Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

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Jagad Guru Srila Prabhupada

sábado, 6 de outubro de 2007

Humilde e Bem Consigo Mesmo - Humble and Feeling Good


Originalmente publicado na edição americana de Volta ao Supremo [Back to Godhead] no ano de 2007

Humilde e Bem Consigo Mesmo

Humble and Feeling Good



Por Archana Siddhi Devi Dasi

tradução Bhagavan Das (DVS)

Como terapeuta familiar, eu aconselho tanto pessoas do movimento Hare Krsna como pessoas de fora dele. Recentemente, recebi um e-mail de uma jovem devota que estava infeliz em seu casamento, devido à postura abusiva que seu esposo possuía, mas que estava em conflito quanto a deixá-lo.

“Talvez seja bom que eu me sinta mal comigo mesma”, ela escreveu, “porque isso me fará desenvolver humildade”.

Não foi esta a primeira vez que ouvi essa lógica. O Bhagavad-gita ensina que humildade é essencial para o progresso espiritual. Algumas vezes, os devotos, infelizmente, pensam que sentir-se mal é um pré-requisito para a humildade.

Diversas vezes me deparo com devotos se complicando com o conceito de auto-estima. Tendo lido as orações de santos de nossa linha, eles, algumas vezes, pensam que seus sentimentos deveriam se enquadrar nas declarações auto-depreciativas de tais grandes almas. Por associarem baixa auto-estima com avanço espiritual, tais devotos podem perpetuar por toda a vida o sentimento de estarem mal consigo mesmos. Eles podem acabar por atrair pessoas para suas vidas que lhes tratarão de acordo com a maneira com que eles mesmos se sentem e se percebem.

A confusão começa por tentar igualar sentimentos que vêm de nosso ego puro com sentimentos que vêm de nosso ego material, ou falso. As grandes almas expressam sentimentos que nascem do ego espiritual puro, sentimentos não contaminados pelos modos da natureza material. Quando eles se sentem, nas palavras do Senhor Caitanya, “mais baixos que a palha na rua”, é uma emoção plena de prazer. O devoto puro vê a grandeza do Senhor e enxerga a todos como mais qualificados do que ele próprio. Eles estão imbuídos de amor e apreciação por toda a criação de Krsna.

Bhaktivinoda Thakura, um excelso mestre Vaisnava, escreveu belas canções expressando sua atração e amor por Krsna, músicas sobre alcançar a meta do coração – amor incondicional pelo Senhor – e canções auto-depreciativas, nas quais ele lamenta sua falta de devoção. Como uma alma pura, ele expressa seu apego e amor pelo Senhor e, ao mesmo tempo, sua angústia de sentir-se desqualificado e sem esperança de atingir tal amor. Esses são sentimentos autênticos que nascem da humildade e de apego e amor pelo Senhor.

Reconhecendo Nossas Falhas

Nas primeiras fases de nossa jornada espiritual, talvez experimentemos rapidamente essas emoções pelo fato de Krsna estar preparando o terreno de nossos corações para cultivar nossa devoção. Eu me lembro de uma importante experiência que tive antes de me tornar devota. Eu tinha grande dificuldade de aceitar críticas e achava que minha opinião era absolutamente certa. Essa mentalidade criou-me inúmeros problemas, tanto na área profissional quanto pessoal. Por meses, eu contestei as recomendações de meu supervisor quanto a como fazer meu trabalho como diretora residente de um alojamento universitário. Minha obstinação estava tornando meu trabalho muito difícil, e eu estava aflita por isso. Finalmente, um dia, eu tive a poderosa realização de que eu estava errada. Não só estava errada quanto a esse problema em particular, mas em relação a várias outras coisas.

É-me impossível descrever o quão libertador foi para mim aceitar minha natureza falível. Eu não precisava mais carregar o peso de estar sempre certa em relação a tudo. Eu me senti pequena, mas ao mesmo tempo muitas possibilidades se abriram para mim. Pela primeira vez na minha vida adulta eu pude ver meu autoritarismo assumir uma posição verdadeiramente submissa. Essa mudança de postura mental me preparou para tomar refúgio em meu mestre espiritual e nos devotos. Krsna nos ajuda a ficarmos livres por um instante do falso-prestígio para que possamos, como encorajamento, provar a doçura da humildade.

Algumas vezes, todavia, quando ainda estamos contaminados pelos modos da natureza material e identificados com nosso corpo e mente materiais, sentir-se inferior à palha na rua pode nos tornar desmotivados, entediados ou deprimidos. Esses sentimentos, então, impedem nossas praticas devocionais. Nós temos que julgar se, para nossa psique específica, tal psicologia é de fato favorável à consciência de Krsna ou se é um impedimento naquele momento. Paradoxalmente, muitas pessoas precisam desenvolver um saudável ego material antes de transcendê-lo e realizar seu ego espiritual.

Eu ouvi uma vez um palestrante motivacional dizer que as pessoas com auto-estima saudável pensam menos em si mesmas, e não menos de si mesmas. Quando nos sentimos bem quanto a nós mesmos, podemos devotar mais tempo e energia doando-nos aos outros, ao invés de absorvermo-nos em auto-piedade. Alta auto-estima também nos dá a liberdade para agirmos de acordo com nossos valores e convicções. Quando nos sentimos mal conosco mesmos, às vezes fazemos coisas para agradar ou apaziguar aos outros. Em um esforço para satisfazer o desejo dos outros, podemos acabar sendo influenciados a fazer coisas conflitantes com as nossas crenças e valores.

Sentindo-se Digno e Qualificado

Nathaniel Branden, um famoso psicólogo, define auto-estima como “a disposição de sentir-se bem consigo mesmo, qualificado a lidar com os desafios básicos da vida e como sendo digno de ser feliz”. Como esses aspectos da auto-estima – auto-conhecimento e amor próprio – têm relação com a consciência de Krsna? Krsna quer que todas as almas aprisionadas no mundo material sejam pacíficas e felizes. A vida humana nos possibilita a oportunidade de ocuparmos nossos talentos e habilidades no serviço ao Senhor. Quando nos oferecemos a servir ao Senhor, sentimos grande alegria. Um amigo, certa vez, deu ao meu esposo um quadrinho com os dizeres: “O que você é é um presente de Deus para você, e o que você se torna é seu presente para Deus”.

Além de confundirem humildade com baixa auto-estima, os devotos às vezes correlacionam o conceito de auto-estima com orgulho e egoísmo. Mas é, de fato, o contrário. Pessoas que exibem alta auto-estima também exibem uma atitude mais humilde perante os outros. Eles são mais inclinados a admitir e corrigir erros, enquanto que pessoas com baixa auto-estima são muitas vezes defensivas e têm a necessidade de provarem que estão certas.

Em uma famosa história do Mahabharata, Krsna encontrou certa vez com Yudhisthira Maharaja e Duryodhana. Desejando glorificar Seu devoto Yudhisthira, Krsna pediu a ele que encontrasse uma pessoa inferior a ele, e pediu ao pecaminoso Duryodhana para que procurasse uma pessoa mais gloriosa do que ele. Yudhisthira tinha todas as boas qualidades. Ele era pacífico e auto-satisfeito. Sem dúvida, ele possuía uma saudável auto-estima. Mesmo assim, ele não conseguiu encontrar ninguém mais inferior a ele. Mais uma vez, aqui se tem o exemplo de uma Vaisnava avançado que possui humildade genuína.

Por outro lado, o perverso Duryodhana procurou por todo o seu reino o dia todo e não conseguiu encontrar ninguém que ele considerasse superior a si mesmo. Duryodhana estava contaminado com orgulho e vaidade. Ele invejou e ofendeu grandes almas. Ele vivia em constante ansiedade para manter sua posição, sempre tentando eliminar seus competidores. Sua auto-estima dependia de fatores externos como posição e poder, e assim ele não conhecia tal coisa como paz interior. Ele era atormentado por sua própria luxúria e ambição.

Orgulho Versus Auto-estima

Pensar em si mesmo como grandioso é orgulho, não auto-estima. Uma pessoa com alta auto-estima demonstra humildade. A perfeição da auto-estima é percebida em pessoas completamente livres do falso ego, nas quais a humildade é produto da realização espiritual.

Em nosso estado condicionado, possivelmente nos identificaríamos mais com a mentalidade de Duryodhana do que com a de Yudhisthira Maharaja. Mas com o progresso na jornada espiritual, começamos a nos ver de forma diferente. Quanto mais realizamos não sermos o executor independente, mas o instrumento, mais saudável nossa auto-estima se torna. Na vida material, os modos da bondade, paixão e ignorância nos influenciam. Esses modos se misturam e competem entre si para moldar nossa mente, incluindo o modo como nos sentimos em relação a nós mesmos.

Pessoas no abismo do modo da ignorância se sentem felizes e bem em relação a si mesmas quando seus sentidos estão satisfeitos. Pessoas imersas no modo da paixão estão felizes e bem consigo mesmas quando outros valorizam e reconhecem suas atividades. Nesses modos inferiores, nossa idéia de eu oscila o tempo todo.

Pessoas no modo da bondade são felizes e sentem-se bem em relação a si mesmas quando agem em conhecimento, de acordo com seus códigos e valores. Elas são menos reativas a estímulos externos, assim, a auto-estima de tais pessoas depende mais de sua própria vida interior. Consequentemente elas têm mais controle sobre como se sentem.

Pessoas em bondade pura, percebem a si mesmas como instrumentos do Senhor. Elas não se identificam mais como o agente de suas atividades.

O Exemplo de Prabhupada

Nosso mestre espiritual, Srila Prabhupada, demonstrou alta auto-estima. Embora de baixa estatura, ele parecia grande para nós. Ele sempre mantinha sua cabeça alta e se movia com objetivo e confiança. Ele falava de forma direta, com convicção e coragem. Suas ações eram intrépidas e ousadas e, mesmo assim, ele tinha uma atitude humilde, sabendo que seu sucesso era devido à providência do Senhor. Sua humildade é exemplificada em suas orações a bordo do navio quando ele estava vindo pela primeira vez aos Estados Unidos da Índia:

“Ó Senhor, sou como uma marionete em Suas mãos. Então, se me trouxeste aqui para que eu dance, faze-me dançar, faze-me dançar, ó Senhor, faze-me dançar como quiseres. Não tenho nenhuma devoção, nem tampouco conhecimento, mas tenho grande fé no santo nome de Krsna. Fui designado como Bhaktivedanta, e agora, se assim quiseres, podes cumprir o verdadeiro propósito Bhaktivedanta.”

Com grande humildade, Prabhupada finaliza sua carta, assinando como “o mais desafortunado e insignificante mendigo, A. C. Bhaktivedanta Swami”.

Se por um lado essas preces demonstram que Prabhupada se sentia muito baixo, por outro lado ele confiava poder fazer qualquer coisa com a misericórdia do Senhor. A oração também nos dá a chave para desenvolvermos a mais pura qualidade devocional: fé no Santo Nome. Quanto mais forte a nossa fé na capacidade de purificação dos Santos Nomes, maior será nossa dedicação ao processo de cantar. Nós cantaremos com o máximo foco e atenção e evitaremos cuidadosamente as ofensas capazes de retardar nosso progresso espiritual.

Ficamos menos propensos a explorar os outros ao vermos a nós mesmo como servos, realizando a natureza espiritual – nossa e a dos outros – como servos de Deus. Somos gloriosas centelhas de energia espiritual dotadas de todas as boas qualidades, embora sintamo-nos pequenos na presença do mais glorioso, nosso Senhor. Com esse verdadeiro conhecimento, a alma pura pode ter alta auto-estima e humildade simultaneamente.

Após ter compartilhado alguns desses pontos com a jovem que havia me enviado sua pergunta por e-mail, ela me escreveu de volta: “É um grande alívio entender estes pontos a partir dessa perspectiva. Agora compreendo que não tenho de continuar convivendo desonrosamente com todo o tipo de abusos para tornar-me espiritual”.

Ela então me sugeriu a escrever um artigo sobre o tema para a revista “Volta ao Supremo”. Eu aceitei a sugestão de todo o coração, uma vez que outros devotos já haviam feito perguntas similares ao longo dos anos. Espero que o artigo seja útil para todos.

Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

É Hora de Dirigir-se Aquele que Sabe



É Hora de Dirigir-se Aquele que Sabe


Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização – IBAR. Uberaba, MG. 30/09/2007.


A busca pela emancipação espiritual é sem duvida uma tarefa que requer maestria, perícia e acima de tudo um vasto conhecimento. Muitos enveredam por este caminho, uns tentando criar um processo pessoal de auto-realização, outros optam pela especulação filosófica, há também os que se submetem a grandes austeridades, etc. Embora todas essas pessoas sejam almas sinceras em seus esforços, elas na sua grande maioria acabam malogrados e frustradas, retornando a plataforma do gozo sensorial ou concluindo que Deus não existe, engrossando assim a legião de ateístas convictos. Na realidade a quase totalidade destas pessoas iludidas se esquecem que o caminho do dharma (dos princípios que nos restituem a nossa consciência divina) são enunciados diretamente pelo Senhor (dharmam tu saksad bhagavat-pranitam, SB 6.3.19). Uma coisa é certa, há um princípio que segue sempre valido e atual: se desejarmos ter êxito em qualquer campo da atividade humana, é preciso dirigirmo-nos a autoridade competente e obter dele o conhecimento necessário que nos capacite devidamente para seremos bem sucedidos em nossa empreitada. Às vezes, infelizmente, chegamos tardiamente a esta conclusão, quando vemos todos nossos esforços de muitos anos caírem por terra, e então somos forçados a admitir que é hora de dirigir-se aquele que sabe. No Bhagavad-gita, Arjuna se vê diante de um dilema insolúvel para suas limitadas capacidades intelectuais, e apresenta um vasto repertorio de sólidos argumentos diante do Senhor Krishna para desistir do seu dever de ter de travar uma batalha contra seus próprios entes queridos. Porém, finalmente ele percebe que a única alternativa que lhe resta é aceitar o Senhor como mestre espiritual, para que este lhe dê uma solução definitiva que alivie o seu sofrimento. E assim, Arjuna admite:

karpanya-dosapahata-svabhavah
prcchami tvam dharma-sammudha-cetah
yac chreyah syan niscitam bruhi tam me
sisyas te ham sadhi mam tvam prapanam
(Bg. 2.7).

“Agora, estou confuso e sinto meu coração afligido por sintomas de fraqueza que se apoderam de uma pessoa avarenta. Nesta condição, estou Te pedindo que me digas com certeza o que é melhor para mim. Eis que sou Teu discípulo e uma alma rendida a Ti. Por favor, instrui-me”. Me permiti neste artigo alterar a tradução original da primeira sentença deste verso para mostrar efetivamente o drama emocional vivido por Arjuna neste exato momento, pois, sabe-se que a pessoa avarenta mesmo dispondo de fartos recursos financeiros, se recusa em utilizá-los mesmo diante de uma emergência por recear desfazer-se dos seus bens. Srila Prabhupada traduz a primeira sentença de modo um pouco diferente e deixa para retomar esta linha de raciocínio que empreguei na mesma sentença em seu significado para o mesmo verso quando nos oferece uma definição do krpana, ou avaro, que consta do texto do Brhad-aranyaka Upanishad (3.8.10): “Avaro é aquele que, estando na plataforma de vida humana, não resolve os problemas da vida e então deixa este mundo com uma consciência rudimentar, sem compreender a ciência da auto-realização”. Uma pessoa com consciência rudimentar se preocupa somente com as necessidades atávicas, isto é, comer, dormir, abrigar-se, acasalar-se, defender-se e temer. Nesta visão rasteira da existência, ela nem sequer tem um vislumbre do que o propósito da vida vai além desta limitada e árdua luta pela sobrevivência.

Neste sentido, os textos védicos preconizam que uma vez que nos encontramos na plataforma de vida humana é hora de indagar acerca de Deus e para tanto devemos buscar o auxilio de um mestre espiritual que integra a corrente de sucessão discipular para alcançarmos o propósito de vida. Arjuna reconheceu sua limitação e conseqüentemente se rendeu ao Senhor Krishna de quem ouviu o Bhagavad-gita e assim superou o equivoco que o paralisava no cumprimento do seu dever como guerreiro. O que o leva a declarar: “Meu querido Krishna, ó pessoa infalível, agora minha ilusão se foi. Por Tua misericórdia, recuperei minha memória. Agora me sinto firme e não tenho dúvidas e estou preparado para agir segundo Tuas instruções”(Bg. 18.73). Semelhantemente no momento em que reconhecermos sinceramente a nossa incapacidade em superar sozinho as coercivas leis da natureza material que nos mergulham no esquecimento de nossa posição constitucional, como almas eternas e servas do Senhor Krishna, esta é a hora de nos dirigirmos aquele que sabe. Como conclui Srila Prabhupada de modo sucinto e conciso: “Ninguém deve, portanto, permanecer nas perplexidades materiais, mas a todos convém aproximar-se de um mestre espiritual”.



HARE KRISHNA