Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Um Encontro em Varanasi - Parte I

krishna.com

Um Encontro em Varanasi

A Meeting in Varanasi

Mathuresa Dasa

parte 1 de 3

Um dos maiores eruditos de seu tempo está prestes a se encontrar com a fonte de todo o conhecimento.

A cidade de Varanasi se encontra a seiscentos e cinqüenta quilômetros a noroeste de Calcutá na margem setentrional do rio Ganges. Grandes escadarias de pedra conduzindo para dentro do rio, conhecidas como balneários, ou ghats, estendem-se por seis quilômetros ao longo da costa do rio sagrado. Multidões de peregrinos descem para se banhar na água santa ou sobem a fim de explorar ruas estreitas e sinuosas e visitar os mais de 1500 templos da cidade. Embora haja registros históricos de peregrinações a Varanasi datando do século VII; para os fiéis, este mais sagrado dos destinos existe como uma alvoroçada cidade sagrada há muito mais tempo. Muitos dos templos de Varanasi foram destruídos no século XVII durante o reino do imperador Aurangzeb, apesar do que, mesmo hoje, a visão ao longo do Ganges em Ramnagar sugere atemporal esplendor.

O erudito preeminente em Varanasi no começo do século XVI era Prakasananda Sarasvati, um sacerdote renunciado, ou sannyasi, na linha de Sripada Sankaracarya. Prakasananda e seus colegas eram mestres dos Vedas, a literatura sânscrita que inclui extensos escritos sobre todo aspecto básico do conhecimento. Há textos védicos sobre lei, arte, medicina, matemática e outras ciências seculares, bem como sobre yoga, religião, filosofia e misticismo. Veda significa “conhecimento”, e, em um sentido mais amplo, todo conhecimento é parte dos Vedas.

Prakasananda Sarasvati era particularmente adepto da análise dos códigos do altamente filosófico Vedanta-sutra. Os textos védicos, divididos por Srila Vyasadeva, uma encarnação literata de Deus, culminam no Vedanta-sutra, no qual Vyasadeva discorre sobre a natureza eterna, a origem e o propósito da existência. Anta significa “fim”, logo o Vedanta-sutra estabelece que todos os campos de conhecimento destinam-se a alcançar o fim, ou meta, do conhecimento compreendendo o significado da vida.

Durante uma palestra no Instituto Massachusetts de Tecnologia em 1968, Srila Prabhupada desafiou sua audiência a explicar por que, com todos os campos de conhecimento em sua universidade, eles não tinham um departamento para estudar a diferença entre um corpo vivo e um corpo morto. Estudamos medicina para manter nossos corpos saudáveis, política e sociologia para mantê-los organizados, psicologia para gerir nossas mentes. Todos os departamentos beneficiam os corpos e mentes vivos, mas o que é essa vida, essa energia viva, que tão zelosamente servimos? O que é esse conhecimento? Ou, em outras palavras, onde está o Vedanta? Carecendo de um departamento vedantista, os outros departamentos ficam incompletos.

Não havia semelhante carência em Varanasi. Como um inigualável comentador sobre o Vedanta-sutra, Prakasananda Sarasvati era o reitor dos estudiosos de Varanasi, que, como professores dos Vedas, não eram meros dogmatistas exclamando crenças, mas antes genuínos pesquisadores, escritores e instrutores atraídos pela verdade essencial. A cidade de Varanasi há muito era um grande centro de educação e cultura. Com estudantes vindo de toda a Índia de modo a obter uma educação abrangente na sabedoria Védica, Varanasi era um local muito propício para a iluminação. Prakasananda e seus associados presidiam ali, desfrutando de suas pesquisas intelectuais, de seus seguidores, e de sua posse do cargo de líderes de uma Meca acadêmica e cultural.

A única perturbação à pacífica atmosfera acadêmica – uma perturbação que também assola atualmente as cidades universitárias moderna e outros centros de educação – era um grupo de Hare Krsnas barulhentos e empolgados cantando e dançando pelas ruas. Sem qualquer aparente respeito sequer por um mínimo de decoro acadêmico, esses aparentes fanáticos, tocando tambores e címbalos de mão, estavam atraindo seguidores, Prakasananda notou, entre alguns dos estudantes mais simples e entre os citadinos. O líder deles de apenas vinte e oito anos de idade, Sri Krsna Caitanya, que vivia na Bengala, possuía uma compleição dourada e uma voz atroadora. Como Prakasananda e seus colegas, Ele era um sannyasi na linha discipular de Sripada Sankaracarya. Todavia, Sankaracarya havia ensinado seus seguidores a rejeitarem prazeres mundanos, como cantar e dançar, e, no lugar de tais ocupações, sempre se ocuparem em estudar o Vedanta-sutra. Então, quem esse Krsna Caitanya pensava que era, e o que Ele pensava que estava fazendo?

Prakasananda passou a criticar abertamente: “Krsna Caitanya, embora um sannyasi, não tem interesse em estudar o Vedanta, senão que sempre se ocupa em cantar e dançar congregacionalmente. Ele é iletrado, e, devido a isso, desconhece Sua verdadeira função. Guiado apenas por Seus sentimentos, Ele vagueia a esmo na companhia de outros sentimentalistas”. - Sri Chaitanya-caritamrita, Adi-lila 7.41-42

Deve ter-se perturbado ainda mais Prakasananda quando soube que Krsna Caitanya estava longe de ser iletrado. Antes de aceitar a ordem de sannyasa com a idade de vinte e quatro anos, Ele foi conhecido como Nimai Pandita e dirigiu Sua própria acadêmia de estudos sânscritos em Navadvipa, a qual era muito popular, e que se localizava onde hoje é a Bengala Ocidental. Navadvipa era um centro de aprendizagem ainda mais importante do que Varanasi. Naquela época na Índia, como em tempos pretéritos, a erudição tinha o poder atrativo dos eventos esportivos da atualidade, com panditas entendidos desafiando um ao outro em exibições de erudição. Quando ainda um jovem estudante, Nimai Pandita derrotou muitos eruditos campeões, inclusive Kesava Kasmiri, um brahmana da Caxemira que havia ganhado títulos por toda a Índia. Quando Kesava Kasmiri chegou a Navadvipa, procurando por um pouco de ação, os eruditos locais se esconderam com medo, deixando o desafio para Nimai.

Protesto Não-Violento

Após muitos anos exibindo Sua proeza intelectual, Nimai Pandita centrou Suas energias na promoção do sankirtana, o cantar e o dançar congregacional e público em glorificação a Deus. Em Navadvipa, o sonoro cantar dos nomes de Krsna havia levado os muçulmanos locais a se queixarem com o magistrado, ou qazi, de Navadvipa. O qazi abordou um grupo de cantores certa noite, quebrou um tambor de sankirtana e proibiu futuros cantos nas ruas da cidade. Em resposta, Nimai Pandita organizou um protesto não-violento rodeando a residência do qazi com milhares de cantores e dançarinos. O qazi se intimidou com a multidão, mas o comportamento de Nimai foi pacífico. Em um diálogo amigável, Ele convenceu o qazi da importância do cantar dos nomes do Senhor.

Assim como Prakasananda Sarasvati, Nimai Pandita era altamente versado no Vedanta-sutra, mas não com o fim de conhecimento. Ele conhecia bem as muitas declarações nos Vedas declarando que, na Kali-yuga, esta era de desavenças e hipocrisia, o meio para a auto-realização (a meta do Vedanta) é cantar os nomes de Deus. Um verso no Brhan-naradiya Purana enfatiza este ponto valendo-se de repetição: “Cantem os santos nomes, cantem os santos nomes, cantem os santos nomes. Nesta era de desavenças, não há outra maneira, não há outra maneira, não há outra maneira para se alcançar a meta da vida humana”.

Embora Nimai cantasse particularmente o mantra Hare Krsna, Ele ensinou que este “não há outra maneira” aplica-se a todo lugar e tempo, e a qualquer nome reconhecido do Senhor. Um verso no Srimad-Bhagavatam, o comentário do próprio Srila Vyasadeva ao seu Vedanta-sutra, declara que, em eras pretéritas, meditação, rituais religiosos ou adoração no templo talvez tenham sido suficientes, mas que, nesta era, esses métodos são efetivos apenas em conjunção com o cantar regular. E, novamente no Bhagavatam, Vyasadeva escreve que Kali-yuga é um oceano de defeitos com uma única qualidade: simplesmente por cantarmos as glórias do Senhor, podemos nos livrar das misérias materiais e lograr a perfeição mais elevada da vida espiritual.

O Kali-santarana Upanisad é ainda mais específico, citando todo o mantra Hare Krsna – Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare/ Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare – e então afirmando: “Estas dezesseis palavras destroem os defeitos da era de Kali. Após buscar por todos os Vedas, você não encontrará um meio de auto-realização melhor para esta era”.

Com estes e outros versos em Seus lábios e com a assistência de Seus muitos associados, Nimai propagou Seu movimento de sankirtana ao longo de Navadvipa e até a Bengala Oriental. Ele casou-Se jovem, mas, como chefe de família, viajava frequentemente, deixando Sua jovem esposa e idosa mãe em casa. Ele absorveu-Se tão imensamente em sankirtana que introduziu um sistema de gramática sânscrita baseado nos nomes de Krsna. Toda palavra oriunda de Sua boca era ou o cantar ou glorificação ao cantar.

Foi em uma peregrinação a Gaya que Nimai tornou-Se discípulo de Isvara Puri, um grande devoto de Krsna na linha de Srila Vyasadeva, e, quando Nimai retornou a Navadvipa, Seu entusiasmo pelos santos nomes havia crescido extaticamente. Parece que Nimai tinha uma jovial familiaridade para com o barulho e a vigília, tanto que, em outra vez, foram os hindus que se queixaram com o qazi:

“Nimai Pandita, antigamente, era um excelente garoto, mas desde que retornou a Gaya, Ele Se comporta de maneira diferente. Agora, Ele canta alto toda sorte de canções de Krsna, batendo palma, tocando tambores e sinos e fazendo barulhos ensurdecedores. Não sabemos o que Ele come que O deixa tão ensandecido. Ele enlouquece praticamente todos com Seu contínuo canto congregacional. À noite, nada conseguimos dormir; somos sempre mantidos acordados”. - Adi 17.206-9

Mesmo os alunos de Nimai Pandita começaram a criticar o que consideravam uma absorção excessiva de Sua parte nos santos nomes. Embora não tivesse sido pessoalmente perturbado pela crítica, Nimai levava a sério Seu movimento de sankirtana. Ele ambiciosamente desejava propagar o sankirtana a toda cidade e vila do mundo, dando a todos, quer educados, quer incultos, acesso ao Vedanta e à perfeição da vida mediante o cantar dos santos nomes. Porém, se mesmo Seus próprios alunos não O levassem a sério, como poderia expandir Sua missão?

Nimai Aceita a Ordem de Sannyasa

Assim, no ano de 1510, com a idade de vinte e quatro anos, deixando Sua casa de bom grado, Nimai viajou para a vila de Katwa e aceitou a ordem de sannyasa de Kesava Bharati, um sannyasi da escola Sankarite. Ainda é costume na Índia se oferecer respeito a um sannyasi, e isso estava ainda mais em voga quinhentos anos atrás. Nimai queria esse respeito e atenção públicos para o benefício do movimento de sankirtana, que era, por sua vez, para o supremo benefício do público. Conquanto Nimai abominasse a filosofia quase budista de Sankaracarya, a influência de Sankaracarya era tão forte que as pessoas pensavam que todos só podiam aceitar sannyasa na sucessão discipular Sankarite. Deste modo, pela causa de Sua missão, Nimai aceitou sannyasa de Kesava Bharati, recebendo o nome Sri Krsna Caitanya.

Prakasananda Sarasvati, aproximando-se das pessoas na cidade, deve ter levantado alguns destes detalhes sobre o sannyasi alto e dourado agora a dançar e cantar pelas estreitas ruas de Varanasi. Como o principal dos eruditos de Varanasi, ele deve, a partir de então, ter evitado criticar Krsna Caitanya.

A Identidade de Sri Krsna Caitanya

A resposta completa a “Quem é Krsna Caitanya, e o que Ele está fazendo aqui neste centro de pacífica erudição?” encontrava-se bem debaixo do nariz de Prakasananda, precisamente em sua muitíssimo estimada literatura Védica. No Mahabharata, o Visnu-sahasra-nama-stotra, ou “Os Mil Nomes de Visnu”, descreve o Senhor Supremo aparecendo como um chefe de família em uma compleição dourada e com uma atitude de pacífica devoção e, posteriormente, aceitando a ordem de sannyasa. O Bhagavatam confirma que o Senhor aparece em diferentes eras com diferentes cores: branco, vermelho, negro e amarelo. Uma vez que se atribuem as encarnações branca, vermelha e negra a eras anteriores, a encarnação para a era de Kali é amarela, ou dourada. O Bhagavatam também declara que, na Kali-yuga, a encarnação de Deus inaugura o movimento de sankirtana, sempre canta o nome de Krsna, e é, na verdade, o próprio Krsna com uma compleição dourada.

krsna-varnam tvisakrsnamsangopangastra-parsadamyajnaih sankirtana-prayairyajanti hi su-medhasah

“Na era de Kali, pessoas inteligentes realizam o canto congregacional a fim de adorarem a encarnação do Supremo que constantemente canta o nome de Krsna. Embora Sua compleição não seja enegrecida, Ele é o próprio Krsna. Ele é acompanhado por Seus associados, servos e companheiros confidenciais”.

O Senhor Sri Krsna Caitanya é conhecido como channa avatara, ou “encarnação oculta”, porque Ele jamais Se apresentou como Deus ou permitiu que alguém O chamasse de Deus. Ele sempre agiu como servo de Deus ou como servo dos devotos do Senhor. Esta era é tão repleta de pretensas encarnações, tão sobrecarregada de filosofias declarando que, no fim, todos somos Deus, que o próprio Deus demonstra e desfruta o serviço devocional a Si através do cantar de Seus nomes. Assim como uma professora do primário, de modo a ensinar seus alunos como aprenderem, às vezes finge estar aprendendo o abecedário; da mesma maneira, na forma de Sri Krsna Caitanya, o Senhor assume o papel de Seu próprio devoto e demonstra a arte do serviço devocional a Ele mesmo.

Ouvindo as críticas de Prakasananda, o Senhor Caitanya demonstrou como os membros do movimento de sankirtana não devem se interessar por seu prestígio pessoal. A fim de ampliar o sankirtana, o Senhor havia planejado uma viagem até a cidade sagrada de Vrndavana, logo ao sul da atual Delhi, e não viu sentido algum em alterar Seu itinerário para defender Sua reputação duelando com a elite de Varanasi. Torneios intelectuais era algo de Seu passado, de Seus irrefletidos dias escolares. Não havia necessidade de interromper Sua pregação para a feitura de um debate. Melhor seria distribuir o cantar dos santos nomes; havia, afinal, muitíssimos ouvidos receptivos e muitos seguidores que necessitavam de Sua atenção e de instruções pessoais.

Os seguidores do Senhor Caitanya em Varanasi, contudo, estavam entristecidos com os comentários de Prakasananda. Partia-lhes o coração ouvirem seu amado Senhor ser rotulado como um tolo ignorante. Ao mesmo tempo, eles não se sentiam confiantes o bastante para, eles mesmos, confrontarem Prakasananda. O que eram eles em comparação àquele celebrado coordenador das muitas faculdades e departamentos acadêmicos de Varanasi? Como eles poderiam advogar em favor da divindade de Sri Krsna Caitanya e da dimensão transcendental do sankirtana a um crítico que podia, muito destramente, citar as escrituras védicas, brandindo seu conhecimento e suas credenciais?

Quando o Senhor Caitanya retornou a Varanasi vindo de Vrndavana, Ele permaneceu na casa de Candrasekhara, fez Suas refeições na casa de Tapana Misra e passou dois meses instruindo Sanatana Gosvami, o antigo primeiro ministro do soberano da Bengala, o nababo Hussein Shah, acerca da ciência do serviço devocional.

Enquanto o Senhor Caitanya, deste modo, permanecia pacificamente absorto na construção de Seu movimento de sankirtana, Seus dois anfitriões se entristeciam cada vez mais, até que, um dia, tanto Candrasekhara quanto Tapana Misra apelaram-Lhe: “Por quanto tempo podemos tolerar a blasfêmia de Seus críticos contra a Sua conduta? Ao invés de ouvir tanta blasfêmia, deveríamos abandonar nossas vidas. Todos os sannyasis locais estão criticando Vossa Santidade. Somos incapazes de tolerar a audição de tais críticas, pois semelhantes blasfêmias partem nossos corações”.

Ouvindo este apelo, o Senhor Caitanya permaneceu indiferente à crítica voltada para Si, mas sentiu compaixão de Seus anfitriões e outros seguidores, compreendendo a angústia deles. Nesse momento, um brahmana chegou até o Senhor com outro apelo; desta vez, um convite.

“Meu querido Senhor”, o brahmana disse, “convidei todos os sannyasis de Varanasi para almoçarem em minha casa. Meus desejos seriam satisfeitos caso Você também aceitasse o meu convite. Meu caro Senhor, sei que Você nunca Se mistura com outros sannyasis, mas, por favor, seja misericordioso comigo e aceite o meu convite”.

Era um costume muito antigo dos brahmanas de Varanasi revesarem-se em convidar os sannyasis locais às suas casas. Desta maneira, havia um encontro diário de sannyasis, um restaurante universitário ambulante. O Senhor Caitanya nunca esteve presente, recusando todos os convites, até este, o qual Ele bondosamente aceitou de sorte a agradar Candrasekhara, Tapana Misra e o brahmana. Ali estava uma oportunidade perfeita, possibilitada por Seu próprio arranjo onipotente, para encontrar-Se com Prakasananda Sarasvati em um contexto congenial como convidados comuns na casa de um brahmana.

Tapana Misra e Chandrasekhara ficaram jubilosos. Eles não sabiam como responder, eles mesmos, Prakasananda. Embora ainda não tivessem confiança em seu próprio aprendizado ou habilidades para debate, eles tinham firme fé de que seu mestre espiritual, o Senhor Sri Krsna Caitanya, era a Suprema Personalidade de Deus. Ele era o próprio Krsna, o autor e a autoridade última no Vedanta-sutra, agindo como Seu próprio devoto. No Bhagavad-gita (15.15), Krsna declara: “Estou sentado no coração de todos, e de Mim vêm a lembrança, o conhecimento e o esquecimento. Através de todos os Vedas, Eu sou aquele a ser conhecido. Na verdade, sou o compilador do Vedanta, e sou o conhecedor dos Vedas”.

Como servos fiéis do Senhor Caitanya, Candrasekhara e Tapana Misra aspiravam tornarem-se exímios pregadores de Sua missão que soubessem perfeitamente e pudessem ensinar que o Vedanta, a meta do conhecimento, é o serviço devocional a Krsna, a pessoa suprema, mediante o cantar de Seus nomes. Por ora, entretanto, o que sabiam, e lhes regozijava e confortava, era que o Senhor Caitanya, seu professor, havia concordado em Se encontrar com Prakasananda Sarasvati, o cabeça da elite intelectual de Varanasi, para um almoço.
Continua...

Tradução de Bhagavan dasa (DvS) – Outras traduções em http://www.devocionais.xpg.com.br/

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Vamos cair na realidade?



Vamos cair na realidade?
Purushatraya Swami

Srila Prabhupada dizia que “na vida espiritual temos que aceitar os obstáculos, e não evitá-los”. Numa instituição religiosa vamos encontrar muitos obstáculos e situações difíceis. Muitos acham que é vantagem ficarem alheios a esse tipo de incômodos e se isolam em seus medíocres mundinhos domésticos. Acontece que, ao enfrentarmos com lucidez essas situações conflitantes crescemos como pessoa e, gradualmente, vamos atingindo estágios cada vez mais elevados de maturidade, responsabilidade e compreensão dos mistérios da vida. O devoto ou devota avança espiritualmente na medida em que sabe lidar com os inevitáveis problemas.

No momento atual, a comunidade iskconiana está sobressaltada com o desenrolar dos acontecimentos envolvendo nosso querido Param Gati, agora Prabhu. Tenho sido procurado por muitos discípulos seus e devotos em geral que estão confusos e mal informados, sem saber como se posicionar diante do caso em si e suas conseqüências. É um fato que o epicentro da crise já ficou para trás, mas agora temos um trabalho sério para reorganização e tudo voltar à normalidade. Nosso trabalho constante tem sido encorajar os devotos e estabelecer firmemente a posição única de Srila Prabhupada como a referência máxima em nosso movimento. Nesse texto procurarei examinar alguns aspectos desse momento difícil e complexo que nosso movimento atravessa. O que está aqui escrito é minha exclusiva opinião. Pode ser que haja outros pontos de vista. Não quero impor o meu nem levantar nenhuma polêmica. Minha intenção é esclarecer aos devotos em geral. Qualquer um pode tirar algum proveito, seja integral ou parcial, desse texto.

Minha idéia é que as crises e obstáculos que surgem em nossa caminhada espiritual são também oportunidades para esforçarmos a ter uma visão mais lúcida da realidade e assim tornarmos pessoas mais maduras e conscientes. O único perigo disso é dar um enfoque demasiadamente racional ao tema, com prejuízo de nossa consciência espiritual. Por isso, é importantíssimo que nessas horas (e sempre) nosso sádhana seja exemplar, principalmente a prática séria e concentrada da japa, a associação com devotos avançados e o contato diário com os livros de Prabhupada. Que Sri Sri Radha-Krishna, Sri Sri Goura-Nitai e Srila Prabhupada estejam sempre vivos na consciência de todos os devotos.

O estopim da última onda de protestos que eclodiu entre nós foi causado por um comunicado aos devotos redigido por um membro do comitê executivo do CGB, Giridhari Prabhu. Das duras críticas que recebeu, o que mais agitou os devotos não foi exatamente o teor da mensagem, que carrega em si alta carga de emotividade, mas a maneira dura e seca com que essa mensagem foi redigida. Muitas vezes o erro não está no que é dito, mas no “como é dito”.

Junto com um coro de descontentes, uma forte voz ecoou no éter virtual Vaishnava_ nosso igualmente querido Isvara Prabhu. Isvara, apesar de sua grande experiência, não escapou do clima emocional que nesse momento envolvia os protestos ao comunicado de Giridhari. Essa intervenção de Isvara avivou o combustível emotivo da turma. Foi insinuado em seu e-mail que Giridhari teria a intenção de “assassinar” a reputação de Param Gati, o que definitivamente não procede. A acusação de “insensibilidade”, esta sim procede. Isvara diz que ficou chocado quando leu o comunicado. Eu também, de certa forma, fiquei. Pensei logo “aqui com meus botões” (expressão das antigas...): “Isso vai dar pano pra manga” (também das antigas...). E dito e feito.

Outro exagero emocional na intervenção de Isvara foi sua afirmação de que “ao contrario de certos outros sannyasis que notoriamente fizeram ou fazem sexo com secretárias ou abusam de crianças e ainda insistem em serem tratados por santidade e sua divina graça, e o GBC, como instituição, ainda não conseguiu puni-los adequadamente.” Essa, digo eu, é uma acusação gratuita e espúria, que foge completamente à realidade. Deixada assim no ar, dá margem a se imaginar o ashrama de sannyasi da ISKCON como um antro de corrupção e hipocrisia. Tal afirmação pode abalar a fé de neófitos e desavisados, além de trazer regozijo às hostes ritviks e certo tipo de devotos que deixam transparecer que a prática sistemática de denegrir a ISKCON faz parte de seus cânones doutrinários.

Essa inconseqüente afirmação foi aproveitada por uma seguidora do “culto” de difamação à ISKCON que espalhou pela Internet um caso tratado com toda a seriedade, mas sem graves conseqüências, ocorrido há 20 anos, envolvendo um sannyasi indiano muito querido por todos e poderoso pregador, Lokanatha Swami. O intuito evidente dessa agente de maya, que conhecemos bem sua identidade e intenções, era de manchar a reputação desse devoto e instilar veneno no seio da comunidade de devotos.
Desde que o caso de Param Gati estourou como uma bomba no yatra brasileiro, temos visto nos foruns algumas referências a dois veteranos sannyasis, Satsvarupa Gosvami e Umapati Swami, ambos septuagenários, como prova de impunidade e encobrimento de delitos de natureza sexual. Satsvarupa Goswami, depois de tanta contribuição à missão de Prabhupada, teve um deslize ao se envolver emocionalmente com uma antiga devota, igualmente discípula de Prabhupada, a qual ele a aceitou como sua confidente. Daí resultou um contato labial. Essa foi uma grave quebra de decoro, inadmissível no ashrama de sannyasi. Satsvarupa Goswami se submeteu a severa expiação assumindo publicamente esse deslize, sofreu a sansão de não mais iniciar e vive atualmente completamente retirado da vida pública da ISKCON. O caso de Umapati Swami, que vive isolado na China, foi bem mais grave. Foi constatado que nesses últimos anos ele mantinha relações homossexuais. O corpo do GBC internacional foi rigoroso em relação a esse caso e impôs severas sanções, entre elas, permanecer em Mayapur. Esse sannyasi, no entanto, voltou para China e ninguém sabe seu domicílio.
No movimento de Prabhupada tem havido um número de caídas de sannyasis, pois na dura luta contra a poderosíssima maya alguns sucumbem. O que tenho visto nesses trinta e cinco anos de consciência de Krishna é que Krishna sempre faz arranjos para que o ashrama de sannyasis não fique contaminado pela corrupção e hipocrisia. Quando ocorre algum desvio, ele é logo detectado e assim a integridade do ashrama é preservada. Numa visita a Mayapur, o sannyasi sênior mais importante da sampradaya de Madvacharya declarou que tinha grande admiração aos sannyasis da ISKCON que estão pregando no Ocidente, diretamente no reino de maya, onde a luxúria é onipresente. Ele afirmou que se os sannyasis de sua missão se aventurassem a fazer o mesmo, ele achava que não conseguiriam resistir aos encantos de maya.
Voltando ao desastrado comunicado de Giridhari, sabemos que este dedicado devoto se retratou e se desculpou publicamente. Ficou claro que sua intenção tinha sido alertar os devotos em geral e discípulos e aspirantes em particular que não alimentassem certas expectativas que no futuro mostrassem ser frustradas. Sua intenção foi que todos caíssem na realidade dos fatos e evitassem muito desgaste emocional.
A intervenção de Isvara Prabhu atiçou uma forte onda de indignação direcionada ao Giridhari. Vemos aí como muitos devotos agem movidos grandemente pelo lado emocional e, muitas vezes, perdem o contato com a realidade. Esse é um fenômeno psicológico coletivo que surge espontaneamente. No entanto, minha opinião é que todos deveriam ter mais controle, como o Gopala, facilitador do site da ISKCON, tem lucidamente advertido. Temos que agir de forma mais madura. Não somos como a torcida de um clube de futebol revoltada com o técnico depois da quinta derrota consecutiva, ou militantes e ativistas políticos ou outros fanáticos que precisam, muitas vezes, de alguma vítima para poder catalisar suas frustrações e revolta. Como praticantes de um processo de auto-realização temos que controlar essas paixões irracionais.
Esse caso envolvendo nosso querido Param Gati é muito delicado, pois qualquer abordagem mais realista que se faça pode ferir as suscetibilidades dos mais afetados, seus discípulos. Eu próprio tive que despender um enorme tempo dando assistência a muitos discípulos que recorreram a mim nessas horas de incertezas e confusão mental. Digo a vocês que não foi uma tarefa fácil, pois em muitas situações eu próprio não sabia exatamente como proceder para relatar a realidade crua do ocorrido e, ao mesmo tempo, confortar e reanimar o devoto ou devota. Só tinha que orar a Krishna para me inspirar e dar inteligência para cumprir com o meu papel.
Ao mesmo tempo em que ocorria essa comoção interna dentro da ISKCON, no lado de fora, o movimento internacional dos ritviks publicava artigo com foto de Param Gati e todo um clima de provocação se formava. Foi um período de muita apreensão. O sannyasis e devotos seniores visitavam os templos e projetos para manter a harmonia do yatra.
Param Gati partiu para Índia e ficou associado com sanyasis e irmãos espirituais, o que foi muito positivo. Também gostaria de participar de um retiro desses... Mesmo na Índia, ele manteve constante contato com seus discípulos afirmando sempre que ele estava muito bem e tratava de minimizar o caso ocorrido em Nova Gokula e um segundo caso em Porto Alegre. Muitos discípulos não sabem ou não querem saber, mesmo agora, os antecedentes dos casos e os pormenores do caso em si que deflagrou toda essa crise. Com isso, um grupo grande de discípulos passou a considerar que estava em curso uma conspiração contra seu guru, o que é absolutamente falso. Essa suposta conspiração envolveria o CGB, os sannyasis brasileiros e o GBC internacional. É uma idéia completamente absurda que deve ser extirpada pela raíz.
Vou fazer aqui uma pequena análise do desdobramento psicológico a nível coletivo a partir desse ponto. (Posso, inclusive, ser mal compreendido por isso...). Devido à falta de informações detalhadas sobre o que estava ocorrendo nos momentos críticos da crise que foi criada, surgiu entre os devotos muita especulação, como essa teoria da conspiração. Tal deficiência nas comunicações pode ser, de certa forma, justificável, pois, nessa hora, a liderança enfrentava um sério dilema: de um lado, preservar a imagem de Param Gati não expondo-o ao sensacionalismo, que fatalmente seria explorado por elementos antagonicos, ao mesmo tempo que provocaria uma comoção muito grande entre os devotos, e, por outro lado, a preocupação de não sonegar as informações aos devotos e, principalmente, aos discípulos. Foram momentos muito difíceis tanto para a liderança quanto para os devotos em geral. A liderança do movimento foi muito criticada devido à inquietude generalizada entre os devotos.

Na seqüência da crise, no meio de muita especulação e emoções fortes, o fenômeno que se seguiu foi uma inversão de papéis: alguns devotos passaram a considerar Param Gati não como agente de todo esse episódio, mas como a vítima de uma conspiração da liderança do yatra. Acontece que a posição de vítima não se encaixa bem ao glamour e carisma da personalidade de Param Gati, pois sua personalidade é forte e influente. Passou-se, então, a considerá-lo como um herói, devido às austeridades que tem feito na Índia durante esse exílio, à sua renuncia voluntária ao ashrama de sannyasi e, logicamente, devido a sua importância e dedicação a missão de Prabhupada ao longo de todos esses anos, assim como todos os atributos e qualidades que ele sempre exibiu, que não são poucos. Não há dúvida que Param Gati é realmente um herói da missão de Prabhupada e poderá continuar sendo até seu último suspiro. O que eu quero ressaltar é que temos que ter todo o cuidado para não entrar numa ebulição emocional, pois isso pode facilmente descambar para o delírio e surrealismo, devido a um fervor devocional descontrolado e irracional. Foi nesse contexto emocional que o polêmico comunicado de Giridhari entrou em cena, e deu no que deu.
Com todo o respeito que tenho por Param Gati, amigo íntimo por mais trinta anos, sempre apoiando-nos mutuamente, admirador que sou de sua fidelidade e dedicação à missão de Prabhupada, quero me dirigir, nesse momento, principalmente aos seus discípulos e devotos que nutrem em seus corações genuíno amor por ele para afirmar que essa análise que aqui fiz não deve ser tomada como uma provocação ou tentativa de desestabilizar ou aproveitar-se do caso com algum intuito pessoal, ou coisa que o valha. Sei que a essa hora a emoção e o sentimentalismo estão a flor da pele. Minha idéia é que os sentimentos devem estar subordinados aos fatos e não vice-versa. Quais são os fatos? Os fatos são: os depoimentos de envolvidos nos casos revelando quebra de decoro do ashrama de sannyasi, as deliberações e sanções conduzidas pela instância máxima da ISKCON, o GBC internacional e Ministério de Sannyasis, (sem nenhuma anuência da liderança local) e o novo posicionamento de Param Gati Prabhu dentro do contexto do yatra. Esses são os fatos. Dá para alterar esses fatos? Não dá. Não há outro jeito. Então agora temos que lidar com esta realidade do momento atual e, a partir daí, com os pés no chão e a consciência em Krishna, construir um futuro muito promissor.
Esse é um momento muito sério para o movimento em nosso yatra. É uma hora que devemos ser sóbrios e introspectivos. Nessas horas de intensa emoção, uma palavrinha mal colocada ou um termo mal digerido pode deflagrar ofensas e acusações gratuitas. Não devemos alimentar rancores. Devemos manter o respeito mútuo. Caso não concordemos com alguma colocação, vamos argumentar com civilidade e ética Vaishnava. Vamos fazer essa “austeridade” por amor a Prabhupada. Agindo assim, vamos amadurecer e crescer. Vamos nos manter unidos sempre com Prabhupada no centro das nossas vidas, sem idéias separatistas.
Uma questão pode ficar no ar: Param Gati foi tratado com excessivo rigor pelo GBC internacional? Quem pode dizer mais sobre isso é o Giridhari, que esteve presente em Mayapur e acompanhou todo o processo. O que sabemos é que Param Gati até o último instante tentou manter seu sannyasi. Numa decisão entre sete membros do GBC, três eram favoráveis a que se submetesse às sanções, mas permanecesse como sannyasi. Três foram contra. Restava o voto do relator da comissão, Prahladananda Swami, ministro do ashrama de sannyasi. Seu voto seria contrário. Afim de que fosse evitada mais essa sanção, Param Gati renunciou seu status de sannyasi.
Foi Param Gati vítima de injustiça? Durante muitos anos, ele fez parte do seleto e exclusivo grupo de devotos que constitui o corpo do GBC internacional. Relacionava-se com intimidade com todos os que lidaram com o caso e deram o julgamento. Houve rigor, sim. Mas certamente não houve injustiça. Os devotos que compõem o corpo do GBC internacional são muito experientes e muitos deles têm mais de quarenta anos de liderança no movimento, tendo passado pelas várias fases de desenvolvimento do movimento e também por todas as crises durante esse percurso. As decisões foram tomadas e, como Giridhari enfatizou, não há chances de voltar atrás.
Existem outros aspectos desse caso que não foram abordados para não prolongar mais esse artigo. Quero aqui me desculpar se houve algum passo em falso nesse fio de navalha que é tratar desses assuntos tão delicados.
Seria ótimo se Param Gati Prabhu puder desenvolver um projeto específico na missão de Prabhupada, pois certamente ele tem muito que oferecer a seu mestre espiritual e muito o que contribuir para a sua missão. Isso poderá ser muito inspirador para seus discípulos e para todos os demais devotos. O importante agora é nos unirmos no propósito de satisfazer a Srila Prabhupada e juntos tratar de expandir o movimento de sankirtana de Sri Caitanya Mahaprabhu.


Vamos cair na realidade?
Purushatraya Swami

Filhos como Bênção - Children as a Blessing






Krishna.com
Filhos como Bênção

Children as a Blessing
Sua Graça Urmila devi dasi




Cuidar de crianças no serviço ao Senhor é uma grande bênção, uma dádiva dada pelo Senhor por misericórdia. Alguém dificilmente poderia alegar que merece semelhante dádiva, quer por qualificações educacionais, quer por dedicação espiritual ou mesmo simplesmente por estar disposto a fazer o que deve ser feito.




Uma bênção? Certamente crianças podem ser sorridentes e refulgentes, mas, em igual freqüência, elas brigam e se emburram. O crescimento delas em conhecimento e em habilidades, o que dá aos pais e professores uma explosão de satisfação, depende dos pais trabalharem por uma renda, arrumarem bagunças, lavarem a roupa suja, consolarem sentimentos fragilizados e lidarem com todas as outras complicações que as crianças trazem.




“Eu jamais quero ter filhos!”, uma mulher jovem me diz, e eu penso como a sociedade moderna, cada vez mais, vê crianças como um fardo. Contracepção, aborto, babá diurna, babá noturna e assim por diante parecem ser a chave para a liberdade pessoal. Decerto cuidar de crianças com amor, certificando-se de que elas sejam educadas apropriadamente tanto no âmbito espiritual quanto material, não é tarefa simples. Talvez pensemos em tudo o que poderíamos fazer com nossas vidas sem filhos, como ter mais liberdade para viajar ou servir o Senhor Krsna de maneiras mais empolgantes.




Poucos querem um emprego como professor atualmente. Ensinar e trabalhar com crianças não são mais posições estimadas. Professores são frequentemente mal pagos, além de receberem suporte abaixo do padrão. Tudo está tão ruim que mesmo pessoas de mentalidade espiritualizada, que tendem a possuir boas qualidades e as motivações exigidas para um professor, talvez jamais considerem trabalhar com crianças.




Assim como o professorado, ser pai e mãe também está fora de moda. As mulheres de hoje costumam preferir carreira e prestígio à maternidade. E os homens evitam o casamento e a criação dos filhos que têm, vendo a responsabilidade de criar filhos como um impedimento para a concretização de seus próprios desejos.




Quando a sociedade era mais simples e agrária, as crianças eram um trunfo econômico – mais mãos para ajudar nas tarefas da fazenda, mais companhia e proteção quando os pais envelhecerem. Nessa cultura pré-industrial, as crianças eram uma espécie de bênção prática, uma bênção que mesmo um materialista autocentrado poderia apreciar.




As histórias milenares dos Vedas e de outras escrituras frequentemente falam de pessoas que desejaram muito fortemente filhos, que consideravam ter muitos filhos como uma dádiva de Deus. Talvez nos inclinemos a creditar tal atitude simplesmente a uma cultura diferente. “Sim, crianças eram boas para eles, mas, hoje, crianças são basicamente um fardo”.




Sem dúvida, para um materialista preso na vida moderna, filhos não são, de modo algum, dádivas. Eles custam dinheiro, muito dinheiro. Eles talvez interfiram nas carreiras dos pais, façam pouco para ajudar a família e se envolvam com coisas que trarão a eles e às suas famílias ansiedade e pesar.




Todavia, crianças com vidas conectadas a Krsna são radiantes, munidas de uma fé simples, e, ao mesmo tempo, profunda, de que Deus é uma pessoa, um vaqueirinho de cor de nuvem que reciproca com Seus devotos em atividades amorosas. A conexão que tais crianças sentem com Krsna é real e natural. É a realidade para a qual a fé da infância é destinada. E, é claro, uma criança protegida dos elementos mais torpes do mundo possui uma pureza inata.




Crianças devotadas a Krsna é o tipo de associados descritos nas escrituras como o melhor para o nosso avanço espiritual pessoal. Ao trabalharmos com crianças a fim de assegurar o sucesso espiritual delas, podemos ter a maior das esperanças com o nosso próprio sucesso espiritual, porque as qualidades de nossos associados afetam imensamente nossas próprias qualidades.
E, no Bhagavad-gita, o próprio Senhor Krsna promete o serviço devocional puro, a meta espiritual suprema, àqueles que ensinam a ciência de Deus aos devotos de Deus. Essa dádiva, a concretização de toda religião genuína, traz verdadeira liberdade – liberdade do desejo egoísta e do sofrimento que ele acarreta.




Dar-se à paz espiritual, à felicidade e à satisfação que vêm do cuidar das crianças de Krsna significa liberdade das dificuldades da vida? Não, o caminho espiritual inclui empenho e luta também. Mas a qualidade desse empenho, dessa luta, é bastante diferente. Empenharmo-nos para dar às nossas crianças conhecimento espiritual e bem-aventurança é uma fonte de felicidade, pois esse empenho é uma base para mensurarmos nosso verdadeiro amor, não apenas pelas crianças, mas por Deus também. Quando mostramos nosso amor por Deus, Ele fica satisfeito, e nós, como partes dEle, também sentimos prazer. Assim, quando realmente dermos a consciência de Krsna para as nossas crianças, poderemos dizer: “Que grande bênção!”.




Tradução de Bhagavan dasa (DvS) – Outras traduções em http://www.devocionais.xpg.com.br/

O Bhagavata: Sua Filosofia, Seu Sistema Ético e Sua Teologia

Discurso composto em inglês e datado de 1869,
proferido em Dinajpur, Bengala Ocidental

O Bhagavata: Sua Filosofia,
Seu Sistema Ético e Sua Teologia

The Bhagavat, Its Philosophy, Its Ethics, and Its Theology

Sua Divina Graça Srila Bhaktivinoda Thakura

Parte 1 de 3

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“Ó vós que estais profundamente imersos no conhecimento do amor a Deus e também em profunda reflexão acerca deste, constantemente bebei, mesmo após vossa emancipação, o mais saboroso suco do Srimad-Bhagavatam, advindo à Terra por meio da boca de Sri Sukadeva Gosvami, a carregar o néctar líquido para ser passado adiante aos caídos, o próprio fruto maduro da árvore védica que supre a todos seus objetos desejados”. – Srimad-Bhagavatam 1.1.3

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Adoramos ler um livro que nunca lemos anteriormente. Ficamos ansiosos por reunir quaisquer informações contidas nele, e, com essa aquisição, nossa curiosidade cessa. Este modo de estudo prevalece entre um grande número de leitores, que são grandes homens em sua própria estimativa e na estimativa daqueles que compartilham de seu caráter. Na verdade, a maior parte dos leitores é um mero repositório de fatos e declarações falados por outros. Isso, entretanto, não é estudo. O estudante deve ler os fatos com vista a criar, e não objetivando infrutífera retenção. Estudantes que são como satélites devem refletir qualquer luz que recebam dos autores, e não aprisionar os fatos e pensamentos assim como magistrados aprisionam os convictos! Pensamento é algo progressivo. O pensamento do autor deve, obrigatoriamente, fazer progresso no leitor na forma de correção ou desenvolvimento. É o melhor crítico aquele que pode mostrar o desenvolvimento subseqüencial de um pensamento antigo; um mero denunciante, todavia, é o inimigo do progresso, e, consequentemente, da Natureza. Começa novamente, diz o crítico, pois a velha maçonaria não responde no presente. Deixemos que o velho autor seja enterrado, pois seu tempo está acabado. Estas são expressões fúteis. O progresso é certamente a lei da natureza, e é preciso que haja correção e desenvolvimentos com o progresso do tempo. Progresso, porém, significa ir além, ir mais alto. Agora, se formos seguir nosso crítico tolo, voltaremos ao nosso antigo ponto de partida e começaremos um novo curso, e, quando houvermos percorrido metade dele, outro crítico de caráter semelhante exclamará: “Começa novamente, porque tomou-se a estrada errada!”. Deste modo, nossos críticos estúpidos jamais permitirão que percorramos toda a estrada e vejamos o extremo oposto do ponto de partida. Destarte, o crítico superficial e o leitor infrutífero são os dois grandes inimigos do progresso. Evitá-los nós devemos.
O verdadeiro crítico, por outro lado, aconselha-nos a preservar o que já obtivemos e a ajustar o nosso curso a partir do ponto a que já chegamos no páreo de nosso progresso. Ele jamais nos aconselhará a voltarmos ao ponto do qual iniciamos, dado que ele sabe plenamente que, nesse caso, haverá infrutífera perda de nosso valioso tempo e de nosso igualmente valioso labor. Ele ajustará a direção do ângulo do curso a partir do ponto onde estamos. Esta também é a característica do estudante profícuo. Ele lerá um autor antigo e identificará sua exata posição no progresso do pensamento. Ele jamais irá propor que se queime o livro sob o argumento de que ele contém pensamentos inúteis. Nenhum pensamento é inútil. Pensamentos são meios pelos quais obtemos nossos objetos. O leitor que denuncia um pensamento ruim não sabe que uma estrada ruim é capaz mesmo de aprimoramento e conversão em uma estrada boa. Um pensamento é uma estrada conduzindo a outra. Assim, o leitor encontrará que um pensamento que é o objeto hoje será o meio de um outro objeto amanhã. Pensamentos necessariamente continuarão sendo uma infindável série de meios e objetos nos progressos da humanidade. Os grandes reformadores sempre alegarão que vieram, não para destruir a velha lei, mas para cumpri-la. Valmiki, Vyasa, Platão, Jesus, Maomé, Confúcio e Caitanya Mahaprabhu declaram o fato quer expressamente, quer mediante sua conduta.
O Bhagavata, como todas as obras religiosas e feitos filosóficos e escritos de grandes homens, sofre com a conduta imprudente de leitores imprestáveis e críticos estúpidos. Estes avariaram tanto a obra que superaram aqueles em sua nocividade. Homens de pensamento brilhante percorrem a obra em busca da verdade e de filosofia, mas o preconceito que absorvem de seus leitores imprestáveis e da conduta dos mesmos impede que façam uma investigação sincera. Para não falar de outros, o grande gênio de Raja Rammohun Roy, o fundador da seita do Brahmoísmo, não considerou digno de sua disponibilidade temporal estudar este ornamento da literatura religiosa. Ele transpôs o portão do Vedanta como estabelecido pelas construções mayavadas do maquinador Sankaracarya, o inimigo eleito dos jainistas, e calcou seu caminho para a forma unitarista da fé cristã, convertida a uma aparência indiana. Rammohun Roy era um homem capaz. Ele não foi capaz de satisfazer-se com a teoria da ilusão contida na filosofia mayavada de Sankara. Seu coração estava repleto de amor pela Natureza. Ele viu através dos olhos de sua mente que ele não poderia acreditar em sua identidade com Deus. Ele correu furiosamente dos perímetros de Sankara para aqueles do Corão. Tampouco lá ele ficou satisfeito. Ele então estudou os preceitos e a história preeminentemente belos de Jesus, primeiro na tradução inglesa, e, por fim, no original grego, e refugiou-se nos estandartes sagrados do Reformador Judeu. Rammohun Roy, no entanto, também era patriota. Ele queria reformar seu país da mesma maneira que se reformara. Ele sabia inteiramente que a verdade não pertence em exclusividade a nenhum indivíduo ou nação de uma raça particular. Ela pertence a Deus, e o homem – quer nos pólos, quer no equador – tem o direito de reclamá-la como a propriedade de seu Pai. Nesse termos, ele defendeu as verdades inculcadas pelo Salvador Ocidental como propriedade também dele e de seus compatriotas, estabelecendo assim o samaja dos Brahmos independentemente do que havia em seu próprio país no belo Bhagavata. Seus feitos nobres certamente conceder-lhe-ão uma posição elevada na história dos reformadores. Mas então, para dizer a verdade, ele teria feito mais caso houvesse começado seu trabalho de reforma do ponto onde o último reformador da Índia o havia deixado. Não é nosso intento aprofundar neste tópico. É suficiente dizer que o Bhagavata não atraiu o gênio de Rammohun Roy. Seu pensamento, malgrado quão vigoroso fosse, infelizmente ramificou-se como a linha Ranigunj da estrada de ferro da estéril estação de Sankara ao invés de tentar ser uma extensão do terminal de Delhi do grande comentador Bhagavata de Nadia. Não temos dúvidas de que o progresso do tempo corrigirá o erro, e, alongando-se mais, a linha ramificada perder-se-á em algum lugar na linha principal do progresso. Esperamos esses empreendimentos em uma reformador mais destro entre os seguidores de Rammohun Roy.
O Bhagavata sofre igualmente nas mãos de críticos relapsos tanto da Índia como estrangeiros. Esse livro é execrado e condenado por um grande número de nossos jovens compatriotas, os quais leram muito parcamente seu conteúdo e ponderaram de modo igualmente débil acerca da filosofia sobre a qual ele se fundamenta. Isso se deve principalmente ao fato de terem sido embebidos em um preconceito infundado contra o mesmo em seu período escolar. O Bhagavata, como uma questão de fato, é objeto de escárnio por parte daqueles professores que são, em geral, de mente e intelecto inferiores. Este preconceito não é facilmente abalado ou desfeito com o crescimento do estudante, a não ser que ele estude seriamente a obra e rumine as doutrinas do vaisnavismo. Nós testemunhamos pessoalmente este fato. Quando estávamos na faculdade, lendo as obras filosóficas do Ocidente e refletindo juntamente com os pensadores do dia, possuíamos verdadeira aversão pelo Bhagavata. Aquela grande obra parecia um repositório de idéias perniciosas e estúpidas, mal adaptadas ao século dezenove, e odiávamos ouvir quaisquer argumentos ao seu favor. Entre nós, por conseguinte, um volume de Channing, Parker, Emerson ou Newman tinha mais peso do que todo o conjunto da literatura vaisnava. Nós avidamente debruçávamos sobre os vários comentários referentes à Bíblia Sagrada e aos trabalhos do Tattwa Bodhini Sabha, contendo citações dos Upanisads e do Vedanta, mas nenhuma obra dos vaisnavas tinha algum favorecimento de nossa parte. Contudo, quando avançamos em idade e nosso sentimento religioso desenvolveu-se, tornamo-nos, de algum maneira, unitaristas em nossa convicção e oramos como Jesus orou no Jardim. Acidentalmente, encontramo-nos com uma obra sobre o Grande Caitanya, e, lendo-a com alguma atenção a fim de estabelecer a posição histórica daquele Imenso Gênio de Nadia, tivemos a oportunidade de reunir Suas explanações do Bhagavata dadas aos porfiosos vedantistas da Escola de Benares. O estudo acidental criou em nós um amor por todas as obras que encontramos referentes ao nosso Salvador Oriental. Adquirimos aos poucos e com dificuldade os famosos karcas em sânscrito, escritos pelos discípulos de Caitanya. As explicações atinentes ao Bhagavata que recebíamos dessas fontes eram de um caráter tão encantador que procuramos por uma cópia do Bhagavata completo e estudamos seus versos (difíceis, é claro, para aqueles sem treino nos pensamentos filosóficos) com a assistência dos famosos comentários de Sridhara Svami. A partir de tal estudo foi que, por fim, obtivemos as verdadeiras doutrinas dos vaisnavas. Oh! Quão difícil nos livrarmos dos preconceitos acumulados ao longo dos anos imaturos!
Até onde podemos compreender, nenhum inimigo do vaisnavismo encontrará alguma beleza no Bhagavata. O verdadeiro crítico é um juiz generoso, destituído de preconceitos e partidarismo. Aquele que é, em seu coração, seguidor de Maomé certamente entenderá que as doutrinas do Novo Testamento é uma falácia composta pelo anjo caído. Um cristão trinitário, por sua vez, acusará os preceitos de Maomé de serem os preceitos de um reformador ambicioso. A razão disso é simplesmente que o crítico deve ter a mesma disposição mental do autor cujo mérito lhe é necessário julgar. Pensamentos têm diferentes caminhos. Aquele que é treinado nos pensamentos da Sociedade Unitarista ou do Vedanta da Escola de Benares dificilmente verá piedade na fé dos vaisnavas. Um vaisnava ignorante, por outro lado, cujo compromisso é mendigar de porta em porta em nome de Nityananda, não verá piedade alguma no cristão. Isto porque o vaisnava não pensa do modo com que o cristão pensa de sua própria religião. Talvez aconteça de tanto o cristão como o vaisnava proferirem o mesmo sentimento, mas jamais findarão seu embate mútuo apenas por haverem chegado a uma conclusão comum por diferentes meios de pensamento. Deste modo se dá que uma grande soma de ingenerosidade adentra os argumentos dos piedosos cristãos quando transmitem sua opinião imperfeita no que diz respeito à religião dos vaisnavas.
Temáticas de filosofia e teologia são como os picos de montanhas muito amplas, altas e inacessíveis a figurarem no centro de nosso planeta convidando a nossa atenção e a nossa investigação. Pensadores e homens de profunda especulação fazem suas observações por meio dos instrumentos da razão e da consciência. Eles, entretanto, adotam diferentes pontos enquanto dão procedimento ao seu trabalho. Esses pontos são posições calcadas pelas circunstâncias de sua vida social e filosófica, diferentes devido a estarem em diferentes partes do mundo. Platão olhou para o pico da questão Espiritual a partir do Ocidente, e Vyasa fez sua observação a partir do Oriente; assim, Confúcio o fez a partir do Oriente mais distante, e Schlegel, Spinoza, Kant e Goethe a partir do Oriente mais distante. Essas observações foram feitas em diferentes épocas e por diferentes meios, mas a conclusão é sempre a mesma na mesma dimensão em que o objeto de observação foi apenas um e o mesmo. Todos eles buscaram pelo Grande Espírito, a incondicionada Alma do Universo. Eles não puderam experimentar nada senão uma clareza súbita do mesmo. Suas palavras e expressões são diferentes, mas sua significação é a mesma. Eles tentaram encontrar a religião absoluta, e seus esforços foram coroados com o sucesso, pois Deus dá tudo o que tem a Seus filhos caso eles assim queiram. É necessário um coração sincero, generoso, pio e santo para sentir as belezas de suas conclusões. Partidaristas – os grandes inimigos da verdade – irão sempre desnortear o empenho do indagador que tenta granjear a verdade das obras religiosas de sua nação e o fará acreditar que a verdade absoluta não está em lugar algum salvo seus velhos livros religiosos. Que exemplo melhor poderia ser aduzido além do fato de que o grande filósofo de Benares não encontrará verdade alguma na irmandade universal do homem e na paternidade comum de Deus? O filósofo, funcionando ao seu próprio modo de pensar, jamais pode ver a beleza da fé cristã. O modo com que Cristo pensou em seu próprio pai foi amor absoluto, e, enquanto o filósofo não adotar esse modo de pensar, ele permanecerá para sempre privado da fé absoluta pregada pelo Salvador Ocidental. De forma similar, o cristão precisa adotar o meio de pensar adotado pelo vedantista antes que possa amar as conclusões do filósofo. O crítico, portanto, deve possuir uma alma abrangente, boa, generosa, sincera, imparcial e empática.
“Que tipo de coisa é o Bhagavata?”, pergunta um cavalheiro europeu recém-chegado à Índia. Com um olhar sereno, seu companheiro lhe diz que o Bhagavata é um livro que seu portador oriá lê diariamente à noite a um considerável número de ouvintes. Ele contém o jargão de escritos ininteligíveis e grosseiros de homens que pintam seus narizes com alguma sorte de barro ou pasta de sândalo e que usam contas por todo o corpo a fim de garantir a salvação a si mesmos. Outro de seus companheiros, que viajou um pouco pelo interior, imediatamente o contradisse afirmando que o Bhagavata é uma obra sânscrita cujo domínio ou autoria é reivindicado por uma seita de homens, os goswamis, os quais dão mantras às pessoas comuns, como os papas da Itália, e que perdoam seus pecados mediante o pagamento de ouro o bastante para custear suas despesas sociais. Um terceiro cavalheiro repetirá uma terceira explicação. Em seguida, um jovem bengali, acorrentado aos pensamentos e às idéias dos ingleses, bem como completamente ignorante da história pré-maometana de seu próprio país, adicionará outra explicação dizendo que o Bhagavata é um livro contendo um relato da vida de Krsna, que foi um homem ambicioso e imoral! Isso foi tudo o que pôde receber de sua avó antes de ser mandado para a escola. Deste modo, o Grande Bhagavata permanece desconhecido aos estrangeiros, como o elefante dos seis cegos que se agarraram a diferentes partes do corpo do paquiderme. A verdade, entretanto, é eterna; pelos ignorantes, é ferida apenas brevemente.
O próprio Bhagavata nos diz o que ele é:

nigama-kalpataror galitam phalam
suka-mukhad amrta-drava-samyutam/
pibata bhagavatam rasam alayam
muhur aho rasika bhuvi bhavukah//

“Trata-se do fruto da árvore do pensamento (Vedas) misturado ao néctar do discurso de Sukadeva. Trata-se do templo do amor espiritual! Ó homens piedosos, bebei profunda e repetidamente o néctar do Bhagavata até que vós sejais levados deste domínio mortal”.
O Garuda-purana também declara:

grantho ‘sta-dasa-saharsa-srimad-bhagavatabhidha
sarva-vedetihasanam saram samuddhrtam/
sarva-vedanta-saram hi sri-bhagavatam isyate
tad rasamrta-triptasya nanyatra syad rati-kvacit//

“O Bhagavata é composto de 18.000 slokas. Ele contém as melhores partes dos Vedas e do Vedanta. Quem quer que saboreie seu doce néctar jamais gostará de ler qualquer outra obra religiosa”.
Todo leitor atento certamente repetirá este enaltecimento. O Bhagavata é o Livro preeminente na Índia. Uma vez que hajas entrado nele, és transplantado, como costumava ser, para o mundo espiritual, onde a matéria grosseira inexiste. O verdadeiro seguidor do Bhagavata é um homem espiritual que já cortou sua conexão temporária com a natureza fenomênica e tornou-se habitante daquela região onde Deus existe e ama eternamente. Esta poderosa obra tem por alicerce a inspiração, e sua superestrutura baseia-se no ato de refletir. Para o leitor comum, ela não possui encanto algum, e é deveras dificultosa. Somos, em razão disso, obrigados a estudá-la profundamente com o auxílio dos grandessíssimos comentadores, como Sridhara Svami e o divino Caitanya e Seus seguidores contemporâneos.


Continua


Tradução de Bhagavan dasa (DvS) – Outras traduções em www.devocionais.xpg.com.br

Oração para o Aparecimento do Senhor Caitanya

Pela ocasião da chegada das Deidades a Campina Grande
Oração para o Aparecimento do Senhor Caitanya
do Sri Caitanya Bhagavata, Adi-khanda, capítulo 2
151. Os semideuses oraram: “Repetidas glórias ao Senhor Mahaprabhu, o mantenedor de todos! Repetidas glórias ao Senhor que descende a este mundo material para inaugurar o Movimento de Sankirtana!”.
152. “Repetidas glórias ao Senhor Caitanya, o protetor dos Vedas, da religião, dos devotos santos e dos brahmanas piedosos! Repetidas glórias ao Senhor que é o destruidor dos não-devotos e a morte personificada para os ateístas”.
153. “Repetidas glórias ao Senhor Caitanya, cuja forma transcendental é absoluta, eterna e plena de bem-aventurança. Repetidas glórias ao Senhor dos senhores, cujos desejos não conhecem obstrução”.
154. “O Senhor permanece imanifesto em milhões e milhões de universos, mas Se manifesta pessoalmente no ventre de Sacidevi”.
155. “Quem é capaz de compreender Seus desejos? A criação, a manutenção e a aniquilação dos universos não passam de um aspecto de Seus maravilhosos passatempos”.
156. “Se Você assim desejasse, todos os universos seriam imediatamente destruídos. Assim, não seria Você capaz de matar Ravana e Kamsa simplesmente pronunciando uma única palavra?”.
157. “Apesar de tal habilidade, Você apareceu nas casas do rei Dasaratha e de Sri Vasudeva para matar esses dois demônios”.
158. “Ó Senhor, quem seria capaz de desvendar o mistério por detrás de Suas atividades? Apenas Você conhece Seu coração”.
159. “Se este fosse Seu desejo, um único de Seus servos poderia liberar as almas de todos os inumeráveis universos”.
160. “Mesmo assim, Você vem pessoalmente a este mundo, ensina os princípios religiosos e torna a todos venturosos”.
161. “Em Satya-yuga, Você apareceu em uma compleição clara e ensinou o caminho da austeridade e da meditação executando Você mesmo austeridades”.
162. “Portando uma danda e um kamandalu, com Seus cabelos descuidados e trajando pele de antílope, Você desceu a este mundo como um brahmacari com o intuito de estabelecer os princípios da religião”.
163. “Em Treta-yuga, manifestando Sua bela forma como o avermelhado Yajna-purusa, Você ensinou a prática religiosa dos sacrifícios”.
164. “Com a sruk e a srava em mãos, Você pessoalmente conduziu os rituais sacrificatórios”.
165. “Em Dvapara-yuga, Você apareceu com a bela compleição enegrecida de uma nuvem de monção e estabeleceu a adoração à Deidade em toda residência”.
166. “Descendendo a este mundo, Você Se tornou um grande rei. Trajando vestes amarelas e carregando em Seu corpo transcendental a marca da Srivatsa e outros sinais exclusivos, Você executou opulenta adoração à Deidade”.
167. “Em Kali-yuga, Você apareceu como um brahmana erudito em uma compleição de cor amarela e propagou a prática religiosa mais confidencial do canto congregacional do santo nome do Senhor”.
168. “Você aceita ilimitados nascimentos em ilimitadas formas supranaturais. Quem poderia contar cada um de Seus nascimentos e formas?”.
169. “Manifestando a forma do peixe, Matsya, Você desfruta de passatempos nas águas da devastação. Manifestando a forma da tartaruga, Kurma, Você Se torna o local de repouso de todas as entidades vivas”.
170. “Como Hayagriva, Você resgatou os Vedas e matou os demônios Madhu e Kaitabha”.
171. “Como Sri Varaha, Você resgatou a Terra; e como o Senhor Nrsimhadeva, esfacelou o demônio Hiranyakasipu”.
172. “Como a encarnação anã Vamana, Você excedeu o rei Bali em astúcia; e como Parasurama, Você tornou a Terra um lugar inabitado por ksatriyas”.
173. “Como o Senhor Ramacandra, Você matou Ravana; e como o Senhor Balarama, Você desfrutou de incontáveis brincadeiras”.
174. “Como o Senhor Buddha, Você pregou a religião da compaixão e da não-violência; e como o Senhor Kalki, Você destruiu os degradados mlecchas, a classe de homens que não segue as injunções Védicas”.
175. “Como o Senhor Dhanvantari, Você distribuiu o néctar da imortalidade; e como o Senhor Hamsa, Você explicou a Verdade Absoluta para o senhor Brahma e outros”.
176. “Como Narada Muni, Você porta a vina e canta muito docemente; e como Srila Vyasadeva, Você explica a verdade acerca de Si mesmo”.
177. “Manifestando Seus melhores passatempos e Sua beleza e inteligência ímpares, Você apareceu em Sua forma original, a forma de Krsna, e desfrutou de passatempos em Gokula”.
178. “Agora, neste presente nascimento, Você Se apresentará na forma de um devoto puro e incondicional do Senhor. Com todo o Seu poder, Você pregará o movimento de Sankirtana, o movimento do cantar do santo nome do Senhor Krsna”.
179. “O néctar do canto congregacional do santo nome irá imergir todo o universo em bem-aventurança. Em toda e cada casa, prema-bhakti se tornará manifesta”.
180. “Como poderíamos descrever o êxtase que tomará os três mundos quando o Senhor começar a dançar com Seus servos e devotos?”.
181. “Por sempre meditarem em Seus pés de lótus, Seus devotos removem todas as doenças e inauspiciosidades deste mundo”.
182. “As solas de Seus pés dispersam toda a desventura, enquanto que Seus olhares purificam todas as dez direções”.
183. “Ó Senhor Caitanya, são tão gloriosos Seus servos que, quando dançam belamente com seus braços erguidos, removem toda a perturbação nos planetas celestiais”.
184. “Ó rei, quando os devotos do Senhor Krsna dançam [acompanhando o cantar do nome do Senhor], o toque de seus pés sobre a superfície da terra purifica todo o planeta, seus olhares purificam todas as direções, e seus braços erguidos em direção ao céu purificam os sistemas planetários superiores”.
185. “Ó Senhor Caitanya, trazendo conSigo Seus devotos, Você vem a este mundo para pregar através de Seu exemplo o canto congregacional e distribuir prema, amor puro por Deus”.
186. “Ó Senhor, quem teria tamanha habilidade com as palavras para descrever Sua magnificência em presentear a todos com o conhecimento mais confidencial e secreto dos Vedas?”.
187. “Escondendo o serviço devocional, Você costumava conceder a liberação aos praticantes espirituais. Desejamos ardentemente que o Senhor nos presenteie agora com o sublime amor ao Senhor”.
188. “Você, o mestre de toda a criação, distribui o maior dos tesouros a todos sem exigir nada em troca. Você Se comporta dessa maneira magnânima porque é todo-misericordioso”.
189. “O cantar de Seu santo nome traz os resultados da execução de todos os yajnas; e, para distribuir tal cantar, Você está vindo agora a este mundo...”.
194. Desse modo, Brahma e outros semideuses, mantendo-se invisíveis, ofereciam diariamente orações seletas ao Senhor Supremo [ainda no ventre].

Oração para o Senhor Nityananda
do Sri Caitanya Bhagavata, Antya-khanda, capítulo 5

478. “Visto Você ser a personificação da eterna (nitya) bem-aventurança (ananda), Você possui o nome ‘Nityananda’. Você personifica as glórias e virtudes do Senhor Caitanya”.
479. “Você é o protetor de todas as entidades vivas, a causa da liberação, o pregador da religião verdadeira”.
480. “Você prega o serviço devocional ao Senhor Caitanya; Você possui todos os poderes, tendo-os obtido da árvore-dos-desejos que é o Senhor Caitanya”.
481. “Você é o instrutor supremo de Brahma, Siva, Narada e de todos os demais que atendem por ‘devoto’.”.
482. “Muito embora seja unicamente por meio de Sua graça que todos podem obter devoção ao Senhor Visnu, Você jamais é tocado por orgulho algum”.
483. “Sem ver falhas em ninguém, Você é o purificador dos caídos. Somente os grandes santos podem compreendê-lO”.
484. “Sua forma é a morada de todos os yajnas. Lembrando-se de Você, todas as amarras da ignorância são desfeitas”.
485. “Sem Você Se revelar voluntariamente, quem poderia conhecê-lO?”.
486. “Você é o Senhor Supremo, bem-aventurado e livre de ira. Você é o Senhor Ananta Sesa de mil capelos, o primeiro dos semideuses e o suporte dos mundos”.
487. “Você é Sri Laksmana, o matador dos raksasas; Você é Balarama, o filho de uma gopi”.
488. “A fim de liberar os tolos caídos, baixos e degradados Você adveio a esta Terra”.
489. “A partir de Você, todos obterão a devoção pura buscada pelos sábios e yogis místicos”.
490. Tomado de beatitude e esquecido de Seu próprio eu, Advaitacarya glorificou com estas palavras o Senhor Nityananda.


Tradução de Bhagavan dasa, revisão de Naveen Krsna dasa e Prema-vardhana devi dasi