Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

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Jagad Guru Srila Prabhupada

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Brahma-Samhita - Verso 1
















TEXTO 1
isvarah paramah krsnahsac-cid-ananda-vigrahahanadir adir govindahsarva-karana-karanam
isvarah—o controlador; paramah—supremo; krsnah—o Senhor Krsna; sat—consistente em existência eterna; cit—conhecimento absoluto; ananda—e bem-aventurança absoluta; vigrahah—cuja forma; anadih—sem começo; adih—a origem; govindah—o Senhor Govinda; sarva-karana-karanam—a causa de todas as causas.
TRADUÇÃO
Krsna, que é conhecido como Govinda, é o Senhor Supremo. Ele possui um corpo espiritual bem-aventurado e eterno. Ele é a origem de tudo. Ele não possui nenhuma outra origem e é a causa primeira de todas as causas.
SIGNIFICADO DE SRILA JIVA GOSVAMI
Krsna
O Srimad-Bhagavatam (1.3.28) explica:
ete camsa-kalah pumsah krsnas tu bhagavan svayam
“Todas as encarnações mencionadas anteriormente são ou porções plenárias ou porções de porções plenárias do Senhor, mas o Senhor Sri Krsna é a Personalidade de Deus original”.
O Brahma-samhita começa com uma similar declaração da supremacia do Senhor Krsna. Neste verso, a Suprema Personalidade de Deus é especificamente identificada como o Senhor Krsna. Assim como o nome do Senhor Krsna é falado primeiro na passagem que começa com “Krsnavatarotsava” e em outras declarações de Srila Sukadeva Gosvami e de outros grandes sábios, assim como o nome de Krsna é apresentado primeiro na afirmação “krsnaya vasudevaya devaki-nandanaya” do Sama Upanisad, assim como o nome de Krsna é falado primeiro na revelação de Garga Muni dos santos nomes do Senhor, e assim como também se dá o exemplo “payasa kumbham purayati”; este verso do Brahma-samhita apresenta o nome “Krsna” primeiro porque a forma do Senhor Krsna é a origem de todas as outras formas de Deus.
Que Krsna é o nome mais importante da Suprema Personalidade de Deus é explicado no Padma Purana, Prabhasa-khanda, onde, em uma conversa entre Narada e Kusadhvaja, as seguintes palavras da Suprema Personalidade de Deus são reproduzidas:
namnam mukhyatamam nama krsnakhyam me parantapa
“Ó Arjuna, de todos os Meus santos nomes, Krsna é o mais importante”.
A importância do nome “Krsna” também é confirmada no Brahmanda Purana, Sri Krsnastottara-sata-nama-stotra, onde o Senhor Krsna diz:
sahasra-namnam punyanam trir-avrttya tu yat phalam
ekavrttya tu krsnasya namaikam tat prayacchati
“Os resultados piedosos auferidos por meio do cantar dos mil nomes do Senhor Visnu três vezes podem ser obtidos através de uma única repetição do santo nome de Krsna”.
No primeiro verso do Brahma-samhita, o nome “Govinda” também é apresentado. Este nome é dado ao Senhor Krsna porque Ele é o mestre das vacas surabhis espirituais. Uma vez que o Senhor Krsna é todo-poderoso, o primeiro verso do Brahma-samhita O descreve como “isvara”.. O Senhor Krsna também é descrito nestas palavras do Srimad-Bhagavatam (10.8.13 e 15).
asan varnas trayo hy asya grhnato 'nuyugam tanuh
suklo raktas tatha pita idanim krsnatam gatah
“Seu filho Krsna aparece como uma encarnação em todo milênio. No passado, Ele assumiu três diferentes cores: branca, vermelha e amarela, e agora Ele aparece em uma cor enegrecida”.
bahuni santi namani rupani ca sutasya te
guna-karmanurupani tany aham veda no janah
“A partir deste seu filho, há muitas formas e nomes de acordo com Suas qualidades e atividades transcendentais. Isto é conhecido por mim, mas as pessoas em geral não as compreendem”.
Nestes versos, a palavra “asya” (dEle) se refere ao Senhor Krsna, “anuyugam” significa “em todo milênio”, “tanuh” significa “as formas de várias encarnações”, “grhnatah” significa “manifesta”, “varnas trayah” significa “as cores começando com ‘branco’”, e “asan” significa “manifestas”. Nestes versos, Garga Muni diz: “Em Satya-yuga e em outras yugas, o Senhor apareceu em uma forma branca e em formas de outras cores, mas, agora (idanim), Ele aparece em Sua forma original, a forma do Senhor Krsna (krsnatam gatah)”. Porque o Senhor Krsna é a forma original, a melhor forma da Personalidade de Deus, o nome Krsna é o mais importante de Seus nomes, e as outras formas do Supremo (bahuni rupani) são manifestas a partir da forma original, Krsna. O fato de que as qualidades transcendentais do nome “Krsna” fazem dele o mais importante dos nomes de Deus é confirmado na seguinte declaração da literatura Vaisnava:
krsir bhu-vacakah sabdo nas ca nirvrtivacakah
tayor aikyam param brahma krsna ity abhidhiyate
“‘krs’ é o aspecto atrativo da existência do Senhor, e ‘na’ significa ‘prazer espiritual’. Quando o verbo ‘krs’ é adicionado ao afixo ‘na’, o resultado é ‘Krsna’, que indica a Verdade Absoluta”.
Desta forma, o nome “Krsna” é descrito. O verso da literatura Vaisnava não aceita nenhum outro nome como o nome mais importante de Deus. No Astadasaksara-mantra-vyakhya tanto do Upasana Tantra quanto do Gautamiya Tantra, o seguinte verso similar pode ser encontrado:
krsi-sabdas ca sattartho nas cananda-svarupakah
sukha-rupo bhaved atma bhavananda-mayatvatah
“‘krs’ significa ‘existência transcendental eterna’, e ‘na’ significa ‘prazer espiritual’. Quando o verbo ‘krs’ é adicionado ao afixo ‘na’, o resultado é ‘Krsna’, que indica a Verdade Absoluta eternamente bem-aventurada”.
A palavra “bhu” vem do verbo “bhu”, que pode significar “ser” ou “atrair”. Na citação da literatura Vaisnava, a palavra é interpretada com o significado de “atração”, e, na citação do Gautamiya Tantra, “bhu” é interpretada com o significado de “existência”.
A palavra “bhu” pode, portanto, ser interpretada com o significado de “existência”, mas, neste caso, não pode ser interpretada com o significado de “movimento” ou “generalidade”. O significado primário é “atração”. O significado secundário é “existência”.. Os significados “movimento” e “generalidade” não podem ser aceitos aqui.
A palavra “nirvrtti” significa “bem-aventurança”. A frase “tayor aikyam” significa “quando as duas sílabas são unidas em uma palavra”. “Param brahma” significa “a substância que é a maior de todas”. Na frase “krsna ity abhidhiyate”, uma leitura alternativa substitui a palavra “abhidhiyate” por “iryate” (chama-se).
Deixando de lado essas considerações, o significado primário das duas sílabas “Krsna” é que “krs” significa “atração” e “na” significa “bem-aventurança transcendental”. A palavra “krs” significar “atrair” deve ser entendido como significando “aquilo que atrai”, assim como no provérbio “ayur ghrtam” [ghi é vida longa], no qual ghi é igualado à vida longa porque comer alimentos preparados no ghi faz a pessoas viver muito.
Várias explicações para a palavra “param-brahma” são apresentadas nas escrituras. O Visnu Purana (1.12.57), por exemplo, declara:
brahma-sabdasya tat-tad-arthatvam ca brhattvad brmhanatvac ca tad brahma paramam vidur
“Os eruditos sabem que a palavra ‘param-brahma’ significa ‘Aquele que é o maior’ e ‘Aquele que nutre e protege todas as entidades vivas’.”.
O Gautamiya Tantra também apresenta a seguinte explicação para a palavra “param-brahma”:
krsi-sabdas ca sattartho nas cananda-svarupakah
satta-svanandayor yogat cit param brahma cocyate
“‘krs’ significa ‘existência transcendental eterna’, e ‘na’ significa ‘prazer espiritual’. Estas duas sílabas, significando existência eterna e prazer espiritual, unem-se para se tornar a palavra ‘Krsna’, o nome do param-brahma”.
Os advaitavadis (monistas) pensam que a frase “satta-svanandayor yogat” deste verso significa “distinções como existência eterna e a bem-aventurança transcendental perdem sua distinguibilidade e tornam-se um no absoluto impessoal”. Porque as palavras “sat” e “ananda” possuem significados diferentes, e porque, mesmo se essas palavras fossem ser aceitas como sinônimas, sua repetição em uma sentença seria sem sentido – como se repetíssemos a palavra “vrksa” e “taru”, ambas significando “árvore”, em uma mesma sentença –, a conclusão dos impersonalistas tem, obrigatoriamente, que ser falsa.
A palavra “sat” (eterno) é usada aqui para indicar “o Eterno Supremo, aquele que é a fonte de todos os outros eternos”. Isto é descrito nestas palavras do Sruti-sastra:
sad eva saumyedam agra asid
“Ó nobre estudante; no começo, apenas o eterno (sat) existia”. (Cha. 6.2..1)
O verso do Gautamiya Tantra pode ser explicado da seguinte maneira. A primeira metade do verso descreve o Senhor Krsna, que é todo-atrativo e pleno de bem-aventurança transcendental. A segunda metade afirma que, porque o Senhor Krsna é bem-aventurado e todo-atrativo, Ele deleita todas as entidades vivas. Por esta razão, as escrituras declaram:
tatra hetu-bhavah prema tanmayanandatvad
“Porque eles encontram bem-aventurança transcendental nEle, os devotos se apaixonaram por Sri Krsna”.
Deste modo, a palavra “Krsna” deve ser compreendida como significando “Aquele que é pleno de bem-aventurança transcendental e cujas belíssima forma e qualidades transcendentais atraem todas as entidades vivas”. Dentro dessa forma de raciocínio, o uso popular interpreta a palavra “devakinandana” como significando “Aquele que dá prazer a Devaki”. O ato de Sri Krsna deleitar a todos pode ser visto na seguinte afirmação do Vasudeva Upanisad:
devaki-nandano nikhilam anandayat
“O Senhor Krsna, o filho de Devaki, deleita a todos”.
Afirma-se que “O Senhor Krsna é independentemente perfeito, eternamente imutável e a origem de toda bem-aventurança transcendental”.
Por estes motivos, a explicação popular da palavra “Devakinandana”, “Aquele que dá prazer a Devaki”, deve ser aceita, e não rejeitada em favor da visão dos filólogos pedantes. Isto é confirmado pela seguinte declaração de grandes estudiosos:
“Quando o uso popular interpreta uma palavra de modo muito apropriado para o objeto que ela descreve, tal interpretação deve ser aceita. Quando a etimologia científica interpreta uma palavra de modo inapropriado para o objeto descrito, tal significado não deve ser aceito”.
Que Sri Krsna é o Brahman Supremo é afirmado nas palavras do Srimad-Bhagavatam (7.15.58):
gudham param brahma manusya-lingam
“A forma do Brahman Supremo é a forma de Sri Krsna, a qual se assemelha à forma humana”.
No Srimad-Bhagavatam (10.14.32), também se declara:
yan-mitram paramanandam purnam brahma sanatanam
“Quão imensamente afortunados são Nanda Maharaja, os vaqueiros e todos os habitantes de Vrajabhumi! Não há limite para sua boa fortuna, pois a Verdade Absoluta, a fonte da bem-aventurança transcendental, o eterno Brahman Supremo, tornou-Se amigo deles”.
No Visnu Purana, afirma-se:
yatravatirnam krsnakhyam param brahma narakrti
“O Brahman Supremo, o qual possui uma forma similar à humana e que atente pelo nome ‘Krsna’, descendeu a este mundo”. (4.11.2)
No Bhagavad-gita (14.27), o Senhor Krsna declara:
brahmano hi pratisthaham
“Eu sou a base do Brahman impessoal”.
No Gopala-tapani Upanisad, é dito:
yo ’sau param brahma gopalah
“O vaqueirinho Krsna é o Brahman Supremo”.
Isvara
Voltemos, agora, ao primeiro verso do Brahma-samhita. Agora que explicamos a palavra “Krsna”, prosseguiremos para a palavra “isvara”. “Isvara” significa “o controlador supremo de todos”. Isto é visto na seguinte descrição da palavra “Krsna” no Gautamiya Tantra:
athava karsayet sarvam jagat sthavara-jangamam
kala-rupena bhagavan tenayam krsna ucyate
“A Suprema Personalidade de Deus, o controlador supremo, controla (krs) todos os seres móveis e imóveis. Seu nome, portanto, é ‘Krsna’”.
Neste verso, a palavra “kala” significa “controlador”. Ela deriva do verbo “kal”, que significa “controlar”. O fato de Sri Krsna ser o controlador supremo também é confirmado nas seguintes palavras do Srimad-Bhagavatam (3.2.21):
svayam tv asamyatisayas tryadhisah svarajya-laksmy-apta-samasta-kamah
balim haradbhis cira-loka-palaih kirita-koty-edita-pada-pithah
“O Senhor Sri Krsna é o Senhor de todas as espécies de trios [três mundos, três modos da natureza material, três purusas, etc.] e é independentemente supremo por meio da aquisição de toda sorte de fortuna. Ele é adorado pelos eternos mantenedores da criação, que Lhe oferecem a parafernália de adoração tocando seus milhões de elmos a Seus pés”.
No Bhagavad-gita (10.42), o Senhor Krsna declara:
vistabhyaham idam krtsnam ekamsena sthito jagat
“Com um mero fragmento de Mim mesmo, Eu penetro e sustento todo este universo”.
No Gopala-tapani Upanisad (1.19), declara-se:
vasi sarvagah krsna idyah
“Sri Krsna é o adorável e todo-penetrante Senhor Supremo”.
Parama
Agora que a palavra “isvara” já foi explicada, descreveremos a palavra “parama”. “Para” significa “supremo” e “ma” significa “mãe”. “Para-mas”, portanto, são as deusas da fortuna, que são as potências internas do Senhor Krsna. Elas são descritas nestas palavras do Srimad-Bhagavatam (10.59.43):
reme ramabhir nija-kama-sampluto
“Embora plenamente satisfeito dentro de Si mesmo, Ele desfrutou com Suas aprazíveis esposas”.
No Srimad-Bhagavatam (10.47.60), também se afirma:
nayam sriyo ’nga u nitanta-rateh prasadah
svar-yositam nalina-gandha-rucam kuto ’nyah
rasotsave ’sya bhuja-danda-grhita-kantha-
labdhasisam ya udagad vraja-vallabhinam
“Quando o Senhor Sri Krsna estava dançando com as gopis na rasa-lila, as gopis foram abraçadas pelos braços do Senhor. Esse favor transcendental não foi concedido sequer à deusa da fortuna ou às outras consortes no mundo espiritual. Tal evento jamais foi nem mesmo imaginado pelas belíssimas moças dos planetas celestiais, cujo lustre e aroma corpóreos lembram a flor de lótus; para não dizer das mulheres mundanas, mesmo que sejam muito bonitas de acordo com a estimativa material”.
No Srimad-Bhagavatam (10.33.6), também se afirma:
tatratisusubhe tabhir
bhagavan devaki-sutah
madhye maninam haimanam
maha-marakato yatha
“Embora o filho de Devaki, a Suprema Personalidade de Deus, também seja o reservatório de toda beleza; quando está entre as gopis, Ele torna-Se ainda mais belo, assemelhando-Se a uma jóia marakata rodeada por ouro e outras jóias”.
No Brahma-samhita (5.56), declara-se:
sriyah kantah kantah parama-purusah
“Em Svetadvipa, as Laksmis, em sua essência espiritual imaculada, praticam o serviço amoroso ao Supremo Senhor Krsna tendo-O como seu único objeto de amor”.
No Gopala-tapani Upanisad, afirma-se:
krsno vai paramam daivatam
“O Senhor Krsna é adorado pela deusa da fortuna”.
Adi
Sri Krsna é descrito como “adi” (a origem de tudo). Isto é explicado nas seguintes palavras do Srimad-Bhagavatam (10.72.15):
srutvajitam jarasandham nrpater dhyayato harih
ahopayam tam evadya uddhavo yam uvaca ha
“Ouvindo que Jarasandha não havia sido derrotado, Maharaja Yudhisthira começou a pensar em um plano para derrotá-lo. Neste momento, o Senhor Hari, a origem de tudo, falou o plano que já havia sido formulado por Uddhava”.
adyo harih sri-krsna
“A palavra ‘hari’ se refere a Sri Krsna, a origem de tudo”.
O fato de Sri Krsna ser o Supremo e a origem de tudo é declarado nestas palavras dos sastras:
adyam krsna-samjnam nato ‘smi
“Ofereço minhas respeitosas reverências a Sri Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, a origem de tudo”.
Anadi
Então, novamente, Sri Krsna não é “adi”, mas “anadi” (Aquele sem origem). Isto é descrito no Gopala-tapani Upanisad, que declara:
sarvagah krsna idyah ity uktvaha nityo nityanam
“Sri Krsna é o principal eterno entre muitos eternos”.
Sarva-karana-karanam
Em seguida, “sarva-karana-karanam” significa “a causa primeira de todas as causas”, o que indica que Ele é o criador do universo e a origem do purusa-avatara. Isto é descrito no Srimad-Bhagavatam 10.85.31, onde Devaki diz ao Senhor Krsna.
yasyamsamsamsa-bhagena visvotpatti-layodayah
bhavanti kila visvatmams tam tvadyaham gatim gata
“Ó Senhor do universo, Ó Pessoa Original e Suprema, Você, por uma porção de uma porção de uma porção de Si, cria, mantém e destrói os universos materiais. Neste momento, refugio-me em Você”.
Sridhara Svami comenta este verso com as seguintes palavras: “A primeira porção mencionada aqui é o purusa-avatara. Uma porção dEle é a potência ilusória maya. Uma porção de maya são os modos da natureza. Através de uma porção dos modos da natureza, os universos são criados, mantidos e destruídos. “Tva” significa “de Você”, e “gatim gata” significa “eu aceito o refúgio”.
Que Sri Krsna é a origem do purusa-avatara também é descrito na seguinte oração do Senhor Brahma (Srimad-Bhagavatam 10.14.14):
narayano ‘ngam nara-bhu-jalayanat
“Ó Senhor Krsna, Narayana se refere a alguém cuja morada é na água nascida de Nara (Garbhodakasayi Visnu), e tal Narayana é Sua porção plenária”.
A palavra Narayana também é explicada nestas palavras:
“Manifestos do Senhor Garbhodakasayi Visnu (Nara), os elementos materiais inertes se chamam ‘nara’. Como a Suprema Personalidade de Deus é o lugar de repouso último (ayana) para tais elementos materiais (nara), Ele é conhecido como Narayana”.
Estas palavras, portanto, significam “Ó Senhor, Narayana é uma porção de Seu corpo”. O fato de que Sri Krsna é a origem do purusa-avatara, uma porção de quem cria, mantém e destrói os universos, também é confirmado no Bhagavad-gita 10.42, onde o Senhor Krsna declara:
vistabhyaham idam krtsnam ekamsena sthito jagat
“Com um simples fragmento de Mim mesmo, Eu penetro e mantenho todo este universo”.
Por meio de tudo isto, a explanação apropriada da palavra Krsna é apresentada. Através das duas sílabas “krs” e “na”, a bem-aventurada Suprema Personalidade de Deus é descrita. Através da palavra “isvara” e outras palavras, as potências transcendentais do Senhor Krsna são descritas. Declara-se que Ele é o Supremo, aquele irrivalizável, aquele que é a causa primeira de todas as causas, e aquele que é o mestre de Suas potências internas. Suas potências são descritas nestas palavras do Sruti-sastra:
anando brahma
“O Brahman Supremo é pleno de bem-aventurança transcendental”.
No Sruti-sastra, declara-se ainda:
ko hy evanyat kah pranyad yad esa akasa anando na syat
“Quem pode encontrar bem-aventurança transcendental se não a encontrar na Suprema Personalidade de Deus?”.
No Svetasvatara Upanisad (6.8), afirma-se:
na tasya karyam karanam ca vidyate na tat-samas cabhyadhikas ca drsyate
parasya saktir vidhaiva sruyate svabhaviki jnana-bala-kriya ca
“A Suprema Personalidade de Deus não possui uma forma corpórea como aquela de uma entidade viva comum. Não há diferença entre Seu corpo e Sua alma. Ele é absoluto. Todos os Seus sentidos são transcendentais; cada um de Seus sentidos pode executar a ação de qualquer outro sentido. Destarte, ninguém é maior do que Ele ou igual a Ele. Suas potências são multifárias, e, portanto, Seus feitos são automaticamente executados como uma seqüência natural”.
Sac-cid-ananda-vigraha
Neste momento, alguém talvez levante a seguinte objeção: “Se Krsna é todo-atrativo e pleno de bem-aventurança transcendental suprema, então Ele não tem, obrigatoriamente, que ser destituído de forma? Afinal, formas não contêm bem-aventurança transcendental”.
A esta objeção, a seguinte resposta pode ser oferecida: Sim. Isso é verdade. Formas materiais não comportam bem-aventurança transcendental. Contudo, a maravilhosa forma do Senhor Krsna é repleta de bem-aventurança transcendental e perfeita. Isto é descrito no primeiro verso do Brahma-samhita com as palavras “sac-cid-ananda-vigraha”. Esta verdade também é confirmada nas seguintes palavras do Srimad-Bhagavatam (10.14.22):
tvayy eva nitya-sukha-bodha-tanav anante
“Ó Krsna, Sua forma, que é transcendental e eterna, é plena de conhecimento e bem-aventurança”.
No Gopala-tapani Upanisad e no Hayasirsa-pancaratra, declara-se:
sac-cid-ananda-rupaya krsnayaklista-karine
“Ofereço minhas respeitosas reverências ao Senhor Krsna, cuja forma transcendental é eterna e plena de conhecimento e bem-aventurança, e que resgata Seus devotos da aflição”.
No Brahmanda Purana, Astottara-sata-nama-stotra, afirma-se:
nanda-vraja-jananandi sac-cid-ananda-vigrahah
“A forma transcendental do Senhor Krsna é eterna e plena de conhecimento e bem-aventurança. O Senhor Krsna deleita os residentes de Vraja, a terra de Nanda Maharaja”.
Sat
Neste verso, a palavra “sat” deve ser compreendida como “eterna e imutável”. Que a forma do Senhor Krsna é eterna e imutável é confirmado nas seguintes palavras dos semideuses no Srimad-Bhagavatam (10.2.26):
satya-vratam satya-param tri-satyam
“Ó Senhor Krsna, Você nunca Se desvia de Seu voto, que é sempre perfeito porque o que quer que Você decida é perfeitamente correto e não pode ser parado por ninguém. Estando presente nas três fases da manifestação cósmica – criação, manutenção e aniquilação –, Você é a Verdade Absoluta”.
No Srimad-Bhagavatam (10.3.25), Devaki explica:
naste loke dvi-parardhavasane
maha-bhutesv adi-bhutam gatesu
vyakte ‘vyaktam kala-vegena yate
bhavan ekah sisyate ‘sesa-samjnah
“Após milhões de anos, no momento da aniquilação cósmica, quando tudo – manifesto e imanifesto – é aniquilado pela força do tempo, os cinco elementos grosseiros entram na concepção sutil, e as categorias manifestas entram na substância imanifesta.. Nesse momento, somente Você permanece, e Você é conhecido como Ananta Sesa-naga”.
No Srimad-Bhagavatam (10.3.27), Devaki também declara:
martyo mrtyu-vyala-bhitah palayan
lokan sarvan nirbhayam nadhyagacchat
tvat padabjam prapya yadrcchayadya
susthah sete mrtyur asmad apaiti
“Ninguém neste mundo material livrou-se dos quatros princípios do nascimento, da morte, da velhice e da doença, nem mesmo fugindo para vários planetas. Entretanto, agora que Você apareceu, meu Senhor, a morte está fugindo com medo de Você, e as entidades vivas, tendo se refugiado a Seus pés de lótus por Sua misericórdia, estão dormindo em completa paz mental”.
Nas escrituras, também é dito:
eko ‘si prathama
“Ó Senhor Krsna; no começo, somente Você estava manifesto”.
O Senhor Brahma também declara:
tad amitam brahmadvayam sisyate
“No fim, apenas o Brahman Supremo, que é livre de todas as dualidades, permanece”.
No Bhagavad-gita (14.27), o Senhor Krsna declara:
brahmano hi pratisthaham amrtasyavyayasya ca
sasvatasya ca dharmasya sukhasyaikantikasya ca
“E Eu sou a base do Brahman impessoal, que é imortal, imperecível e eterno, e que é a posição constitucional de felicidade última”.
No Bhagavad-gita (15.18), o Senhor Krsna também declara:
yasmat ksaram atito ‘ham aksarad api cottamah
ato ‘smi loke vede ca prathitah purusottamah
“Porque sou transcendental, além do falível e do infalível, e porque sou o maior, sou celebrado tanto no mundo como nos Vedas como a Pessoa Suprema”.
No Gopala-tapani Upanisad, é dito:
janma-jarabhyam bhinnah sthanur ayam acchedyo ‘yam yo ‘sau saurye tisthati
yo’ sau gosu tisthati, yo ‘say gah palayati, yo ‘say gopesu tisthati
“A Suprema Personalidade de Deus é sempre livre das transformações materiais, a saber, o nascimento, a morte, a velhice e a doença. Ele é eterno e imutável, e não pode ser cortado em pedaços ou morto por alguém. Permanecendo em Vrndavana, Ele fica entre os vaqueiros e as vacas e as protege”.
No Gopala-tapani Upanisad, também se declara:
govindan mrtyur bibheti
“A morte teme o Senhor Krsna”.
Neste verso, a palavra “saurya” significa “a terra de Vrndavana”. “Surya” significa “o deus sol”, “sauri” significa “o rio Yamuna, que é a filha do deus sol”, e “saurya” significa “a terra de Vrndavana, ao longo da qual corre o Yamuna”.
Cit
Neste primeiro verso do Brahma-samhita, a palavra “cit” se refere à forma espiritual do Senhor Krsna, a qual Ele revela a outros quando assim deseja. Esta forma é descrita pelo Senhor Brahma nestas palavras do Srimad-Bhagavatam (10.14.23):
ekas tvam atma purusah puranah satyah svayam-jyotir
“Você é a Alma Suprema, a Verdade Absoluta, a Pessoa Suprema e Original. Você é o Supremo, aquele irrivalizável. Você é a fonte do original brahmajyoti”.
Essa forma de Krsna também é descrita nessas palavras do Gopala-tapani Upanisad (1.26):
yo brahmanam vidadhati purvam yo vidyastasmai gopayati sma krsnah
tam ha daivamatmabuddhiprakasam mumuksurvai saranamanuvrajeta
“Foi Krsna quem, no começo, instruiu Brahma no conhecimento Védico e que disseminou o conhecimento Védico no passado. Aqueles que almejam se tornar liberados rendem-se a Ele, a Suprema Personalidade de Deus outorgadora de conhecimento transcendental a Seus devotos”.
No Sruti-sastra, é dito:
na caksusa pasyati rupam asya
“Com olhos materiais, ninguém pode ver a forma da Suprema Personalidade de Deus”.
No Svetasvatara Upanisad, afirma-se:
yam evaisa vrnute tena labhyas tasyaisa atma vrnute tanum svam
“Por meio de Seu desejo pessoal, a Suprema Personalidade de Deus Se releva a quem Ele escolhe”.
Ananda
Em seguida, discutiremos a explicação de que o corpo transcendental do Senhor Krsna é pleno de bem-aventurança (ananda). A forma do Senhor Krsna é plena de bem-aventurança porque Seus membros são a morada do amor sem limites. Que Sri Krsna é a venturosa Suprema Personalidade de Deus é explicado nas perguntas e respostas do Srimad-Bhagavatam (10.14.49-58). O mesmo também é explicado nestas palavras de Maharaja Vasudeva (Srimad-Bhagavatam 10.3.13):
vidito ‘si bhavan saksat purusah prakrteh parah
kevalanubhavananda- svarupah sarva-buddhi-drk
“Meu Senhor, Você é a venturosa Pessoa Suprema, além da existência material, e Você é a Superalma. Sua forma pode ser concebida pelo conhecimento transcendental, através do qual Você pode ser compreendido como a Suprema Personalidade de Deus. Agora, eu entendo Sua posição perfeitamente”.
No Sruti-sastra, também se afirma:
anandam brahmano rupam
“A forma da Suprema Personalidade de Deus é plena de bem-aventurança”.
Desta forma, prova-se que o Senhor Krsna possui um corpo perfeito, eterno, venturoso e espiritual; Ele não possui um corpo material como aqueles das almas condicionadas.. Isto é descrito no Srimad-Bhagavatam (10.14.55), onde Srila Sukadeva Gosvami diz:
krsnam enam avehi tvam atmanam akhilatmanam
jagad-dhitaya so ‘py atra dehivabhati mayaya
“Você deve conhecer Krsna como a alma original de todas as almas (entidades vivas). Para o benefício do universo inteiro, Ele, em virtude de Sua misericórdia imotivada, aparece como um ser humano comum. Ele faz isso com a força de Sua própria potência interna”.
Este verso estabelece que, pela misericórdia do Senhor Krsna, Ele manifesta passatempos como aqueles de um ser humano comum, possuidor de um corpo material. A palavra “mayaya”, neste verso, pode ser aceita com o significado de “por Sua misericórdia”. O dicionário Visva-prakasa declara:
maya dambhe krpayam ca
“A palavra ‘maya’ pode significar ‘ilusão’ ou ‘misericórdia’.”.
Govinda
O Senhor Krsna desfruta de muitos diferentes passatempos em Sua forma transcendental. Algumas vezes, Ele aceita o papel de um rei na dinastia Vrsni, e, algumas vezes, Ele Se torna Govinda, o protetor das vacas surabhis. Isto é descrito no Srimad-Bhagavatam (12.11.25):
sri-krsna krsna-sakha vrsny-rsabhavani-dhrug-
rajanya-vamsa-dahananapavarga-virya
govinda gopa-vanita-vraja-bhrtya-gita
tirtha-sravah sravana-mangala pahi bhrtyan
“Ó Krsna, Ó amigo de Arjuna, Ó líder dos descendentes de Vrsni, Você é o destruidor daqueles grupos políticos que estão perturbando os elementos desta Terra. Sua proeza jamais se deteriora. Você é o proprietário da morada transcendental, e Suas sacratíssimas glórias, que são cantadas pelos vaqueiros e vaqueiras de Vrndavana e pelos servos deles, concedem toda auspiciosidade simplesmente por serem ouvidas. Ó Senhor, por favor, proteja Seus devotos”.
Em razão de Seu próprio desejo, a Suprema Personalidade de Deus manifesta Sua forma adorável de Govinda e desfruta de passatempos transcendentais específicos com associados eternos específicos. O aspecto Govinda do Senhor será glorificado no Brahma-samhita a partir do verso 29. Govinda também é descrito no Srimad-Bhagavatam (10.27.20-23), onde, no começo do Govinda-abhiseka, a vaca surabhi ora:
tvam na indro jagat-pate
“Ó Senhor do universo, Você é o nosso rei, o nosso Indra”.
Com o término do abhiseka, o Srimad-Bhagavatam explica:
govinda iti cabhyadhat
“O Senhor, então, recebeu o nome Govinda”.
Após narrar estes passatempos, Srila Sukadeva Gosvami orou (Srimad-Bhagavatam 10.26.25):
priyan na indro gavam
“Que o Senhor Govinda, o rei das vacas surabhis, fique satisfeito comigo”.
Embora o Senhor Krsna seja o mestre e o abrigo de todos, Ele é especialmente o mestre das vacas surabhis. Por este motivo, o nome Govinda não deve ser pouco estimado. A importância das vacas é descrita nestas palavras do Go-sukta:
gobhyo yajnah pravartante gobhyo devah samutthitah
gobhir vedah samudgirnah sad-anga-padaka-kramah
“Os yajnas Védicos são realizados para adorar as vacas. Os semideuses levantam-se em respeito às vacas. Os quatro Vedas, os seis Vedangas, e o método pada de recitação são todos manifestos das vacas”.
O Senhor Krsna, por conseguinte, é o mestre das vacas surabhis, que são almas liberadas advindas do planeta Goloka Vrndavana do céu espiritual a este mundo. O Senhor Brahma também adora o aspecto Govinda do Senhor, como Brahma pessoalmente declara nestas palavras do Gopala-tapani Upanisad (1.38):
“Oferecendo orações na companhia dos Maruts e de outros semideuses, sempre satisfaço a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Govinda, cuja forma é eterna e plena de conhecimento e bem-aventurança, e que Se senta sob uma árvore-dos-desejos”.
As gloriosas vacas surabhis e outros residentes de Vrndavana também são glorificados nestas palavras faladas por Brahma (Srimad-Bhagavatam 10.14.34):
tad bhuri-bhagyam iha janma kim apy atavyam
yad gokule ‘pi katamanghri-rajo-‘bhisekam
yaj-jivitam tu nikhilam bhagavan mukundas
tv adyapi yat-pada-rajah sruti-mrgyam eva
“Meu querido Senhor, estou orando muito humildemente a Seus pés de lótus para que Você, por favor, dê-me qualquer sorte de nascimento dentro desta floresta de Vrndavana para que eu talvez possa ser favorecido pela poeira dos pés de alguns dos devotos de Vrndavana. Mesmo que me seja dada a oportunidade de crescer apenas como a humilde grama desta terra, isso será, para mim, um glorioso nascimento. Se, no entanto, não sou tão afortunado a ponto de poder nascer dentro da floresta de Vrndavana, imploro a permissão de nascer na área imediatamente fora de Vrndavana para que, quando os devotos saiam, eles caminhem sobre mim. Mesmo isso me seria uma grande fortuna. Aspiro apenas um nascimento no qual eu possa ser coberto pela poeira dos pés dos devotos. Posso ver que todos aqui são simplesmente plenos de consciência de Krsna. Eles não conhecem nada além de Mukunda. Todos os Vedas estão, na verdade, buscando pelos pés de lótus de Krsna”.
O Senhor também é conhecido como Nandanandana, o filho de Maharaja Nanda. Este aspecto do Senhor é descrito nestas palavras de Brahma (Srimad-Bhagavatam 10.14.1):
“Meu caro Senhor, Você é o único Senhor Supremo e adorável, a Personalidade de Deus. Estou, portanto, oferecendo minhas humildes reverências e orando a Você apenas para agradá-lO. Seus traços corpóreos são da cor de nuvens repletas de água. Você está brilhando com clarões elétricos de cor prata, os quais emanam de Suas vestes amarelas. Que eu possa oferecer minhas respeitosas e repetidas reverências ao filho de Maharaja Nanda, Ele que está de pé diante de mim com brincos de búzio e uma pena de pavão sobre a cabeça. Seu rosto é lindo. Ele está vestindo um elmo, está enguirlandado por flores silvestres, e segura um punhado de comida em Sua mão. Ele está decorado com um bastão, uma flauta e uma corneta de chifre de búfalo. Com Seus pequenos pés de lótus, Ele Se encontra agora de pé diante de mim”.
Deste modo, Govinda e os outros nomes transcendentais do Senhor são explicados. Para concluir esta descrição do Senhor Krsna como o “isvara” (controlador) e o “paramesvara” (controlador supremo), citaremos agora a explicação do Gautamiya Tantra ao dvadasaksara-mantra:
“No dvadasaksara-mantra, a palavra gopi significa ‘natureza material’, e ‘jana’ significa ‘o aspecto original do mahat-tattva’. A palavra ‘vallabha’ significa ‘a Suprema Personalidade de Deus, que é o refúgio tanto da natureza material quanto do mahat-tattva, que é pleno de bem-aventurança transcendental, que é refulgente, e que, porque é o criador original de tudo e é todo-penetrante dentro da criação material, é conhecido como ‘isvara’, o controlador”.
“Outra interpretação é que a palavra ‘gopi’ significa ‘a natureza material’, e ‘jana’ significa ‘as expansões Visnu-tattva do Senhor’. A palavra ‘vallabha’ significa ‘querido a ambos’, e se refere ao Senhor Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, que é o mestre de todas as causas e efeitos e que é glorificado nos Vedas”.
“Outra interpretação é que a palavra ‘gopijana’ significa ‘as gopis, as quais obtiveram perfeição espiritual após muitos nascimentos’. O Senhor Krsna é, portanto esposo delas. Deste modo, o Senhor Krsna, que é o filho de Nanda Maharaja e que deleita os três mundos, é descrito”.
Nestes versos, a palavra “prakrti” significa “a potência chamada Maya, que cria os universos materiais”. A palavra “tattva-samuhaka” significa “o aspecto original do mahat-tattva”.. A Suprema Personalidade de Deus, que é referida pelas palavras anayor asrayah e sandanandam param jyotih, é descrito como vallabhah. A palavra “prakrtih”, usada no segundo verso, significa a potência Maha-Laksmi, que se manifesta da própria forma do Senhor Supremo, que é transcendental ao toque da energia material e que aparece no mundo espiritual de Vaikuntha. “Amsa-mandalam” significa “as três expansões primárias de Visnu do Senhor começando com o Senhor Sankarsana”. As palavras “aneka-janma-siddhanam” referem-se ao ciclo sem começo de nascimentos descrito pelo Senhor Krsna nestas palavras do Bhagavad-gita (4.5):
bahuni me vyatitani janmati tava carjuna
“Tanto Eu como você, Ó Arjuna, já passamos por muitos nascimentos”.
Nesta última interpretação, a palavra “vallabha” deve ser compreendida com o significado de “o Senhor Krsna, o filho de Maharaja Nanda”. A paternidade de Maharaja Nanda para com o Senhor Krsna é explicada da seguinte maneira. Garga Muni disse a Maharaja Nanda (Srimad-Bhagavatam 10.8.14):
prag ayam vasudevasya kvacij jatas tavatmajah
“Por muitas razões, este belo filho seu apareceu algumas vezes anteriormente como o filho de Vasudeva”.
Porque Ele apareceu no coração de Vasudeva, o Senhor Krsna também é filho de Maharaja Vasudeva. Isto é descrito nas seguintes palavras (Srimad-Bhagavatam 10.2.16):
avivesamsa-bhagena mana anakadundubheh
“A Suprema Personalidade de Deus entrou na mente de Vasudeva em opulência plena”.
O Senhor Krsna é também o filho do rei de Vraja, pois, ao mesmo tempo em que Ele apareceu perante Vasudeva, o Senhor Krsna também apareceu perante Nanda Maharaja. Este fato é descrito em muitas escrituras. Por conseguinte, o amor parental que Nanda Maharaja dedica ao Senhor Krsna é muito apropriado. O Senhor Krsna nasceu como o filho de Vasudeva e como o filho de Nanda no mesmo momento, assim como o Senhor Varaha manifestou-Se simultaneamente em Varahaloka e como o filho de Brahma. O amor de Maharaja Nanda por Krsna era puro e sem misturas, mas o amor de Maharaja Vasudeva era misturado com o conhecimento da divindade e da opulência transcendental de seu filho. Deste modo, a explicação do Srimad-Bhagavatam 10.8.14 é apropriada. Assim o Senhor Krsna é visto no mantra de doze sílabas.

Tradução de Bhagavan dasa (DvS)

Inovação e Tradição

Inovação e Tradição

Uma das habilidades marcantes em Srila Prabhupada foi seu caráter inovador. Sabemos como Srila Prabhupada foi capaz de fazer mudanças e adaptações aos desafios e características próprios das pessoas, culturas e maneiras ocidentais. Como um empreendedor, Srila Prabhupada foi muitíssimo bem-sucedido. Seu sucesso é incontestável. Do ponto de vista do empreendedorismo, ele, partindo do nada, conseguiu estabelecer uma instituição com presença nas principais cidades do mundo, a notável e grandiosa ISKCON.
* * *
Pode ser que alguns, imbuídos de zelo demasiadamente ortodoxo, prefiram ver as mudanças como desnecessárias. Para estes, inovações e tradição não caminham de mãos dadas. A história nos mostra exatamente o contrário: as inovações introduzidas por Srila Prabhupada foram todas necessárias e dentro da tradição Vaishnava. Nenhuma de suas "inovações" comprometeu ou enfraqueceu a observância dos princípios básicos dessa mesma tradição.
Srila Prabhupada foi sábio ao flexibilizar sua pregação e conduta de acordo com tempo, lugar e circunstância, sem abrir mão dos parâmetros e da autenticidade estabelecida por guru (seu mestre espiritual), sastra (escrituras reveladas) e sadhu (exemplo dado pelos devotos santos).
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Na Índia, até o início do Século XX, o contexto sócio-religioso mantinha que jamais se deveria pregar os ensinamentos das Escrituras para um estrangeiro (mlecha), nem era aceitável a iniciação espiritual para esses estrangeiros e tampouco para mulheres. Srila Mahaprabhu, o Senhor Caitanya, admitiu como seguidores íntimos e amados os irmãos Srila Rupa Goswami e Sanatana Goswami que tinham trabalhado para o governo muçulmano, fato este que, de acordo com o conceito ordinário da época, tornava-os intocáveis e desqualificados para estudarem as Escrituras e freqüentarem Templos. O grande Vaishnava Haridasa Thakura era ele mesmo um muçulmano, embora fosse muitíssimo querido por Sri Caitanya. A um hindu, não era permitido sequer tocar um muçulmano sob pena de não mais ser considerado hindu, e, a partir daí, forçosamente ter de se converter ao islamismo. Segundo opinião equivocada de pessoas ordinárias, eles (Rupa, Sanatana e Haridas) não eram elegíveis nem para serem olhados! O melhor que poderiam fazer era esperar por um nascimento mais adequado, como homens, hindus, nascidos na Índia. Sri Caitanya, entretanto, não estava inovando ao aceitá-los, pelo contrário, Ele estava praticando o que Sri Krishna dispõe no Bhagavad-gita (5,18):
Os sábios humildes, em virtude do conhecimento verdadeiro, vêem com uma visão equânime um brahmana culto e gentil, uma vaca. um elefante, um cachorro e um comedor-de-cachorro (paria).
Quando Sri Caitanya Mahaprabhu introduziu o método do canto congregacional dos Santos Nomes de Hari foi muito criticado pelos sannyasis eruditos que questionavam sua inovação. Mahaprabhu, entretanto, estava apenas tornando realidade injunções contidas em várias escrituras sagradas, dentre as quais o Kalisantarana Upanishad. Para alguns, devido à capacidade limitada de suas compreensões, poderia tratar-se de uma invenção ou inovação caprichosa, porém devemos saber que sankirtana -yajña é o método prescrito para essa Era de Kali e, por ser prescrito, nada tem de caprichoso.
Srila Bhaktivinoda Thakur, no final do Século XIX, teve a clara visão de centenas de milhares de Vaishnavas, de todas as partes do mundo chegando a Sridhama Mayapur para reverenciar o Senhor Caitanya. Uma visão, diga-se, bastante não-ortodoxa.
Sua Divina Graça Srila Bhaktisiddhanata Saraswati Maharaj, o Grande Acharya Vaishnava, no início dos anos 1930, enviou dois de seus discípulos para pregarem a Consciência de Krishna na Inglaterra e nos países europeus. Foram eles Vana (Bon) Tirtha Swami Maharaj e Bhakti Saranga das (que mais tarde tomaria a ordem renunciada, sannyasa). Como resultado dessa pregação, trouxeram dois `bhaktas´ de origem alemã, Dr. Ernst Georg Schulze (Sadananda das) e Walter Eidlitz (Vamana das). Uma moça inglesa de família aristocrática chamada Daisy Cecilia Bowtell também foi iniciada por Srila Bhaktisiddhanta com o nome espiritual de Srimati Vinode Vani Dasi. Esta senhorita doou uma casa para que se tornasse o primeiro Templo Vaishnava na Europa, que foi inaugurado em 14 de Fevereiro de 1933 o qual pertence a Gaudiya Mission e ainda funciona com Deidades de Sri Sri Radha-Krishna e de Sri Caitanya.
A foto abaixo, mostra a chegada da Europa de Sua Santidade Vana (Bon) Tirtha Naharaj, que foi recepcionado por uma multidão de devotos.











Na extrema esquerda da foto está E. G. Schulze (Sadananda das), ao centro segurando a tridanda SS Bon Maharaj, e, curiosamente, na extrema direita da foto o jovem senhor Abhay Charan De (sem turbante), e que mais tarde seria conhecido como Abhay Charanaravinda (A. C.) Bhaktivedanta Swami Maharaj Prabhupada.





Esta é uma foto realmente especial e muito reveladora.
O que estaria pensando, nesse exato instante, o jovem Abhay Charan De?
Certamente que todo esse evento viria a ressoar no coração e mente desse jovem senhor por toda uma vida.
Estaria nesse momento sendo plantada no jovem devoto a semente da pregação mundo afora ?
Estaria ele se inspirando no exemplo de pregação dado por seus irmãos espirituais seniores na execução das ordens e desejo do Guru?
Quanto mais eu admiro essa antiga foto, mais sinto-me tentado a quase imaginar seus sentimentos a partir de sua face serena adornada com olhos bem alertas. Possivelmente aí estava sendo plantada uma semente, que em `solo´ fértil, se desenvolveria numa arvore grandiosa, de deliciosos frutos de prema por Sri Sri Radha-Krishna; a arvore cuja seiva é o Maha-Mantra, cujo tronco é o Senhor Caitanya, plantada e cultivada por nosso querido Srila Prabhupada.
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Dessa forma, muitas coisas "introduzidas" por Srila Prabhupada foram, inicialmente, efetivadas por seu Guru Maharaj, Srila Bhaktisiddhanta Saraswati, provando que nosso amado Srila Prabhupada seguiu os passos de seu Guru e dos acharyas anteriores.
Pregação no Ocidente, iniciação indiferenciada para homens e mulheres de quaisquer classes sociais, iniciações para pessoas de diferentes raças e etnias, distribuição de prasadam, canto congregacional (sankirtana), instalação de deidades em templos desprovidos de arquitetura tradicional indiana. Todas essas coisas foram `inovações´ introduzidas por Srila Prabhupada, mas com a devida autorização (pelo exemplo) de seu amado mestre espiritual, Srila Bhaktisiddhanta Saraswati. A eles devemos nossas mais humildes e respeitosas reverências; dois grandes santos Vaishnavas, dois grandes e tradicionais inovadores. Hare Krishna !
Eternamente seus,
Jayadeva das
aqui, rm Recife
PS - desculpem esse e-mail tão longo, é que eu estava sem sono e minha mente fervilhava