Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

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Jagad Guru Srila Prabhupada

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Duas Sementes que Cresceram no Ferro - Two Seed that Grew in Iron



Originalmente publicado em Back to Godhead [Volta ao Supremo], revista fundadapor Sua Divina Graça Srila Prabhupada no ano de 1944.


Artigo referente à edição do bimestre de março/abril de 2008


Duas Sementes que Cresceram no Ferro - Two Seed that Grew in Iron


por Urmila Devi Dasi




Dois líderes do projeto do templo de Moscou florescem em devoção a Krsna pordetrás da Cortina de Ferro. A meta era uma nação de ateístas. Por três gerações – setenta anos – ogoverno defendeu explicita e determinadamente a política de criar tal nação.Como em outras Repúblicas Soviéticas, a propaganda ateísta permeava a educaçãoformal e a vida social da Armênia. Qualquer indício de prática devocional aDeus, sob o rótulo de qualquer religião, quer de forma pública ou privada,freqüentemente acarretavam em imediatas conseqüências brutais.




Um dia, em uma vila montanhosa da Armênia, um típico engenheiro ateísta, umhomem bem respeitado em sua comunidade, sentou-se ao ar livre para fumar.Quando um caminhão estacionou próximo a ele para lhe entregar um pacote, ele eseu amigo, o motorista do caminhão, conversaram sobre as novidades na cidade.Enquanto o motorista carregava o pacote para a casa do engenheiro, o engenheiroviu um livro diferente no caminhão: uma tradução para o russo do SriIsopanisad. Curioso, ele o pegou.




Ele olhou para a foto de Srila Prabhupada na parte detrás e pensou: “Queimpressionante existir alguém como este homem vivendo no planeta!”.




Então ele espontaneamente se jogou ao chão e ofereceu reverências à foto.




“Que livro é este?”, ele perguntou ao motorista que saía de sua casa.




“Ah, um rapaz me empurrou esse livro. Você quer ficar com ele? Eu não ligopara ele”.




O engenheiro passou o resto do dia absorto na tradução de Prabhupada desteUpanisad chave do Yajur Veda. Naqueles dezenove versos e comentários, oengenheiro encontrou dois pontos que ele decidiu colocar em práticaimediatamente, não apenas para si, mas para toda a sua família. A partirdaquele dia, sua família, incluindo seus seis filhos, tornaram-se vegans epassaram a cantar o maha-mantra Hare Krsna.




Dois anos depois, o engenheiro que mais tarde seria iniciado com o nome de Brahmananda Puri Dasa conseguiu se encontrar com outros devotos de Krsna. Aosaber que eles estavam secretamente imprimindo livros espirituais, muitas vezescompilados à mão ou com equipamentos precários, ele ofereceu sua espaçosa casae seu celeiro para que se fizessem ali as impressões. Com um pouco de dinheirode sua reserva pessoal e de alguns livros vendidos anteriormente, ele passou aprocurar por equipamento de impressão. Uma vez que imprimir era ilegal,conseguir o equipamento não era algo como ir à loja e comprar, senão que eraalgo muito perigoso e que demandava muita engenhosidade. Muitas vezes ele tinhade agir ilegalmente até mesmo para conseguir papel, de maneira geralindisponível sob qualquer preço. Após algum tempo, Brahmananda Puri tinha todo o equipamento de impressão emseu celeiro. Sendo o cabeça da impressão de livros religiosos proibidos, eleera o devoto a mais se arriscar dentre todos os devotos soviéticos. Enquantoaqueles produzindo e vendendo livros em pequena quantidade estava sob aconstante ameaça de serem torturados e presos em cadeias ou hospitaispsiquiátricos por alguns meses ou poucos anos, a captura de Brahmananda Puriteria resultado em mais de quinze anos de punição seguida por execução.




Depois que o Comunismo entrou em colapso nos países soviéticos e a impressãode livros se tornou lícita, Brahmananda Puri imprimiu quase dez milhões delivros com capital muito reduzido. Hoje ele é uma das principais pessoascomprometidas em tornar o planejado templo de Moscou uma realidade. É ele quemconsegue as autorizações e aprovações governamentais e que faz com que oprocesso siga em frente




A Descoberta de um Cientista Distante daquela vila armênica, um cientista ateu caminhava pelas ruas deMoscou. O ano era 1977, e ele era um acadêmico brilhante, cursando o curso de Química na Universidade Estadual de Moscou. A idéia de que sua vida pudesse serassociada à religião era a última coisa que ele poderia imaginar. Mas depois daFeira do Livro de Moscou, na qual os devotos “perderam” alguns livros efolhetos, um de seus amigos se tornou vegetariano. Ele também notou que seuamigo estava mais reservado do que o habitual. O estudante cientista, sob ainfluência de seu amigo, também deixou de comer carne, peixe e ovos, e leu oBhagavad-gita em russo, embora fosse uma tradução que não a de SrilaPrabhupada. Logo ele descobriu a razão por trás do comportamento dissimuladorecentemente adotado por seu amigo: Para evitar ser preso, ele estavaescondendo seu cantar do mantra Hare Krsna.




Esse cientista, que mais tarde aceitou a ordem renunciada e o nome de BhaktiVijnana Gosvami, ficou chocado ao ler o Gita. Seu pai e seu avô eram cientistasgrandes e respeitados, e toda a sua família era ateísta. Todavia, o Gita afetousua vida como apenas um outro livro – o Evangelho Segundo João – havia feito.Após ler o Gita, ele percebeu que não poderia viver mais como vinha vivendo atéentão. O livro apresentava uma visão tão harmoniosa e cativante da vida que oconvidou a deixar a existência que não mais o satisfazia.




Ele notou, no entanto, que a principal diferença entre ler o Gospel e ler oGita era que, depois de ter lido o primeiro, ele não sabia como mudar ou o quemudar. Agora, com o Gita, seu amigo havia lhe dado a prática dos quatroprincípios reguladores (não se intoxicar, não praticar sexo ilícito, não jogare não comer carne, peixe ou ovos) e do cantar do mantra Hare Krsna – HareKrsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama,Hare Hare. A iniciativa de Bhakti Vijnana Gosvami em passar a cantar Hare Krsna éparticularmente notável dado que seu amigo não lhe explicou nada sobre osignificado ou natureza do mantra. Ele apenas lhe disse que o cantar seria bompara ele, sem nem mesmo lhe dizer quem era Krsna. A edição que Bhakti VijnanaGosvami havia lido não trazia o nome de Krsna, senão que apenas Bhagavan(significando Deus, aquele pleno de todas as opulências). Em todo caso, como umcientista, ele decidiu fazer uma experiência com o mantra. Para sua grandefelicidade, o mantra o mudou profundamente.




Ele sabia que, se pego cantando, seria preso e torturado. Assim, a primeirajapa de Bhakti Vijnana Gosvami, ao invés da tradicional japa de 108 contas, eraum cordão de vinte e sete contas, que podia ser escondido mais rapidamente senecessário. Quando seu amigo o levou para conhecer outros devotos, BhaktiVijnana Gosvami se decepcionou. A maioria não era intelectual como os colegasde seu meio. Ele apreciou o fato deles serem pessoas tranqüilas, e encontrougrande prazer juntando-se aos kirtanas que eles realizavam. Ele estavaintrigado e continuou cantando, mas não estabeleceu nenhum compromisso formalali.




Encontrando-se com a KGB Um dia, enquanto Bhakti Vijnana Gosvami caminhava pelo campus onde estudavana Universidade, ele recebeu o recado de que seu orientador acadêmico queriavê-lo. Enquanto subia as escadas que davam em sua sala, ele encontrou com seuorientador, normalmente um homem extrovertido e seguro de si, vindo em suadireção com o rosto pálido como papel branco.




Trêmulo e com a voz embargada, seu orientador disse: “Alguém quer vê-lo emminha sala”. Na sala no andar de cima, esperava-lhe um homem três vezes o seu tamanho. Ohomem gigantesco sorriu e então mostrou sua identificação – um coronel da KGB.O estudante que havia estado conectado com o movimento Hare Krsna apenasremotamente não esperava por um encontro do tipo. Ali ele teve certeza de estarcom grandes problemas. O coronel da KGB nem mesmo tentou um estabelecer um diálogo com o jovemassustado.




“Você é um homem estudado, com um futuro e uma carreira brilhante pelafrente. Mas de alguma forma você se envolveu com pessoas que são muitoperigosas. Espero que você saiba que é seu dever nos reportar tudo sobre eles.Não estamos pedindo muito. Mas se você assim agir, sua carreira será próspera.Você será promovido. Se você não cooperar, por outro lado, você terá seusestudos interrompidos e não terá futuro algum. Você poderá até mesmo ir para aprisão, onde todas essas pessoas também acabarão indo”.




A única coisa que ele pôde dizer foi: “Senhor, eu não tenho condições de lheresponder agora”.




O oficial então falou menos áspero. “Tudo bem, mas você deve ir à nossa central em três dias para nos dar asinformações que queremos”. O jovem estudante cientista com breve interesse pela vida espiritual ficoudeveras amedrontado com tudo aquilo. “O que irá acontecer?”, ele se perguntou. “Eu não terei futuro. Eu irei paraa prisão”. Mas então ele pensou de maneira diferente. “Por que a KGB leva este cantar tão a sério a ponto de enviar um coronel paraintimidar um estudante que o cantou algumas poucas vezes? Esse cantar deve sermuito poderoso e importante”. Dessa maneira, o coronel da KGB atuou como uma espécie de guru, incentivandoBhakti Vijnana Svami a se envolver seriamente com a vida espiritual.




Conselho Poderoso de uma Fonte Delicada Sua nova determinação foi cedendo aos poucos em seu coração pelo temor àameaça da KGB. Ele decidiu se consultar com o devoto mais intelectual dasproximidades, uma delicada jovem de dezenove anos de nome Malini Devi Dasi. Eleconfidenciou exclusivamente a ela sobre o encontro que teve com o oficial daKGB, ao que ela riu e disse com grande convicção: “Eles não podem fazer nadacom você. Você é uma alma eterna”. Suas palavras o acertaram com um raio.




“Eles não podem fazer nada contra o eu verdadeiro”, ele realizou.




Uma atmosfera de paz o rodeou, e seus temores logo se dissiparam.




“Esta pequena garota transformou minha visão”, ele concluiu. Mais tarde nesse mesmo dia, ele foi para a sua entrevista marcada com a KGBsentindo-se tranqüilo e confiante.




A entrevista secreta se deu em um dos hotéis internacionais da cidade, todosos quais ficavam sob constante observação do governo. Em uma pequena sala, ocoronel e um outro homem se sentaram sorrindo. “Então,” o coronel disse com uma voz suave, “você pensou sobre minhaoferta?”.




“Eu não vou trabalhar para você, porque isso é contra meus princípios”.




O coronel levantou de sua cadeira em um salto e gritou: “Quais princípiosvocês idiotas estúpidos têm além dos quatro princípios reguladores? Vá emboradaqui, mas tenha certeza que vocês estão acabados!”.




Bhakti Vijnana Goswami caminhou calmamente para fora da sala e foi para oapartamento vazio que um amigo havia lhe dado ali em Moscou. Ele teve para sique tudo ficaria bem, de uma maneira ou de outra.




Festival Fatídico Suas práticas espirituais em casa se tornaram muito mais sérias e intensas, eele decidiu realizar um grande festival em sua casa. O kirtana do festival foigrandioso, exuberante. Bhakti Vijnana Gosvami sentiu-se muito satisfeito porter realizado uma celebração tão grande e importante. Mas, três dias depois,metade dos participantes do festival estavam presos. Os oficiais levaram BhaktiVijnana Gosvami para sua central sob o pretexto de tê-lo como uma testemunhadas acusações contra os devotos. O que eles chamavam de interrogatória era, defato, tortura. Os oficiais recontaram a ele detalhes do festival, incluindo oque havia sido dito por quem, quando e em qual circunstância. Para criar umaatmosfera de medo com o sentimento de que esconder qualquer coisa seria inútil,eles queriam dar a impressão de que eles estavam por toda a parte e sabiam detudo. Após este incidente em 1983, Bhakti Vijnana Gosvami encerrou suas atividadesem Moscou e praticamente correu de Moscou para sua cidade natal para serefugiar nos seus bem-conceituados pai e avô. A incansável mão da KGB oalcançou lá após três dias sob a forma de uma carta exigindo um novo encontro. Toda semana eles exigiam que ele fosse a um novo encontro, onde agentes otorturavam psicologicamente. Ele era bem situado materialmente, e eles sempreameaçavam arruinar sua vida. A situação era assustadora, mas, durante essasseções, a voz doce do mantra viria invariavelmente até ele. O mantra eradiferente da voz de sua própria mente, e tinha poder similar às encorajadoraspalavras de Malini. Assim, em todo encontro com os oficiais da KGB, elecomeçaria muito amedrontado, mas então o mantra vinha e ele ficava calmo aoponto de rir em seu íntimo. Ao mesmo tempo, o interrogador, que antes pareciamuito energético, de repente ficaria tímido e inseguro. Partindo da Rússia




Após quatro seções, Bhakti Vijnana Gosvami decidiu simplesmente não ir maisaos encontros marcados. Para sua surpresa, pelos próximos dois anos ele nãoouviria nada sobre a KGB. Ele estava ensinando sobre Krsna para outras pessoas,distribuindo livros e encontrando com os devotos para discutir sobre Krsna. Eletambém defendeu com sucesso sua tese de doutorado em biologia molecular pelaAcademia Soviética de Ciências. Tudo seguia em paz.




Durante este tempo, um devoto americano, Kirtiraja Dasa, vinha trabalhandopara ajudar os devotos soviéticos. Ele queria que Bhakti Vijnana Gosvamitraduzisse os livros de Prabhupada para a língua russa, porque ele era o maisbem letrado dos devotos. A maior parte das primeiras traduções russas doslivros em Inglês de Prabhupada havia sido feita por devotos com pouco ou muitasvezes nenhum estudo formal de Inglês. Então, alguém fora da Rússia, que sesubmetera a reduzido estudo de Russo, revisava e editava os livros usando umdicionário Inglês-Russo pré-revolução. Os resultados eram muito pobres de umponto de vista literário. Os termos de Prabhupada como, por exemplo, “serviçodevocional ao Senhor” e “servos” se tornaram respectivamente “escravidãodevocional” e “escravos”. Conquanto os livros tivessem esse tipo de problema, efossem muitas fezes feitos à mão – com páginas faltando e com a letra às vezesdifícil de ser decifrada –, muitos aceitaram a Consciência de Krsna em conseqüência da leitura desses livros. Mas Kirtiraja queria levar os livrosrussos a um padrão internacional.




Se Bhakti Vijnana Gosvami permanecesse na Rússia para traduzir, ele estariasob uma constante ameaça de prisão. Para assegurar que a tradução dealta-qualidade poderia continuar ininterruptamente, Kirtiraja queria levarBhakti Vijnana Gosvami para a central da Bhaktivedanta Book Trust da Suécia.Através de várias manobras, incluindo devotos suecos jejuando e protestando dolado de fora da embaixada russa, Bhakti Vijnana Gosvami recebeu autorizaçãopara emigrar para a Suécia, onde ele passou oito anos traduzindo para o Russoos livros de Prabhupada. Hoje Ele é um dos principais líderes espirituais noantigo bloco soviético (ou bloco do leste) e está à frente do projeto do templode Moscou.




As décadas de ateísmo induzido pelo governo do bloco soviético apenasaumentaram a fome da população por vida espiritual. Agora que a cultura deconsumo foi introduzida, a população se tornou frustrada em ambos os lados. Elasabe que tanto o Comunismo quanto o Capitalismo são baseados em mentiras,porque a felicidade material não aumentou. Para encontrar a felicidadeduradoura e sempre-crescente que alma a busca, é preciso ir à fonte de prazer,o Senhor Supremo, Sri Krsna. Devotos como Brahmananda Puri e Bhakti VijnanaGosvami não estão contentes em beber sozinhos nessa fonte. Eles querem levar aoportunidade do serviço amoroso a Krsna a todos aqueles que têm sede porsatisfação plena. Em Oman, olíbanos crescem a partir de pedras sólidas. Aqui naRússia, a mais bela e fragrante planta do amor a Deus cresceu a partir do ferrofrio e fosco. Quem plantou tais sementes?




O Movimento para a Consciência de Krsna da Rússia teve início com a visita detrês dias a Moscou de Srila Prabhupada, onde ele iniciou um único discípulo,Ananta Shanti Dasa. Naquela terra de escassez, onde duas horas de espera por umpouco de pão ou leite era algo comum, as pessoas ansiavam por receber qualquercoisa que alguém estivesse disposto a dar. Assim, Ananta Shanti perguntaria a todos que encontrasse: “Você já tem ummantra?”. Não sabendo o que era um mantra, eles diriam: “Não, eu não tenho isso”.




“Ah, todos os meus amigos já cantam um mantra. Por que você também nãoexperimenta?”.




Em pouco tempo, aqueles que ele induzira a cantar estavam imprimindopanfletos explicando o cantar de um ponto de vista científico, também sereferindo à parapsicologia, ciência muito popular na União Soviética. Pelomenos setenta porcento das pessoas que leram esses panfletos começaram a cantarHare Krsna. O movimento começou a expandir-se.




Hoje, uma visita ao festival anual Hare Krsna da Rússia em setembro o colocaem meio à maior multidão de devotos de todos os festivais da ISKCON. Dentretodas as localidades do mundo, os países do antigo bloco soviético é o localonde o movimento cresce mais rapidamente. É comum que famílias inteiras –filhos já crescidos, pais, avós, tios e tias – decidam devotar juntos suasvidas ao Senhor Krsna. É claro que é extremamente justo que esses devotos, quesacrificaram suas vidas pelo serviço devocional a Senhor, tenham um local deadoração tão grandioso quanto sua dedicação.




Tradução por Bhagavan dasa (DvS)