Abrandando o Enredamento da Existência Material
Por Bir Krishna Das (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização – IBAR. Uberaba, MG. 23/02/2007.
Nesses dias de inicio de ano, vinha meditando sobre o quanto, eu estava ainda mergulhado em consciência material e como é de fato difícil livrar-se de tal condicionamento. Dei-me conta que após sete anos de uma entusiasta sadhana-bhakti (fase pratica do cultivo da devoção ao Senhor Krishna), ainda muito pouco havia suplantado desta consciência mundana – de querer assenhorear-me de todos os recursos a minha volta para meu próprio desfrute sensorial. O que me impedia de certa maneira de me situar de modo mais efetivo em consciência de Krishna (ou divina) que ao contrario da consciência mundana, impulsiona-nos a usar tudo para satisfação da Pessoa Suprema, Sri Krishna. Ademais, percebia nitidamente o quanto esta consciência mundana não me permitia lembrar e perceber Krishna em todas as coisas com as quais entrava em contato.
Mas, ocupando-me regularmente em krishna-katha (a audição dos passatempos transcendentais do Senhor Krishna), obteve pela misericórdia de Krishna uma resposta a minha meditação. O Senhor Krishna mostrou-me que seu discípulo e amigo Arjuna havia tido a mesma preocupação – isto é, como perante a uma atmosfera que leva a grande maioria das pessoas a pensar materialmente como podia ele lembrar de Krishna? Na realidade, como disse Srila Prabhupada: “A esta altura do seu colóquio com o Senhor Krishna, Arjuna estava convencido de que seu amigo, Krishna, é a Divindade Suprema, mas ele queria conhecer o processo geral pelo qual o homem comum pode perceber a onipresença do Senhor”. Assim, Arjuna disse:
katham vidyam aham yogims
tvam sada paricintayan
kesu kesu ca bhavesu
cintyo si bhagavan maya
(Bg. 10.17).
“Ó Krishna, ó místico supremo, como devo pensar constantemente em Ti, e como devo conhecer-Te? Quais as Tuas varias formas que devem ser lembradas, ó Suprema Personalidade de Deus?”. Logo no inicio do seu significado para este verso, Srila Prabhupada alerta-nos que a Suprema Personalidade de Deus, Sri Krishna é coberta por Sua yoga-maya (energia ilusória) e só as almas rendidas e os devotos puros podem vê-lo. Essas palavras logo remeteram-me a uma maravilhosa oração do Sri Isopanishad, onde o devoto implora fervorosamente a misericórdia do Senhor para que levante o véu (tejah – refulgência) que lhe cobre o semblante, dando-lhe olhos de ver.
pusann ekarse yama surya prajapatya
vyuha rasmin samuha
tejo yat te rupam kalyana-tamam
tat te pasyami yo sav asau purusah so ham asmi
(Sri Isopanishad, mantra 16).
“Ó meu Senhor, filósofo primordial, mantenedor do Universo, ó principio regulador, destino dos devotos puros, benquerente dos progenitores da humanidade, por favor, remove essa refulgência, teus raios transcendentais, para que eu possa ver Tua forma de bem-aventurança. O Senhor é a Suprema Personalidade de Deus eterna, parecida como o Sol, como eu”. Essa oração me apontou nitidamente a posição que devia adotar para abrandar minha mentalidade materialista crassa. Abrandar, segundo o dicionário Aurélio, significar dizer tornar brando, suavizar, amolecer. Usei essa palavra no titulo deste artigo para lembrar a mim mesmo o quanto este enredamento na existência material é forte, e, dar-me conta que libertar-se do mesmo é um processo gradativo e suave e que acima de tudo devemos contar com a misericórdia de Krishna, pois, Ele é o senhor desta yoga-maya que se interpõe entre nós e Ele. E, portanto, Krishna pode ordenar a esta senhora impetuosa (yoga-maya) que pare definitivamente de exercer sua força coerciva e ilusória sobre nós.
O fato, neste verso do Bhagavad-gita, objeto deste artigo, que deve merecer a nossa apreciação, como diz Srila Prabhupada, é que: “estas perguntas de Arjuna são para pessoas mergulhadas em consciência mundana. E que Arjuna sendo um devoto puro se preocupa não só com a compreensão por ele obtida, mas com a compreensão que toda a humanidade pode obter. Então Arjuna, por sua misericórdia, por ser um vaisnava, está desvendando para o homem comum, a compreensão acerca da onipresença do Senhor Supremo”. Alguém poderá perguntar em que consiste esta natureza onipresente do Senhor? Ele mesmo a define nos dois versos finais deste décimo capitulo do Bhagavad-gita.
yad yad vibhutimat sattvam
srimad urjitam eva va
tat tad evavagaccha tvam
mama tejo-mas-sambhavam
(Bg. 10.41).
“Fica sabendo que todas as criações opulentas, belas e gloriosas emanam de uma mera centelha do Meu esplendor”. E o Senhor Krishna conclui após descrever longamente e em minúcia sua onipresença, onipenetrância, a Arjuna:
atha va bahunaitena
kim jnatena tavarjuna
vistabhyaham idam krtsnam
ekamsena sthito jagat
(Bg. 10.42).
“Mas qual a necessidade, Arjuna, de todo esse conhecimento minucioso? Com um simples fragmento de Mim mesmo, Eu penetro e sustento todo este Universo”. De modo pratico, qual fora então a orientação do Senhor Krishna a Seu amigo e discípulo Arjuna para perceber e apreciar-lhe a Sua onipresença e conseqüentemente suplantar a consciência mundana? Srila Prabhupada resume a orientação do Senhor Krishna do seguinte modo: “Porque não podem compreender Krishna espiritualmente, os materialistas são aconselhados (pelo Senhor Krishna) a concentrar a mente nos elementos físicos para tentarem ver como Krishna manifesta-se nas representações físicas”.
Assim, para abrandar definitivamente meu condicionamento material, passei a apreciar as varias formas que o Senhor Krishna havia apontado a Arjuna para poder se lembrar e pensar nEle constantemente e conseqüentemente conhecê-lo. Portanto, passei a ver o Senhor Krishna no Sol radiante, num belo luar, nas belas chamas do fogo, nas montanhas imponentes, no vasto oceano, na gigantesca figueira-de-bengala, num belo cavalo, na força viva do elefante, na bela serpente, no senhor dos mares, o temido tubarão, em todos os rios, principalmente o Ganges, na realeza do leão, na singularidade de cada estação do ano, na morte que tudo devora, no sexo que procria, na linguagem afável, memória, inteligência, firmeza e paciência das mulheres. Por saber que o Senhor Krishna é tudo isso, mas principalmente por ouvi-lo dizer: yajnanam japa-yajno smi (Bg. 10.25) – “Dos sacrifícios, sou o cantar dos santos nomes (japa)”, eu continuo ocupando-me em sadhana-bhakti, cantando hare krishna, hare krishna, krishna krishna, hare hare/ hare rama hare rama, rama rama, hare hare, na certeza que no devido tempo, pela graça do Senhor, o condicionamento material que agora me parece intransponível e exerce uma pressão muito grande sobre mim será mitigado e já não terá mais influência em minha vida.
HARE KRISHNA
Este espaço visa exclusivamente informar aos vaisnavas e pessoas interessadas sobre a filosofia e cultura védica.
Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Jagad Guru Srila Prabhupada
segunda-feira, 2 de abril de 2007
Seguir os Passos dos Acharyas Anteriores

Seguir os Passos dos Acharyas Anteriores
Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização – IBAR. Uberaba, MG. 23/03/2007.
Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização – IBAR. Uberaba, MG. 23/03/2007.
O acharya, através do seu próprio exemplo de vida, ensina a sua realização pessoal da verdade absoluta – Deus. Como bem salienta o ditado popular, mais vale um exemplo do que mil palavras. Srila Rupa Goswami em seu Upadeshamrta – um pequeno manual de instrução para o aspirante à senda espiritual, recomenda sato-vrtteh, seguir os passos dos acharyas anteriores. A este respeito, Srila Prabhupada costumava sempre alertar, seguir o acharya, não significa imitá-lo. Com isso, Srila Prabhupada incentivava todos a buscarem compreender a natureza essencial da realização espiritual do acharya. No Bhagavad-gita, o próprio Senhor Krishna aponta diversos desses aspectos. Mas dentro dos limites deste artigo, me contentarei em apresentar apenas um deles, o que será suficiente para posicionar-nos corretamente na operacionalização desta recomendação escritural - sato-vrtteh. Neste caso, o que seguir e como seguir? Assim, o Senhor Krishna declara:
vita-raga-bhaya-krodha
man-maya mam upasritah
bahavo jnana-tapasa
puta mad-bhavam agatah
(Bg. 4.10).
“Estando livre do apego, do medo e da ira, estando plenamente absortas em Mim e refugiando-se em Mim, muitas e muitas pessoas no passado purificaram-se através do conhecimento a respeito de Mim – e com isso todas alcançaram transcendental amor por Mim”. Trocando isso em miúdos, para buscarmos compreender como salientado anteriormente os aspectos fundamentais da realização espiritual do acharya, é preciso entender que semelhante grande alma é:
1. desapegada, isto é, está sempre situado além do conceito de vida corpóreo que deixa a grande maioria de nos identificados e confusos, ansiando o tempo todo por coisas materiais;
2. destemida, porque confia plenamente na proteção do Senhor Krishna em todas as circunstâncias;
3. firmemente situado além do jugo da ira e seus correlatos que a psicologia moderna chama das paixões irracionais como inveja, luxuria, gula, preguiça etc, denominados na teologia cristã como os sete pecados capitais;
4. constantemente absorta e busca sempre refugio no santos nomes do Senhor – hare krishna, hare krishna, krishna krishna, hare hare/ hare rama hare rama, rama rama, hare hare, meditando neles vinte quatro horas por dia.
Por ter a vida alicerçada nestes quatro aspectos, o acharya ergue-se à plataforma última de auto-realização, alcançando perfeito e pleno conhecimento acerca da Suprema Personalidade de Deus, Sri Krishna, e absorve-se em amor puro a Ele. Isso resume para nós, o que seguir e como seguir o exemplo de vida do acharya. Para nos auxiliar nesta empreitada, Srila Rupa Goswami, em seu famoso compendio Bhakti-rasamrta-sindhu (1.4.15-16), a ciência do serviço devocional aponta a escada que conduz a realização de Deus cujos degraus são estes, comentados pessoalmente por Srila Prabhupada:
* sraddha ( fé ), no começo, é preciso ter um desejo preliminar de auto-realização;
* sadhu-sanga (associação), com isto, o indivíduo sentir-se-á inclinado a associar-se com pessoas espiritualmente elevadas;
* bhajana-kriya (iniciação), na fase seguinte, ele é iniciado pelo mestre espiritual elevado, e, sob a sua instrução, o devoto neófito começa o processo do serviço devocional;
* anartha-nivrtih (purificação), pela execução do serviço devocional sob a orientação do mestre espiritual, ele se livra de todo o apego material;
* nistha (estabilidade), assim alcança firmeza na auto-realização;
* ruci (sabor), e adquire gosto por ouvir sobre a Absoluta Personalidade de Deus, Sri Krishna;
* saktis (apego), este gosto continua propiciando o seu avanço, e ele então desenvolve apego à consciência de Krishna;
* bhava (êxtase), este apego ao amadurecer, manifesta-se em constante absorção nesta fase preliminar do transcendental amor a Deus;
* prema (amor puro), o verdadeiro amor por Deus chama-se prema, a mais elevada etapa de perfeição de vida. Na fase prema, há uma constante ocupação no transcendental serviço amoroso ao Senhor. Então, pelo prolongado processo do serviço devocional, sob a instrução do mestre espiritual autêntico, é possível alcançar a fase mais elevada, livrando-se de todo o apego, deixando de ter medo de adquirir a sua própria personalidade espiritual individual e eliminando as frustrações que resultam em filosofia vazia. Então, atinge-se por fim a morada do Senhor Supremo.
Srila Prabhupada trilhou este caminho como acharya, apesar de ser uma alma eternamente liberada que adveio só para incutir em nossos corações krishna-prema, amor puro a Suprema Personalidade de Deus, Sri Krishna. Srila Prabhupada, para nos deixar como legado, o seu próprio exemplo de vida, percorreu degrau por degrau esta escada apontada por Srila Rupa Goswami sob a cuidadosa orientação de Sua divina Graça Om Vishnupada Paramahamsa Parivrajacacharya Astottara-sata Sri Srimad Bhaktisiddhanta Sarasvati Goswami Maharaja Prabhupada. Portanto, cantemos um hino a seu louvor, seguindo-lhe sempre os passos, e assim sermos bem sucedidos no caminho de volta ao Supremo.
nama om vishnu-padaya krsna-presthaya bhuta-le
srimate bhaktivedanta-svamin iti namine
namas te sarasvate deve goura-vani-pracharine
nirvisesha –sunyavadi-paschatya-desha-tarine
“Ofereço minhas respeitosas reverências à Sua Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, que é muito querido pelo Senhor Sri Krishna, pois se refugiou em Seus pés de lótus. Dirigimos a ti nossas respeitosas, ó mestre espiritual, servo de Sarasvati Goswami. Estás bondosamente pregando a mensagem do Senhor Chaitanyadeva e libertando os países
ocidentais, que estão cheios de impersonalismo e niilismo”.
HARE KRISHNA
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