Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Uma Vida de Serviço Exemplar (A Life of Ideal Service)


Uma Vida de Serviço Exemplar
A Life of Ideal Service


Por Lilavati Devi Dasi e Shachirani Devi Dasi


Servir à personalidade Bhagavata, ou o servo puro de Deus, é descrito ao longo das escrituras Védicas como sendo mais efetivo e prazeroso ao Senhor do que prestar serviço ao Senhor Supremo diretamente. O Bhagavata vem na linha de uma genuína sucessão discipular iniciada pelo Senhor, e, através da sucessão discipular, o princípio divino é transmitido ao humilde aspirante à transcendência. Sua Santidade Bhaktisvarupa Damodara Svami, também conhecido como Sripada Maharaja, prestou sincero e amoroso serviço a seu mestre espiritual, Srila Prabhupada, que pertence a linhagem espiritual da Brahma-Madhva-Gaudiya-sampradaya. Sripada Maharaja foi, assim, um exemplo ideal de bhagavata-sevarpanam – servo do Bhagavata.
Sripada Maharaja nasceu no antigo reino Vaisnava de Manipur, no nordeste da Índia, no dia nove de dezembro do ano de 1937. Era o dia sagrado conhecido como Odana-shashthi, quando novas roupas são oferecidas ao Senhor Jagannatha. Seus pais eram Sri Yogendra Singh e Srimat Kanyahanbi Devi. Sendo Vaisnavas, eles deram a seu filho o nome de Damodara, um dos santos nomes do Senhor Sri Krsna. Sri Yogendra Singh era um cantor devocional na tradição Nata Sankirtana, e por isso, desde o primeiro momento que o pequeno Damorada apareceu neste mundo, seu pai deu a seus ouvidos o deleite de canções devocionais com os nomes e passatempos do Senhor Supremo.
Quando jovem, Sripada Maharaja se deparou com muitas dificuldades. Por volta dos oito anos de idade ele perdeu seu pai, e, alguns anos depois, ele e sua irmã estavam vivendo sozinhos em grande pobreza. A vida era difícil, mas, apesar de todas as dificuldades, eles permaneceram destemidos devido a estarem refugiados na misericórdia do Senhor Sri Krsna.
Uma vez, aos dez anos, Sripada Maharaja disse a sua irmã, “Um dia teremos dinheiro, e eu lhe cobrirei de ouro”.
“Não”, ela disse, “um dia você irá se casar, cobrir sua mulher com ouro, e me esquecerá”.
A que Sripada Maharaja respondeu com firmeza, “Eu nunca vou me casar”.
Ele se manteve naishthika-brahmacari (monge celibatário) ao longo de sua vida.
Quando Sripada Maharaja completou doze anos, ele foi forçado a viver sozinho, e se mantinha plantando arroz. Assim, ele não tinha tempo para continuar seus estudos. Algum tempo depois, seu professor da escola primária percebeu seu potencial e, juntamente com um ancião da vila, providenciou a Damodara uma casa apropriada e também facilidade para seus estudos futuros.
Aos quatorze, Sripada Maharaja ficou muito doente tendo contraído tifóide. Os médicos da vila declararam com unanimidade que ele morreria em breve. Mas seu tutor orava diariamente por melhoras recitando o dashavatara-stotra, uma oração às dez encarnações do Senhor Sri Krsna. Após jejuar por quarenta dias bebendo apenas soro de leite, Sripada Maharaja se recuperou miraculosamente.
Em outro momento, Sripada Maharaja caiu de um pé de manga.
Caído e semi-inconsciente, ele ouviu seu tutor dizer, “Você não pode morrer ainda, sua missão aqui não está completa”.
Ele de repente retomou sua consciência e rapidamente se recuperou de seus machucados.
Crescendo, Sripada Maharaja era muito ávido por ouvir acerca dos passatempos do Senhor. Ele, uma vez, passou a noite toda assistindo a divina dança rasa-lila de Krsna com Suas gopis encenada de uma forma tradicional de Manipur. Ele acabou por perder sua prova final de matemática no dia seguinte. Sripada Maharaja também iria participar regularmente da adoração às deidades de Radha-Krsna, Gaura-Nitai, e Jagannatha, Baladeva e Subhadra no templo de sua vila.
Encontrando-se com Srila Prabhupada
Devido à conduta respeitosa de Sripada Maharaja ao longo de sua vida estudantil, ele desenvolveu um bom relacionamento com seus professores para toda a vida. Tendo a habilidade de se tornar um especialista em qualquer coisa que se focasse, ele ganhou bolsas que lhe permitiram continuar sua educação em Calcutá e por fim nos Estados Unidos. Na década de 60, para uma pessoa do pequeno estado de Manipur, ir para os Estados Unidos com bolsa de estudo era quase impossível. Mas, pela misericórdia do Senhor Supremo, Sripada Maharaja ganhou uma bolsa de estudos internacional do ministro da educação da Índia.
Enquanto fazia seu doutorado em Química na Universidade de Califórnia, ele conhece Srila Prabhupada. Sripada Maharaja rapidamente decide dedicar sua vida a serviço de Prabhupada e de sua missão. Sripada Maharaja recebeu iniciação espiritual de Srila Prabhupada, que lhe deu o nome espiritual de Svarupa Damodara Dasa. Mais tarde, após aceitar a iniciação de sannyasa, o prefixo Bhakti foi adicionado. Desde então ele é conhecido como Sripada Bhaktisvarupa Damodara Svami ou Sripada Maharaja.
Instruções de Prabhupada
Pelos próximos oitos anos, desde as caminhas matinais com Srila Prabhupada ao longo da praia de Venice na Califórnia dos anos 70, até a última hora em que Srila Prabhupada exibiu seus passatempos neste mundo, em Vrndavana, 1977, Srila Prabhupada daria inúmeras instruções a Sripada Maharaja de como introduzir devidamente a cultura Bhagavata no mundo dos líderes e intelectuais.
Essas instruções abrangiam os campos da ciência, filosofia, religião, cosmologia Bhagavata, evolução, arte, cultura, educação espiritual e outros. Algumas dessas conversas matinais entre Srila Prabhupada e Sripada Maharaja ao longo da praia de Venice são atualmente distribuídas e publicadas pela Bhaktivedanta Book Trust (BBT) como o livro A Vida Vem da Vida.
Em 1973, Sripada Maharaja ofereceu um pequeno livro a Srila Prabhupada no dia em que se comemorava, em Los Angeles, o dia do aparecimento de Prabhupada. Srila Prabhupada gostou tanto do livro que mandou que fosse impresso e distribuído em grande escala. O livro - The Scientific Basis of Krishna Consciousness [sem tradução para o português] – é baseado nas instruções que Sripada Maharaja recebeu de Srila Prabhupada. Prabhupada iria regularmente mostrar o livro para convidados e dizer que ele havia sido escrito por um de seus discípulos cientistas. Ele mandou a BBT imprimir mais de 100.000 cópias. Este livro ainda é muito usado para apresentar a consciência de Krsna a estudantes de faculdades e universidades ao redor do mundo. Mais de um quarto de milhão de cópias foram impressas, e ele foi traduzido para diversas línguas.
O Instituto Bhaktivedanta
Após Sripada Maharaja receber seu título de doutor em química físico-orgânica em 1974, ele foi ficar com Prabhupada em Vrndavana. Srila Prabhupada disse que queria começar um instituto para apresentar a consciência de Krsna de forma científica para os intelectuais. Ele disse querer Sripada Maharaja como o diretor do instituto. Sripada Maharaja humildemente se expressou como não sendo qualificado para a posição.
Srila Prabhupada, então, disse, “Eu lhe darei todas as instruções necessárias para dirigir o instituto. Você deve apenas segui-las”.
Mais tarde, Sripada Maharaja sugeriu o nome Instituto Bhaktivedanta, e Srila Prabhupada aceitou humildemente.
Srila Prabhupada instruiu Sripada Maharaja a como deveria ser o funcionamento e organização do instituto. Ele lhe deu instruções específicas para organizar conferências, dar palestras, escrever livros e manter-se em contato com estudantes e intelectuais.
Srila Prabhupada viu em Sripada Maharaja uma pessoa que pudesse cumprir todas essas instruções, pois ele tinha uma formação científica, uma natureza cavalheiresca, e, acima de tudo, as qualidades de um Vaisnava.
O servo pessoal de Srila Prabhupada, Srutakirti Dasa, dirigindo-se a Sripada Maharaja, disse, “Quando eu era servo pessoal de Sua Divina Graça Srila Prabhupada, parecia que você estava sempre perto dele. Ele tinha muita afeição por você... Ele dedicou tanto tempo a você porque sabia que não seria perda de tempo”.
Prabhupada disse certa vez, “Svarupa Damora é um devoto muito gentil: ele tem a qualidade de sempre fazer amigos, nunca inimigos. Ninguém é capaz de falar mal dele”.
Em 1977, Sripada Maharaja deu uma palestra sobre a base científica da consciência de Krsna em uma grande pandal (tenda) durante um programa em Bombain. Srila Prabhupada estava extremamente satisfeito com sua apresentação científica.
Honrando Sripada Maharaja, seu irmão espiritual Giriraja Svami relembrou a ocasião: “Embora Prabhupada estivesse um tanto quanto doente (tendo sido este seu último compromisso público), ele permaneceu no pandal se esforçando ao máximo para suportar as deficiências do corpo, pois ele estava tão satisfeito com seu serviço que ele queria ficar ali para ouvir sua apresentação... Eu nunca vou me esquecer de quão feliz ele estava. Eu poucas vezes o vi tão feliz. Ele estava realmente muito satisfeito com sua apresentação naquela noite no Cross Maidan”.
Qualquer discípulo de Srila Prabhupada que tenha presenciado ele e Sripada Maharaja juntos, afirma ter sido muito bonita a relação dos dois. Sripada Maharaja tomou as instruções de Srila Prabhupada como sua vida e alma. Cumprir tais instruções foi sua oferenda de amor, como discípulo, a seu divino mestre, Srila Prabhupada.
Entrevistas, Simpósios e Livros
Para o prazer de Srila Prabhupada, Sripada Maharaja organizou cinco grandes conferências internacionais, em Vrndavana (1977), Mumbai (1986), São Francisco (1990), Kolkata (1997) e em Roma (2004). Essas conferências expuseram líderes de comunidades científicas e espirituais à perspectiva Bhagavata. Ele organizou centenas de seminários e simpósios e encontrou e entrevistou várias personalidades laureadas Nobels, líderes políticos e grandes pensadores do mundo, como Charles Townes, William Phillips, Desmond Tutu, Papa João Paulo II, o Dalai Llam e Madre Teresa.
Em resposta a instrução de Srila Prabhupada de escrever livros, Sripada Maharaja publicou dezenas de livros sobre ciência e espiritualidade. Srila Prabhupada lhe disse, “Você é um cientista; prove cientificamente que Deus é uma pessoa”. Em 2006 ele publicou God Is a Person [sem tradução para o português], contendo seu diálogo com dois dos mais proeminentes laureados Nobels.
Como instruído por Srila Prabhupada, Sripada Maharaja também escreveu um comentário científico sobre os quatro primeiros versos do Vedanta-sutra, resumindo a obra. Ele também editou e publicou Savijnanam e Tattva-jijnasa, respectivamente o jornal e a revista do Instituto Bhaktivedanta. Hoje, principalmente devido a seus livros, Sripada Maharaja é reconhecido em grandes meios científicos e religiosos ao redor do mundo, e é considerado uma das autoridades vanguardistas no campo da ciência e espiritualidade.
Para distribuir os livros de Srila Prabhupada e do Instituto Bhaktivedanta a faculdades e universidades ao longo da Índia, Sripada Maharaja iniciou o Instituto Bhaktivedanta sobre Rodas. Atualmente, três ônibus/casas viajam ao redor da Índia para pregação fora dos limites do Instituto. Os membros da pregação itinerante organizam palestras e distribuem livros a estudantes, professores e bibliotecas, promovendo um diálogo entre ciência e espiritualidade.
No nordeste da Índia, Sripada Maharaja iniciou uma rede de escolas primárias e secundárias para promover os objetivos do Instituto Bhaktivedanta. Mais de quatro mil estudantes estão matriculados nessas escolas e recebem uma educação científica centralizada nos valores espirituais da tradição Bhagavata.
Distribuindo a Cultura Vaisnava
Ao longo de sua vida, Sripada Maharaja participou de inúmeros festivais e conferências ao redor do mundo. Nesses eventos ele introduziu os princípios espirituais da cultura Vaisnava, que ele havia recebido de Srila Prabhupada. Ele fez isso através da literatura, culinária e artes, levando o Vaisnavismo a inúmeros lugares, das escolas urbanas às mais prestigiadas universidades, de asilo de idosos ao renomado Centro Kennedy de Washington D.C., da América do Sul a Singapura, e para audiências do ensino fundamental a líderes de estado. A apresentação e distribuição do princípio espiritual da cultura Vaisnava por Sripada Maharaja para incontáveis pessoas ao redor do mundo faz dele, certamente, um embaixador da cultura Bhagavata.
Para apresentar a cultura Bhagavata de Manipur para o mundo, em 1989 Sripada Maharaja fundou a companhia de teatro Ranganiketan Manipuri Cultural Arts. Ranganiketan é a maior e mais frequentemente requisitada companhia de teatro da Índia. Como diretor da Ranganiketan, Sripada Maharaja compartilhou o belo passatempo da rasa-lila de Krsna com mais de um milhão de pessoas, com aproximadamente seiscentas apresentações por quase trezentas localizações diferentes por mais de quinze países.
Em seu trabalho para apresentar a cultura Bhagavata à sociedade dos intelectuais, Sripada Maharaja interagiu com muitos líderes espirituais das maiores religiões do mundo. Ele discutiu com eles o sublime e unificante ponto da tradição Bhagavata, o que muito deles apreciaram sinceramente.
Sripada Maharaja sentia que tais diálogos com os líderes religiosos era um poderoso recurso para a criação de um entendimento profundo dos pontos comuns entre várias religiões e sociedades. O futuro depende de que todas as religiões trabalhem juntas para formular um padrão mundial ético e moral para guiar as ações da humanidade na direção correta.
Nos últimos vinte e cinco anos, Sripada Maharaja organizou seminário e discussões inter-religiosas ao redor do mundo. Também, no começo da década de 80, em Manipur, ele conduziu anuais padayatras (caminhadas) pela paz e harmonia religiosa. Sripada Maharaja foi membro do conselho mundial da United Religions Initiative (URI), uma iniciativa espiritual internacional semelhante às Nações Unidas. A URI é a maior organização mundial dedicada a pregar a paz e o entendimento entre as religiões do mundo.
No espírito de paz e harmonia, Srila Prabhupada disse a Sripada Maharaja, recebendo-o em seus últimos dias de vida, que ele queria iniciar o Bhaktivedanta Svami Charity Trust para trazer união entre todos os Gaudiya Vaisnavas e para ajudar na preservação de antigos templos Gaudiyas e lugares sagrados. Sripada Maharaja trabalhou arduamente por este objetivo de paz e união.
Srila Prabhupada instruiu Sripada Maharaja a fazer de Manipur o estado do Vaisnavismo científico. Assim, Sripada Maharaja começou a construir a Universidade da Cultura Bhagavata em Imphal, Manipur. Brilhando no centro do complexo universitário está o extraordinário templo em forma de pedra preciosa Sri Sri Radha-Krsnacandra Manimandira. A grande inauguração do templo será em 21 de novembro de 2007. Todos estão convidados. Sripada Maharaja também inaugurou a construção de templos por toda a Índia, incluindo o Siliguri, o Tirupati, o Vijayawada e o Agartala.
Desde sua infância, Sripada Maharaja foi profundamente influenciado pela arte, música e danças devocionais de Manipur. Excelente cantor, instrumentalista e poeta, ele compôs vários poemas e canções Vaisnavas na língua Manipuri. Ele cantava divinamente, trazendo prazer transcendental para aqueles que o ouvissem.
Sripada Maharaja foi, e continua sendo, um mestre espiritual, professor e guia para milhares de pessoas. Por onde quer que ele passasse, sua amizade cativava e encantava pessoas de todas as idades, fés, e estilos de vida. Seus discípulos foram tocados por sua completa dedicação a instrução de seu mestre espiritual. Desejando perpetuar a missão de servir Srila Prabhupada, os discípulos de Sripada Maharaja estão agora tomando suas instruções com a mesma sinceridade e seriedade.
Partida Auspiciosa
Sripada Maharaja partiu deste mundo no dia sagrado conhecido como Vijaya Dashami, durante o período do dia em que o Senhor Sri Krishna chama as Gopis para sua divina rasa-lila. A partida de Sripada Maharaja aconteceu em Kolkata, o local sagrado do aparecimento de seu divino mestre Srila Prabhupada. Kolkata é também o local onde Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur e Srila Bhaktivinoda Thakura deixaram este mundo. O purificado corpo de Sripada Maharaja foi colocado em samadhi (eterna meditação) no Radha-kunda, Vrndavana.


Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Abhyasa-yoga


Abhyasa-yoga
A Prática Aliada ao Esforço Constante e Ininterrupto
Em Consciência de Krishna


Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização – IBAR. Uberaba, MG. 23/09/2007.


Na disciplina de bhakti-yoga – o cultivo da devoção ao Supremo objeto de adoração, Sri Krishna, por entre diversas práticas recomendadas ao praticante para lograr krishna-prema (amor puro a Deus), há uma ênfase especial no cantar do maha-mantra Hare Krishna, isto porque, como instrui Srila Prabhupada: “Ao cantarmos, hare krishna hare krishna, krishna krishna, hare hare, hare rama hare rama, rama rama, hare hare, reavivamos nossa memória de Krishna. Por meio desta prática de cantar e ouvir a vibração sonora dos santos nomes do Senhor Supremo, ocupamos nosso ouvido, língua e mente. Esta meditação mística é muito fácil de praticar, e também nos ajuda a alcançar o Senhor Supremo”. Esta prática de cantar (kirtanam) e ouvir (sravanam) irá proporcionar ao praticante lembrança (smaranam) e conseqüentemente possibilitar-lhe gozar de uma relação íntima e doce com Seu Senhor adorável, quanto a isso não há duvida.
abhyasa-yoga-yuktena
cetasa nanya-gamina
paramam purusam divyam
yati parthanucintayam
(Bg. 8.8).

“Aquele que meditando em Mim como a Suprema Personalidade de Deus, sempre ocupa sua mente em lembrar-se de Mim e não se desvia do caminho, ó Partha, com certeza Me alcança”. Repare querido leitor que o Senhor Krishna inicia Sua fala com as palavras abhyasa-yoga-yuktena, isto é, ocupando-se em meditação de modo constante e ininterrupto e em seguida o Senhor declara, cetasa nanya-gamina, sem que a mente e inteligência sejam desviadas. Aqui dois parâmetros fundamentais para que haja êxito na prática da yoga são enunciadas pelo Senhor Yogueshvara (Sri Krishna, o mestre de todos os sistemas de yoga) que são determinação e firmeza.

Vejamos então como isso se sucede. Por natureza a mente é instável e volúvel, superior a ela, está à inteligência que tem a capacidade de discernir, ponderar e deliberar. Isto é, uma vez que a inteligência tenha por meio do estudo e investigação chegada à conclusão última que Sri Krishna é paramam purusam (a Suprema Personalidade de Deus) e que meditando no Senhor sob este aspecto, a pessoa alcança o destino transcendental - param gati, a inteligência deve então sujeitar firmemente a mente a este propósito. A mente em nenhum momento pode ou deve suplantar a inteligência. Aliás é tarefa do yogi sempre zelar para alinhar perfeitamente seu aparato sensorial e espiritual, no sentido de fazer valer a seguinte hierarquia funcional: sentidos, mente, inteligência e ego, todos sob o perfeito controle da alma que por sua vez se submete à vontade da Superalma (Sri Krishna, como companheiro no coração de toda entidade viva).

Abhyasa, a prática aliada ao esforço constante e ininterrupto no cantar do maha-mantra Hare Krishna é imprescindível para o bom êxito do praticante da disciplina de bhakti-yoga. É claro que quando se é neófito na senda espiritual ocorre de tempo em tempo alguns desvios aqui e acolá - digo isso por experiência própria -, mas deve-se tomar cuidado para não se afastar muito do caminho sob o perigo de se perder e não mais voltar a ele. Para o devoto iniciado, Srila Prabhupada, o fundador-acharya da Sociedade Internacional da Consciência de Krishna, estabeleceu um voto de se cantar diariamente dezesseis voltas de japa (terço de cem e oito contas) do maha-mantra Hare Krishna. Mas para aquele que está se aproximando recentemente dos devotos de Krishna, simpatizando com os mesmos e sente vontade de cantar o maha-mantra Hare Krishna, ele pode eleger pessoalmente um numero de voltas segundo sua disponibilidade e capacidade, tomando o cuidado de agregar a isso abhyasa, isto é, tentar manter o número de voltas a que se propôs e aos poucos ir se aproximando do ideal de voltas de japa estabelecido por Srila Prabhupada. E claro, aliado a isso, aconselha-se ao candidato buscar sempre a associação dos devotos, e tomar se possível refúgio ou abrigo (um primeiro compromisso informal) num mestre espiritual que lhe inspire amor e confiança, isso lhe insuflara entusiasmo e vontade de seguir praticando esta meditação mântrica que é su-sukham – doce, agradável e muito fácil de praticar.

Irei concluir este artigo com uma metáfora muito instrutiva usada por Srila Prabhupada para ilustrar a vantagem de se pensar constantemente em Krishna, tirada dos maravilhosos ensinamentos que nos fornece diariamente a natureza, quem tiver olhos para ver que veja e quem tiver ouvidos para ouvir que ouça: “A lagarta enquanto no seu casulo pensa em tornar-se borboleta e desse modo no devido tempo se transforma em borboleta na mesma vida. De maneira semelhante, se sempre pensarmos em Krishna, é certo que, no fim de nossas vidas, teremos a mesma constituição corpórea de Krishna”.


HARE KRISHNA

O Mistério Madhusudana (The Madhusudana Mistery)


Originalmente publicado em Volta ao Supremo [Back to Godhead] – 2007
O Mistério Madhusudana
The Madhusudana Mistery

Por Satyaraja Dasa

Madhusudana. O nome sempre soou curioso para mim. De onde ele vem? No Bhagavad-gita, um de nossos textos mais sagrados, Krsna é tratado por Madhusudana, ou “o matador do demônio Madhu”, nada menos que cinco vezes (1.35, 2.1, 2.4, 6.33 e 8.2). E o pior é que Krsna não matou nenhum demônio chamado Madhu. Eu procurei ao longo de todo o vasto repertório de passatempos de Krsna várias e várias vezes. Nada de Madhu, pelo menos não em forma de demônio.
Muitos comentadores, incluindo Srila Prabhupada, dizem que por se referir a Krsna dessa maneira, Arjuna, o herói do Gita, está poeticamente indicando que Krsna poderia vencer as suas dúvidas assim como Ele vencera o inimigo de carne e osso no passado. Mas, mais uma vez, onde acontece tal morte? Quando Krsna mata um demônio chamado Madhu?
Minhas pesquisas me levam ao comentador Vaisnava do século décimo oitavo Baladeva Vidyabhushana. Ele escreve que o uso do nome Madhusudana no Gita implica que Krsna é capaz de matar a lamentação (shokam) de Arjuna assim como Ele matara Madhu no passado (madhusudana iti tasya shokam api madhuvan nihanishyatiti bhavah). Mas eu continuo me perguntando exatamente onde este demônio Madhu é descrito, e porque Arjuna se referiria a ele especificamente. Na época da guerra de Kuruksetra, Krsna havia matado muitos demônios, e Arjuna poderia ter se referido a qualquer um deles – “Ó matador de Putana”, “Ó conquistador de Kamsa”, e assim por diante. Então, para mim, obviamente há de haver uma razão para o uso específico do nome Madhusudana.
Com um pouquinho de trabalho, descobri que, de fato, Madhu não foi morto propriamente por Krsna, pelo menos não por Krsna em Sua forma original. Mas foi Visnu – a expansão de Krsna – quem se incumbiu do demônio Madhu-Kaitabha (história discutida em detalhes abaixo). Mais especificamente, Visnu matou Madhu em Sua forma de Hayagriva, que tem o corpo semelhante a um cavalo e é celebrado nos textos sagrados conhecidos como Puranas. Identificando Krsna como Madhusudana, o Gita está fazendo uma discreta conexão entre Krsna e Visnu, oferecendo aos leitores um vislumbre da divindade de Krsna.
Isto não significa que a divindade de Krsna está de alguma forma dependente de Sua identidade com Visnu. De fato, é exatamente o contrário, pois Krsna é a fonte de todas as formas e encarnações divinas. (Vide Srimad-Bhagavatam 1.3.28). Mas a concepção mais comum de Deus – todo poderoso e objeto de contemplação, mais grandioso e majestoso do que simples, invocando glorificação no lugar de intimidade – está mais de acordo com Visnu. Assim, mesmo nos tempos Védicos, a palavra Vaisnavismo (“adoração a Visnu”), e não Krsnaismo, era o nome preferido para sanatana-dharma, ou a eterna religião da alma. E também muitas escolas do Gita – tradicionalistas como algumas universidades ocidentais – tendem a ver o clímax do Gita como sendo a “grande revelação” no capítulo décimo primeiro, onde Krsna majestosamente exibe a Arjuna Sua todo-penetrante forma universal. A assunção deles é firmada na pura suntuosidade e opulência da revelação. Mas nossos grandes acharyas, com todo seu conhecimento, colocam mais ênfase no humilde pedido de Arjuna para Krsna mostrar novamente Sua forma mais íntima – embora superior – de dois braços. E preferem também enfatizam a instrução no fim do Gita (18.66) de abandonar todas as variedades de religiões e simplesmente se render a Deus [Krsna] com o coração repleto de amor e devoção.
Que Significado Carrega um Nome?
A denominação Madhusudana aparece pela primeira vez no capítulo primeiro, antes de Krsna revelar para Arjuna que tanto Ele quanto Seu amado devoto Arjuna haviam nascido várias vezes no passado (capítulo quatro), e antes dEle mostrar para Arjuna sua divindade de forma categórica (capítulo onze). A implicação é significativa: A ilusão de Arjuna é como uma lila, um passatempo transcendental, arranjado pelo Senhor. Em outras palavras, ele é colocado em um estado temporário de esquecimento para que Krsna pudesse falar o Gita, para instruir Arjuna e, através dele, cada um de nós. De outra forma, como Arjuna poderia saber, desde o começo, que Krsna é o mesmíssimo Visnu que nascera anteriormente para matar o demônio Madhu?
Claro que seguidores de Srila Prabhupada sempre souberam disso. Na introdução ao seu comentário ao Bhagavad-gita, Prabhupada escreve: “Sendo um companheiro do Senhor Krsna, Arjuna estava acima de toda ignorância, mas no Campo de Batalha de Kuruksetra, Arjuna foi posto em ignorância só para que perguntasse ao Senhor Krsna sobre os problemas da vida para que o Senhor pudesse explicá-los para o benefício das futuras gerações de seres humanos...”.
Também interessante ver como isso pode ser embasado no Mahabharata, escritura da qual o Gita é uma pequena seção: nos versos 3.41.1-4, Shiva dissera a Arjuna algo sobre a posição divina de Arjuna como Nara, o eterno associado de Narayana. E em 3.42.17-23, Yamaraja, o senhor da morte, disse a Arjuna: “Juntamente com Visnu, você irá aliviar o fardo da Terra”. Tudo isso é narrado principalmente no Sexto Livro, no qual o Gita aparece. Krsna também revelou Sua forma divina para os presentes na corte dos Kauravas, enquanto Ele estava em Sua missão de paz pelos Pandavas, e quando os Pandavas escolheram a Ele, ao invés de Suas forças armadas, para ficarem a seu lado na guerra de Kuruksetra. Assim, no momento que é falado o Bhagavad-gita, os principais combatentes sabiam perfeitamente acerca da posição divina de Krsna. Arjuna certamente sabia disso, e ao mesmo tempo não sabia – como mãe Yasoda, que viu todo o universo na boquinha do bebê Krsna e continuou tendo Ele como seu próprio filhinho.
O epíteto Madhusudana aparece repetidas vezes no Mahabharata antes do Gita, muitas vezes falado por Vaishampayana, o narrador. Mas Arjuna, Draupadi, e o demônio Sishupala também usam o nome. Assim, desde o começo do Mahabharata e no Gita, a identidade de Krsna como Visnu é clara.
A História de Madhu
A história do demônio Madhu é revelada no Kalika Purana, no Bhagavata Devi, e no Mahabharata. Srila Prabhupada menciona rapidamente a história em sei livro Krishna (no capítulo “Orações de Akrura”) e no Srimad-Bhagavatam (7.9.37, significado).
No começo, o mundo espiritual revelou o universo material, dentro do qual o Senhor Visnu se deitou sobre Sesha, Sua cama-serpente, e entrou em uma profunda sonolência cósmica. Enquanto o Senhor Visnu dormia, o caule de uma flor de lótus cresceu de Seu umbigo. No topo do caule havia uma flor de lótus, na qual apareceu Brahma, o primeiro ser criado. O Senhor Visnu deu-lhe a ordem de criar, e ele, então, meditou em como cumprir essa ordem dada por Deus.
É dito que quando Brahma sentou-se em profunda meditação, “cera de ouvido” (karna-shrotodbhava) escorreu do ouvido de Visnu. Dois ferozes demônios, Madhu e Kaitabha, nasceram daquela cera. Eles executaram grandes penitências por milhares de anos. Satisfeita com suas penitências, Laksmi, a consorte do Senhor, apareceu diante deles e concedeu-lhes a dádiva de que eles só morreriam quando eles assim o desejassem. Orgulhosos de seu novo recurso, os demônios se tornaram ultrajantemente arrogantes. Eles atacaram Brahma, ainda em meditação, e lhe roubaram os quatro Vedas. Embora furioso, Brahma estava indefeso na presença de adversários tão poderosos, e então correu para seu único refúgio, Visnu, pedindo por ajuda.
Visnu, todavia, estava em um sono profundo e não acordou, mesmo Brahma tentando ao máximo acordá-lO. Tendo realizado que o Senhor dormia por Sua vontade inconcebível, Brahma decidiu orar a Yoga-nidra, que não é outra senão a própria Deusa Laksmi em uma forma especial para servir ao Senhor em Seu sono yóguico. Atendendo ao senhor Brahma, Ela mostrou misericórdia para com ele e acordou o Senhor.
Brahma então contou ao Senhor Visnu sobre as nefastas atividades de Madhu e Kaitabha e implorou ao Senhor para destruí-los. O Senhor Visnu, sob a forma de Hayagriva, a bela encarnação como cavalo, lutou contra Madhu e Kaitabha e por fim recuperou as escrituras Védicas. Mas eles só poderiam morrer quando eles assim desejassem, como dizia a benção dada a eles. Então Visnu, inteligentemente, disse a eles que assim como a Deusa Laksmi havia lhes dado uma benção, eles também deveriam Lhe conceder uma. Afinal, Ele disse a eles, eles eram tão poderosos que deveriam mostrar para com Ele a mesma cortesia que Sua metade feminina, a forma personificada de Sua energia mística, havia lhes mostrado.
Devido à arrogância, eles caíram na astúcia do Senhor.
“Que favor Você quer de nós?” eles perguntaram. “Nós Lhe daremos qualquer coisa que Você queira”.
“Eu quero a morte de vocês!”, o Senhor respondeu.
E, assim, Hayagriva colocou um fim em suas atividades de uma vez por todas.
Srila Prabhupada escreve no Srimad-Bhagavatam (7.9.37, significado):
A transcendente Suprema Personalidade de Deus está sempre preparado para dar proteção a Seus devotos. Como mencionado aqui, o Senhor, em sua forma como Hayagriva, matou dois demônios chamados Madhu e Kaitabha quando eles atacaram o Senhor Brahma. Os demônios modernos pensam que não havia vida no começo da criação, mas pelo Srimad-Bhagavatam nós entendemos que a primeira criatura criada pela Suprema Personalidade de Deus foi o senhor Brahma, que é um grande conhecedor dos Vedas. Infelizmente, aqueles encarregados de distribuir conhecimento Védico, como os devotos ocupados na pregação da consciência de Krsna, podem, algumas vezes, serem atacados por demônios, mas eles devem estar certos que ataques demoníacos não podem atingi-los, pois o Senhor está sempre pronto para protegê-los.
A Doçura de Madhusudana
Há uma última, e mais esotérica, consideração em relação ao nome Madhusudana. Ele não significa apenas “Aquele que derrotou o demônio Madhu”, mas também significa “Aquele que derrota o mel [madhu] em doçura”. O Falso ego é tão doce quanto o mel e reside nos corações de todos, fazendo com que esqueçamos nossas identidades, como uma espécie de intoxicação. Assim, como Krsna destrói o falso ego com o archote do conhecimento, ele é chamado de Madhusudana. Por extensão, a palavra madhu se refere tanto a Krsna quanto a abelhas. Assim como abelhas tendem a desfrutar do mel das flores de lótus, Krsna desfruta do mel do amor de Seus devotos. Srila Rupa Gosvami, o grande santo Vaisnava do século dezesseis, usa essa dupla significância de Madhusudana no Ato Cinco de seu drama devocional Vidagdha Madhava:
Certa vez, quando Krsna e Radha estavam sentados juntos, um abelha estava incomodando Radharani por voar muito perto dEla. Krsna pediu a um amigo para espantar a abelha, e após espantar a abelha como Krsna lhe pedira, o amigo volta e diz que madhu foi embora. Como a palavra pode referir-se tanto a abelha quanto a Krsna, Radhrani “equivocadamente” tomou madhu como Krsna e começou a chorar, pensando que Krsna havia ido embora. Muito embora Ela estivesse bem ali nos braços de Krsna, Ela estava totalmente absorta em vipralambha-bhava, o humor de separação, um nível de amor divino aspirado pelos Vaisnavas avançados. Vendo as lágrimas de amor de Radharani, Krsna também começou a chorar, e Suas lágrimas se misturaram para se tornarem o lago sagrado conhecido, atualmente em Vrndavana, como Prema Sarovana.
Meus estudos do Gita, que Prabhupada se refere como um texto espiritual introdutório, inspirou minha pesquisa acerca do nome Madhusudana. Agora, para mim, esse nome conjura o aspecto mais íntimo de conhecimento divino, especialmente devido à relação extática do Senhor com Sua contraparte feminina. Definitivamente, Radha é responsável por Krsna se tornar Madhusudana, tanto por Seu êxtase de imaginar-se separada dEle, quanto por se expandir como Laksmi e Yoga-nidra, personagens principais no passatempo em que o Senhor mata o demônio Madhu.
Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

Tradução dedicada ao irmão Madhusudana dasa que agora poderá dar uma aula de domingo só explicando seu nome! ; )

Humilde e Bem Consigo


Originalmente publicado na edição americana de Volta ao Supremo [Back toGodhead] no ano de 2007


Humilde e Bem Consigo (Humble and Feeling Good)


Por Archana Siddhi Devi Dasi


Como terapeuta de famílias, eu aconselho tanto pessoas do movimento Hare Krsnacomo pessoas de fora do movimento. Recentemente eu recebi um e-mail de umajovem devota que estava infeliz em seu casamento devido à postura abusiva queseu esposo tinha, mas estava em conflito quanto a deixá-lo."Talvez seja bom que eu me sinta mal comigo mesma", ela escreveu, "porque issome fará desenvolver humildade".Não foi a primeira vez que eu ouvi essa lógica. O Bhagavad-gita ensina quehumildade é essencial para o progresso espiritual. Algumas vezes, os devotos,infelizmente, pensam que se sentir mal é um pré-requisito para a humildade.Diversas vezes me deparo com devotos se complicando com o conceito deauto-estima. Tendo lido as orações de santos de nossa linha, eles, algumasvezes, pensam que seus sentimentos deveriam se enquadrar nas declaraçõesauto-depreciativas de tais grandes almas. Por associarem baixa auto-estima comavanço espiritual, tais devotos podem perpetuar por toda a vida o sentimento deestarem mal consigo mesmos. Eles podem acabar por atrair pessoas para suasvidas que lhes tratarão de acordo com a maneira com que eles mesmos se sentem ese percebem.A confusão começa por tentar igualar sentimentos que vêem de nosso ego puro comsentimentos que vêem de nosso ego material, ou falso. As grandes almasexpressam sentimentos que nascem do ego espiritual puro, sentimentos que nãosão contaminados pelos modos da natureza material. Quando eles se sentem, naspalavras do Senhor Caitanya, "mais baixos que a palha na rua", é uma emoçãoplena de prazer. O devoto puro vê à grandeza do Senhor, e vê a todos como maisqualificados do que ele próprio. Eles estão imbuídos de amor e apreciação portoda a criação de Krsna. Bhaktivinoda Thakura, um excelso mestre Vaisnava, escreveu belas cançõesexpressando sua atração e amor por Krsna, músicas sobre alcançar a meta docoração - amor incondicional pelo Senhor - e canções auto-depreciativas, nasquais ele lamenta sua falta de devoção. Como uma alma pura, ele expressa seuapego e amor pelo Senhor e, ao mesmo tempo, sua angústia de sentir-sedesqualificado e sem esperança de atingir tal amor. Esses são sentimentosautênticos que nascem da humildade e de apego e amor pelo Senhor. Reconhecendo Nossas FalhasNas primeiras fases de nossa jornada espiritual, talvez experimentemosrapidamente essas emoções por Krsna estar preparando a terra de nossos coraçõespara cultivar nossa devoção. Eu me lembro de uma importante experiência quetive antes de me tornar devota. Eu tinha grande dificuldade de aceitar críticase achava que minha opinião era absolutamente certa. Essa mentalidade criouinúmeros problemas, tanto na área profissional quanto pessoal. Por meses, eucontestei as recomendações de meu supervisor quanto a como fazer meu trabalhocomo diretora residente de um dormitório universitário. Minha obstinação estavafazendo o meu trabalho muito difícil, e eu estava aflita por isso. Finalmente,um dia, eu tive a poderosa realização de que eu estava errada. Não só eu estavaerrada quanto a esse problema em particular, mas em relação a várias outrascoisas.É-me impossível descrever quão libertador foi para mim aceitar minha naturezafalível. Eu não precisava mais carregar o peso de estar sempre certa em relaçãoa tudo. Eu me senti pequena, mas ao mesmo tempo muitas possibilidades seabriram para mim. Pela primeira vez na minha vida adulta eu pude ver meuautoritarismo assumir uma posição verdadeiramente submissa. Essa mudança depostura mental me preparou para tomar refúgio em meu mestre espiritual e nosdevotos. Krsna nos ajuda a ficarmos livres por um instante do falso-prestígiopara que possamos, como encorajamento, provar a doçura da humildade.Algumas vezes, todavia, quando ainda estamos contaminados pelos modos danatureza material e identificados com nosso corpo e mente materiais, sentir-seinferior a palha na rua pode nos tornar desmotivados, entediados ou deprimidos.Esses sentimentos, então, impedem nossas praticas devocionais. Nós temos quejulgar se para nossa psique específica tal psicologia é favorável a consciênciade Krsna ou se é um impedimento no momento. Paradoxalmente, muitas pessoasprecisam desenvolver um saudável ego material antes de transcendê-lo e realizarseu ego espiritual.Eu ouvi uma vez um palestrante motivacional dizer que as pessoas comauto-estima saudável pensam menos em si mesmas, e não menos de si mesmas.Quando nos sentimos bem quanto a nós mesmos, nós podemos devotar mais tempo eenergia doando-nos aos outros, ao invés de absorvermo-nos em auto-piedade. Altaauto-estima também nos dá liberdade para agirmos de acordo com nossos valores econvicções. Quando nos sentimos mal conosco mesmos, às vezes, fazemos coisaspara agradar ou apaziguar os outros. Em um esforço para satisfazer o desejo dosoutros, nós podemos acabar sendo influenciados a fazer coisas conflitantes àsnossas crenças e valores. Sentindo-se Digno e QualificadoNathaniel Branden, um famoso psicólogo, define auto-estima como "a disposiçãode sentir-se bem consigo mesmo e qualificado a lidar com os desafios básicos davida e como sendo digno de ser feliz". Como esses aspectos da auto-estima -auto-conhecimento e amor próprio - têm relação com a consciência de Krsna?Krsna quer que todas as almas aprisionadas no mundo material sejam pacíficas efelizes. A vida humana nos possibilita a oportunidade de ocuparmos nossostalentos e habilidades no serviço ao Senhor. Quando nos oferecemos a servir aoSenhor, sentimos grande alegria. Um amigo, certa vez, deu ao meu esposo umquadrinho com os dizeres: "O que você é é um presente de Deus para você, e oque você se torna é seu presente para Deus".Além de confundirem humildade com baixa alto-estima, os devotos, às vezes,correlacionam o conceito de auto-estima com orgulho e egoísmo. Mas é, de fato,o contrário. Pessoas que exibem alta auto-estima também exibem uma atitude maishumilde perante os outros. Eles são mais inclinados a admitir e corrigir erros,enquanto que pessoas com baixa auto-estima são muitas vezes defensivas e têm anecessidade de provarem que estão certas.Em uma famosa história do Mahabharata, Krsna encontrou certa vez comYudhisthira Maharaja e Duryodhana. Desejando glorificar Seu devoto Yudhisthira,Krsna pediu a ele que encontrasse uma pessoa mais baixa que ele, e pediu aopecaminoso Duryodhana para que procurasse uma pessoa mais gloriosa que ele.Yudhisthira tinha todas as boas qualidades. Ele era pacífico e auto-satisfeito.Sem dúvida ele possuía uma saudável auto-estima. Mesmo assim ele não conseguiuencontrar ninguém mais baixo que ele. Mais uma vez, aqui se tem o exemplo deuma Vaisnava avançado que porta humildade genuína.Por outro lado, o perverso Duryodhana procurou por todo o seu reino o dia todoe não conseguiu encontrar ninguém que ele considerasse superior a ele mesmo.Duryodhana estava contaminado com orgulho e vaidade. Ele invejou e ofendeugrandes almas. Ele vivia em constante ansiedade para manter sua posição, sempretentando eliminar seus competidores. Sua auto-estima dependia de fatoresexternos como posição e poder, e assim ele não conhecia tal coisa como pazinterior. Ele era atormentado por sua própria luxúria e ambição.Orgulho Versus Auto-estimaPensar em si mesmo como grandioso é orgulho, não auto-estima. Uma pessoa comalta auto-estima demonstra humildade. A perfeição da auto-estima é percebida empessoas completamente livres do falso-ego, nas quais a humildade é produto darealização espiritual.No nosso estado condicionado, nós possivelmente nos identificaríamos mais com amentalidade de Duryodhana do que com a de Yudhisthira Maharaja. Mas no nossoprogresso na jornada espiritual, nós começamos a nos ver de forma diferente.Quanto mais realizamos não sermos o executor independente, mas o instrumento,mais saudável nossa auto-estima se torna. Na vida material, os modos dabondade, paixão e ignorância nos influenciam. Esses modos se misturam ecompetem entre si para moldar nossa mente, incluindo o modo como nos sentimosem relação a nós mesmos.Pessoas no abismo do modo da ignorância se sentem felizes e bem em relação a simesmas quando seus sentidos estão satisfeitos. Pessoas imersas no modo dapaixão estão felizes e bem consigo mesmas quando outros valorizam e reconhecemsuas atividades. Nesses modos inferiores, nossa idéia de eu oscila o tempotodo.Pessoas no modo da bondade são felizes e sentem-se bem em relação a si mesmasquando agem em conhecimento, de acordo com seus códigos e valores. Elas sãomenos reativas a estímulos externos, assim, a auto-estima de tais pessoasdepende mais de sua própria vida interior. Consequentemente têm mais controlesobre como se sentem.Pessoas em bondade pura, percebem a si mesmas como instrumentos do Senhor. Elasnão se identificam mais como o agente de suas atividades. O Exemplo de PrabhupadaNosso mestre espiritual, Srila Prabhupada, demonstrou alta auto-estima. Emborade baixa estatura, ele parecia grande para nós. Ele sempre mantinha sua cabeçaalta e se movia com objetivo e confiança. Ele fala de forma direta, comconvicção e coragem. Suas ações eram intrépidas e ousadas, e mesmo assim eletinha uma atitude humilde, sabendo que seu sucesso era devido à providência doSenhor. Sua humildade é exemplificada em suas orações abordo do navio quandoele estava vindo pela primeira vez aos Estados Unidos da Índia:Ó Senhor, eu sou como uma marionete em Suas mãos. Então, se me trouxeste aquipara que eu dance, faze-me dançar, faze-me dançar, ó Senhor, faze me dançarcomo quiseres.Não tenha nenhuma devoção, tampouco conhecimento, mas tenho grande fé no santonome de Krsna. Eu fui designado como Bhaktivedanta, e agora, se assim quiseres,podes cumprir o verdadeiro propósito Bhaktivedanta.Com grande humildade, Prabhupada finaliza sua carta, assinado como "o maisdesafortunado e insignificante mendigo, A. C. Bhaktivedanta Swami".De um lado, essas preces demonstram que Prabhupada se sentia muito baixo, masde outro lado ele confiava poder fazer qualquer coisa com a misericórdia doSenhor. A oração também nos dá a chave para desenvolvermos puras qualidadesdevocionais: fé no Santo Nome. Quanto mais forte a nossa fé na capacidade depurificação dos Santos Nomes, maior será nossa dedicação ao processo de cantar.Nós cantaremos com tanto foco e atenção quanto pudermos e evitaremos com muitocuidado as ofensas que retardam nosso progresso espiritual.Nós ficamos menos propenso a explorar os outros quando vemos a nós mesmo comoservos, realizando a nossa - dos outros - natureza espiritual como servos deDeus. Nós somos gloriosas centelhas da energia espiritual, com todas as boasqualidades, embora sintamo-nos pequenos na presença do mais glorioso, nossoSenhor. Com esse verdadeiro conhecimento, a alma pura pode ter alta auto-estimae humildade simultaneamente.Quando eu compartilhei alguns desses pontos com a jovem que havia me enviadosua pergunta por e-mail, ela me escreveu de volta: "É-me um grande alívioentender esses pontos dessa perspectiva. Agora eu entendo que não tenho quecontinuar convivendo desonrosamente com todo o tipo de abusos para serespiritual".Ele me sugeriu a escrever um artigo sobre o tema para a revista Volta aoSupremo. Eu aderi de todo o coração sua sugestão, uma vez que outros devotoshaviam feito perguntas similares ao longo dos anos. Espero que o artigo sejaútil para todos.


Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Fazendo a Escolha Certa


Publicado por Naveen Krsna Das (PGS) no Brazilian Forum


A natureza da vida é que em todo momento, nós temos uma escolha.Escolha do que pensar – é claro que, a mente, tantos pensamentos surgem, mascom nossa inteligência, nós temos a escolha: sobre o que ponderar, sobre oque meditar. Krsna diz *man mana bhava mad bhakto* – pense sempre em Mim,torne-se Meu devoto. Então nós temos essa escolha em todo momento – queremosmesmo contemplar os objetos dos sentidos? Krsna diz no Gita, qual é amentalidade que surge. O mecanismo psicológico que é ativado, quandocontemplamos os objetos dos sentidos. Quanto aos objetos dos sentidos, e osurgimento em nossa mente do desejo de desfruta-los, isso é algo que podeser inevitável para nós, neste estágio em particular do nossodesenvolvimento. No entanto, nós temos de fato a escolha do que contemplar. Desejo por atividades pecaminosas, desejo por gratificaçãoegoísta e mesquinha, pode vir à nossa mente, mas nós temos a escolha: eu voucontemplar isso? Ou eu vou contemplar Krsna? É muito importante, nós temosessa escolha. Nós temos uma escolha em todo momento – o que vamos contemplarem nossa mente. Nós temos uma escolha em nossa mente, se vamos simplesmentenos render aos ditames da mente e dos sentidos, ou se vamos tomar refúgio deArjuna, em sua carruagem, no campo de batalha de Kuruksetra, e lutar contrapensamentos baixos, imorais e desfavoráveis. Nós temos essa escolha. Nós temos uma escolha a cada uma das palavras que dizemos. Nóspodemos falar *prajalpa*. Sri Caitanaya Mahaprabhu explicou o que é *prajalpa*. E a pior *prajalpa* é criticar os outros. E a pior crítica aosoutros é criticar os devotos. O sabor é bom. Nós gostamos. Nossos egosgostam. Nossos egos gostam de ouvir os outros serem criticados. Nossos egosgostam de ser entretidos com assuntos mundanos. Mas Sri Caitanya Mahaprabhudisse, *quando você critica os outros, com sua boca, você está comendoveneno*. É venenoso. Como é venenoso? Porque mata a propensão espiritual dapessoa, a qual é nossa vida! Portanto, sim, a cada momento, nós temos uma escolha, quanto aoque pensar, e de acordo com nossa escolha nós estamos nos alimentando comnéctar ou veneno. Nós temos uma escolha a cada uma das palavras que dizemos,se iremos provar néctar ou veneno. E nós temos uma escolha a cada momento emnossas ações. Podemos agir piedosamente, podemos agir impiedosamente, e hátantos níveis de piedade e impiedade; ou nós podemos agir no serviço aoSenhor. Isto é livre arbítrio. Nós sempre temos esse livre arbítrio. Naespécie humana, esta é a qualidade especial, esta é a benção, que nós temoslivre arbítrio. E nós somos responsáveis, em todos os níveis, somosresponsáveis pelo que escolhemos em todo momento. Somos responsáveis pornossos pensamentos, somos responsáveis por nossas palavras, e nossas ações. Krsna diz no Gita, quando uma pessoa contempla os objetos dossentidos, desenvolve-se luxúria, desejo de desfrutar. Da luxúria, quando nãoé satisfeita, ira. Da ira, confusão da memória. Quando a memória estáconfusa, perde-se a inteligência. Quando perde-se a inteligência, nós agimosde certas maneiras cuja reação é que nós caímos novamente no poço materialda ignorância. Portanto, Krsna diz. Rupa Goswami explica que o primeirosintoma do serviço devocional, no espírito de rendição, é aceitar o que forfavorável à consciência de Krsna, e rejeitar o que for desfavorável àconsciência de Krsna. Este é o primeiro sintoma de rendição. Tudo tem a ver com fazermos nossas escolhas, em todo momento.Eu vou escolher contemplar, falar e agir de uma maneira que seja favorável àconsciência de Krsna, ou desfavorável? Se não soubermos, *maya* vaicertamente nos confundir. Nós iremos ao poço, com nossa profunda sede, epensaremos: deixe-me beber. E essa água pode ser tão doce. Mas pode terTifo. Ou pode ter arsênico em excesso. É veneno. E quanto mais bebemos, maisestamos destruindo nosso bem-estar, sem percebermos. Pode não fazer efeitoimediatamente, não é assim? Se você bebe água ruim, se ela tem um tipoparticular de doença, pode demorar vários dias até que essa doença façaalgum efeito em seu corpo. Portanto, devemos saber, é muito importante.-


Trecho de uma Aula de Radhanatha Swami no templo de Chowpatty, Bombaim.

Por que Krsna Aparece como Jagannatha


Da última edição americana de Volta ao Supremo [Back to Godhead] – Vol. 41, No 5 • Setembro / Outubro 2007
Da última edição americana de Volta ao Supremo [Back to Godhead] – Vol. 41, No 5 • Setembro / Outubro 2007
Por que Krsna Aparece como Jagannatha
Why Krsna appears as Jagannatha
Por Narada Rishi Dasa

Eu nasci em uma conservadora família Vaisnava em Puri, na costa leste da Índia. O Supremo Senhor Jagannatha e Seus devotos estavam no centro de minha vida. Quando criança, eu brincava com bonecos de Jagannatha, Baladeva (Balarama) e Subhadra, as deidades do famoso templo de Puri. Eu ainda me lembro como minha mãe me dava enormes pratos de Jagannatha Prasadam e dizia para eu sempre lembrar-me do Senhor. Eu via como as simples e devotadas pessoas de Orissa – mesmo doutores, engenheiros ou cientistas – nunca negligenciavam a adoração ao Senhor Jagannatha. Eu via como o rei de Puri se tornava um servo humilde e varria as ruas para o carro do Senhor Jagannatha desfilar no anual Ratha-yatra, ou festival de carruagens.

O Senhor Jagannatha talvez pareça peculiar ou estranho aos olhos ocidentais, mas Ele é a vida e alma do povo de Orissa. Embora eu tenha ido ao Festival de Ratha-yatra várias vezes durante minha juventude, foi quando eu me encontrei com os devotos da ISKCON que minha devoção pelo Senhor Jagannatha se tornou intensa.

Agora, o Senhor Jagannatha é adorado em vários templos da ISKCON ao redor do mundo, e eu, já mais maduro, posso percebê-lO como a pessoa mais misericordiosa e encantadora, que releva as ofensas de Seus devotos e os atrai dia após dia ao longo do caminho do serviço devocional.

Jagannatha significa “Senhor do Universo”. Vários livros Védicos mencionam que o Senhor Jagannatha é Krsna. Baladeva é Seu irmão, e Subhadra Sua irmã.

Embora Krsna seja absoluto e transcendental a natureza material, para aceitar o serviço amoroso de Seus devotos, Ele aparece perante nós como a deidade no templo feita de pedra, metal, madeira ou pintura. Jagannatha é uma forma de Krsna manifestada em madeira.

Porque o Senhor Jagannatha não se parece com Krsna, as pessoas talvez especulem “como Ele pode ser Krsna?”. As escrituras contam a história por trás da peculiar forma de Jagannatha.

O Advento Transcendental do Senhor Jagannatha

O Skanda Purana relata os esforços do rei Indradyumna para encontrar uma deidade de Krsna após sonhar com uma bela deidade azul chamada Nila Madhava. O nome descreve a cor de safira da deidade: Nila significa azul, e Madhava é um dos nomes de Krsna. O rei Indradyumna enviou mensageiros em todas as direções para encontrar Nila Madhava, e um brahmana de nome Vidyapati retornou com sucesso. Ele descobriu que em Vishvavasu, uma fazenda de porcos (savara) em uma remota vila tribal, estava-se adorando secretamente a Nila Madhava. Quando Vidyapati retornou ao local com Indradyumna mais tarde, entretanto, Nila Madhava não estava mais ali.

O rei Indradyumna cercou toda a vila com seus soldados e prendeu Vishavavasu, ao que uma voz vinda do céu proclamou “Deixe os criadores de porcos e construa um grande templo para Mim no topo da Colina Nila. Lá você me verá não como Nila Madhava, mas em uma forma feita de madeira de Nim.

Nila Madhava prometeu aparecer como madeira (daru), e por isso Ele é chamado de daru-brahma (“madeira-espírito”). Indradyumna esperava a beira mar, quando o Senhor apareceu como uma gigante tora boiando para dentro da praia.

Disfarçado como um senhor de idade, Vishvakarma, o arquiteto dos semideuses, apareceu para esculpir as deidades sob a condição de que só o faria se pudesse ficar por vinte e um dias sem ser perturbado em seu serviço. O rei Indradyumna consentiu, e o artista trabalhou a portas cerradas. Antes do período estipulado se esgotar, todavia, o barulho havia parado, e a intensa curiosidade do rei Indradyumna levou-o a abrir a porta. Vishvakarma havia desaparecido. Na sala, as deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra pareciam como se inacabadas – sem mãos ou pés – e Indradyumna ficou extremamente perturbado pensando que havia ofendido o Senhor.

Naquela noite, o Senhor Jagannatha falou ao rei durante um sonho e o tranqüilizou explicando que Ele estava se revelando naquela forma através de Seu próprio desejo inconcebível a fim de mostrar ao mundo que Ele pode aceitar oferendas sem mãos, e se mover sem pés.

O Senhor Jagannatha disse ao rei, “Certamente Minhas mãos e pés são o ornamento de todos os ornamentos, mas para sua satisfação, você pode Me dar mãos e pés de ouro e prata de tempos em tempos”.

Os devotos hoje adoram a mesma forma “inacabada” de Jagannatha, Baladeva e Subhadra em Puri e em templos ao redor do mundo. Essas formas são parte de Seus eternos passatempos.

Transformados pelas Narrações de Rohini

O Utkala-khanda do Skanda Purana trás outro relato em relação ao aparecimento de Krsna como Jagannatha. (Utkala é um nome tradicional para Orissa). Certa vez, durante um eclipse solar, Krsna, Balarama, Subhadra e outros residentes de Dwaraka foram se banhar em um lago sagrado em Kurukshetra. Sabendo que Krsna estaria presente no local de peregrinação, Srimat Radharani, os pais de Krsna, Nanda e Yashoda, e outros residentes de Vrndavana, que estavam queimando no fogo da separação do Senhor, foram até lá para se encontrarem com Ele. Dentro de uma das várias barracas que os peregrinos aviam levantado em Kurukshetra, Rohini, mãe do Senhor Balarama, narrou os passatempos de Krsna em Vrndavana para as rainhas de Dwaraka e outros.
É dito que os moradores de Dwaraka estão no humor de opulência (aishvarya), e que eles adoram a Krsna como o Senhor Supremo. Mas os residentes de Vrndavana estão no humor de doçura (madhurya), e têm uma relação confidencial com Krsna que transpassa a idéia de contemplação e reverência por ser baseada em amizade e amor. As histórias contadas por Rohini eram extremamente confidencias, então ela colocou Subhadra na porta para que ninguém ouvisse por acaso.
Krsna e Balarama foram também até a porta e ficaram cada um de um lado de Subhadra. Enquanto ouviam as narrações de Rohini dos passatempos íntimos de Krsna em Vrndavana, Krsna e Balarama se tornaram extáticos, e seus sentimentos internos se manifestaram externamente. Seus olhos se tornaram dilatados, Suas cabeças se compressaram junto ao corpo e seus membros se recolheram. Vendo essas transformações em Krsna e Balarama, Subhadra também entrou em êxtase e assumiu uma forma similar. Assim, por ouvirem acerca dos passatempos de Krsna em Vrndanva, Krsna e Balarama, com Subhadra no meio, exibiram suas formas extáticas de Jagannatha, Baladeva e Subhadra.

O Êxtase Máximo do Senhor

De acordo com o Skanda Purana, o Jyeshtha-purnima, o dia de lua cheia do mês de maio-junho, é o aniversário do Senhor Jagannatha. Jagannatha é Krsna, mas o aniversário de Krsna é o Janmastami, no mês de Bhadra (agosto-setembro). Esta aparente contradição é solucionada se entendermos que o Jyeshtha-purnima é o momento quando Krsna aparece na forma do Senhor Jagannatha com grandes olhos dilatados e membros reduzidos. Essa forma é conhecida como mahabhava-prakasha, a forma extática de Krsna. Mahabhava significa “o êxtase máximo”, e prakasha significa “manifestação”, assim o Senhor Jagannatha é literalmente a forma do Senhor em êxtase.

O poema Mahabhava Prakasha de um poeta da Orissa chamado Kanai Khuntia descreve o significado confidencial por trás da forma de Jagannatha: Ele é a corporificação do sentimento de saudades de Krsna dos residentes de Vrndavana, especialmente de Radha e das Gopis. As escrituras explicam que o intenso êxtase espiritual, particularmente neste humor de separação da pessoa amada, produz transformações no corpo. Uma vez que Krsna não é diferente de Seu corpo, Seus sentimentos mais internos manifestaram-se externamente, e Ele assumiu a forma de Jagannatha.

O êxtase de mahabhava é comparado a um oceano. No passatempo com o rei Indradyumna, um gigantesco tronco boiava no oceano. Similarmente, as formas de Jagannatha, Balarama e Subhadra bóiam no oceano de mahabhava.

Quando o sábio Narada viu Krsna transformado em Jagannatha, ele orou para que o Senhor aparecesse daquela forma novamente. Embora o Senhor não tenha nenhuma obrigação para com ninguém, Ele reciproca Seus devotos satisfazendo seus desejos. No Garga Samhita Krsna afirma (1.27.4): “Eu sou plenamente completo – todas as epopéias estão em mim. E mesmo assim eu Me rendo aos desejos de Meu devoto e apareço em qualquer forma que ele queira”. Assim, da mesma forma que Krsna aparece como Nila Madhava para satisfazer Vishvavasu, Ele aparece sob a forma da deidade de Jagannatha e reside em Jagannatha Puri para satisfazer o desejo de Narada Muni.

Essa forma especial de Krsna também é conhecida como Patita Pavana, o salvador dos caídos, e todo aquele que tem Sua audiência com a devida consciência é presenteado com a liberação espiritual.

Jagannatha como o Krishna de Vrindavana

Embora Jagannatha seja comumente identificado como o Krsna de Dwaraka, no humor de opulência, Sua real – e confidencial – identidade é como o Krsna de Vrndavana, o amante de Radharani. O Jagannatha Chaitanyam afirma, “Radha permanece no coração do Senhor Jagannatha, e Krsna no coração de Radha”.

Krsna é famoso por Seus relacionamentos, especialmente com os residentes de Vrndavana, e os devotos às vezes se referem ao Senhor Jagannatha nesse humor. Jagannatha é considerado o consorte de Radharani, que se associa com Krsna unicamente em Seu humor de Vrndavana. O êxtase resultante do amor de Krsna por Radharani é a causa de Sua transformação na forma de Jagannatha.

O poeta da Orissa, Banamali, canta, “Ó Jagannatha, amado filho de criação de Yashodadevi, Sua Radha é como o passarinho chataka que bebe apenas as puras gotas de chuva, e Você chove com muita graça”.

Em Vrndavana, Krsna assume a graciosa forma com três curvas corporais (tribanga-lalita) e usa uma pena de pavão e toca Sua flauta. O Jagannathashtakam (verso 2) identifica Jagannatha em tal humor: “Em sua mão esquerda, o Senhor Jagannatha segura uma flauta. Em Sua cabeça Ele usa uma pena de pavão e em Seus quadris Ele usa um fino tecido de seda amarelo. Pelo canto de Seus olhos, Ele olha de relance Seus amáveis devotos e sempre se revela através de Seus passatempos em Sua divina morada de Vrndavana. Que este Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão”.

A poetiza Madhavi-devi, a irmã de Ramananda Raya, escreve em uma de suas canções: “Os tenros e doces versos do Sri Gita-govinda, trazendo o nome de Radha, se entrelaçam com as khanduas [peças de roupas usadas por Jagannatha todas as noites}, que o Senhor Jagannatha mantém bem próximas de Seus membros”.

O Chaitanya-Chaitanya explica que Krsna vem como Caitanya a fim de entender os sentimentos de Radharani. Durante o Rathayatra, Ele dança em êxtase perante o Senhor Jagannatha (Krsna) para chamar Sua atenção. Em resposta, Jagannatha O consola: “Eu nunca esqueci nenhuma gopi ou gopa, muito menos Você, Srimat Radhika. Como poderia eu esquecê-lA?”.

Narada Muni revelou a Gopa-kumara no Brihad-bhagavatamrita (2.5.212–214): “Eternamente querida a Sri Krsnadeva, tanto quanto sua bela Mathura-dhama, é aquela Purushottama-kshetra. Lá, o Senhor não só exibe Sua opulência suprema, mas também encanta Seus devotos agindo como uma pessoa ordinária deste mundo. E se você continuar não estando plenamente satisfeito após chegar lá e vê-lO, então ao menos fique lá por algum tempo para conseguir sua meta desejada. É claro que sua meta última é amor puro pelos pés de lótus de Krsna, a vida e alma das divinas gopis – amor que segue o humor da própria Vraja-bhumi do Senhor. Você não está procurando por outra coisa”. Amor por Jagannatha é krishna-prema, amor por Krsna, que é nossa meta última. Krsna se tornou acessível a todos em sua forma como Jagannatha.

Uma vez que o Senhor Jagannatha não é outro senão Krsna, Sua morada é idêntica a Vrndavana, onde Krsna executa Seus passatempos infantis. Jagannatha Puri – também chamada Purushottama-kshetra, Sri Kshetra e Nilacala [o local da montanha azul] – contém todos os passatempos (lilas) de Krsna em Vrndavana, embora possam porventura estarem escondidos de olhos materiais. O Vaishnava-tantra afirma, “Qualquer lila de Krsna que é manifesta em Gokula, Mathura ou Dwaraka são encontradas em Nilacala, Sri Kshetra”.

Através da apropriada visão espiritual – olhos untados por amor puro por Deus, krishna-prema – a pessoa pode ver todos os passatempos de Krsna ali presentes.

Jagannatha não é ninguém senão a manifestação extática de Krsna que apareceu em Sua forma mais misericordiosa para ajudar-nos a voltar para casa, voltar ao Supremo. Por isso Srila Prabhupada introduziu o Ratha-yatra do Senhor Jagannatha em várias cidades ao redor do mundo, exatamente para retirar as almas condicionadas do feitiço de maya (ilusão). Tiremos todos, então, o máximo de benefício de tal evento.

Tradução por Bhagavan dasa (DvS)
Por Narada Rishi Dasa

Eu nasci em uma conservadora família Vaisnava em Puri, na costa leste da Índia. O Supremo Senhor Jagannatha e Seus devotos estavam no centro de minha vida. Quando criança, eu brincava com bonecos de Jagannatha, Baladeva (Balarama) e Subhadra, as deidades do famoso templo de Puri. Eu ainda me lembro como minha mãe me dava enormes pratos de Jagannatha Prasadam e dizia para eu sempre lembrar-me do Senhor. Eu via como as simples e devotadas pessoas de Orissa – mesmo doutores, engenheiros ou cientistas – nunca negligenciavam a adoração ao Senhor Jagannatha. Eu via como o rei de Puri se tornava um servo humilde e varria as ruas para o carro do Senhor Jagannatha desfilar no anual Ratha-yatra, ou festival de carruagens.

O Senhor Jagannatha talvez pareça peculiar ou estranho aos olhos ocidentais, mas Ele é a vida e alma do povo de Orissa. Embora eu tenha ido ao Festival de Ratha-yatra várias vezes durante minha juventude, foi quando eu me encontrei com os devotos da ISKCON que minha devoção pelo Senhor Jagannatha se tornou intensa.

Agora, o Senhor Jagannatha é adorado em vários templos da ISKCON ao redor do mundo, e eu, já mais maduro, posso percebê-lO como a pessoa mais misericordiosa e encantadora, que releva as ofensas de Seus devotos e os atrai dia após dia ao longo do caminho do serviço devocional.

Jagannatha significa “Senhor do Universo”. Vários livros Védicos mencionam que o Senhor Jagannatha é Krsna. Baladeva é Seu irmão, e Subhadra Sua irmã.

Embora Krsna seja absoluto e transcendental a natureza material, para aceitar o serviço amoroso de Seus devotos, Ele aparece perante nós como a deidade no templo feita de pedra, metal, madeira ou pintura. Jagannatha é uma forma de Krsna manifestada em madeira.

Porque o Senhor Jagannatha não se parece com Krsna, as pessoas talvez especulem “como Ele pode ser Krsna?”. As escrituras contam a história por trás da peculiar forma de Jagannatha.

O Advento Transcendental do Senhor Jagannatha

O Skanda Purana relata os esforços do rei Indradyumna para encontrar uma deidade de Krsna após sonhar com uma bela deidade azul chamada Nila Madhava. O nome descreve a cor de safira da deidade: Nila significa azul, e Madhava é um dos nomes de Krsna. O rei Indradyumna enviou mensageiros em todas as direções para encontrar Nila Madhava, e um brahmana de nome Vidyapati retornou com sucesso. Ele descobriu que em Vishvavasu, uma fazenda de porcos (savara) em uma remota vila tribal, estava-se adorando secretamente a Nila Madhava. Quando Vidyapati retornou ao local com Indradyumna mais tarde, entretanto, Nila Madhava não estava mais ali.

O rei Indradyumna cercou toda a vila com seus soldados e prendeu Vishavavasu, ao que uma voz vinda do céu proclamou “Deixe os criadores de porcos e construa um grande templo para Mim no topo da Colina Nila. Lá você me verá não como Nila Madhava, mas em uma forma feita de madeira de Nim.

Nila Madhava prometeu aparecer como madeira (daru), e por isso Ele é chamado de daru-brahma (“madeira-espírito”). Indradyumna esperava a beira mar, quando o Senhor apareceu como uma gigante tora boiando para dentro da praia.

Disfarçado como um senhor de idade, Vishvakarma, o arquiteto dos semideuses, apareceu para esculpir as deidades sob a condição de que só o faria se pudesse ficar por vinte e um dias sem ser perturbado em seu serviço. O rei Indradyumna consentiu, e o artista trabalhou a portas cerradas. Antes do período estipulado se esgotar, todavia, o barulho havia parado, e a intensa curiosidade do rei Indradyumna levou-o a abrir a porta. Vishvakarma havia desaparecido. Na sala, as deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra pareciam como se inacabadas – sem mãos ou pés – e Indradyumna ficou extremamente perturbado pensando que havia ofendido o Senhor.

Naquela noite, o Senhor Jagannatha falou ao rei durante um sonho e o tranqüilizou explicando que Ele estava se revelando naquela forma através de Seu próprio desejo inconcebível a fim de mostrar ao mundo que Ele pode aceitar oferendas sem mãos, e se mover sem pés.

O Senhor Jagannatha disse ao rei, “Certamente Minhas mãos e pés são o ornamento de todos os ornamentos, mas para sua satisfação, você pode Me dar mãos e pés de ouro e prata de tempos em tempos”.

Os devotos hoje adoram a mesma forma “inacabada” de Jagannatha, Baladeva e Subhadra em Puri e em templos ao redor do mundo. Essas formas são parte de Seus eternos passatempos.

Transformados pelas Narrações de Rohini

O Utkala-khanda do Skanda Purana trás outro relato em relação ao aparecimento de Krsna como Jagannatha. (Utkala é um nome tradicional para Orissa). Certa vez, durante um eclipse solar, Krsna, Balarama, Subhadra e outros residentes de Dwaraka foram se banhar em um lago sagrado em Kurukshetra. Sabendo que Krsna estaria presente no local de peregrinação, Srimat Radharani, os pais de Krsna, Nanda e Yashoda, e outros residentes de Vrndavana, que estavam queimando no fogo da separação do Senhor, foram até lá para se encontrarem com Ele. Dentro de uma das várias barracas que os peregrinos aviam levantado em Kurukshetra, Rohini, mãe do Senhor Balarama, narrou os passatempos de Krsna em Vrndavana para as rainhas de Dwaraka e outros.
É dito que os moradores de Dwaraka estão no humor de opulência (aishvarya), e que eles adoram a Krsna como o Senhor Supremo. Mas os residentes de Vrndavana estão no humor de doçura (madhurya), e têm uma relação confidencial com Krsna que transpassa a idéia de contemplação e reverência por ser baseada em amizade e amor. As histórias contadas por Rohini eram extremamente confidencias, então ela colocou Subhadra na porta para que ninguém ouvisse por acaso.
Krsna e Balarama foram também até a porta e ficaram cada um de um lado de Subhadra. Enquanto ouviam as narrações de Rohini dos passatempos íntimos de Krsna em Vrndavana, Krsna e Balarama se tornaram extáticos, e seus sentimentos internos se manifestaram externamente. Seus olhos se tornaram dilatados, Suas cabeças se compressaram junto ao corpo e seus membros se recolheram. Vendo essas transformações em Krsna e Balarama, Subhadra também entrou em êxtase e assumiu uma forma similar. Assim, por ouvirem acerca dos passatempos de Krsna em Vrndanva, Krsna e Balarama, com Subhadra no meio, exibiram suas formas extáticas de Jagannatha, Baladeva e Subhadra.

O Êxtase Máximo do Senhor

De acordo com o Skanda Purana, o Jyeshtha-purnima, o dia de lua cheia do mês de maio-junho, é o aniversário do Senhor Jagannatha. Jagannatha é Krsna, mas o aniversário de Krsna é o Janmastami, no mês de Bhadra (agosto-setembro). Esta aparente contradição é solucionada se entendermos que o Jyeshtha-purnima é o momento quando Krsna aparece na forma do Senhor Jagannatha com grandes olhos dilatados e membros reduzidos. Essa forma é conhecida como mahabhava-prakasha, a forma extática de Krsna. Mahabhava significa “o êxtase máximo”, e prakasha significa “manifestação”, assim o Senhor Jagannatha é literalmente a forma do Senhor em êxtase.

O poema Mahabhava Prakasha de um poeta da Orissa chamado Kanai Khuntia descreve o significado confidencial por trás da forma de Jagannatha: Ele é a corporificação do sentimento de saudades de Krsna dos residentes de Vrndavana, especialmente de Radha e das Gopis. As escrituras explicam que o intenso êxtase espiritual, particularmente neste humor de separação da pessoa amada, produz transformações no corpo. Uma vez que Krsna não é diferente de Seu corpo, Seus sentimentos mais internos manifestaram-se externamente, e Ele assumiu a forma de Jagannatha.

O êxtase de mahabhava é comparado a um oceano. No passatempo com o rei Indradyumna, um gigantesco tronco boiava no oceano. Similarmente, as formas de Jagannatha, Balarama e Subhadra bóiam no oceano de mahabhava.

Quando o sábio Narada viu Krsna transformado em Jagannatha, ele orou para que o Senhor aparecesse daquela forma novamente. Embora o Senhor não tenha nenhuma obrigação para com ninguém, Ele reciproca Seus devotos satisfazendo seus desejos. No Garga Samhita Krsna afirma (1.27.4): “Eu sou plenamente completo – todas as epopéias estão em mim. E mesmo assim eu Me rendo aos desejos de Meu devoto e apareço em qualquer forma que ele queira”. Assim, da mesma forma que Krsna aparece como Nila Madhava para satisfazer Vishvavasu, Ele aparece sob a forma da deidade de Jagannatha e reside em Jagannatha Puri para satisfazer o desejo de Narada Muni.

Essa forma especial de Krsna também é conhecida como Patita Pavana, o salvador dos caídos, e todo aquele que tem Sua audiência com a devida consciência é presenteado com a liberação espiritual.

Jagannatha como o Krishna de Vrindavana

Embora Jagannatha seja comumente identificado como o Krsna de Dwaraka, no humor de opulência, Sua real – e confidencial – identidade é como o Krsna de Vrndavana, o amante de Radharani. O Jagannatha Chaitanyam afirma, “Radha permanece no coração do Senhor Jagannatha, e Krsna no coração de Radha”.

Krsna é famoso por Seus relacionamentos, especialmente com os residentes de Vrndavana, e os devotos às vezes se referem ao Senhor Jagannatha nesse humor. Jagannatha é considerado o consorte de Radharani, que se associa com Krsna unicamente em Seu humor de Vrndavana. O êxtase resultante do amor de Krsna por Radharani é a causa de Sua transformação na forma de Jagannatha.

O poeta da Orissa, Banamali, canta, “Ó Jagannatha, amado filho de criação de Yashodadevi, Sua Radha é como o passarinho chataka que bebe apenas as puras gotas de chuva, e Você chove com muita graça”.

Em Vrndavana, Krsna assume a graciosa forma com três curvas corporais (tribanga-lalita) e usa uma pena de pavão e toca Sua flauta. O Jagannathashtakam (verso 2) identifica Jagannatha em tal humor: “Em sua mão esquerda, o Senhor Jagannatha segura uma flauta. Em Sua cabeça Ele usa uma pena de pavão e em Seus quadris Ele usa um fino tecido de seda amarelo. Pelo canto de Seus olhos, Ele olha de relance Seus amáveis devotos e sempre se revela através de Seus passatempos em Sua divina morada de Vrndavana. Que este Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão”.

A poetiza Madhavi-devi, a irmã de Ramananda Raya, escreve em uma de suas canções: “Os tenros e doces versos do Sri Gita-govinda, trazendo o nome de Radha, se entrelaçam com as khanduas [peças de roupas usadas por Jagannatha todas as noites}, que o Senhor Jagannatha mantém bem próximas de Seus membros”.

O Chaitanya-Chaitanya explica que Krsna vem como Caitanya a fim de entender os sentimentos de Radharani. Durante o Rathayatra, Ele dança em êxtase perante o Senhor Jagannatha (Krsna) para chamar Sua atenção. Em resposta, Jagannatha O consola: “Eu nunca esqueci nenhuma gopi ou gopa, muito menos Você, Srimat Radhika. Como poderia eu esquecê-lA?”.

Narada Muni revelou a Gopa-kumara no Brihad-bhagavatamrita (2.5.212–214): “Eternamente querida a Sri Krsnadeva, tanto quanto sua bela Mathura-dhama, é aquela Purushottama-kshetra. Lá, o Senhor não só exibe Sua opulência suprema, mas também encanta Seus devotos agindo como uma pessoa ordinária deste mundo. E se você continuar não estando plenamente satisfeito após chegar lá e vê-lO, então ao menos fique lá por algum tempo para conseguir sua meta desejada. É claro que sua meta última é amor puro pelos pés de lótus de Krsna, a vida e alma das divinas gopis – amor que segue o humor da própria Vraja-bhumi do Senhor. Você não está procurando por outra coisa”. Amor por Jagannatha é krishna-prema, amor por Krsna, que é nossa meta última. Krsna se tornou acessível a todos em sua forma como Jagannatha.

Uma vez que o Senhor Jagannatha não é outro senão Krsna, Sua morada é idêntica a Vrndavana, onde Krsna executa Seus passatempos infantis. Jagannatha Puri – também chamada Purushottama-kshetra, Sri Kshetra e Nilacala [o local da montanha azul] – contém todos os passatempos (lilas) de Krsna em Vrndavana, embora possam porventura estarem escondidos de olhos materiais. O Vaishnava-tantra afirma, “Qualquer lila de Krsna que é manifesta em Gokula, Mathura ou Dwaraka são encontradas em Nilacala, Sri Kshetra”.

Através da apropriada visão espiritual – olhos untados por amor puro por Deus, krishna-prema – a pessoa pode ver todos os passatempos de Krsna ali presentes.

Jagannatha não é ninguém senão a manifestação extática de Krsna que apareceu em Sua forma mais misericordiosa para ajudar-nos a voltar para casa, voltar ao Supremo. Por isso Srila Prabhupada introduziu o Ratha-yatra do Senhor Jagannatha em várias cidades ao redor do mundo, exatamente para retirar as almas condicionadas do feitiço de maya (ilusão). Tiremos todos, então, o máximo de benefício de tal evento.

Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

Krsna como Rei (Krishna as King


Da última edição americana de Volta ao Supremo [Back to Godhead] – Vol. 41, No 5 • Setembro / Outubro 2007
Krsna como Rei
Krishna as King

Por Karuna Dharini devi dasi


A deidade de Krsna adorada no templo Hare Krsna de Los Angeles, onde moro, é chamada Dvarakadhisha, “o Senhor de Dvaraka”. Dvaraka é a impoluta ilha que o Senhor Krsna governou em Sua idade adulta. (Embora Krsna tenha vivido em Dvaraka quando presente na Terra há cinco mil anos atrás, Dvaraka existe eternamente no mundo espiritual. Portanto, neste artigo, eu usarei algumas vezes o tempo verbal presente de indicativo quando me referir a Dvaraka ou às atividades de Krsna na mesma). De maneira geral, os devotos de Krsna pensam nEle primeiramente como a Suprema Personalidade de Deus que fala o Bhagavad-gita e executa estonteantes passatempos espirituais na vila pastoril de Vrndavana. Em tal ambiente rural, Ele brinca e desfruta da vida entre vários parentes e amigos. Gaudiya Vaisnavas, ou seguidores de Sri Caitanya Mahaprabhu, sabem que Krsna, como um vaqueirinho, troca os mais íntimos sentimentos amorosos com Seus devotos. Todavia, Krsna é sempre Krsna, e os devotos O amam quando Ele se exibe em outros humores também. Ele é também muito doce e simples em Sua atuação como Dvarakadhisha.
Krsna não é um governante ordinário. Reis ou presidentes representam grandeza e poder neste mundo. Mas, mesmo assim, a mais elegante, educada e incrível personalidade é apenas uma diminuta indicação das opulências da Suprema Personalidade de Deus, cujo corpo é constituído de eternidade, conhecimento e bem-aventurança.
Embora Krsna, como Dvarakadhisha, desfrute de muitas batalhas esportivas, Ele não tem nada ou ninguém a conquistar, sendo sempre completo em si mesmo. Ele sempre sabe exatamente o que fazer no que concerne aos deveres de um rei em relação a seu povo, ministros e soldados. Seu rosto nunca é destorcido pela ansiedade de obrigações diplomáticas.
Embora Krsna governe como um adulto, Ele é de fato nava yauvanam, eternamente jovem. De acordo com o Brihad-bhagavatamrta, de Sanatana Gosvami, o rei de Dvaraka tem “toda a beleza da juventude acentuada por traços de doçura e de inocência”.
Como governante, Dvarakadhisha tem apenas as melhores intenções para com os demais. Seu único objetivo é derrotar as influências demoníacas e proteger Seus puros e rendidos devotos. Sua autoridade é inesgotável e a original. Obedecer a Sua autoridade é a natureza constitucional de toda entidade viva.
Um Reino Extraordinário
O livro Krsna, A Suprema Personalidade de Deus, de Srila Prabhupada, descreve Dvaraka como a mais bela e ostentosa cidade de toda a história. A ilha de Dvaraka é decorada com 900.000 extraordinárias mansões construídas do mais puro mármore, com portões e portas feitas de prata e pedras preciosas. O límpido oceano azul-esverdeado cerca a cidade por todos os lados. Os residentes das mansões, todos devotos puros de Krsna, são de beleza ímpar.
Os inúmeros jardins e parques de Dvaraka são cheios de flores de variados perfumes e cores, e abundam pomares repletos de frutas. Belíssimos pássaros cantores, pavões caminhando como bêbados, e lagos repletos de lírios e lótus são um deleite para os sentidos. Os residentes decoraram todas as ruas e passeios com potes de água, guirlandas, folhas de bananeira e flores fragrantes, apenas um pouco antes de Krsna ir passear por ali.
O Bhakti-rasamrta-sindhu de Srila Rupa Goswami descreve, “Os servos na morada de Dvaraka sempre adoram Krsna como a mais respeitável e venerável Personalidade de Deus. Eles são cativados por Krsna devido a Suas opulências supra excelentes”.
Através do Brihad-bhagavatamrta, aprendemos que, embora Dvarakadhisha seja absolutamente o mais poderoso rei dentre todos os reis, desfrutando de todas as opulências, Ele também é humilde, amigável e cheio de ilimitado amor. Seus devotos, em um extasiante humor de servidão, respeito e reverência, estão absortos em sentimentos amorosos por seu Senhor.
Um exemplo seria Rukmini, a singular e mais exaltada personalidade feminina, a principal rainha do Senhor. Ela é uma expansão da potência de prazer de Deus, sendo assim Deus em uma forma feminina, plena de todas as graciosidades e virtudes imagináveis. Ela manifesta sua beleza primorosa exclusivamente para o prazer do Senhor de Dvaraka.
Sri Rukmini está sempre satisfeita com Seu Senhor e sempre submissa a Ele. Ela compreende todos os Seus humores e guarda dentro de seu coração os detalhes de sua personalidade jovem e inocente. Embora centenas de criadas qualificadas atendam a todas as Suas necessidades, Rukmini abana o Senhor pessoalmente, segurando uma camara branca como a neve com suas jovens mãos ricamente adornadas. Ciúmes e ira nunca a afetam.
Um Rei Extraordinário
Em Sua juventude, Krsna deixou Vrndavana e viajou para a cidade de Mathura, onde assumiu Seu papel na dinastia Yadava. Ele lutou e matou o mais temido tirano de Seu tempo, Kamsa, e libertou Seus pais da prisão de Kamsa. Ele então construiu um forte na ilha de Dvaraka e transferiu todos os cidadãos de Mathura para lá a fim de protegê-los dos impiedosos parentes de Kamsa, que queriam se vingar a qualquer custo.
Mais tarde Krsna raptaria Sua rainha, a jovem princesa Rukmini. O irmão da jovem havia arranjado um casamento para ela como parte de uma aliança política. Mas ela só tinha o desejo de ter Krsna como esposo, então ela pediu a Ele, através de um mensageiro, para vir socorrê-la. Raptar uma princesa era algo comum para os reis daquela época, mas Krsna fez isso totalmente sozinho contra um exército de furiosos príncipes guerreiros. Krsna conseguiu a mão de várias outras princesas belas e estonteantes de várias outras maneiras heróicas. Ele resgatou 16.000 princesas que foram encarceradas pelo cruel rei Bhaumasura. Ele se casou com cada uma delas e forneceu a cada uma um palácio real na ilha de Dvaraka. Por muitas vidas de penitências e austeridades, elas rezaram pelo favor especial de Krsna.
O Néctar da Devoção afirma, “Enquanto Krsna vivia em Dvaraka, Ele expandiu-se em 16.108 formas, e cada uma dessas expansões residia em um palácio com uma rainha. Não só estava Krsna plenamente feliz vivendo com Suas rainhas em Seus palácios, mas Ele dava em caridade para os demais palácios um total de 13.054 vacas completamente decoradas com belas vestes e ornamentos diariamente. Isto significa que 13.054 multiplicado por 16.108 vacas eram dadas em caridade por Krsna todos os dias. Este era o comportamento caridoso exemplar de Krsna enquanto vivia em Dvaraka”.
Várias batalhas incríveis aconteceram entre Krsna e uma variedade de demoníacos reis rivais. O rei Jarasandha, o sogro de Kamsa, atacou Dvaraka com numerosas falanges militares que consistiam de dezenas de milhares de quadrigas, cavalos, elefantes e soldados. Krsna observou a imensa força militar de Jarasandha, que se assemelhava a um oceano prestes a engolir uma praia. Krsna pensou sobre a situação e Sua missão de livrar o mundo de influências demoníacas, e aceitou aquela oportunidade para afrontar e destruir aquelas falanges.
Depois, o Senhor Balarama, irmão de Krsna, prendeu Jarasandha. Krsna fingiu compaixão por Jarasandha e deixou-o ir embora, mas Ele tinha um plano: Jarasandha iria, no futuro, atacar por todos os lados a cidade de Mathura por dezessete vezes, e a cada vez Krsna e Balarama destruiriam centenas de milhares de soldados demoníacos. Jarasandha foi mais tarde vencido, eventualmente, pelo primo de Krsna, Bhimasena.
A Jóia Syamantaka e Outros Episódios
Devida a uma intriga envolvendo a jóia conhecida como Syamantaka, Krsna foi, certa vez, erroneamente difamado. A Syamantaka podia produzir ouro através de seu poder místico. Muitas pessoas cobiçavam a jóia, e quando ela desapareceu, alguns acusaram Krsna de tê-la roubado. A jóia, na verdade, estava nas mãos de uma pessoa que sequer podia cuidar dela e estava quase louco devido ao seu poder. Um cidadão, por fim, entregou tanto a jóia quanto sua filha a Krsna, tendo realizado que tudo o que há de valioso é mera demonstração da benevolência de Krsna e que deveriam ser oferecidas no serviço a Ele.
Um rival louco, chamado Paundraka, estava com tanta inveja das supra excelentes qualidade de Krsna que se convenceu ser o próprio Krsna. Ele se propôs a derrotar Dvarakadhisha vestindo alguns falsos braços extras e carregando imitação das armas que na verdade só são usadas pelo próprio Visnu. Declarando ser ele mesmo Deus, ele estava decidido a matar o Senhor. Eventualmente, Krsna decapitou Paundraka, que alcançou a liberação por ter meditado tão intensamente na Personalidade de Deus em sua ridícula intenção de matá-lO.
O inseparável primo de Dvarakadhisha, Maharaja Yudhisthira, certa vez, fez um grande sacrifício, o qual incluía uma cerimônia de louvor a pessoa mais proeminente na platéia. Embora Krsna estivesse posando como um rei comum, Yudhisthira adorava o Senhor como não outro senão a Suprema Personalidade de Deus, e assim ele escolheu a Ele para ser honrado e adorado na cerimônia. Mas o invejoso primo de Krsna, Sishupala discordou da decisão de Yudhisthira e censurou Krsna. Krsna, por sua vez, cortou eventualmente a cabeça de Sishupala com Seu disco e permitiu à alma de Sishupala a imergir em Seu corpo.
Durante Seu reinado, parte da missão de Dvarakadhisha era entronar Seu grande devoto Yudhisthira, a encarnação da religião, como imperador do mundo. O Senhor de Dvaraka agiu como um pacífico mensageiro em nome de Yudhisthira para tentar prevenir a guerra com os mal intencionados Kurus. Quando as negociações falharam, o irmão de Yudhisthira, Arjuna, ocupou o Senhor como seu quadrigário na batalha. Naquele momento, o Senhor Krsna, adornado com um elmo de ouro, falou o Bhagavad-gita a Arjuna a fim de iluminar a ele (e a nós) e de encorajá-lo a lutar. O Senhor era plenamente capaz de lutar na batalha e vencê-la rapidamente para Arjuna, mas Ele queria servir e aumentar as glórias de Seu devoto Arjuna ocupando-o em lutar por uma questão de dever em consciência de Krsna.
Os Episódios Mais Confidenciais
Se o reinado de Krsna como um rei parece repleto de acontecimentos incríveis, apenas tente imaginar quão incrível Ele parece aos olhos de Seus respeitosos servos em Dvaraka. Eles são sempre surpreendidos por Seu comportamento imprevisível. Eles se lembram de quando Sudama, um amigo de Krsna do tempo de escola, veio visitá-lO. Os guardas e esposas de Krsna testemunharam o que parecia um morador de rua indo para o quarto do Senhor sem nenhum pudor. Para o espanto deles, eles viram como Krsna reagiu com o mais sincero e espontâneo amor ao ver Seu querido e velho amigo.
Embora Sudama fosse muito magro e estivesse vestido com roupas gastas e velhas, Dvarakadhisha o abraçou, sentou-o em Sua própria cama e banhou seus pés enquanto Rukmini o abanava. Quando Sudama timidamente ofereceu a Krsna sua única posse, um saquinho com arroz branco ressecado, as rainhas de Dvaraka observaram espantadas a forma com que o Senhor aceitou o arroz: como se fosse o mais irresistível de todos os presentes.
Mais motivos para surpresa podem ser encontrados no Uddhava-sandesha, onde Rupa Gosvami diz que Dvarakadhisha se torna muito emotivo lembrando Sua família e amigos em sua antiga casa na vila pastoril. Ele tem muita saudade deles. Ele pede a Uddhava, Seu primo e amigo mais íntimo, para enviar uma mensagem Sua a eles. Embora fosse um rei com muitas esposas e um enorme reino a governar, para o espanto de Uddhava, o Senhor lembrava detalhadamente de cada pessoa que Uddhava deveria encontrar em seu serviço de mensageiro pela vila pastoril.
Talvez, o mais surpreendente episódio tenha ocorrido em um grande festival realizado em Kuruksetra durante o eclipse solar, quando os residentes de Dvaraka encontraram os residentes de Vrndavana. Os simples vaqueirinhos e vaqueirinhas de Vrndavana sentiram-se extremamente afortunados por poderem ver Krsna novamente. De dentro de seus corações, eles recontaram espontaneamente todos os passatempos infantis de Krsna. Infelizes ao ver Krsna vestido como rei, eles não podiam se imaginar voltando para Vrndavana sem Ele, então Krsna ficou em Kuruksetra por mais tempo do que havia planejado. Por verem o amor puro por Krsna dos aldeões de Vrndanva, os residentes de Dvaraka sentiram grande êxtase. O festival de Rathayatra do Senhor Jagannatha comemora esse passatempo. Em Krsna, Srila Prabhupada escreve, “O festival de Rathayatra observado pelo Senhor Caitanya é o processo emocional de levar Krsna de volta a Vrndavana”.
O Rei dos Reis
Krsna não é uma pessoa material, e Suas atividades não são atividades deste mundo. Seu ilimitado e sem paralelo passatempo de gozar da associação de Seus simples amigos e parentes vaqueiros é o coração do Vaisnavismo Gaudiya.
O Senhor Caitanya ensina que acima da adoração reverencial a Deus, está o amor puro nas relações de maior intimidade, como um amigo, um filho ou amante. Se o Senhor deixou de lado Sua adoração real em reverência e deslumbramento por causa da doçura, familiaridade e espontaneidade do amor dos habitantes de Vrndavana, isto é mais um exemplo de Seu amor transcendental como o Deus que é leal e devotado a Seus devotos.
Krsna é o original e supremo desfrutador. Meditar em Sua forma como o rei dos reis é sólido alimento espiritual. Isto nos ajuda a entender a dimensão ilimitada de puro poder e puro amor em suas formas espirituais originais. Os passatempos de Dvarakadhisha nos dão realização transcendental acerca do amor, poder e compaixão do maior herói e líder espiritual de toda a eternidade.


Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

Muito Obrigado Srila Prabhupada !!!


Om ajnana-timirandhasya jnananjana-shalakayaChaksur unmilitam yena tasmai shri-gurave namah “Ofereço minhas mais humildes e respeitosas reverências a meu mestreespiritual que, com o archote do conhecimento (jnananjana-shalakaya), abriu meus olhos que estavam cegos por causa da escuridão da ignorância(ajnana-timirandhasya).”


Sri Krsna aparece neste mundo para mostrar o caminho de Raga Marga Bhakti.

Muito Obrigado Sri Krsna !!!

Srila Prabhupada aparece neste mundo para mostrar que Sri Krsna mostra ocaminho de Raga Marga Bhakti !!!

Muito Obrigado Srila Prabhupada !!!


O Senhor Caitanya Mahaprabhu manifestou muitos sintomas físicos externos deamor à Deus. Surpreendentes e arrebatadores. Cc Antya 15.86 "Neste momento, todos os oito tipos de transformações espirituaismanifestaram-se no corpo de Sri Caitanya Mahaprabhu. Os trinta e três sintomas de Vyabhicari Bhava, começando com lamentação ejúbilo, tornaram-se proeminentes." Cc Antya 15.87 "Todos os sintomas extáticos, como Bhavodaya, Bhava Sandhi, Bhava Sabalya,manifestaram-se no corpo de Sri Caitanya Mahaprabhu. Uma grande luta começouentre um sentimento e outro, e cada um deles tornou-se proeminente." No entanto, os Rupanugas Rasika Bhaktas são muito estritos no que dizrespeito a manifestação externa destes sintomas, preferindo mantê-losinternamente. Srila Prabhupada explica: Cc Antya 20.28 "Aonde quer que haja um relacionamento de amor à Deus, é um sintoma naturalque o devoto pense que ele não é um devoto. Ao invés disto, ele sempre pensa que não possui nem um pouco de amor à Deus." Significado por Om Visnupada Paramahamsa Parivrajakacarya Astottara Sata SriSrimad A.C. Bhaktivedanta Swami Maharaja Prabhupada "Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur comenta que pessoas que são naverdade muito pobres porque não possuem nem um pouco de amor à Deus ou serviçodevocional puro, falsamente proclamam-se como grandes devotos, embora eles nãopossam em nenhum momento desfrutar da bem aventurança do serviço devocional. Uma classe de pseudo devotos conhecidos como Prakrta Sahajiyas as vezesdemonstram sintomas devocionais para exibir boa fortuna. No entanto, estão à fingir, porque estes sintomas devocionais são somenteexternos. Os Prakrta Sahajiyas exibem estes sintomas para divulgar o seu assim chamadoavanço no amor à Krsna. Ao invés de admirar os sintomas de êxtase transcendental exibidos pelosPrakrta Sahajiyas, os devotos puros não gostam de associar-se com eles. Não é aconselhável igualar os Prakrta Sahajiyas com os devotos puros. Quando alguém é verdadeiramente avançado em amor extático por Krsna, ele nãotenta mostrar-se a si mesmo. Ao invés disto, tenta ocupar-se mais e mais em render serviço ao Senhor. As vezes, os Prakrta Sahajiyas criticam os devotos puros chamando-os defilósofos, acadêmicos eruditos, conhecedores da verdade, observadores menores,mas nunca como devotos. Por outro lado, eles declaram-se como os mais avançados, os devotostranscendentalmente bem aventurados. Eles também descrevem-se como os devotosmais avançados em amor espontâneo, os conhecedores das doçuras transcendentais,os devotos mais elevados no amor conjugal à Krsna e assim por diante. Não conhecendo verdadeiramente a natureza transcendental do amor à Deus, elesaceitam suas emoções materiais como indicadores de avanço. Desta forma, eles poluem o processo de serviço devocional. Ao tentar tornarem-se escritores de literatura Vaisnava, eles introduzem seusconceitos materiais de vida no caminho do serviço devocional puro. Devido aos seus conceitos materiais, eles proclama-se conhecedores dasdoçuras transcendentais, mas não entendem a natureza transcendental do serviçodevocional." Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur Ki Jaya !!! Srila Prabhupada Ki Jaya !!! Ou seja, é exatamente o contrário. Os devotos puros e imaculados de Krsna são muito reservados, no que dizrespeito a exteriorização de sintomas extáticos. Embora Raga Marga Bhakti seja o caminho demonstrado por Sri Krsna e Sri KrsnaCaitanya Mahaprabhu, e também obviamente destinado a todos os Bhaktas, VaidhiBhakti acompanha o devoto em todas as fases. Vosso servo Prahladesh Dasa www.bhakti-tattva.blogspot.com

Memórias de Um Momento de Associação Com Uma Pessoa Santa e Amável


Memórias de Um Momento de Associação Com Uma Pessoa Santa e Amável


Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização - IBAR. Uberaba, MG. 11/09/2007.


Quando falamos em memórias, isto significa geralmente escrever um testemunho presencial de fatos vividos num passado distante que deixaram impressões muito fortes em nosso ser. No meu caso, o que desejo compartilhar com você neste artigo, é algo ocorrido num passado muitíssimo recente, e que deixou meu coração repleto de uma saudade do mundo espiritual. Pois bem, neste último fim de semana de um feriado prolongado em que se comemorou a independência do Brasil (este país maravilhoso que me adotou, há exatamente vinte e três anos), tive a grande fortuna de estar na companhia de Maharaj Param Gati Swami (foto acima) e de uma agradável turma de devotos e amigos de Krishna. Isto, no deslumbrante cenário do HYPERLINK "http://www.pandavas.org.br/"Paraíso dos Pandavas, situado a umas duas horas de Brasília, uma pequena comunidade de uns poucos devotos residentes liderados por Giridhari Prabhu, a competente gerente Maharani Vrinda Devi DD (PGS), o experiente Sri Nrsimha Das, o jovem e prestativo Pablito, agora Pandava Arjuna Das (PGS), a carinhosa bhaktin Mônica, membros da congregação de Brasília como os casais Hari Das e Miriam, Suvasa e Janaína, sem esquecer o sóbrio Sadhu Sanga, entre outros, que me desculpem, pois, os nomes me escapam neste momento, todos de grande mérito por apoiarem um projeto cuja contribuição para o Yatra Brasileiro é bastante significativa e promissora. Nosso anfitrião Giridhari Prabhu se encarregou de nos fazer descobrir, a todos os participantes deste retiro espiritual, a beleza peculiar do Cerrado, um entre os muitos ecossistemas existentes no Brasil, através de agradáveis caminhadas entrecortadas por alguns banhos refrescantes em cachoeiras e piscinas naturais. Tudo isso foi maravilhoso, regado durante os desjejuns por uma deliciosa prashada feita por Prabhu Mahavana com o auxilio luxuoso de sua esmerada equipe de ajudantes, o que contribui um tanto para desligar o grupo do sufocante ambiente urbano das grandes cidades deixado para trás por uns três dias. Mas, o ponto alto, foi a mensagem concisa e singela que nos trouxe Maharaj Param Gati Swami, sintetizada num verso do Bhagavad-gita, apontado por Srila Prabhupada, como a palavra final deste grande livro da ciência teista. na hi jnanena sadrsam pavitram iha vidyate tat svayam yoga-samsiddhah kalenatmani vindati (Bg. 4.38). "Neste mundo, não há nada tão sublime e puro como o conhecimento transcendental. Esse conhecimento é o fruto maduro de todo o misticismo. E aquele que se familiarizou com a pratica do serviço devocional desfruta este conhecimento dentro de si no devido curso do tempo". Maharaj Param Gati Swami iniciou sua aula dizendo que quando se fala em conhecimento, pensamos logo num cúmulo de informações cujo objetivo é especializarmo-nos em certa área de estudo e pesquisa da atividade humana, levando-nos a uma erudição que pode nos tornar uma pessoa apreciada pela comunidade científica, acadêmica, etc. No entanto, neste momento histórico bem peculiar da humanidade, onde é vinculada uma enorme quantidade de informações pelas mais diversas mídias (rádio, televisão, internet, imprensa escrita, etc.), visando deixar as pessoas em geral mais a par de todos os avanços da ciência para uma melhor qualidade de vida, é notável o desconforto que pode ser sentido no corpo social que se manifesta das mais diversas formas (fome, miséria, guerras, instabilidade econômica, política, etc.). Mas, o conhecimento a que se refere este verso em particular, diz respeito à identidade espiritual do ser vivo e de sua relação com a Divindade Suprema. Tal conhecimento, como diz Srila Prabhupada, exime a pessoa de procurar em outras fontes a paz pela qual tanto anseia, pois, este conhecimento dá-lhe a oportunidade de gozar a paz dentro de si mesmo. Pontuando ainda mais a sua fala, Maharaj Param Gati Swami ressaltou que a ignorância era a causa do cativeiro da entidade viva a roda de samsara (o que ele qualificou como as inconveniências de sucessivos nascimentos e mortes, da velhice bem como a exposição as dores de diversas doenças). No entanto, o conhecimento a qual alude o verso acima podia libertar o homem, promovendo a sua emancipação espiritual, de volta ao Supremo, de volta a Krishna. Neste sentido, Maharaj Param Gati Swami salientou que a grande contribuição dos Vedas, através de livros como o Srimad Bhagavatam e o Bhagavad-gita, é provocar uma revolução na vida das pessoas, entendendo-se que esta revolução seria no mundo interno de cada um. Muito econômico, mas preciso nas palavras, Maharaj Param Gati Swami concluiria sua aula dizendo que os Vedas tinham como peculiaridade a grande capacidade de oferecer ao ser vivo o discernimento na aferição da realidade -pramana-, para que pudesse nortear sua vida numa perspectiva de auto-realização. Aliás, eu pude verificar no Yoga Sutra de Patanjali - Uma Abordagem Prática, de Giridhari Prabhu, pramana é definido como "aquilo pelo qual algo é medido" e é normalmente traduzido como "evidência" ou "prova". Assim, como processo, salienta o autor, pramana descreve o ato de julgar ou discernir, que é determinado pelo conhecimento que aceitamos, criando bases para nossas metas, avaliações e escolhas. Esse ponto crucial seria reiterado por Maharaj Param Gati Swami durante os três dias do retiro, para nos capacitar a reconhecer o que era favorável ao nosso avanço espiritual e poder descartar as demais coisas, que seriam obstáculos em nossa caminhada rumo a krishna prema - amor puro a Krishna. Além de nos situar filosoficamente de maneira criteriosa e precisa, Maharaj Param Gati Swami naturalmente mostrou-se uma liderança servil e aprendiz, servindo-nos prashada, recolhendo utensílios após as refeições, liderando animados kirtanas e dançando num humor descontraído. Ele foi um companheiro alegre nas caminhadas, querendo saber algo de cada um. A mim, como profissional de arquitetura, me mostrou sua inquietação com o dever das grandes cidades, citou grandes nomes da vanguarda arquitetônica européia cujas obras ele pôde visitar pessoalmente, etc. O testemunho deste comportamento santo e amável me levou a meditar sobre uma pergunta de Arjuna ao Senhor Krishna: "Ó Krishna, quais são os sintomas daquele cuja consciência está absorta nessa transcendência? Como fala, e qual é sua linguagem? Como se senta e como caminha?" (Bg. 2.55). Creio que todas essas memórias transcritas aqui dão resposta a esta indagação. Srila Param Gati Swami! Ki jay! HARE KRISHNA