Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Problemas na Relação Mestre - Discípulo




Já faz quase 20 anos, de modo que as cenas estão um pouco apagadas em minha memória. Mas recordo que quando ainda era visitante em Nova Gokula, nos idos de 87-88, recebi mais ou menos as seguintes instruções:Os sastras védicos informam que:Deve-se adorar o guru como o autêntico representante de Deus, e honrá-lo como se honra a Deus.Caso o guru por qualquer motivo não queira mais ser mestre espiritual, ou demonstre não mais agir de acordo com o que os sastras definem para uma pessoa nessa posição (fique em maya) o discípulo deve: • mostrar empatia quanto à decisão e situação do mestre;• tentar compreender seus motivos, razões, causas;• tentar reverter essa situação, conversando com ele.Caso o guru reconsidere sua decisão, ou retorne a sua consciência correta, o discípulo deve demonstrar o mesmo respeito e honra de sempre. Caso o guru continue irredutível, o discípulo deve procurar outro guru para continuar seu treinamento e avanço espiritual. O discípulo nunca deve se considerar superior ao seu mestre espiritual, pois mesmo que venha a avançar muito, o seu mestre também está sempre avançando, de modo que o discípulo nunca alcança o mestre. De fato, o discípulo deve considerar que qualquer avanço que faça, se deve unicamente às bênçãos de seu mestre espiritual. Esse avanço de ambos, mestre e discípulo, continua acontecendo mesmo que os dois já tenham alcançado o mundo espiritual, pois Krishna é infinito, e está eternamente se expandindo. Penso que essas instruções são védicas, válidas em qualquer lugar, tempo e circunstância, de grande bom senso, inteligência e equilíbrio emocional, e representam um relacionamento de grande maturidade e de altíssimo nível entre mestre e discípulo. Temos a tendência de ver uma queda eventual de um discípulo e principalmente do mestre como algo escandaloso: nossa cultura materialista ensina isso, os meios de comunicação reforçam isso, e vemos essa queda como um motivo para não mais nos esforçarmos. Mas a cultura e etiqueta védicas são perfeitas, e já prevêem todas as atitudes e ações corretas para dirimir ao máximo as conseqüências prejudiciais de uma dificuldade passageira, ainda que grave. Uma queda eventual não representa necessariamente pouca compreensão espiritual do mestre ou falta de sinceridade do discípulo: mostra que realmente nossa situação neste mundo é muito difícil, que os sentidos e a mente são muito fortes, e que precisamos nos apoiar mutuamente com grande tolerância e humildade. Mesmo em uma condição caída, o devoto nunca deixa de avançar, pois está realizando muitas advertências e descrições védicas quanto a essa condição não-devocional. Não precisamos incentivar, apoiar ou imitar uma situação insatisfatória, mas também não devemos ter atitudes destrutivas, que não ajudarão em nada a restabelecer a consciência de Krishna dos membros da Sociedade que estejam passando por dificuldades.


Acredito que o grande obstáculo para entender, aceitar e aplicar estas instruções seja o nosso condicionamento material atual: relacionamentos fortemente baseados na concorrência (em detrimento da colaboração mútua), uma tradição militar intemporal de castigar fortemente os traidores da "causa", e uma religiosidade milenar que combina fé cega com condenação eterna dos pecadores. São muitos anarthas (coisas desfavoráveis à vida espiritual) fortemente arraigados no coração. Mas são essas instruções védicas relativas a um relacionamento maduro, conduzido inteligentemente, de um equilíbrio emocional impar, indo desde a escolha criteriosa do mestre espiritual, passando pela manutenção adequada do relacionamento mestre-discípulo e culminando em fé e devoção inabaláveis em guru, sastra e sadhu, que fazem a diferença, e permitem o casamento perfeito entre o que se lê, o que se fala, o que se faz, e o que se sente.

Medite nisso.


Por Gopala Dasa (HDG)

A ESCOLHA DE CAIR - Choosing to Fall Down


A ESCOLHA DE CAIR

Choosing to Fall Down
Por Mahatma Prabhu


Tradução Bhagavan Das (DVS)

O significa cair? Geralmente, “cair” significa quebrar os quatro princípios regulativos ou abandonar o serviço devocional. Embora o foco principal deste artigo sejam as dificuldades em seguir os princípios, pretendo aqui fazer uma abordagem positiva de como lidar com qualquer tipo de contratempo na vida espiritual.

Na prática as quedas acontecem a muitos devotos, o que pode ser algo bastante desencorajador, podendo até mesmo levar alguns a desistir.

“Bens e riquezas são grandes problemas para um devoto no caminho de volta ao Supremo. Muitos devotos determinados na linha devocional são vitimados por esses obstáculos e acabam por desistir do caminho da liberação”. (SB 1.2.17)

Devido ao fato de que “muitos devotos determinados são vitimados”, Srila Prabhupada pregou mui seriamente sobre não quebrar os votos de iniciação. Ele disse uma vez que “apenas um animal é incapaz de manter sua promessa”. Disse também que “uma pessoa não pode ser considerada um cavalheiro, o que dirá um devoto, se não for capaz de manter sua promessa”; e adicionou que “amor significa seguir os votos de iniciação”. (Claro que ele fez uma distinção entre uma ocasional queda acidental e quedas contínuas).

Muitos devotos acham tais palavras purificantes e rejuvenescedoras, exatamente o que precisavam para se manterem comprometidos seus votos. Todavia, se não estivermos seguindo regularmente todos os nossos votos, tais palavras podem afetar negativamente nosso estado de humor. Elas podem causar culpa, vergonha ou até mesmo depressão.

“Se caí é porque sou uma pessoa dividida. Tenho um conjunto de idéias em meu interior – a voz do meu mestre espiritual, a voz da comunidade, a voz de Krsna falando comigo: ‘este é o caminho que você deve seguir’. E minha percepção pessoal diz que ‘eu não estou nesse caminho’. Assim, a pessoa desenvolve sentimentos um tanto quanto desconfortáveis.” Ravindra Svarupa em BTG 25-06, “Falldown From Spiritual Life” [Sem tradução para o português].

A Escolha de Cair

Para nossa boa fortuna, ser caído não é nossa posição constitucional. Esta é uma posição que escolhemos, mesmo que nem sempre pareça ser nossa escolha. No entanto, somos responsáveis por nossas ações. Se alguém grita com você e você iradamente revida, você é responsável por agir assim. Você poderia ter escolhido perdoar aquela pessoa, pedir desculpas, abraçá-la ou tocar em seus pés.

“Espere aí! Krsna não diz no Gita que as atividades são executadas pelos três modos da natureza e que eu apenas acredito que as estou fazendo? E Ele também não diz que somos forçados a agir de acordo com a natureza que adquirimos? Como pode você dizer que eu sempre tenho escolhas? Prabhu, eu sou um ksatriya. Se alguém gritar comigo, eu dou um soco bem na cara dele! Eu não sou nenhum brahmana. Eu não saio por aí abraçando pessoas que gritam comigo”.

Se os modos da natureza fossem de fato os responsáveis por nossas ações, não haveria nenhum significado para a palavra karma. Se fôssemos todos irremediavelmente forçados a agir, por que teríamos de prestar contas de nossas ações? E por que Krsna se daria ao trabalho de dizer-nos o que devemos e o que não devemos fazer, se não temos nenhum controle sobre nossas escolhas? O Vedanta sutra diz:

“A alma jiva tem de ser executora de ações porque as injunções escriturais têm de ter algum propósito”.

Baladeva Vidyabhusana diz que, segundo as injunções sastricas, a obtenção de diferentes resultados de diferentes ações não teria nenhum sentido se os modos da natureza fossem a causa última de nossas ações.

Portanto, caso tenhamos dificuldades em seguir nossos votos ou princípios, o melhor a fazer é assumir honestamente nossas falhas. Ou seja, admitir que fizemos a escolha de cair. Algo muito grandioso acontece quando admitimos que nós mesmos escolhemos não seguir certos princípios: neste exato momento nós nos damos conta de que podemos escolher seguí-los ou não. E, mesmo que não haja dificuldade em seguir os quatro princípios reguladores, você pode adotar esta postura escolhendo conscientemente melhor seu serviço e superar maus hábitos.

Lamentação é Sinônimo de Purificação

Prabhupada nos aconselhou a nos sentirmos arrependidos e com remorso de nossas atividades pecaminosas do passado. Isso nos ajudará a nos retificarmos. A seguinte oração do Srimad Bhagavatam exemplifica tal arrependimento:

“Eu sou um grande pecador, mas desde que adquiri esta oportunidade, devo controlar por completo minha mente, vida e sentidos e sempre me ocupar em serviço devocional e, assim, talvez eu nunca mais caia na escuridão e ignorância do mundo material”.

Note que uma perigosa forma de arrependimento é sentir-se extremamente culpado. Prabhupada nos diz que um pouco de culpa é útil. Normalmente, o sentimento de culpa excessivo joga-nos em uma espiral onde se torna cada vez mais difícil seguir os princípios pelos quais nos sentimos culpados de não seguir. Em outras palavras, quanto mais culpados nos sentimos, menos seguimos os princípios. E quanto menos os seguimos, mais culpados nos sentimos por não fazê-lo: assim ficamos presos em um ciclo vicioso.

A boa notícia é que não precisamos permanecer caídos caso não o queiramos. Não importa quantas vezes tenhamos caído, nem tampouco quão grande tenha sido nossa queda, nós sempre podemos fazer algo quanto a isso: nós poderemos escolher não mais cair. Mas isso só será possível quando quisermos ser conscientes de Krsna mais que qualquer outra coisa. Quando passarmos a seguir os princípios porque “queremos” e não porque “temos de fazê-lo”, aí sim estaremos em uma posição segura. Estaremos simplesmente nos enganando ao tentar culpar algo fora de nós por termos caído. Ao fazer isso, na prática deixamos escapar o poder que possuímos para retificar a nós mesmos.

Então, o grande solucionador dos problemas que temos ao nosso dispor é nosso desejo de sermos conscientes de Krsna.

Entusiasmo Depois da Queda

Ser entusiasta na consciência de Krsna após uma queda pode a princípio soar contraditório. Pessoalmente, sei muito bem o que é isso, pois aconteceu-me de perder meu encorajamento simplesmente por ter tido um sonho onde eu caía ou por minha mente persistir muito em um pensamento pecaminoso. Então, como podemos ser entusiastas após quebrar um voto ou cometer alguma atividade pecaminosa?

A verdade é que, se não nos tornarmos entusiastas quanto a melhorarmos pessoalmente, teremos dificuldades para seguir em frente. Nós podemos lamentar e sentir remorso por nossa condição caída e, ao mesmo tempo, sermos entusiastas em Bhakti. É possível perceber este humor em várias orações de nossos Acaryas: se por um lado eles se lamentam por ter caído, por outro eles demonstram um intenso desejo de alcançar os pés de lótus de Krsna. Tais “emoções negativas” podem ser o derradeiro ímpeto que nos conduzirá a progredir mais e mais. Como? Elas nos fazem ficar revoltados com nossa situação de caídos; como no ditado: “Estou cansado de estar cansado”.

Quando ficamos doentes não pensamos “Bom, eu estou doente e fraco, então qual a necessidade de me cuidar?” senão que nos cuidamos imediatamente. Assim, se caímos durante nossas práticas espirituais, não faz sentido fazermos a mesma coisa – cuidarmos melhor de nossa vida espiritual?

“Tudo bem”, você diria, “faz sentido. Mas o que acontece é que, quando eu não estou seguindo todos os meus votos ou não estou praticando vida espiritual, falta-me entusiasmo. Por isso seu discurso é contraditório. Entusiasmo não é um subproduto de seguir tudo estritamente?”.

Sim, isto é verdade. Mas também é verdade que precisamos ser entusiastas para nos tornarmos conscientes de Krsna.

No Néctar da Instrução, Rupa Gosvami afirma que primeiramente devemos ser entusiastas. Se o entusiasmo vem naturalmente quando praticamos Bhakti, por que Rupa Gosvami se daria ao trabalho de recomendá-lo? Ele o recomenda porque nem sempre somos entusiastas pelo serviço devocional. Por isso ele diz: “Seja entusiasta mesmo se você não for entusiasta”.

“Tal entusiasmo deve ser mantido em todas as circunstâncias. Este é o preço para se entrar no reino de Krsna. E maya está sempre tentando tirar nosso entusiasmo por servir krsna, porque, sem entusiasmo, tudo o mais está perdido.” (Carta de Srila Prabhupada)

É Sua a Escolha

Você talvez pense que é artificial ser entusiasta quando isto não é espontâneo. Mas se você esperar querer ser entusiasta para ser entusiasta, você talvez tenha que esperar por vidas a fio, principalmente se você não está seguindo estritamente seus princípios devocionais. E se eu disser que não tenho entusiasmo para ser humilde? Deveria eu simplesmente não tratar mais ninguém com respeito a partir de agora? Deveria eu satisfazer meu Ego a toda oportunidade simplesmente por estou com vontade de ser humilde? Eu só devo pensar em mim como um insignificante servo de Krsna se isso vier espontaneamente? Se eu pensar assim, isso nunca virá naturalmente. A verdade é que para avançarmos na consciência de Krsna, nós temos que fazer aquilo que é favorável para nosso avanço, mesmo se não tivermos vontade de fazer isso. E ser entusiasta é o primeiro tópico da lista. Como disse Prabhupada: “Sem entusiasmo, tudo o mais está perdido”.

Quando eu tenho dificuldades, sei que este é o momento mais favorável para Maya me desencorajar. Então, nesses momentos, eu me torno duas vezes mais entusiasta que o normal. Você deve estar se perguntando como eu posso me tornar duas vezes mais entusiasta depois de ter pisado na bola. Eu apenas me lembro que se eu não me tornar duas vezes mais entusiasta, eu provavelmente me tornaria duas vezes mais desencorajado.

A verdade é que você pode se tornar duas vezes mais entusiasta a qualquer momento que você queira. O que aconteceu há um minuto atrás não importa – e eu posso provar isso a você. Fique de pé enquanto você continua lendo (fique mesmo, faça isso por mim). Agora coloque seus braços para cima e grite GAURANGA três vezes da forma mais entusiasta que você conseguir. Perceba que não importa o que mais esteja acontecendo na sua vida, você fez isso de forma entusiástica (e se você não fez, por favor faça, assim poderei provar o meu ponto).

Portanto você pode escolher ser entusiasta mesmo que não se sinta entusiasta. E há uma grande vantagem nisso: quando você escolhe ser entusiasta, você começa a se sentir entusiasta. E se você está se sentindo mais entusiasta agora, como resultado de ter gritado GAURANGA, você pode gritar GAURANGA tanto quanto queira.

Lembre-se: se você não escolhe ser entusiasta, você escolhe ser não-entusiasta.

Cair Não Significa Falhar

Cair só é uma falha se continuarmos caídos. Uma vez que o serviço de maya é nos manter caídos, ela nos dirá que somos fracos, que não somos capazes de seguir os princípios, que nunca seremos bons devotos, etc. Se dermos muito ouvido a ela, começaremos a acreditar em suas palavras (e queremos acreditar nelas quando estamos procurando por boas desculpas). Lembre-se: há uma grande diferença entre cair e ser um fracassado.

O que há de bom nisso?

Quando um devoto que caiu se aproxima de mim, eu lhe pergunto “O que há de bom quanto a ter caído?”. Como eles normalmente estão sem motivação, eles normalmente respondem: “Não há nada de bom nisso”. Mas eu continuo perguntando e, normalmente, o devoto lista todos os erros que o levaram a cair. Então eu pergunto: “E então, o que você aprendeu disso?” Aí nós usamos estas lições de forma a assegurar que, tanto quanto possível, isso não aconteça de novo (parte da lição que eles aprendem é que eles não são tão conscientes de Krsna quanto pensavam ser). Então pergunto: “Se o resultado dessa queda é que você agora entende mais sobre si mesmo e sobre cair, você acredita que essa queda pode ser o pilar para o seu sucesso?” De repente, como que por mágica, eles vão de desencorajados e aflitos para otimistas quanto a seu futuro na consciência de Krsna.

Assim, se alguma vez você caiu, pergunte a si mesmo, “O que há de bom nisso? O que eu aprendi que pode me ajudar a prevenir para que não aconteça de novo?”. “Aquele que faz o bem, nunca é vencido pelo mal” (pelo menos não por muito tempo).

O que acontece é que se você acha que pode brincar com maya, você provavelmente terá que apanhar um pouco para aprender a lição. Felizmente nós aprendemos muito com nossas falhas. “Ou seja, ou você ganha ou você ganha experiência”.

Seguindo em Frente

Às vezes, especiamente se alguém caiu feio ou não pôde manter os votos por um longo tempo, é difícil voltar a cantar as 16 voltas diariamente e seguir os quatro princípios regulativos. De qualquer forma, independentemente da situação em que nos encontremos, deveríamos ao menos estar firmes em manter algum padrão de prática consciente de Krsna diariamente. Nós não perdemos a guerra se perdermos uma batalha; nós perdemos a guerra se nos rendermos (se render a Krsna é diferente, claro). Falhar não significa que nunca seremos bem sucedidos; isto só significa que pode demorar ainda mais um pouco até lá.

Conta-se uma história de uma pessoa que se aproximou de um guru e pediu para que ele lhe indicasse a direção do sucesso. O guru não disse uma palavra; ele apenas apontou em uma direção distante. Empolgado, o homem saiu correndo e logo se ouviu um som: SPLOFT! O homem voltou mancando em direção ao guru todo quebrado e machucado. Pensando ter ido na direção errada, ele perguntou novamente onde encontraria o sucesso e o guru, mais uma vez, apontou o mesmo ponto distante. Com muita fé, ele novamente foi naquela direção, e desta fez se fez ouvir um SPLOFT! ainda mais alto! Quando o homem voltou, ele estava quebrado e ensangüentado. Um tanto quanto chateado, ele falou com seu guru: “Eu segui suas instruções e tudo o que consegui foram algumas quedas e trombadas. Então, agora, você poderia dizer-me exatamente onde eu posso encontrar o sucesso?”. O guru finalmente falou: “O sucesso está onde eu apontei. Ele está apenas um pouquinho depois do SPLOFT!.

Uma Luta Gloriosa

É sempre difícil seguir os próprios votos? Às vezes seguí-los é mais mole que sopa de minhoca, e às vezes é um grande desafio. Um pensamento que me ajudou muitas vezes quando eu tinha de lutar comigo mesmo era: esta é uma luta gloriosa. Todos no mundo material estão lutando para conseguir felicidade, gratificação dos sentidos e inúmeros outros objetivos que traçam para si mesmos. Mesmo pessoas preguiçosas estão lutando para evitar trabalhar – e depois lutando para pagar suas contas. Mas não há glória em tais lutas porque o resultado final são novos nascimentos e mortes. Mas na consciência de Krsna, os benefícios de se lutar são muito mais elevados – a oportunidade de brincar, atuar, tocar e dançar com Krsna. Assim, se eu tenho de lutar de uma maneira ou de outra, por que não lutar para receber a misericórdia especial de Krsna e voltar para Ele? Por que não lutar por algo glorioso?

A história a seguir ilustra perfeitamente a luta gloriosa. Na Índia, os discípulos costumam fazer madhukari para seus gurus (coletar alimentos de diferentes casas). Durante o verão de Vrndavana, os discípulos saem cedo para evitar o grande calor. Todavia, havia um discípulo que sempre saía à tarde. Porque era realmente muito quente naquele horário, as pessoas das quais ele mendigava ficaram preocupadas com ele. Então foram até seu guru e pediram para que ele o deixasse mendigar pela manhã. O guru disse que era melhor ele sair durante a tarde. Eles não podiam acreditar que o guru pudesse ser tão insensível ao sofrimento do discípulo. Ao que ele adicionou: “Porque Krsna está dando a ele mais misericórdia, devido ao maior esforço que ele faz para servir”.

Assim, em momentos difíceis, momentos que lhe fazem pensar “para que tudo isso?”, pense que esta é uma grande oportunidade dada por Krsna para você mostrar a Ele que, apesar das quedas e de todas as dificuldades, você está disposto a resistir às investidas dos seus sentidos para poder se aproximar dEle. Use esta oportunidade para mostrar a Krsna que você quer a Ele mais do que qualquer outra coisa.

E então, adivinhe o que irá acontecer? Guru e Krsna lhe darão misericórdia especial. E como é tal misericórdia? Ela virá na forma de força, inteligência e determinação: tudo o que você precisa para ficar de pé e lutar.

Exercício

Faça um “brainstorm” - chuva de idéias - para contornar, superar parcialmente ou superar totalmente obstáculos que o dificultam a seguir estritamente seus votos e práticas devocionais. Para cada obstáculo que surja, crie três diferentes estratégias para lidar com ele.

Há várias estratégias que funcionarão, mas você só as encontrará se gastar algum tempo procurando por elas. Tudo começa com a pergunta: “como poderei resolver este problema?”. Procure e descobrirá. Bata na porta e alguém irá abrir. Krsna está em seu coração. Ele vai ajudar você.

Aqui vai uma sugestão para você lidar com suas maiores fraquezas: trace estratégias para o jogo. Faça uma lista de cinco coisas corretas que você pode fazer quando estiver prestes a fazer alguma coisa errada (errado pode ser, por exemplo, simplesmente perder tempo fazendo algo que não precisa fazer). Tenha sua lista de estratégias em mãos e, quando se deparar com o desejo de fazer algo errado, saque de sua lista e escolha uma ou mais alternativas a seguir.

Esta lista de coisas a fazer pode incluir: ligar para um amigo que entenda sua situação e que possa dar à sua mente um primeiro “contra argumento”. A lista também pode conter uma caminhada cantando japa; escrever para o Krsna Katha; tomar um um banho frio; comer uma bolinha doce – qualquer coisa que coloque um intervalo entre a ação impulsiva e a verdadeira escolha de agir.

O Dever do Governo: Ensinar a Consciência de Krsna - The Government’s Duty: To Teach Krsna Consciousness




O Dever do Governo: Ensinar a Consciência de Krsna
The Government’s Duty: To Teach Krsna Consciousness

Por Chandrashekhara Acharya Dasa

Em setembro de 2005, a revista diplomata francesa Label France publicou um artigo intitulado, “Cem Anos de Secularismo, A la Française”. O título se refere à celebração do centenário da lei de 1905 que oficialmente separa a Igreja do Estado. O autor do artigo escreve, “O Secularismo facilitou a co-existência pacífica de todas as convicções espirituais”. Mas em seguida, de forma suficientemente irônica, ele menciona a lei de março de 2004 que determina que “em escolas do ensino primário, escolas de ensino médio e em faculdades, o uso de símbolos ou roupas por parte dos estudantes que expressem qualquer relação deles com suas respectivas religiões é estritamente proibido”.

Pela onda de manifestos violentos que afetou e embaraçou a França em Novembro de 2004, talvez se possa questionar a eficiência da educação secular. Não seria o principal dever do governo incentivar o cumprimento de princípios religiosos e guiar seus cidadãos em direção à auto-realização? A não ser que o governo implemente a educação consciente de Krsna, a sociedade nunca será pacífica.

Como Gaudiya Vaisnavas, nós aceitamos a premissa ontológica de que não somos nossos corpos. Aceitamos a idéia de que somos almas espirituais eternas que têm apenas uma função, sendo esta prestar eterno serviço ao Senhor Supremo Sri Krsna. A meta da vida humana é se desgarrar da ilusão e redespertar seu original amor por Krsna, para que, assim, como almas espirituais, possamos retornar ao Seu reino após a morte. Essa meta de redespertarmos nossa consciência de Krsna é árdua porque cultivamos profunda ignorância por vidas e vidas, desde tempos imemoriais.

É, então, compreensível que não consigamos nos tornar conscientes de Krsna unicamente por nosso esforço isolado. Senão que precisamos de incentivo e instrução, tanto individual quanto coletivamente.

Assim, portanto, o dever primeiro do governo é guiar seus dependentes, os cidadãos, de forma que seja redespertado o amor por Krsna que está adormecido em cada um deles. De outra forma, os cidadãos serão desviados para a gratificação sensorial e se tornarão cada vez mais emaranhados no ciclo de nascimentos e mortes.
No Srimad-Bhagavatam (4.14.18), afirma-se:
yasya rashtre pure caiva bhagavan yajna-purushahijyate svena dharmena janair varnashramanvitaih
“O rei deve ser piedoso para com aquele estado e cidade em que a população observa estritamente o sistema de oito ordens sociais de varna e ashrama, e no qual todos os cidadãos se ocupam na adoração à Suprema Personalidade de Deus em suas respectivas ocupações”.
Em março de 1976 em Mayapur, os devotos da revista Volta ao Supremo perguntaram sobre o dever do governo.
“Entender qual o desejo de Deus”, ele respondeu, “e fazer com que a sociedade trabalhe neste sentido. Assim as pessoas serão felizes”.
Durante seus ensinamentos acerca deste tema, Srila Prabhupada repete esse ponto várias vezes, insistindo que o único dever do governo e dos educadores é ensinar e guiar os cidadãos em direção à Consciência de Krsna.
Reis Conscientes de Krsna do Passado
Da história Védica, aprendemos sobre grandes reinos conscientes de Krsna, como foi o de Parikshit Maharaja. Parikshit foi um rei consciente de Krsna tão glorioso que em seu reino, Kali, a personificação do mal desta era, não pôde encontrar sequer um único pedaço de terra para existir. Isto porque, no reino de Parikishit, não havia em local alguns o consumo de carne, de drogas, jogos de azar ou sexo ilícito. Parikshit Maharaja se organizou de tal forma que, independente do status social ou nível de avanço espiritual, todos eram gradualmente encaminhados rumo à auto-realização.
De forma contrastante, o atual governo secular impele seus cidadãos a cometerem as atividades pecaminosas mais grosseiras. Desesperados, esses cidadãos às vezes protestam e fazem rebeliões. O Srimad-Bhagavatam (12.2.8) compara os líderes políticos modernos a “ditadores avarentos e sem misericórdia”. É dito que com o passar de Kali-yuga, a atual era, esses líderes políticos irão “saquear as esposas e propriedades dos homens” com tanta freqüência que eles terão de “fugir para as montanhas ou florestas”.
Secularistas talvez clamem, “Ao menos, o currículo da educação secular não favorece nenhum grupo; ele é neutro”. Uma investigação, no entendo, revelaria que a educação secular favorece, sim, um grupo em particular. Ela favorece os ateístas. O preconceito intocável – que é permitido a todos, e que está presente na fundação do secularismo – é a convicção de que o ateísmo é conhecimento e que teísmo é apenas uma crença subjetiva. Certo, virou moda agora entre as instituições seculares ensinar cursos como “Religiões do Mundo” ou “Educação Religiosa”, mas esses cursos são ensinados do ponto de vista reducionista do ateísmo. Uma outra tendência quase que absoluta das instituições acadêmicas é ensinar aos estudantes que o Big Bang e a teoria da evolução de Darvin são a única realidade. Parafraseando Srila Prabhupada, a educação moderna tem apenas um afazer em sua agenda: tornar o mundo destituído de Deus.
O artigo 1 da lei francesa de 1905 mencionada anteriormente, declara, “A República assegura liberdade de pensamento. A República assegura a prática irrestrita de todos os cultos”. Isso soa promissor, mas na prática observamos exatamente o contrário. Como se pode falar de “prática irrestrita de todos os cultos” se crianças na França não podem ir para a escola usando uma cruz de Jesus, uma estrela de Davi, um turbante sique, uma tilaka Vaisnava ou qualquer outra insígnia religiosa? Embora os secularistas iludam as massas com requintadas e sofisticas pretensas filosofias, não passam de enganadores. Mais uma vez, o Bhagavatam prediz que, em Kali-yuga, a hipocrisia é tomada por virtude e qualquer um que for bom com malabarismo verbal será considerado erudito. Assim, a afirmação do princípio da República Francesa, que supostamente garante a liberdade para praticar a religião escolhida, é apenas um blefe.
A Religião Eterna
Se os políticos de todo o mundo estivessem ensinando a consciência Krsna, guiados pelos livros de Srila Prabhupada, o teísmo prevaleceria. Mesmo assim, alguns Muçulmanos, Judeus, Budistas, Cristãos, e outros poderiam protestar sentindo-se discriminados por não serem plenos adeptos da teologia Gaudiya Vaisnava. Como devotos de Krsna, todavia, nós somos certos de que a consciência de Krsna inclui a tudo; ela não discrimina ninguém. De fato, vai além de rótulos religiosos. Ela lida diretamente com todas as almas espirituais, independente de suas designações externas. Ser um Muçulmano, Cristão, Judeu ou Hindu não tem nenhuma relevância quando se falando de sanatana-dharma. Sanatana-dharma se refere a todas as entidades vivas em todas as existências.
Por exemplo, os dois seguintes versos são do Bhagavad-gita, aparentemente um escritura Hindu. Mas se educadores ensinarem esses versos para seus estudantes, onde está a questão de parcialidade para uma religião ou outra?
“Saiba que aquilo que penetra o corpo inteiro é indestrutível. Ninguém é capaz de destruir a alma imperecível”. (2.17)
“Aquele que vê que a Superalma acompanha a alma individual em todos os corpos, e que compreende que nem a alma nem a Superalma dentro do corpo destrutível são destruídas, vê de verdade”. (13.28)
De acordo com esses dois famosos versos, cada um de nós, independente de afiliações religiosas, é um ser espiritual subordinado a Deus. Onde, então, há parcialidade? Todavia, pode ainda haver teístas que, embora aceitem esses versos, não estejam prontos para aceitarem toda a teologia Gaudiya Vaisnava. Alguns poderiam protestar: “Nós não acreditamos em reencarnação, nós não aceitamos que Deus é uma pessoa, e, portanto, não aceitamos que Krsna seja a Suprema Personalidade de Deus”.
Neste caso, líderes políticos e educadores conscientes de Krsna devem ser tolerantes e compassivos. Por exemplo, um líder consciente de Krsna deveria incentivar os Muçulmanos a serem melhores Muçulmanos e Cristãos a serem melhores Cristãos, entendendo que diferentes almas espirituais influenciadas por diferentes combinações dos modos da natureza podem levar tempos diferentes até alcançarem a plataforma do serviço devocional puro, a verdadeira religião da alma. Como explica Srila Prabhupada, nós devemos encorajar cada pessoa em sua fé particular, ajudando-o, ao menos, a seguir os princípios estabelecidos por seus respectivos profetas. Isto certamente traria uma atmosfera de paz para o mundo. Por outro lado, é-nos fácil perceber que a educação secular nos leva unicamente em direção à frustração e ao sofrimento. Os manifestos violentos em novembro de 2004 na França é um de vários casos que testemunham este fato, do qual Prabhupada estava convencido: “Hoje em dia o valor é – como eles chamam isso? – governo secular, ‘Não falemos de Deus’. Esta é a situação atual do mundo. Aulas ateístas. ‘Não falemos de Deus’. Mas eles não sabem que não fazem nenhum avanço por não falarem de Deus. A situação está se tornando cada vez pior. Mas eles não têm olhos para ver. Eles não têm olhos para ver. Essa civilização sem Deus não os fará felizes. Isso é um fato”. (Aula do Srimad-Bhagavatam 7.6.1, Hong Kong, 18 de Abril de 1972).



Tradução por Bhagavan dasa (DvS

Sankirtana! Caridade para Todos os Seres - Sankirtana! Welfare for All Being



Artigo originalmente publicado na revista Back to Godhead [Volta ao Supremo] – fundada por Srila Prabhupada no ano de 1944
Sankirtana! Caridade para Todos os Seres
Sankirtana! Welfare for All Being
Por Dayananda Dasa


Alex, meu barbeiro, trabalha no salão Pilatos no Queen, Nova Iorque, no começo do bairro hispânico. O salão tem, em sua maioria, cabeleireiros e clientes latinos, e é muito alegre e colorido, muitas vezes com salsa tocando em um som ambiente. Em uma visita recente ao salão, ao invés de salsa, estava tocando o mantra om namo bhagavate vasudevaya, que significa “reverências ao Supremo Senhor Krsna”. Comentei com Alex que este era uma das canções dos Hare Krsnas. Ele e eu conversamos algumas vezes sobre a consciência de Krsna, e ele ficou um pouco interessado. Parece que o CD era uma compilação européia de várias canções e orações exóticas de todo o mundo, e fora Alex quem o trouxera para o salão.
Ele me perguntou sobre o cantar. Eu lhe expliquei que a base da religião Hare Krsna é o sankirtana, ou a glorificação do Senhor em tudo o que se faz. Uma forma de sankirtana é o cantar dos Santos Nomes do Senhor.
Alex havia visto uma vez um grupo cantando nas ruas, e perguntou “Cantar é tudo o que sua religião faz? Vocês não fazem caridades ou trabalhos voluntários?”.
“Nós fazemos esse tipo de trabalho”, eu respondi, “mas nossa caridade é para a alma”.
Caridade para a Alma
Em uma conversa anterior, eu havia explicado para o Alex que não somos esses corpos; que somos almas. A alma é o veículo da alma. Ainda assim a idéia de caridade ou compaixão pela alma o deixou confuso, então lhe expliquei que meu guru, Prabhupada, compara a caridade motivada por compaixão ao corpo a salvar o casaco de uma pessoa que está se afogando e deixá-la se afogar, enquanto que a caridade motivada por compaixão pela alma seria salvar a pessoa que se afoga. Contudo, Alex, visivelmente, não podia imaginar como algo poderia ser feito para o benefício da alma.
Eu lhe expliquei que o próprio cantar é a maior atividade beneficente, porque ele invoca a presença do Senhor na forma de Seu nome. Quando cantamos em público, todos aqueles que escutam são beneficiados com a associação do Senhor. Assim, lembre-se: sankirtana é caridade. Alex, que é Católico e de Costa Rica, disse que algumas das freiras que ele conheceu em sua escola costumavam cantar o rosário quase que o dia inteiro. Ele estava imaginando se isso era algo parecido com o nosso sankirtana.
“Sim”, eu respondi, “é similar ao sankirtana. Prabhupada certa vez disse que o cantar do nome de Allah feito pelos muçulmanos também é como sankirtana”.
Alex disse que não queria me ofender, mas ele disse ter notado que muitas pessoas que vêm os Hare Krsna cantando não entendem o que eles estão fazendo.
Ele perguntou, “como isso pode ser benéfico se as pessoas não entendem?”.
Expliquei, então, que o efeito do cantar não depende de nossa compreensão. Dei o exemplo de um remédio que tomamos para curar uma doença. Nós temos que tomar as pílulas, mas não temos de saber como elas funcionam. Depois de certo tempo, o remédio faz efeito e a doença some. Similarmente, o cantar cura a alma de sua doença, que é se prender em maya.
Alex se lembrou que havíamos falado sobre maya em nossa última conversa.
“Sim”, eu disse, “maya é ilusão, e ela nos mantém focados neste mundo, enevoando nossa tendência de estarmos conectados com Krsna”.
Ele gostou da minha explicação do misterioso efeito do cantar, mas ele continuou achando imprático cantar no meio de pessoas que não faziam a menor idéia de estarem sendo curadas de maya.
“De fato”, eu expliquei, “nós dizemos, sim, sobre maya e Krsna. Nosso trabalho beneficente inclui a disseminação dos ensinamentos e glórias de Krsna. E, sim, você está certo: quando as pessoas entendem Krsna, elas recebem um benefício maior de nossa caridade na forma de sankirtana”.
Eu adicionei que a distribuição de livros é nosso meio mais efetivo de informar as pessoas do significado do sankirtana.
Ele perguntou, “Vocês vendem livros no metrô, como os Cientologistas e os testemunhas de Jeová?”.
Eu expliquei que temos alguns livros:
“Um deles é chamado Gita, que contém as instruções de Krsna, e outro seria o Bhagavatam, que é uma coleção de livros contendo as glórias de Krsna. E nós os distribuímos amplamente, algumas vezes, mesmo no metrô”.
Tocado pela minha sinceridade, Alex se lamentou pelo fato de uma religião na qual todos simplesmente cantam o tempo todo não parecesse prática.
“Bom”, eu disse, “alguns de nossos santos são exemplos de pessoas que cantavam continuamente, mas Prabhupada me sugeriu não seguir este caminho. Ele me sugeriu cantar por cerca de uma hora e meia ou duas horas por dia como dever de discípulo, mas ele disse que usar as demais horas do dia para trabalhar para Krsna seria tão bom quanto cantar. Ele me preveniu dizendo que preguiça poderia fazer as pessoas cantarem para evitarem tal trabalho. Porque eu era um pai de família, Prabhupada me encorajou a ter uma profissão honesta e usar meu empenho e dinheiro para o sankirtana”.
A Fórmula da Caridade Transcendental
Alex ficou com o pé atrás quando mencionei dinheiro. Ele disse que sacerdotes católicos que ele conhece estão sempre pedindo dinheiro, e que ele não gosta muito disso. Eu expliquei que Caitanya havia prescrito um espécie de fórmula da caridade transcendental que abrangia sua questão:
“Caitanya instou todos a fazerem caridade na forma de sankirtana através de oferecer palavras, inteligência, riqueza e vida. Ele ensinou que a base para a caridade em foram de sankirtana são a oferenda de palavras, incluindo o cantar público ou a distribuição da palavra impressa. Inteligência também é usada na caridade, organizando-se festivais de mantras e estratégias para distribuição de livros. Por exemplo, todo ano aqui em Nova Iorque, nós temos uma grande procissão descendo a quinta avenida chamada Rathayatra, com grandes e coloridos carros adornados com bandeiras e dosséis. Vários Hare Krsnas dedicam sua inteligência em conseguir autorização para o festival, organizando mostruários de livros, preparando comida ou organizando a limpeza”.
Pelo espelho, eu pude ver o rosto de Alex ganhar vida. Ele parou de mexer no meu cabelo e me disse que havia acompanhado a parada do Rathayatra em Junho de 2002, alguns meses depois do ataque ao World Trade Center. Ele comentou que a devastação do ataque havia o deixado um tanto deprimido, mas ele sentiu como se o Rathayatra tivesse rejuvenescido sua alma. Ele também se lembrou de procissões Católicas em Costa Rica.
Sem perder o foco, ele perguntou, “E quanto ao dinheiro que você mencionou? Quem fica com o dinheiro?”.
Eu respondi, “O ponto importante é que a doação de dinheiro tem por base a oferenda de palavras e da inteligência, assim, nós devemos usar nossa inteligência quando doamos dinheiro, e não dependermos de outros para decidirem ou intercederem. Nosso dinheiro está nos festivais de mantras e na distribuição de livros. Nós também o usamos para manter os templos, que são centros de distribuição da máxima caridade, o sankirtana. Prabhupada ensinou que deveríamos nos certificar que nossas oferendas para o sankirtana não fossem usadas de forma inapropriada. Parte da missão da organização que ele fundou – a Sociedade Internacional para a Consciência de Krsna – é administrar devidamente o uso das contribuições. É especialmente importante oferecer dinheiro, porque Krsna ensina no Gita que tal oferenda é parte de uma yoga chamada karma-yoga”.
Quando mencionei yoga, Alex me disse que ele fazia um pouquinho de yoga em casa e que, algumas vezes, ia a aulas. Expliquei, então, que karma-yoga é diferente de exercícios de yoga.
“Karma-yoga é a oferenda de seu esforço e dinheiro para Krsna como uma forma de se conectar a Ele. Krsna ensina que usar dinheiro para o benefício próprio é a causa do condicionamento material, mas sacrificar sua riqueza para caridade liberta a pessoa de maya. Também, Krsna ensinou que karma-yoga é uma parte essencial da mais alta e poderosa yoga, bhakti yoga ou serviço devocional. Bhakti-yoga é a mais alta yoga porque redesperta o amor por Krsna”.
Meu corte de cabelo havia acabado já há alguns minutos, e Alex tinha outro cliente aguardando. Eu apenas o lembrei que tudo é baseado no cantar. Ele perguntou se eu poderia escrever as palavras da oração do CD, então escrevi om namo bhagavate vasudevaya. Em baixo da oração, eu escrevi: Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare.
Eu lhe disse que “a oração do CD tinha o poder do nome de Krsna, e que cantá-la iria lhe beneficiar muito. Além do mais, Prabhupada ensinou a seus seguidores que cantar Hare Krsna era algo especialmente recomendado para a era em que vivemos. O cantar de Hare Krsna é mesmo maravilhoso”.
Alex pediu para seu próximo cliente ir para a cadeira de lavar o cabelo, e eu fui para o caixa pagar pelo meu corte. Eu voltei-me para ele mais uma vez e disse que da próxima vez eu traria o Gita de Krsna para ele. Assim ele poderia aprender como oferecer sua inteligência e também o seu cantar. Aí ele brincou que ele estava um pouco longe da parte de oferecer dinheiro. Eu ri.
“Sem problema”, eu disse, “Krsna diz que você pode começar Lhe oferecendo até mesmo uma folha”.
Enquanto eu me preparava para ir embora, Alex me perguntou quanto de dinheiro eu dava para o sankirtana. Eu respondi que Prabhupada havia-me sugerido dar cinqüenta porcento do que eu ganhava, e era o que eu estava tentando dar. Ele ficou surpreso e disse que isso parecia ser bastante.
“Vou lhe dizer com sinceridade, Alex”, eu respondi, “eu estava profundamente grato pelo carinho e treinamento de Prabhupada, e senti que isso era o mínimo que eu podia fazer. Também, Caitanya costumava comprar a caridade do sankirtana à distribuição de uma fruta que cura da velhice e da morte. Eu sou encantado com essa analogia e eu, definitivamente, experienciei o benefício de dar tal fruta e ver os outros tirarei benefício dela”.


Tradução por Bhagavan dasa (DvS)