Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

As Instruções Finais do Grande Mestre Shankara

As Instruções Finais do Grande Mestre Shankara

Por que um sannyasi Vaishnava, praticante de bhakti-yoga, devoção a Krishna, se daria ao trabalho de escrever um livro comentando os textos daquele que é considerado o maior entre todos os impersonalistas?
Baseado nos ensinamentos de meu mestre espiritual, A. C. Bhaktivedanta Swami, e no estudo aprofundado dos próprios textos de Sripada Shankaracharya, fica claro que ele não era um mero impersonalista, pois jamais negou a forma eterna e plenamente bem-aventurada de Deus. Quando o estudante considera o contexto histórico do aparecimento de Shankara e suas causas confidenciais, ele pode não apenas compreender, mas também valorizar a missão daquele que foi um dos maiores filósofos que o mundo pôde conhecer.
Tendo vivido há aproximadamente 2.500 anos, o aparecimento de Shankaracharya neste mundo é mencionado no Padma-Purana, onde se afirma que ele é uma poderosa encarnação do Senhor Shiva, que nasceu logo depois da influência do Senhor Buddha. Em outras palavras, sua missão específica foi restabelecer a autoridade das escrituras védicas, a qual, pela influência do budismo, havia se perdido.
Adi Shankara, como ficou conhecido por todo o mundo, nasceu numa aldeia chamada Kalady como filho de Shivaguru e Aryamba, um casal de brahmanas eruditos védicos. Durante sua breve existência, ele viajou através de toda Índia a pé, pregando sua filosofia não-dualista (advaita) e aceitando discípulos dos quatro cantos do país. Além disso, ele reestruturou todas as 72 formas de práticas religiosas irregulares e superficiais, transformando-as em normas aceitáveis, e enfatizou as seis maneiras de adoração baseadas nos Vedas. Discutindo com muitos eruditos durante suas longas viagens pelo país, Shankara preparou muitos tratados filosóficos nos quais se estabelece o conceito monista advaita. Seus comentários sobre os Brahma-sutras, a Bhagavad-gita, os dez principais Upanishads e mais algumas obras e poemas em louvor a várias deidades védicas se tornaram muito famosos. O presente trabalho, “Bhaja Govindam”, gira em torno dos doze primeiros versos de uma série de hinos compostos por ele e seus discípulos. Como ficará claro durante a leitura, o propósito do Mestre era o de fomentar o sentimento de devoção nos corações das pessoas. Na verdade, essa foi a principal finalidade do aparecimento de Shankara neste mundo. Do ponto de vista devocional, “Bhaja Govindam” é considerada a mais importante obra de Shankara, e neste breve “Buquê de poemas em louvor ao Senhor Govinda” (dvadasha-mañjarika-stotra), ele enfatiza a natureza efêmera da vida, a grandeza do guru, as glórias de bhakti, o verdadeiro amor, as ilusões do mundo, etc. Curiosamente, apesar de serem compostos de maneira absolutamente clara, os atuais seguidores de Shankara têm sérias dificuldades em aceitar tais textos devocionais apresentados por ele sem distorções ou interpretações pessoais. De fato, especialmente nos meios acadêmicos, quando se fala em filosofia Vedanta, geralmente associam-na aos ensinamentos de Shankaracharya, os quais são apresentados especialmente em seu Shariraka-bhasya e são conhecidos como advaita-vedanta. Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, o Fundador e Mestre do Movimento Hare Krishna, por sua vez, trabalhou arduamente para explicar a visão Vaishnava do Vedanta-sutra, apresentando, assim, um ponto de vista diferente de Shankara. Inclusive, ele chegou a iniciar a tradução do primeiro capítulo do Vedanta-sutra tecendo valiosos comentários sobre ele. Em relação a isso, ele afirmou:
Meu mestre espiritual, Om Vishnupada Paramahamsa Sri Srimad Bhaktisiddhanta Saraswati Goswami Maharaja, ordenou-me que apresentasse a filosofia gaudiya-vaishnava em inglês o máximo possível, e, nessa tentativa dedicada às pessoas da língua inglesa, desde 1965 tenho estado nos países ocidentais com meus três livros do Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam. Depois apresentei meu comentário sobre a Bhagavad-gita conhecido como “O Bhagavad-gita Como Ele É”, e similarmente apresentei “Os Ensinamentos do Senhor Chaitanya. Também a pedido de muitos de meus discípulos ocidentais estou tentando apresentar um comentário em inglês sobre o Vedanta-sutra conforme segue. No presente momento pelo mundo inteiro existem inúmeras pessoas sem Deus. Em geral elas são muito apegadas à filosofia vazia apresentada pelo Senhor Buddha ou à filosofia impersonalista apresentada por Shankaracharya. Em outras palavras, para ser mais direto e simples, as pessoas estão se tornando muito ateístas. Dizer que não há Deus, como declaram os ateístas, é um tanto audacioso e simples. Porém, dizer que existe uma causa suprema vazia e sem forma é ainda mais perigoso que a simples declaração de que não há Deus.
Tentando servi-lo humildemente, e seguindo seus passos, nesses meus comentários procuro simplesmente me manter fiel ao interesse expresso por meu mestre espiritual instrutor, A. C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, e tento mostrar a visão devocional do conhecimento védico, conforme os ensinamentos que me foram transmitidos por ele, por meu mestre iniciador, Srila Hridayananda Das Goswami, e pelos demais preceptores Vaishnavas que fazem parte da linha de sucessão discipular. Esperamos que a leitura seja de seu agrado e possa ajudá-lo a compreender a autoridade e a beleza do movimento inaugurado por Sri Chaitanya Mahaprabhu há 500 anos atrás e trazido inteligentemente para o Ocidente por Srila Prabhupada.
Todos os acharyas, ou mestres proeminentes das diferentes escolas Vaishnavas compilaram variados comentários sobre o Vedanta-sutra e eles não apenas não seguem os princípios da escola Shankarista como discordam deles e apresentam uma visão devocional baseada nos ensinamentos do Srimad-Bhagavatam, a nata de todo o conhecimento védico. Quando esses textos chegarem ao conhecimento do mundo, certamente a ciência transcendental de bhakti, ou consciência de Krishna, ganhará muita força e se espalhará por todo o mundo como rastro de pólvora.
Enquanto os monistas impersonalistas frisam mais a não-dualidade e com frequência se declaram Deus (uma vez que, segundo eles, não há existência de Deus separadamente), os praticantes de bhakti, ou devotos Vaishnavas, apresentam um ponto de vista completamente diferente. De qualquer modo, tanto os impersonalistas (Mayavadis) como os personalistas (Vaishnavas) aceitam que Vedanta significa a última palavra em matéria de buscar conhecimento. Todo mundo está buscando algum tipo de conhecimento. Existem universidades, instituições e muitos estabelecimentos educacionais buscando conhecimento, porém Vedanta significa a última palavra na busca de conhecimento. Essa última palavra na busca de conhecimento é explicada na Bhagavad-gita diretamente por Krishna (15.15):
Entre todos os Vedas, Eu sou o que há de ser conhecido. Na verdade, sou o compilador dos Vedas e o conhecedor dos Vedas como eles são.
Baseado nessas palavras de Krishna, e em centenas e milhares de outros textos védicos autorizados, o Vaishnava compreende claramente que o propósito do conhecimento védico é compreender Krishna. O verso acima é uma explicação muito significativa do Vedanta-sutra, ou Brahma-sutra, dada pelo próprio Krishna. Em outra parte, Ele também Se referiu ao Vedanta-sutra dizendo: “Ao longo do Brahma-sutra pode-se de fato compreender o que é a filosofia da Bhagavad-gita”. Assim, a Bhagavad-gita e o Vedanta-sutra estão muito intimamente relacionados. Compreender o Vedanta-sutra corretamente significa compreender a Bhagavad-gita corretamente e vice-versa. Entretanto, a escola Monista não reconhece os comentários do Vedanta apresentados pelos acharyas Vaishnavas, conhecidos como suddha-advaita, vishisthta-advaita e dvaita-advaita, bem como a filosofia do “inconcebivelmente-uno-e-diferente” do Senhor Chaitanya, conhecida como achintya-bhedabheda-tattva. Segundo eles o comentário Monista de Shankara sobre o Vedanta-sutra é final. Através de uma concepção completamente equivocada, o corpo de Krishna é considerado material e, consequentemente, os seguidores da Consciência de Krishna não são aceitos como transcendentalistas. Para eles, somente a filosofia de Shankaracharya expressa em seu Shariraka-bhasya é a última palavra em conhecimento védico.
Embora não concordem com a filosofia de Shankara, os Vaishnavas o respeitam, porque compreendem que Shankara veio a este mundo para uma missão especial. Como foi dito, tratava-se de um momento em que o ateísmo budista estava influenciando toda a Índia e, portanto, não seria possível restaurar de forma direta o conceito puramente teísta da literatura védica. Assim, Shankara fez o melhor que pôde para ajustar-se ao tempo e às circunstâncias. Embora suas interpretações se assemelhem ao budismo, ele recorreu à autoridade da literatura védica – e essa era a sua missão específica. Apesar disso, no final de sua vida, Shankara compôs estes doze versos extremamente devocionais, os quais se tornaram muito famosos e começam com as palavras “Bhaja Govindam”, que significam “Adorem Govinda”.