Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

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Jagad Guru Srila Prabhupada

terça-feira, 23 de setembro de 2008

A História da Música Govindam


A História da Música Govindam

por Harivilasa Dasa
enviado por Lilananda Dasa


Harivilasa Dasa compartilha suas lembranças da gravação das preces Govinda, que posteriormente se tornou a música que tocamos para receber as Deidades.

Foi em 1969. Eu era um devoto novo, tinha chegado recentemente em Londres, vindo de Paris. Este foi praticamente meu primeiro contato com a consciência de Krsna. Eu havia encontrado os devotos em Paris, mas Londres foi o primeiro templo que eu visitei. Srila Prabhupada havia instalado Sri-Sri Radha-London-Isvara recentemente e depois partiu. Eu fui ao templo e Yamuna devi foi a primeira devota que eu encontrei. A atmosfera do templo estava saturada com a presença de Srila Prabhupada. Durante o meu primeiro e segundo dia eu fui privilegiado com o serviço de limpar a sua Vyasasana. O meu corpo inteiro estava vibrando com o sentimento da presença de Srila Prabhupada e eu também podia ver isto nos devotos, os quais estavam realmente elevados e inspirados. Eu podia ver a presença do devoto puro nas palavras, ações e dedicação daqueles devotos. Eu era um músico e tocava o lute Árabe [um tipo de violão] e tinha o instrumento comigo. Os devotos estavam dizendo que iriam gravar um disco com George Harrison. Eles já haviam gravado um disco nos Estados Unidos e agora iriam gravar outro.

Um dia George Harrison apareceu no templo para o almoço e os devotos me convidaram a participar. Depois de um ou dois dias que eu estava no templo eu encontro com George Harrison dos Beatles, que na época era uma pessoa famosa com uma carreira musical. Na verdade, meu primeiro encontro com os devotos em Paris foi de alguma forma relacionado com George Harrison. Eu era o gerente de um pequeno espaço microbiótico no Centro Americano de Paris. Um dia eu recebi um pequeno bilhete e a capa do primeiro disco Hare Krsna. Na capa havia uma explicação de Srila Prabhupada sobre a natureza transcendental do maha-mantra, que basicamente ele tirou, quasi que palavra por palavra, de seu mestre espiritual, Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura. Então, alguém me deu esta capa e disse, "Esse pessoal quer alugar o seu espaço para um programa nos domingos de noite." Eu li o bilhete e me explodiu a cabeça completamente. Eu disse, "Oh meu Deus, o que é que os Beatles estão fazendo?" Eu pensei que George Harrison tinha escrito aquilo. Eu não sabia nada de Prabhupada.

Eu pensei que os Beatles haviam escrito esta explicação, e eu não pudia acreditar. Eu pensei que isto era a coisa mais esotérica que eu tinha lido em minha vida. Eles estavam falando sobre algum mantra transcendental, etc. Eu pensei que eles tinham tomado um LSD imensamente potente e agora estavam nos liderando nesta viagem. Mais tarde eu descobri que Srila Prabhupada foi quem escreveu o texto e que havia um movimento chamado Hare Krsna e que George Harrison estava ligado a ele. Então encontrei George Harrison.

Para mim este era um sinal de Deus que eu estava no caminho certo. Como podia ser que eu, uma pessoa realmente insignificante, encontrasse George Harrison, uma estrela internacional? Na minha mente as coisas ainda não estavam claras. Eu tinha alguma idéia que talvez ele fosse o guru de toda esta organização.

Então George veio para o templo em Bury Place e ele trouxe consigo sua guitarra. Yamuna devi, Mukunda, Gurudasa, Syamasundara, Malati e eu, estávamos todos sentados numa pequena sala com um arranjo humilde. Nós estávamos tomando prasadam e conversando. Eu estava realmente fascinado, "Isto é inacreditável!"

De repente, George terminou de comer, pegou sua guitarra, sentou do lado de Yamuna devi e começou a tocar uma combinação de acordes musicais. Ele disse, "Eu estava pensando sobre a sua música Govinda." E enquanto tocava uma combinação de acordes musicais, perguntou, "O que você acha disto?" Os devotos deram suas opiniões. Foi assim que ele começou a compor a música Govinda, o primeiro passo na criação da apresentação comercial desta música transcendental.

No dia seguinte um grupo de dez ou onze devotos foram para os Estúdios da Apple. Ali estavam Yogesvara Prabhu, eu, Mukunda, Yamuna, e vários outros devotos.
Nós passamos o dia inteiro no estúdio. Foi ali que realmente vimos o gênio de George Harrison da maneira pela qual ele trabalhava num estúdio de gravação. Ele estava construindo uma música pedaço a pedaço. Ele pedia para Yamuna cantar novamente e novamente e ele continuava gravando."Govindam adi purusam" e no coro estavam Yogesvara, eu e Jayahari.



Também haviam outros cantando, mas eu não me lembro de todos os nomes, não me lembro de todo mundo. Se não me falha a memória, haviam seis pessoas de pé cantando.
[Nota de Lilananda dasa: Segundo Yogesvara Prabhu, Tamal Krishna Goswami também estava presente. Anexo segue uma foto deles nos Estúdios da Apple. Tamal Krishna esta atrás de Malati e Yogesvara atrás de Syamasundar que está detrás de George Harisson]

George Harrison trouxe uma orquestra de seis ou oito pessoas para tocar instrumentos de cordas e ele tocou a guitarra. Ele estava fazendo a mixagem e o balanço e tinha trinta e três pistas para mixar. Foi muito, muito excitante. Nós vimos que ele era um homem criativo, um artista. O seu pincel de pintor era a sua mente criativa e a tela eram as suas trinta e três pistas e a própria mixagem. Eu me lembro que ele tinha contratado músicos. Num certo momento ele olhou para mim e disse, "Vem aqui, traga seu instrumento, traga seu instrumento." Nós sentamos um do lado do outro. Ele pegou a minha lute Árabe [um tipo de violão], olhou para ele um pouco e me devolveu. Então ele pegou a sua guitarra e começou a tocar algo. Então ele perguntou:

"Você pode tocar isto?" E eu toquei. Ele tocou outro arranjo e perguntou, "Você pode tocar isto?" Funcionou muito bem porque meu instrumento era feito para tocar estes tipos de som. Ele notou que estes sons eram perfeitos para este instrumento. Então ele decidiu me gravar tocando. Antes ele havia gravado Syamasundara tocando o esraj, o violino Indiano. E então ele me fez tocar o lute. Eu toquei duas ou três vezes.

Eu estava fascinado pela coisa toda, George Harrison sentado comigo me pedindo para tocar algo! O que realmente me impressionou é que ele era realmente um cavalheiro, muito polido da maneira que ele falava com as pessoas. Ele não tinha que extrair coisas das pessoas ou fazê-las sentir-se impostas de alguma maneira. Num certo momento todos sentamos para comer sanduíches vegetarianos. Neste momento sua esposa chegou. Foi realmente um dia agradável. No dia seguinte nós voltamos para ouvir o que ele tinha feito. Nós ficamos muito impressionados com o seu trabalho. Depois ele refinou a música mais e mais antes de lança-la.

A gravação das preces Govinda foi um esforço sincero dos devotos para glorificar Krsna e Prabhupada. Foi uma experiência muito transcendental. Este evento me convenceu que a consciência de Krsna estava realmente conquistando o mundo. George Harrison teve um tremendo impacto na juventude do mundo, pelo menos nos jovens que eu conhecia.

Pouco tempo depois, em Los Angeles, Srila Prabhupada ouviu a gravação pela primeira vez. Os devotos disseram que ele chorou e disse: "Toque esta música todas as vezes que recebemos as Deidades."

Veja aqui um video da música: http://www.youtube.com/watch?v=5GIQTuUJwwA&feature=related.

Compre aqui o CD Goddess of Fortune com a música.

Dispostos para a Paz - Prontos para a Guerra






www.traveling-preacher.com

Diário de um Pregador Itinerante

Diary of a Traveling Preacher

Acompanhe S. S. Indradyumna Svami em suas centenas de aventuras ao redor do mundo. “Pregue destemidamente e tenha fé nos santos nomes” foi a instrução pessoal recebida por Indradyumna de seu mestre espiritual, Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada, em 1972; instrução esta que carrega no íntimo de seu coração e se esforça por cumprir. Nesta obra, Indradyumna Svami compartilha suas experiências e realizações enquanto segue com a missão de propagar o Movimento de Sankirtana do Senhor Caitanya, dando-nos a oportunidade de deslumbrarmos o êxtase da pregação destemida.

Volume Oito - Capítulo Nove

Dispostos para a Paz – Prontos para a Guerra

De 21 de agosto de 2007 a 7 de setembro de 2007

Após uma série de programas na República da Irlanda, dirigi para o norte com alguns outros devotos para Belfast. No caminho, parabenizei Praghosa das, o representante local do GBC, pelo Ratha-yatra que realizamos no dia anterior em Dublin.

“Eu fiquei impressionado em como a multidão se alinhava na rua para ver o carro passar”, eu disse. “E muitas pessoas foram ao festival realizado na praça em seguida”.

“Os Irlandeses são piedosos”, Praghosa respondeu, “e tivemos sorte de não ter chovido. Encontramos Dublin nas melhores condições. Há um ditado aqui”:

Leprechauns, castles, good luck and laughter,Lullabies, dreams and love ever after,Poems and songs with pipes and drums.A thousand welcomes in Ireland.

“Leprechaus, castelos, boa sorte e risos,
Canções de ninar, sonhos e amor eterno,
Poemas e canções com cachimbos e tambores
Mil boas-vindas na Irlanda”

“Mas nós veremos o oposto no nordeste irlandês”, ele prosseguiu. “São apenas duas horas de carro, mas a diferença entre o norte e o sul é como o dia e a noite”.

“Eu ouvi falar um pouco sobre isso”, eu disse, “mas sou ignorante na maior parte”.

“É um problema político-social complexo”, ele disse. “Ele remonta há mais de 700 anos, quando os ingleses invadiram a Irlanda pela primeira vez. Eles tiveram o controle por anos, mas, em 1921, eles concederam soberania a 26 condados ao sul da ilha enquanto mantiveram para si 16 condados ao norte”.

“Oficialmente, a Irlanda do Norte é parte do Reino Unido, mas, embora os ingleses governem ali há centenas de anos, os irlandeses continuam considerando propriedade irlandesa”.

“A diferença é ainda mais agravada pelo fato dos ingleses serem basicamente Protestantes e os irlandeses, Católicos. Uma disputa amarga se perdura por séculos. Desde o começo dos anos 70, milhares de vidas foram perdidas”.

“Todavia, seis meses atrás, Sinn Fein, a ala política do Exército Republicano Irlandês, e o Partido Unionista Democrático, o principal grupo Protestante, fizeram um acordo estabelecendo a divisão do poder administrativo”.

“O mais incrível é que, ao longo dos últimos 25 anos, mantemos um templo em Belfast, e a pregação é muito boa, porque todos são afetados pelo conflito”.

“Como as pessoas nos vêem?”, eu perguntei.

“Nós não tomamos partido, por isso eles são basicamente neutros em relação a nós”, Praghosa respondeu. “Em uma ocasião, quando eu estava saindo do nosso restaurante Govinda, eu fui confrontado por um grupo de homens. Quando eles perguntaram sobre minha afiliação religiosa, eu expliquei que eu era um monge Hare Krsna. Eles ficaram confusos. Eles ficaram se entreolhando até que um dos homens perguntou: ‘Você é um Hare Krsna Protestante ou um Hare Krsna Católico?’.”

“A resposta errada poderia resultar em uma surra, então eu pensei cuidadosamente até que respondi que eu era um Hare Krsna Hare Krsna. Eles apenas estalaram seus pescoços e foram embora”.


“Mas nem sempre é fácil assim. Nos templos, os devotos são avisados a não ficar nas janelas, porque elas são freqüentemente quebradas por pessoas atirando pedras e gritando bordões políticos. Uma vez, alguém atirou uma flecha pela janela que fincou contra a parede. Naquela época, um dos nossos devotos tinha conexão com o IRA e se reuniu com os líderes locais. Por algum tempo a violência parou, mas depois começou de novo”.

“O IRA?”, eu perguntei. “O que você quer dizer por ‘conexão com o IRA’?”.

“Ele fazia parte do grupo antes de se juntar a nós”, Praghosa explicou. “Ele foi preso uma vez pelo exército inglês e passou dois anos na prisão”.

Enquanto conversávamos, chegamos a Belfast. A primeira coisa que roubou minha atenção foram as diversas pinturas nos muros. Passando perto, eu li um que dizia: “Cuidado ingleses. Zona de perigo. Matadores da RUC [Royal Ulster Constabulary, Polícia Real da Ulster] a solta”.

“Esta é claramente uma área Católica”, Praghosa disse. “Você pode ver a bandeira da Irlanda dançando por toda a parte”.

Ao que continuamos dirigindo, eu vi um imenso muro que começava de uma área pobre e se estendia por uma longa distância. Praghosa explicou que muitas dessas estruturas, conhecida como Peace Lines, que podem se estender por um quilômetro e têm cerca de seis metros de altura, foram erigidas durante os últimos trinta anos para manter separadas as facções em guerrilha.

“Os Protestantes ficam de um lado e os Católicos do outro”, ele disse. “Sem os muros separando os dois, eles matariam uns aos outros. A trégua não diminuiu o ódio de longa data”.

Quando viramos em uma esquina, um novo muro pichado apareceu: “Nossa vingança será a risada de nossos filhos”, e outro trazia: “Dispostos para a Paz – Prontos para a Guerra”.

“É incrível que os devotos consigam pregar a tanto tempo neste ambiente”, eu disse.

“Eles se adéquam”, disse Praghosa. “Eles adotam o sotaque do local onde estão distribuindo livros: sotaque britânico nas áreas Protestantes, sotaque irlandês nas áreas Católicas. E eles são protegidos pelo Senhor. Janananda das chegou aqui em 1975 com um pequeno grupo de devotos. Eles armaram uma mesa de livros em uma praça e se sentaram para fazer um kirtana. Dez minutos depois, uma multidão se formou e começou a atirar pedras neles. Eles se levantaram e saíram correndo, deixando tudo para trás”.

“Quando Janananda voltou a Belfast no ano seguinte, eles fizeram um kirtana em frente a uma Woolworth’s [empresa de supermercados com produtos a preço popular]. Porque muitas pessoas pararam para ouvir, eles decidiram que voltariam ali no dia seguinte. Mas, quando chegaram, a Woolworth’s não estava mais lá. Ela havia sido destruída por uma bomba durante a noite, um acontecimento quase diário naquela época”.

Enquanto dirigíamos para dentro da cidade, mais muros com mensagens apareciam.

“Estamos entrando em uma área Protestante agora”, Praghosa disse.

À frente, eu vi vários homens caídos perto de um muro, obviamente mortos em confronto. “Para que não sejamos esquecidos”, trazia o muro.

Cerca de 20 metros à frente, outro muro trazia: “Comando Vermelho. Não é por glória ou riqueza que lutamos, mas por nossa gente”.

Quando paramos em um sinal vermelho, um enorme mural trazia os dizeres: “Bem vindo à central da RUC. Nada nos deterá”.

“O que realmente determina os devotos a pregarem em Belfast é que eles sentem terem a solução para os problemas”, Praghosa disse..

“E qual é a solução?”, perguntei.

“Que somos todos, essencialmente, partes de uma família espiritual, a família de Deus”, ele respondeu. “O conceito de amigo e inimigo é uma ilusão. A violência sectária é devido ao conceito corpóreo de vida: eu posso ser irlandês ou inglês, mas nós não somos estes corpos temporários, nem nenhuma designação que talvez tenhamos dado a eles”.

“Para que a paz venha para esta terra, as pessoas têm de parar de ver diferenças e entender o que têm em comum. No mundo espiritual, não há Católicos, Protestantes, Hindus, Muçulmanos ou Judeus. Todos apenas se identificam como devotos do Senhor”.

Nós viramos uma esquina e paramos em frente a uma velha construção. Eu notei a inscrição no prédio ao lado: Orange Hall – 1690.

“O Orange Hall é onde os Protestantes se encontram há séculos”, Praghosa disse. “Alguns anos atrás, nós não poderíamos dirigir sequer próximos a este lugar. Este era o campo mortal de Belfast. Muito sangue foi derramado nesta rua. Mas, recentemente, a comunidade indiana comprou este prédio ao lado do Orange Hall”.

“Os indianos?”, eu perguntei. “Eles se mudaram para cá?”.

“Nos últimos anos”, disse Praghosh, “muitos estrangeiros chegaram à Grã-bretanha. Ironicamente, isso ajudou muito a situação aqui”.

“Como?”, eu perguntei.

“Muitos dos estrangeiros acham que as diferenças que separam as duas comunidades não são problemas de vida ou morte”, ele disse. “Essa mentalidade está contagiando um pouco a população local. Por muitos anos, eles foram completamente isolados. Então, como os tempos estão mudando, os devotos estão aproveitando para pregarem a mensagem do Senhor Caitanya com ainda mais entusiasmo do que antes. Nosso carro de Ratha-yatra será puxado pelas ruas hoje e, em seguida, teremos um grande festival em frente ao Orange Hall”.

Dez minutos depois, chegamos ao ponto de partida da parada. Eu fiquei surpreso ao ver apenas 10 ou 15 devotos presentes fazendo os últimos preparativos.

“Tem apenas uma dúzia de devotos aqui”, eu disse a Praghosa.

“Apesar da relativa receptividade das pessoas”, ele disse, “não são muitos os devotos que querem viver em um local que parece uma zona de guerra”.

Mais dez devotos chegaram em seguida e logo começamos a descer a rua puxando o carro; chegando à rua principal, começou a chover. Eu fiquei chocado ao ver apenas poucas pessoas na rua.

“Onde estão todos?”, eu perguntei a Praghosa.

“Hoje é domingo”, ele disse, “o único dia que a prefeitura iria nos dar. E está chovendo. Mas haverá lojas que abrem aos domingos quando chegarmos ao centro da cidade”.

400 metros à frente, vinte minutos depois, chegamos a uma rua com um pouco mais de pessoas.

“Aqui é o centro”, disse Praghosa.

Eu fiquei surpreso. Parecia mais uma cidadezinha, e parecia ambientada nos anos 60 ou 70. Eu percebi várias placas de “vende-se” em lojas, escritórios e apartamentos.

“Por causa da História, a cidade não se desenvolveu como as outras cidades européias”, disse Praghosa, “mas isso pode mudar se a partilha administrativa continuar”.

Mas não eram apenas as construções que pareciam estranhas, as pessoas também. Diferente de Dublin, onde multidões se juntavam nos passeios para sorrirem e acenarem enquanto passávamos, as pessoas eram quase que indiferentes a nossa presença. Alguns apareceriam prudentes e desconfiados. Alguns nos olhavam sem nenhuma emoção no rosto.

Praghosa se virou para mim. “Eles passaram por muita coisa”, ele disse.

Eu voltei minha atenção para o canto e a dança, esperando, como todos os devotos presentes, que o desfile de Ratha-yatra roubasse a atenção do coração de alguém.

Enquanto nossa colorida procissão desfilava pela deprimente atmosfera, algumas poucas pessoas começaram a responder. Alguns paravam para conversar com os devotos que estavam distribuindo convites para o programa no Orange Hall.

Em dado momento, eu saí do centro do desfile e caminhei pelo passeio distribuindo convites pessoalmente. Depois de cinco minutos, um jovem de vinte e poucos anos se aproximou de mim.

“O que significa isso?”, ele perguntou curioso.

“Este é um dos mais antigos festivais espirituais do mundo”, eu respondi.

“A maior parte das guerras deste mundo foram por causa de religião”, ele disse. “Um bom exemplo é a própria cidade de Belfast”.

“Isso é verdade”, eu respondi. “Mas o mau uso de algo não quer dizer que tal coisa seja originalmente errada. A religião fala, na verdade, sobre Deus, não em política e violência sectarista”.

Ele pensou por um momento e, então, concordou com a cabeça. “Há alguma verdade nisso”, ele disse.

“Venha para o nosso programa no final do desfile”, eu disse. “Será perto do Orange Hall na...”.

“Todos em Belfast sabem onde fica o Orange Hall”, ele disse me interrompendo.

“Começa às 5 da tarde”, eu adicionei enquanto ele ia embora.

Eu não pensei que veria aquele jovem novamente, mas, à tarde, enquanto eu me acomodava no assento do palestrante, eu me surpreendi ao vê-lo entrando na sala e se sentando. Ele era literalmente o único convidado, pois todos os demais na audiência eram ou devotos ou membros da congregação.

Quando comecei a palestrar, foquei minha atenção em nosso convidado. É uma técnica que às vezes uso em palestras públicas. Como a audiência costuma ser diversificada com aqueles que têm pouco interesse, aqueles que são meramente curiosos, e genuínos buscadores da verdade, eu tendo a direcionar a palestra para um único buscador.

“É apenas uma pessoa”, eu pensei, “mas talvez eu possa plantar em seu coração a semente da Consciência de Krsna que mais tarde crescerá como devoção pura”.

Enquanto eu apresentava o conhecimento que eu havia repetido em inúmeros programas ao longo dos anos, eu pude notar que o jovem estava interessado. Ele se sentava com o tronco voltado para frente, lembrando como eu fiquei a primeira vez que ouvi a filosofia da Consciência de Krsna. Eu continuei com a palestra básica. Eu percebi que alguns devotos e membros da congregação ficaram agitados pela simplicidade da palestra. Assim como eu havia falado aquilo mil vezes, eles estavam ouvindo aquilo pela milésima vez, mas, naquela ocasião, eu senti que a pessoa mais importante de todas era o nosso convidado.

Eu apresentei todos os princípios básicos da filosofia e falei alguma coisa sobre o Senhor Jagannatha e sobre a adoração à Deidade, tudo observando com grande cuidado suas reações. Após uma hora, quando comecei a concluir os pontos que apresentei na palestra, pude vê-lo concordando com a cabeça com meus pontos finais.

Quando terminei, levantei enquanto a platéia aplaudia. O jovem também aplaudiu por alguns instantes e, então, olhando para o seu relógio, começou a passar pelos devotos em direção à saída. Eu queria falar com ele, mas ele estava visivelmente com pressa.

Mas, quando ele chegou à porta de saída, ele se virou, sorriu e fez positivo para mim, erguendo seu polegar. Não foi grande coisa – um simples sorriso e um gesto – mas foi o suficiente para me fazer acreditar que, se a nova administração for bem sucedida e os devotos continuarem determinados a compartilhar a mensagem da Consciência de Krsna com o povo de Belfast, nós podemos ajudar a trazer paz e felicidade para a Irlanda do Norte.

svasty astu visvasya khalah prasidatamdhyayantu bhutani sivam mitho dhiyamanas ca bhadram bhajatad adhoksajeavesyatam no matir apy ahaituki

“Que haja boa fortuna em todo o universo, e que todas as pessoas invejosas se tornem pacíficas. Que todas as entidades vivas se tranqüilizem pela prática de bhakti-yoga. Por aceitarem o serviço devocional, elas irão pensar no bem estar umas das outras. Que todos nós, portanto, ocupemo-nos no serviço à transcendência suprema, o Senhor Sri Krsna, e fiquemos eternamente absortos em pensar unicamente nEle”. - Srimad Bhagavatam 5.18.9

Tradução de Bhagavan dasa (DvS) e revisão de Bhaktin Flávia Reis (DvS) – disponível, em breve, em http://www.devocionais.xpg.com.br/