento. Isso é a vida. Na vida animal, a pessoa não pode reconhecer que há Deus e que tudo está vindo de Deus. Eles não podem ler os Vedas, ou as escrituras. Eles não podem receber nenhuma instrução. Então, estes Vedas e estas escrituras estão disponíveis para os seres humanos. Portanto, um ser humano, assim chamado ser humano, embora tenha duas mãos e duas pernas, ele é um animal, aquele que não aceita a autoridade da escritura e que não aceita a existência de Deus. O Bhagavad-gita, portanto, descreve-os muito bem, naradhamah. Naradhamah significa os mais baixos da humanidade. Assim, a nossa civilização ruma para uma sociedade dos mais baixos da humanidade. E nós estamos, nós estamos tentando nos anunciar como alguém que está avançando, mas... Ontem, um rapaz veio: “Quem é Deus? Eu sou Deus”. Ele estava falando assim. Vejam. E ele parece ser um estudante instruído. A partir de sua aparência, parece que ele é instruído. Então, essa educação está em andamento, que serão os mais baixos da humanidade. O propósito da educação é tornar o homem o mais elevado da humanidade, mas a educação moderna está ensinando a ser o mais baixo da humanidade. E, se alguns dos estudantes são ensinados a se tornarem os mais elevados da humanidade, seus responsáveis se perturbam: “Oh, meu filho será o mais elevado da humanidade? Swamiji, o senhor está fazendo algo perigoso”. Oh, Vejam só. O Swamiji está falando: “Não, não fumem. Não bebam chá. Não tenha conexão ilícita com mulheres. Sejam honrados. Sejam devotos”. “Oh, o Swamiji é perigoso”. E, se alguém ensina: “Meus queridos rapazes, usem LSD, vão para o inferno e se tornem loucos. Vão para o hospício”, “Oh, isso é...”. O que pode ser feito? Essa é a situação.
Então, estamos situados em uma sociedade dos mais baixos da humanidade. Sempre se lembrem disto, que estamos situados em uma civilização que é a mais baixa da humanidade. Não estou falando apenas de seus Estados Unidos... Por todo o mundo. Mesmo na Índia, onde tanta cultura se fez para compreende Deus, este governo tolo, eles também estão ensinando isso. Vejam. Então, esta é a, quero dizer, era. Não pensem que estou criticando particularmente algum país ou comunidade. Esta é a era, Kali. Ela se chama Kali. Hipocrisia, apenas hipocrisia. Kali significa repleta de hipocrisia. Então, temos que ser muito cuidadosos. Temos que... Daivi hy esa guna-mayi mama maya. E a energia ilusória é muito forte. A qualquer momento, uma pequena negligência... Então, isto é... Na verdade, devemos compreender. Então, o Senhor Caitanya diz que essa sambandha significa que temos que reviver, temos que restabelecer o nosso relacionamento com Krsna, ou Deus. Isso é civilização. A relação já está lá porque nasci. A causa suprema é Krsna, ou Deus. Mas eu, de uma maneira ou outra, esqueci-me disso. Portanto, estas escrituras—os Vedas, este Bhagavata, o Srimad-Bhagavata, o Bhagavad-gita—essas escrituras estão me lembrando. Elas são criadas para me lembrar que: “Seu relacionamento com Krsna é eterno. Por que você se esqueceu? Você, por causa disso, está sofrendo”. Discutimos o sloka, verso, de que bhayam dvitiyabhinivesatah syad isad apetasya viparyaya-smrtih. Porque aceitamos uma posição contrária nos esquecendo do Supremo, somos colocados em ansiedade. Porque aceitamos uma posição contrária. “Quem é Deus?”. Viparyaya-smrtih. Precisamente esta palavra é utilizada. Viparyaya significa “de ponta-cabeça”. “Sua memória ficou de ponta-cabeça. Portanto, você está sofrendo”. Mas ele não concordará. “Não, ajustaremos. Faremos leis. Faremos agitação. Formaremos um partido e prosseguiremos desafiando Deus, e seremos felizes dessa maneira”. Assim, a civilização ateísta está gerando agora o partido comunista. Então, a posição perigosa, estamos indo.
Então, de qualquer maneira, aquele que se refugia em Krsna, ele não será colocado em perigo. Estejam certos. Então, ‘krsna’—sambandha, ‘bhakti’—praptyera sadhana. Então, tenho de reviver meu relacionamento. O relacionamento está lá; eu simplesmente esqueci. Então, tenho que o reviver, ou me lembrar dele, que: “Oh, sou tal e tal”. Vasudevah sarvam iti sa mahatma su-durlabhah [Bg. 7.19]. Tenho que me tornar uma grande alma rendendo-me a Deus. Assim, esse processo de rendição é bhakti, ou serviço devocional. Meu relacionamento é eterno com o Supremo. Eu me esqueci disso. Agora, esse relacionamento é que Ele é o pai original de tudo, e somos todos filhos. Então, temos que nos tornar... Temos... Até então procedemos de modo desobediente. Agora, temos que nos tornar obedientes. Isso é tudo. Esta obediência significa que... Como se chama? Obediência, a primeira lei da disciplina. Desta forma, tão logo as pessoas deste mundo, assim chamado mundo avançado, tornarem-se obedientes a Deus, então haverá disciplina e haverá paz. Não há disciplina agora. Eles não estão de acordo quanto a seguirem regras e regulações. Todos são Deus. Todos são cachorros. Todos podem fazer qualquer coisa, tudo o que queiram. Assim, não há disciplina. Então, bhakti, o serviço devocional, significa nos submetermos a um sistema disciplinar de vida de modo que automaticamente revivamos a nossa relação perdida com o Senhor, Deus, e nos tornemos felizes. Isso se chama bhakti. Abhidheya-nama ‘bhakti’, ‘prema’—prayojana. E por quê? Qual é a utilidade? Suponham que não revivamos a nossa relação. Vocês, então, ficarão perturbados. Vocês estão buscando por paz e prosperidade.
Então, qual é a base da paz? A base da paz é o amor. Você acha que, você não amando ninguém, você ficará em paz? Não. Como isso é possível? Portanto, se você ama Deus, então você pode amar todos. E, se você não ama Deus, então você não pode amar ninguém. Porque Ele é o centro. Assim como na nossa... É claro que, aqui, o seu sistema familiar é diferente. Na Índia, há um sistema familiar conjunto. Suponham que uma moça vem... Os pais, eles ocupam as moças e os rapazes. Digamos que uma moça pertencia a uma família diferente. Mas, quando se casa, ela vem para a família, e, porque o esposo e a esposa têm vínculo, imediatamente o irmão do esposo passa a ter vínculo, a mãe do esposo passa a ter vínculo, o pai do esposo passa a ter vínculo. Todos imediatamente passam a ter vínculo. O ponto central é o esposo. Antes disso, antes de qualquer conexão com esse ponto central, o pai e o irmão do rapaz não tinham nenhuma relação com aquela moça. Vêem? Então, o ponto central tem que estar presente. Assim, se você pode amar Deus, então você pode amar tudo em relação a Deus. Você pode amar todo homem. Você pode amar seu país. Você pode amar sua sociedade. Você pode amar seu amigo. Todos. Esse é o ponto. Eles estão pensando de uma maneira diferente: “Por que devo amar apenas Deus? Por que devo amar Deus? Amarei minha família. Amarei meu país. Amarei minha...”. Oh, não, você não pode amar. Isso não é possível. Porque você está desconsiderando o ponto central. Esses são os fatos. Harav abhaktasya kuto mahad-guna [SB 5.18.12]. Aquele que não ama Deus, ele não pode ter nenhuma boa qualificação. Por quê? Mano-rathena asato dhavato bahih. Porque ele simplesmente especulará no plano mental e cairá sob o encanto desta energia material. Ele não tem base. Independente de quanta qualificação material, acadêmica, ele possa ter, é claramente declarado no Srimad-Bhagavatam que yasyasti bhaktir bhagavaty akincana. Demos a vocês a lista: vinte e seis qualificações. À medida que avançamos no serviço devocional, todas essas boas qualidades automaticamente se desenvolverão. Não há necessidade de legislação. Não há necessidade de nada, mas todas essas qualidades se desenvolverão. Do contrário, qual é o sentido da consciência de Krsna? Trata-se de um sentimento ou fanatismo? Não. Trata-se de uma ciência. Se você segue sistematicamente as regras e regulações, então todas essas qualidades se desenvolverão. Vocês verão na prática. E, tão logo essas qualidades estão presentes, então você de fato se torna amante de seu país, você se torna amante de seu colega. Você se torna amigo de Deus, tudo.
Então, todo e cada homem se torna assim... É claro que não se espera que todo e cada homem ficará assim. Caso pelo menos dez por cento da população se torne consciente de Krsna, há garantia de paz no mundo; porque ekas candra... Não precisamos de muitas luas no céu. Apenas uma lua é suficiente para remover a escuridão. Varam eka guni putra na ca murkha-satair api. Canakya Pandita diz: “É melhor ter um filho qualificado do que ter centenas de tolos”. Então, a civilização moderna está prosseguindo dessa maneira, civilização ateísta. Se alguma porcentagem dos seres humanos civilizados se tornarem conscientes de Krsna, isso trará paz. Do contrário, isso não é possível. Trata-se, portanto, de necessidade. O Senhor Caitanya diz, abhidheya ‘bhakti’, ‘prema’—prayojana. Prayojana significa que é necessidade. Purusartha-siromani prema maha-dhana. A pregação do Senhor Caitanya Mahaprabhu era baseada neste princípio: prema pumartho mahan. Qual é o objetivo da vida humana? Ele disse que: “O objetivo da vida humana é obter amor por Deus”. Isso é tudo. Isso o torna perfeito, nada mais. Sua missão foi descrita por um dos acaryas, Visvanatha Cakravarti. Ele estudou. Ele disse que a missão do Senhor Caitanya é aradhyo bhagavan vrajesa-tanaya: “Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, é aradhya”. Aradhya significa que Ele é adorável. Ele é a única personalidade adorável. Aradhyo bhagavan vrajesa-tanaya tad-dhamam vrndavanam: “E, assim como o Senhor Krsna é adorável, Seu lugar de passatempos, Vrndavana-dhama, também é adorável”. Aradhyo bhagavan vrajesa-tanaya tad-dhamam vrndavanam. E qual é o melhor tipo de adoração a Krsna? Agora, ramya kacid upasana vraja-vadhu-vargena ya-kalpita: “O tipo mais elevado de adoração é como demonstrado pelas donzelas de Vrndavana, as namoradas de Krsna”. Sim. Elas não tinham adulteração alguma. Elas simplesmente estavam sempre pensando em Krsna. Krsna está saindo da vila, e elas estavam pensando em casa: “Oh, a sola”, quero dizer, “de Krsna é tão macia. Como Ele está vagando na selva? Há tantas partículas de pedra. Certamente estão ferindo”. Desta maneira. Krsna está lá; elas estão em casa, mas estão pensando em Krsna, como Ele está caminhando, como Seus macios pés estão sofrendo. Desta maneira, elas estão sempre absortas em consciência de Krsna. Elas não são vedantistas. Elas não são brahmanas. Elas não são instruídas. Elas eram vaqueiras. Mas o amor delas por Krsna era tão intenso que o Senhor Caitanya recomenda: “Oh, não há melhor adoração do que aquela demonstrada pelas donzelas de Vrndavana”. Ramya kacid upasana vraja-vadhu-vargena ya kalpita. Então, qual é a fonte para compreender Krsna? Srimad-Bhagavatam. Amalam puranam. Se você estuda o Srimad-Bhagavatam, então você aufere todas essas coisas. Sri-caitanya-mahaprabhor matam idam. E prema pumartho mahan.
Então, o livro, o Srimad-Bhagavatam; a adoração ideal, as donzelas de Vrndavana; Krsna é o objeto adorável; e a necessidade da vida é obter amor por Deus. Essa é toda a missão de Caitanya Mahaprabhu, a essência. Portanto, Caitanya Mahaprabhu está dizendo aqui, purusartha-siromani prema maha-dhana. As pessoas têm seu objetivo de vida, todos. Dharmartha-kama-moksa. Seu objetivo de vida é... É claro que, hoje em dia, as pessoas são diferentes. Antigamente,... É a versão védica, dharma, torná-los religiosos. Portanto, toda nação civilizada tem alguma sorte de religião. Porque, sem se tornar religioso, não há possibilidade de paz e prosperidade. Então, essa é uma das metas da sociedade humana, religiosidade. E por que religiosidade? Dharma-artha. A condição econômica, então, será melhor. Se todas as pessoas forem religiosas, então a condição econômica será melhor. Dharma-artha. E por que se quer uma condição econômica melhor? Kama. Kama significa que, então, as necessidades de sua vida serão bem satisfeitas. Dharma, artha, kama e moksa. Deste modo, qual é o fim? Que, se você é pacífico na sociedade, então você pode ter seu cultivo visando sua liberação. Então, dharmartha-kama-moksa; assim, geralmente, esses quatro princípios são a meta da sociedade humana. Mas Caitanya Mahaprabhu diz que: “Sim, tudo bem quanto a isso”. Mas prema pumartho mahan: “Com todas essas coisas, se você não tem amor pelo Supremo, tudo isso é disparate. Tudo disparate. Portanto, tentem amar Deus e tudo ficará bem”. Essa é a missão de Caitanya Mahaprabhu, prema pumartho mahan. Então, prema. Aqui, o Senhor Caitanya diz que devemos compreender o nosso relacionamento com Deus. Devemos agir dessa maneira. Isso significa em devoção. Então, teremos a perfeição mais elevada da vida, o amor a Deus, e a nossa missão da vida humana será cumprida.
Obrigado.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Passatempos Infantis do Senhor Chaitanya

Quarto e último capítulo do Chaitanya-Bhagavata cedido em cortesia pela BBT Brasil. O Chaitanya-Bhagavata, em seu total de cinquenta e cinco capítulos, encontra-se disponível para compra clicando aqui.

Passatempos Infantis do Senhor Chaitanya

Da obra Sri Chaitanya-Bhagavata,
De Vrindavana dasa Thakura,
Adi-khanda, Capítulo 6

O Senhor Chaitanya, assim como o pequeno Gopala Krishna, desfrutou de muitos passatempos. Passado algum tempo, era chegado o dia para o início de Sua educação formal. Em um momento auspicioso de um dia auspicioso, o grande brahmana Jagannatha Misra formalmente colocou na mão de seu filho o giz de escrever. Após alguns dias, na presença de todos os Seus amigos, Nimai [Chaitanya] passou pela cerimônia de cuda-karana, quando os garotos brahmanas têm a cabeça raspada, com exceção da sikha. A cerimônia de karna-beda, quando se ouvem os Vedas pela primeira vez, também foi observada. Todos ficaram deveras impressionados vendo que Nimai era capaz de escrever todas as letras do alfabeto as tendo visto pela primeira vez. No decorrer de dois ou três dias, o Senhor havia aprendido todas as combinações de letras. Repetidas vezes, Ele escrevia os nomes do Senhor – diversos nomes unidos como se em uma guirlanda. Dia e noite, Ele escrevia: “Rama”, “Krishna”, “Murari”, “Mukunda”, “Vanamali”. Ele estudava com grande avidez. Narayana, o Senhor dos planetas Vaikuntha, agora ia para a escola com um grupo de garotos. Apenas as almas mais afortunadas e piedosas de Nadiya podiam presenciar tais passatempos. Ouvindo-O recitar com grande doçura o alfabeto Bengali, “ka, kha, ga, gha”, todos eram imediatamente cativados.

O Cantar do Nome de Hari e a Oferenda de Ekadasi

Todo passatempo executado pelo Senhor Chaitanya era de impossível compreensão. Ele ansiava por coisas que eram muito difíceis de serem auferidas. Quando percebia não ser capaz de pegar os passarinhos que Ele via voando no céu, o pequeno Nimai então chorava em profundo desapontamento. Ele ansiava pegar a lua e as estrelas. Incapaz de tê-las, Ele Se debatia batendo Suas mãos e pés violentamente contra o chão. As pessoas O colocavam no colo e tentavam confortá-lO, mas Ele Se recusava a Se acalmar. Ele dizia chorando: “Mas Eu quero! Eu quero!”. Havia apenas uma solução para o choro do Senhor. Apenas quando Ele ouvia o som do nome do Senhor Hari, Ele parava de chorar. Todos batiam palma e cantavam: “Hari! Hari!”. Somente assim Nimai esquecia Sua aflição e ficava calmo. O frequente cantar dos nomes do Senhor Hari para o prazer de Nimai transformou a casa de Jagannatha Misra na transcendental morada de Vaikuntha.

Um dia, mesmo com todos cantando bem alto o nome do Senhor Hari, o pequeno Sri Chaitanya continuou chorando. Todos disseram: “Querido Nimai! Escute! Estamos cantando os nomes do Senhor Hari. Dance para nós!”. Mas, sem dar ouvidos a ninguém, Nimai continuou chorando. “Querida criança, diga-nos por que Você chora tanto”. Todos disseram: “Querido, diga-nos o que Você quer. Traremos para Você qualquer coisa que queira. Então, pare de chorar”. O Senhor disse: “Se vocês querem salvar Minha vida, então vão sem demora à casa de dois brahmanas. Jagadisa Pandita e Hiranya Pandita são ambos grandes devotos do Senhor. Há algo na casa deles que Eu quero ter. Hoje é ekadasi. Eu quero comer os alimentos que eles ofereceram ao Senhor Vishnu neste dia. Se Eu puder comer os remanentes daquelas oferendas, Eu ficarei saudável e calmo novamente”.

Ouvindo tal pedido impossível de se realizar, Mãe Saci ficou aflita. O que Ele queria não era nem comum socialmente nem sancionado pelas escrituras. Todos sorriram ante Suas palavras infantis e prometeram: “Tudo bem, nós Lhe daremos tudo o que Você quiser, mas agora pare de chorar”. Jagadisa Pandita e Hiranya Pandita eram Vaishnavas de primeira classe e amigos inseparáveis de Sri Jagannatha Misra. De fato, Jagannatha Misra os considerava tão queridos quanto sua própria vida. Quando souberam do pedido de Nimai, os dois brahmanas foram tomados de prazer. Os dois brahmanas declararam: “Que história extraordinária! Nunca ouvimos falar de uma criança tão inteligente. Como Ele sabia que hoje é ekadasi e que a oferenda de alimento à Deidade foi opulenta? Agora entendemos a beleza excepcional da criança. O Senhor Krishna Gopala deve estar vivendo dentro de Seu corpo. O Supremo Senhor Narayana age através deste garoto. Sentado em Seu coração, o Senhor faz com que Nimai fale de maneiras impressionantes”. Pensando dessa maneira, os dois brahmanas Vaishnavas trouxeram toda a prasadam para a casa do Senhor e, com ilimitada felicidade, deram tudo para Ele. “Filho, por favor, coma esta prasadam”, eles disseram a Nimai. “Dessa maneira, nosso desejo de comprazer o Senhor Krishna será realizado”.

Unicamente através da misericórdia de Krishna pode uma pessoa desenvolver inteligência espiritual para prestar serviço devocional. Com exceção dos devotos do Senhor, ninguém é verdadeiramente inteligente. Sem se ocupar em serviço devocional, não se pode conhecer a verdade sobre o Senhor Supremo, o Senhor Sri Chaitanya Mahaprabhu, de cujos poros emanam os ilimitados universos.

Hiranya e Jagadisa, que há vidas e vidas vinham atuando como servos do Senhor, contemplaram para sua plena satisfação como o Senhor Supremo desfrutava de Seus passatempos como um menino brahmana. O Senhor alegremente recebeu a oferenda de Seus devotos e provou um pouco de cada preparação. O Senhor comeu a prasadam com grande prazer. Assim, todo o Seu capricho foi mitigado. Todos na casa voltaram a cantar “Hari! Hari!”, e o Senhor comia e dançava enquanto ouvia o cantar de Seus nomes. Um pouco da prasadam que Ele comia às vezes caía no chão ou nos braços ou pernas de alguém. Dessa maneira, o Senhor do universo, o controlador das três classes de misérias e rei dos trinta milhões de semideuses, desfrutava de Seus passatempos transcendentais.

Queixas e Travessuras Transcendentais

A Suprema Personalidade de Deus, que é descrito em todos os Vedas e Puranas, brincava à vontade no quintal de Shacidevi. Crescendo um pouco mais, Nimai Se absorveu completamente no humor desquietado de um jovem garoto. Juntando-Se com outros garotos brahmanas igualmente inquietos, Ele desfrutou de muitos passatempos. Acompanhado de Seus amigos, Ele vagava livremente de um lugar a outro. Ninguém tinha o poder de fazê-lO parar quieto. Encontrando-Se com outro garoto de Sua idade, Nimai implicava com ele e o garoto retribuía as provocações. Assim se dava inicio a ferrenhas e longas discussões. Porque Nimai era muito poderoso, Ele e Seus amigos sempre saíam vitoriosos nessas discussões. Os adversários iam embora derrotados. Coberto de poeira e gotejado de tinta preta de escrever, Nimai parecia muito encantador àqueles que O viam.

Ao meio dia, após terminarem seus exercícios de ouvir e escrever, Nimai e Seus amigos iam se banhar e se divertir no Ganges. Mergulhando nas águas do Ganges, Nimai e Seus amigos desafiavam uns aos outros espirrando água. Quem é capaz de descrever a opulência de Nadiya quando o Senhor Supremo estava pessoalmente presente ali? Inúmeras pessoas se banhavam em cada ghata do rio. É impossível dizer quantos santos, ascetas, sannyasis, pais de família e crianças se encontravam ali. O Senhor desfrutava de muitos passatempos aquáticos com Seus amigos. Ora Ele mergulhava, ora boiava com a correnteza do rio e ora participava de jogos estabelecidos por eles mesmos. Tendo as brincadeiras aquáticas por pretexto, o Senhor espirrava água com Seus divinos pés de lótus em quem quer que estivesse próximo a Ele; beneficiando, destarte, tais afortunados banhistas.

As pessoas diziam a Nimai que Ele não devia ser tão traquinas, mas Ele não dava ouvidos a ninguém. E, sendo Ele o nadador mais veloz, ninguém podia pegá-lO. Contaminando as pessoas de diferentes maneiras, umas vezes tocando em seus corpos e outras vezes cuspindo neles, Nimai obrigava que todos tomassem banho várias vezes. Incapazes de pegar Nimai para repreendê-lO, os brahmanas iam enfurecidos se queixar com o pai do garoto. “Querido amigo Misra, por favor, escute”, um cavalheiro disse. “Venho até o senhor para me queixar da má conduta de seu filho. Ele não nos deixa executar nossas abluções diárias no Ganges de maneira apropriada”. Outro se queixou em seguida: “Ele espirra água em nossos rostos e perturba nossa meditação”. Outro homem então tomou a palavra: “Ao interromper minha meditação, Ele disse: ‘Em quem você está meditando? Eu sou o próprio Senhor Narayana, agora presente ante seus olhos nesta era de Kali”. Todos apresentavam diferentes reclamações. Um homem dizia: “Ele roubou minha Shiva-linga”, e outro logo adicionava: “E também roubou minhas roupas”. Outro banhista reportou: “Preparando-me para adorar o Senhor Vishnu, eu trouxera flores, grama durva, alimentos para serem oferecidos e também um trono para Ele. Então, enquanto me banhava, seu filho veio, sentou-Se no trono, comeu todas as oferendas e então foi embora correndo. Ele então voltou e me disse: ‘Por que você está triste? O Senhor de sua adoração comeu pessoalmente sua oferenda’.”.

Diferentes pessoas seguiam se queixando. Um brahmana disse: “Eu entrei na água para recitar o Gayatri e, parecendo vir do nada, Nimai veio por debaixo d’água e me derrubou puxando o meu pé. Outro homem disse: “Meu dhoti e minha cesta de flores são invariavelmente roubados todos os dias”. Ao que outro com problema similar acrescentou: “Ele sempre rouba o meu Bhagavad-gita”. Outro, um tanto exasperado, colocou então suas queixas: “Ele coloca água no ouvido de meu filho pequeno e o faz chorar ruidosamente”. Um novo homem tomou a palavra em seguida: “Ele sobe por minhas costas até ficar de pé em meus ombros. Sobre meus ombros, Ele grita ‘Eu sou o senhor Shiva!’ e então mergulha na água”. “Ele Se senta em meu altar”, outro homem começou a falar, “come toda a comida a ser oferecida e então adora o Senhor Vishnu. Além disso, acompanhado por outros meninos irrequietos, Ele joga areia em todos que acabaram de se banhar. Uma de suas piores brincadeiras, porém, é que, enquanto os homens e as mulheres estão se banhando, Ele coloca as roupas das mulheres na beira de onde os homens estão se banhando e as roupas dos homens onde estão as mulheres. Dessa maneira, todos ficam constrangidos. Querido Jagannatha Misra, você é meu amigo querido; eu, todavia, tenho de lhe avisar: seu filho age dessa maneira diariamente e o dia todo. Ele passa seis horas sem sair da água. Como Seu corpo poderá permanecer saudável?”.

Entrementes, muitas garotas jovens, revoltadas com as travessuras de Nimai, queixavam-se com Shacidevi. Elas disseram a Shaci: “Por favor, respeitável mãe, ouça de nós sobre o mau comportamento de seu filho. Ele rouba nossas roupas e usa palavras insultuosas conosco. Quando tentamos corrigir Sua fala, Ele joga água em nós e inicia uma discussão. Em cumprimento aos nossos votos religiosos, trazemos frutas e flores diariamente ao Ganges, mas Ele pega nossas oferendas e estraga tudo. Ele espera até que terminemos nossas abluções e então, junto com Seus amigos igualmente irrequietos, atira areia em nós. Ele caminha silenciosamente por detrás de nós e, de repente, grita bem alto em nossos ouvidos, quase nos matando de susto”. Outra garota então disse: “Ele sempre atira água no meu rosto. Ele também coloca sementes de okada em meu cabelo, que coçam e são muito difíceis de se tirar”. Outra voz queixou-se interrompendo a anterior: “Nimai fica dizendo que irá Se casar comigo”. “Ele age dessa maneira diariamente. Ele é filho do rei por acaso?”, elas inquiriram. “Tudo o que seu filho Nimai faz é tal qual as atividades do filho de Nanda Maharaja. Nós ouvimos algumas histórias sobre Krishna, o filho de Nanda. Se levarmos até nossos pais e mães essas queixas, eles certamente virão discutir com você. Você deveria corrigir seu filho imediatamente. Sua conduta certamente não é bem-vinda em uma cidade como Navadvipa”.

Tendo ouvido suas palavras, a mãe de Sri Chaitanya Mahaprabhu sorriu, abraçou cada uma das jovens e falou-lhes palavras confortantes. “Quando Nimai voltar para casa hoje, eu irei bater nEle com uma vara e também irei amarrá-lO. Assim, Ele nunca mais causará dificuldade para os outros”. Todas elas respeitosamente colocaram a poeira dos pés de Mãe Shaci sobre suas cabeças e procederam para o Ganges para se banharem novamente. Todo aquele que era importunado pelas travessuras do Senhor provava intensa felicidade transcendental no íntimo de seu coração. Quando os brahmanas se queixaram com Jagannatha Misra, eles não estavam irritados de verdade. Todavia, quando Jagannatha Misra ouviu sobre o que Nimai fazia, ele rugiu de raiva. Ele disse: “Já que Ele está sempre incomodando a todos com essas brincadeiras, eu irei proibi-lO definitivamente de ir Se banhar no Ganges”. Todos vinham tentando interferir no comportamento do garoto, mas, até então, ninguém havia sido bem sucedido. Jagannatha Misra então decidiu: “Eu irei bater nEle com uma varinha”.

A Incastigável e Inconcebível Personalidade de Deus

Porque Ele é a Superalma presente no coração de todos, o Senhor Chaitanya sabia que Jagannatha Misra estava muito irado procurando por Ele. O Senhor Chaitanya seguiu com Seus passatempos esportivos nas águas do Ganges com Seus amigos. Dentre todos os garotos, Ele era o mais encantador. As jovens donzelas se apiedaram de Nimai e disseram a Ele: “Escute, Visvambhara! Escute! Jagannatha Misra está atrás de Você! Ele está vindo para cá! É melhor Você fugir daqui sem demora!”. Pouco antes da chegada de Sri Misra, o Senhor fugiu de onde os meninos brincavam. Assustadas, as jovens filhas dos brahmanas também correram dali. Nimai já havia instruído Seus amigos quanto ao que dizerem quando Seu pai perguntasse de Seu paradeiro. Eles deveriam dizer: “Seu filho não esteve aqui para Se banhar conosco. Depois da aula, Ele voltou para casa. Na verdade, nós também estamos esperando por Ele”. Após deixar esta instrução, o Senhor voltou para casa por um caminho diferente. Assim, Jagannatha Misra chegou ao local de banho sem se encontrar com Ele. Ali, na beira do Ganges, Jagannatha Misra olhou para as quatro direções, mas não pôde encontrar seu filho nem entre os garotos nem em nenhuma outra parte. Jagannatha Misra perguntou nervoso: “Para onde foi Visvambhara?”. Os garotos responderam: “Ele não veio Se banhar aqui hoje. Ele voltou para casa pelo caminho habitual. De fato, nós também estamos esperando por Ele”. Sri Misra continuou procurando por seu filho, mas, incapaz de encontrá-lO, tudo o que podia fazer era bufar de raiva.

Os mesmos brahmanas que anteriormente haviam, em um humor espirituoso, apresentado diversas queixas, foram mais uma vez até Sri Misra e falaram com ele. “Visvambhara correu para casa porque estava com medo. Você deveria ir para casa e conversar com o garoto. Permita-nos acompanhá-lo para nos certificarmos de que você não fará nada de que possa se arrepender depois. Se Nimai fizer esse tipo de travessura novamente, então nós pessoalmente pegaremos o garoto e O levaremos até você. Todas aquelas queixas que fizemos contra Nimai em sua residência foram feitas de forma gracejosa. Na verdade, não se pode encontrar nos três mundos fortuna como a sua. Nimai é um filho tão amável que os membros da família dEle nunca são tocados pela fome, pela sede, pela lamentação ou por qualquer outro sofrimento material. Seu filho é a Suprema Personalidade de Deus. Certamente você é muito afortunado por poder servir diariamente Seus pés de lótus. Mesmo que Ele cometa milhões de ofensas, sempre nos lembraremos de Visvambhara dentro de nossos corações”. Esses brahmanas vinham se ocupando nascimento após nascimento como devotos do Senhor Krishna. Esta é a razão para eles serem dotados com a inteligência superior necessária para a prestação do transcendental serviço devocional ao Supremo. O Senhor Supremo desfrutou de muitos passatempos com tais servos íntimos. Uma pessoa ordinária não pode compreender essas atividades do Senhor.

Jagannatha Misra disse: “Nimai é como um filho para vocês. Se vocês levarem Suas ofensas a sério, então eu estarei arruinado. Por favor, perdoem as atividades dEle”. Após abraçar afetuosamente cada um dos brahmanas, Jagannatha Misra voltou satisfeito para casa. Tendo tomado outro caminho, a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Visvambhara, já havia chegado em casa. Brilhando como a lua, Ele carregava belos livros debaixo de Seus braços. Pequenas manchas de tinta de escrever decoravam diferentes partes do corpo de compleição dourada do Senhor. Era como se uma fragrante champaka dourada houvesse atraído um enxame de abelhões.

“Mãe!”, Ele chamou, “Eu vou tomar banho, Eu quero o Meu óleo”. Ouvindo as palavras de seu filho, o coração de Shaci se encheu de felicidade. Ela não pôde ver em Seu corpo nenhum sinal de que Ele já havia Se banhado. Shacidevi entregou-Lhe o óleo. Em seu coração, ela se perguntava: “Por que os brahmanas e suas filhas jovens falavam daquele jeito sobre o comportamento de Nimai? Todo o Seu corpo está salpicado de tinta preta de escrever, e Ele estava carregando Seus livros e vestindo as mesmas roupas que usava quando foi para a escola”. Nesse momento, Jagannatha Misra chegava em casa. Vendo Jagannatha Misra, Visvambhara imediatamente pulou em seu colo. Com o abraço amoroso do Senhor, Jagannatha Misra perdeu toda a percepção do restante do mundo. Olhando para o rosto de seu filho, ele se afogou em bem-aventurança. Sri Misra pôde ver que o corpo de Nimai estava coberto de poeira e que não havia nenhum sinal de que Ele houvesse Se banhado. Sri Misra ficou realmente surpreso com aquilo. Jagannatha Misra perguntou: “Visvambhara, que plano Você carrega em Seu coração? Por que Você não deixa as pessoas se banharem em paz? Por que Você arruína os arranjos que as pessoas fazem para adorar o Senhor Vishnu? Você não teme o Senhor Vishnu?”.

“Mas hoje Eu nem fui tomar banho ainda! Os garotos foram antes que Eu pudesse ir com eles”, respondeu Nimai. Essas pessoas estão agindo de forma desonesta coMigo. Embora Eu sequer tenha chegado perto delas, elas Me acusam de coisas que não fiz. Se essas pessoas continuarem a apontar falhas no Meu comportamento e continuarem Me acusando de coisas que não fiz, então Eu passarei a Me comportar mal e a criar dificuldade para elas como dizem que faço”. Após dizer essas palavras, o Senhor sorriu e foi Se banhar no Ganges, onde Se encontrou novamente com Seus amigos. Vendo Visvambhara, todos O abraçaram. Quando ouviram sobre a maneira engenhosa com que Ele havia agido, todos riram. Todos O glorificaram dizendo: “Como Você é esperto, Nimai! Você Se livrou de algumas boas chibatadas hoje!”.

Nimai estava novamente ocupado em Suas atividades esportivas aquáticas com Seus amigos. Enquanto isso, Mãe Shaci e Jagannatha Misra consideravam com seriedade o que acontecera. Eles diziam: “Todas as queixas apresentadas contra Nimai certamente não eram mentiras; não havia, no entanto, nenhuma indicação de que Nimai havia Se banhado. Tudo estava de acordo. Seu corpo estava coberto de poeira e Ele estava vestido com as mesmas roupas, que estavam secas. Seu cabelo também estava seco, e Ele carregava Seus livros”. “Eu acho que nosso Visvambhara não é uma pessoa comum”, Sri Misra disse. “Talvez, com a ajuda de Sua potência interna, Yogamaya, a Suprema Personalidade de Deus tenha aparecido pessoalmente em nossa casa como nosso filho. Ou talvez Ele seja um grande santo, cuja identidade foge de meu conhecimento”. Sri Misra, o melhor dos brahmanas, pensava assim sobre a situação. Contudo, quando os dois pais viam seu filho, todas as suas cogitações se dissipavam. Seus corações transbordavam com carinhosa afeição por Nimai, e nada mais lhes importava. Ambos sentiam intensamente a ausência de seu filho. As horas que Nimai passava estudando lhes pareciam dois milênios.

Se os Vedas tivessem dez milhões de formas, cada uma com dez milhões de bocas, ainda assim eles não seriam capazes de descrever a imensa fortuna de Srimati Sacidevi e Jagannatha Misra. Vezes e mais vezes, eu ofereço minhas respeitosas reverências aos pés de Saci e Jagannatha Misra, a quem o Senhor Supremo e controlador de ilimitadas manifestações cósmicas Se submeteu como filho. Assim, o Senhor de Vaikuntha, Sri Visvambhara, desfrutou de maravilhosos passatempos. Devido à energia espiritual do Senhor Supremo, todavia, ninguém era capaz de reconhecer Sua identidade verdadeira.


Tradução de Bhagavan dasa (DvS), revisão de Naveen Krishna dasa (RnS), Prana-vallabha devi dasi (DvS) e Prema Vardhana devi dasi (DvS)