Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Maior do que Deus Greater than God





Do site Krsna.com




Maior do que Deus Greater than God

por Nagaraja Dasa

Srila Prabhupada às vezes contava histórias sobre um rei da Bengala e seu
bobo da corte, Gopal Ban.

Uma manhã, quando Gopal chegou para o divertimento diário do rei, o rei lhe
perguntou: “Gopal, o que lhe separa de um completo idiota?”.

Supondo a distância entre ele e o rei, Gopal respondeu: “Senhor, cerca de
três passos”.

O rei riu ruidosamente, mesmo que a piada fosse com ele.

Srila Prabhupada contava essa história para mostrar que, embora Deus receba a
mais alta honra e respeito, Ele desfruta em assumir o papel de subordinado. Ele
se satisfaz mais com relacionamentos íntimos do que com formais.

Em outra história que ilustra o mesmo ponto, Srila Prabhupada contava de um
primeiro ministro britânico que, uma vez, deixou um convidado esperando do lado
de fora de sua sala enquanto brincava de “upa cavalinho” com seu neto.

Os seguidores do Senhor Caitanya vasculharam as escrituras Védicas para
elaborarem a mais extensa e completa descrição de Deus. Em outros lugares,
talvez aprendamos sobre a onipotência de Deus, mas, na tradição da consciência
de Krsna, aprendemos sobre a personalidade de Deus – em detalhes espantosos. É
como a diferença de conhecer um juiz na corte e conhecê-lo em casa.

Deus em Sua majestade é Deus no trabalho; Krsna é Deus em casa.

O Senhor Caitanya nos ensinou a termos a aspiração de estar com Krsna em Sua
morada eterna, na atmosfera pura e relaxante de Vrndavana. Embora temor e
reverência permeiem outras partes do mundo espiritual; em Vrndavana, o amor é
tudo. Os devotos de Krsna lá não sabem, ou não se importam, com o fato dEle ser
Deus. Eles O amam, e isso é tudo. E estão ansiosos por servi-lO mais e mais.

Nós, almas infinitesimais, somos todos servos eternos de Deus. Não há como
abandonarmos esse papel; é nossa natureza. Podemos servir Deus de bom grado,
como devotos, ou de mau grado, servindo Sua energia ilusória enquanto
contrariadamente envelhecemos, adoecemos, morremos e assim por diante. Em nosso
estado de rebeldia, a idéia de servidão parece repulsiva. Mas as almas puras no
mundo espiritual sabem que o serviço é fonte de bem-aventurança sem paralelo.
Por quê? Porque, simplesmente, os residentes de Vrndavana servem Krsna sendo
Seus amigos, parentes, anciãos respeitáveis e assim por diante. O que poderia
ser melhor do que isso? Eles O servem através de suas relações com Ele, porque
é isso que Ele quer.

Assim como nós gostamos de desfrutar de relacionamentos variados, Deus também
gosta. Um marido e uma mulher podem estar felizes com a companhia um do outro,
e podem ter relacionamentos com amigos, subordinados e superiores, mas, ainda
assim, eles decidem ter filhos para criarem novos relacionamentos.

Porque Krsna é ilimitado, Ele gosta de desfrutar de um ilimitado número de
relacionamentos, cada um sendo único. Cada um de nós tem um relacionamento
único com Krsna, revelado quando nosso amor por Ele se torna maduro. Os
relacionamentos entre Krsna e Seus eternos associados são livres das misérias
que assolam os relacionamentos análogos neste mundo material. No mundo
espiritual, todas as trocas amorosas emanam do amor puro e são, portanto,
perfeitas.

Enquanto os impersonalistas querem se tornar unos com Deus, os devotos podem
obter a posição de serem maiores do que Deus. Na intimidade do amor puro, eles
podem dizer a Deus o que Ele deve fazer, e Ele adora ouvir tais comandos.

Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Cantar e Estudar

Cantar e Estudar
Definição:
Carta enviada por Srila Prabhupada à J.F.Staal em 15/02/70:"...Quanto ao Bhagavad Gita 9.14,

Kirtayantah certamente significa glorificar, cantar, recitar e conversar, como o Senhor disse; mas glorificar, cantar ou recitar sobre quem?Certamente que é sobre Krsna.A palavra usada a este respeito é Mam ["a Mim"].Portanto, nós não discordamos quando uma pessoa glorifica Krsna, como Sukadeva Goswami fez no Srimad Bhagavatam.Isto também é Kirtanam.A mais elevada entre todas as literaturas védicas é o local adequado para tal glorificação do Senhor Supremo, Krsna, e isso deve ser bem entendido pelo verso:"Ó homens expertos e pensativos, saboreai o Srimad Bhagavatam, o fruto maduro da árvore dos desejos das literaturas védicas.Ele emanou dos lábios de Sri Sukadeva Goswami.Portanto, este fruto tornou-se ainda mais saboroso, embora seu suco nectáreo já fosse saboroso para todos, inclusive as almas liberadas." Srimad Bhagavatam 1.1.3Sri Caitanya Caritamrta Adi 2.117siddhanta baliya citte na kara alasaiha ha-ite krsne lage sudrdha manasa"Um estudante sincero não deve negligenciar a discussão de tais conclusões, considerado-as controversas, porque tais discussões fortificam a mente.Desta forma, a mente torna-se atraída à Krsna."Significado por Srila Prabhupada"...Se devido a preguiça uma pessoa não compreende Krsna conclusivamente, esta mesma pessoa será desviada do culto da devoção,......Para criar esta mudança no coração, as discussões conclusivas sobre Sri Krsna e Suas potências é algo absolutamente necessário....Da mesma forma, outros falsos devotos pensam que estudar os livros dos Acaryas prévios é desaconselhável, comparando-os a filosofias secas empíricas.Mas Srila Jiva Goswami, seguindo os Acaryas prévios, colocou as conclusões das escrituras nas seis teses chamadas Sat Sandarbhas."Portanto:Vaisnava = Aquele que Simultaneamente Canta e Estuda "Existe uma seita de Kaivalyanath Ram Thakur, que diz a seus seguidores para cantarem Hare Krsna e nada mais.Eles nunca falam sobre a Filosofia - a sua resposta as questões são inevitavelmente "Simplesmente Cante Hare Krsna"Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakur explica:Devemos estudar o Vedanta?"Devemos estudar o Vedanta, mas não devemos discutir o comentário de Sankaracarya.Receberemos um grande benefício se estudarmos o Vedanta com a ajuda do Sribhasya ou do Govindabhasya.O Srimad Bhagavatam é o comentário original do Vedanta Sutra.Devemos estudar o Vedanta sob a guia do Srimad Bhagavatam.O Vedanta aborda tópicos acerca de cantar o Santo Nome do Senhor.Devemos estudar o Vedanta e também cantar o Santo Nome de Hari."As escrituras são iguais ao Senhor?"Sastra é directamente o Senhor Krsna.É Sua encarnação. O Senhor Krsna pessoalmente manifestou-se neste mundo na forma do Sastra para prover-nos com aquilo que precisamos.sastra-guru-atma'-rupe apanare jananakrsna mora prabhu, trata'jivera haya jnana"As almas condicionadas esquecidas são educadas por Krsna através da literatura Védica, do mestre espiritual realizado e através da Superalma.Através destes, pode-se entender a Suprema Personalidade de Deus como Ele é..."(Cc Madhya 20.123)Se nós tentamos estudar o Sastra perdidos em especulação mental, seremos enganandos.O Sastra revela o seu tesouro somente para as almas rendidas.Pessoas orgulhosas do seu conhecimento não podem entender o verdadeiro significado do Sastra."No "Amrta Vani", Srila Bhaktisiddhanta responde a seguinte pergunta:O que é um especulador mental?"Especuladores mentais são aqueles que ousam atacar a Verdade Absoluta num humor de desafio.Especulação mental, o caminho da argumentação, é o oposto do que é ensinado no Bhagavad Gita (4.34) jnaninas tattva darsinah.Existem dois tipos de pessoas, aqueles que tornam-se inclinados em direcção a Krsna por ouvir de um mestre espiritual autêntico o qual glorifica a Verdade Absoluta,e aqueles que querem desafiar a Verdade Absoluta transcendental utilizando a força do conhecimento que adquiriram através dos seus sentidos.Os primeiros pertencem ao caminho descendente autorizado da sucessão discipular,e os segundos pertencem ao caminho da argumentação.Aquilo que é aceito diretamente é o caminho da sucessão discipular, e aquilo que é aceito indiretamente é o caminho da argumentação.Os cinco tipos de trabalho filosófico (Darsanas) são baseados no argumento.Somente o Vedanta Darsana aceita o caminho autorizado da sucessão discipular.Os Vaisnavas não confundem as coisas e não falam a partir da sua imaginação.Muito pelo contrário, eles encaminham as pessoas para os pés de lótus do Guru.Além disso, a Verdade Absoluta não requer e nem necessita do desafio de ninguém."Caitanya Caritamrta Adi 7.72:"Especuladores filosóficos que querem fazer da filosofia Vedanta uma carreira acadêmica, são considerados como estando dentro da energia material.No entanto, uma pessoa que sempre canta o Santo Nome do Senhor, já está além do oceano de ignorância, e portanto mesmo uma pessoa nascida em família inferior que se ocupa em cantar o Santo Nome do Senhor é considerada como estando além do estudo da Filosofia Vedanta.O Srimad Bhagavatam explica:"Se uma pessoa nascida numa família de comedores de cachorro, canta o Santo Nome de Krsna, deve-se compreender que em vidas passadas deve ter executado todos os tipos de austeridade e penitência e executado todos os Yajnas Védicos." (SB 3.33.7)"Uma pessoa que canta as duas silabas Ha-ri já estudou os quatro Vedas, Sama, Rk, Yajuh e Atharva."Tomando vantagem destes versos,alguns sahajiyas, que consideram tudo de uma forma muito barata, consideram-se eles mesmos Vaisnavas muito elevados, e não preocupam-se em sequer tocar no Vedanta Sutra ou na filosofia Vedanta.No entanto, um verdadeiro Vaisnava estuda a filosofia Vedanta. Mas se após estudar a filosofia Vedanta não canta o Santo Nome do Senhor, não é melhor que um Mayavadi......o Senhor Caitanya exibiu Seus conhecimentos do Vedanta nos Seus discursos com Prakasananda Sarasvati......Um devoto tem de saber da importância de simultaneamente entender a filosofia Vedanta e de cantar o Santo Nome.Devotos baratos (sahajiyas) não se importam de estudar a filosofia Vedanta como comentada pelos Quatro Acaryas.Na Gaudiya Sampradaya existe um comentário do Vedanta chamado Govinda Bhasya, mas os sahajiyas consideram este comentário como uma especulação filosófica intocável, e consideram os Acaryas como sendo devotos mistos..."Srila Prabhupada Ki Jaya!!!Nesta passagem Srila Prabhupada está a explicar que existem aqueles que estão interessados unicamente no Vedanta e não cantam Hare Krsna.Por outro lado, existem aqueles que estão interessados unicamente em cantar Hare Krsna e não estudam as escrituras devocionais.No livro "Apasampradayas" de Suhotra Prabhu ele conta:"Existe uma seita de Kaivalyanath Ram Thakur, que diz a seus seguidores para cantarem Hare Krsna e nada mais.Eles nunca falam sobre a Filosofia - a sua resposta as questões são inevitavelmente "Simplesmente Cante Hare Krsna"Srila Prabhupada conclui:"...Um devoto tem que saber da importância de simultaneamente entender a filosofia Vedanta e cantar o Santo Nome."Não é preciso nenhuma qualificação acadêmica ou dispender algum dinheiro para cantar Hare Krsna e estudar profundamente o Srimad Bhagavatam.Os únicos requisitos necessários são humildade e submissão ao Guru, ao Maha Mantra Hare Krsna e ao Srimad Bhagavatam.

Referência: Prahladesh Dasa

Site relacionado: www.bhakti-tattva.blogspot.com

Diferentes Humores - Do livro "Ética para o Novo Milênio


Diferentes Humores
Do livro "Ética para o Novo Milênio", SS Dalai Lama, Círculo de Leitores,1999, páginas128, 130,131.


"É um facto triste na História da Humanidade que a Religião tenha sido uma tão grande causa de conflitos.Ainda hoje indivíduos são mortos, comunidades destruídas e sociedades desestabilizadas como resultado do fanatismo e inimizade religiosa.Não é de espantar que muitos ponham em questão o papel da religião na sociedade humana." "Em relação à afirmação de cada uma como sendo a "verdadeira religião". Como resolver esta dificuldade? É verdade que, do ponto de vista do praticante, um compromisso total com a sua fé é necessário.Também é verdade que esta afirmação é o resultado da convicção profunda que cada indivíduo tem que o seu caminho é o mediador exclusivo da verdade.Mas ao mesmo tempo temos que encontrar a forma de conciliar esta crença com o facto de existirem inúmeras reinvindicações semelhantes.


Em termos práticos, isto implica que os praticantes encontrem uma maneira de, pelo menos, aceitar a validade dos ensinamentos das outras religiões, embora continuando a manter um compromisso total com a sua fé.Quanto à validade das verdades metafísicas pregadas por cada religião, penso que se trata de um assunto interno de cada religião." "... a diversidade existente entre as várias tradições religiosas é uma grande riqueza.Por conseguinte, não é necessário arranjar maneira de dizer que no fundo todas as religiões são iguais.São semelhantes na medida em que todas sublinham a importância do amor e compaixão no contexto da disciplina ética.Mas esta afirmação não significa que todas sejam uma em essência.Apesar das muitas semelhanças práticas que sem dúvida existem, a concepção totalmente oposta da criação e do sem-começo que o budismo, o cristianismo e o hinduísmo têm, por exemplo, significa que num dado ponto, no que toca às afirmações metafísicas, eles se afastam. Estas contradições podem não ser importantes nos estados iniciais da prática religiosa mas, à medida que avançamos no caminho de uma dada tradição, há sempre uma dada altura em que somos forçados a reconhecer as diferenças fundamentais. Por exemplo, o conceito de renascimento no budismo e em várias outras tradições indianas antigas, podem revelar-se imcompatíveis com a idéia de salvação do cristianismo.Mas isto não tem de ser causa de desalento.


Mesmo no seio do budismo, no campo da metafísica, há pontos de vista diametralmente opostos." Fim da citação. Com a permissão dos Vaisnavas e Vaisnavis. A associação entre diferentes denominações religiosas dentro do Gaudiya Vaisnavismo ou fora dele podem e devem ocorrer. Mas sem imposições. Nós temos um amigo zen budista e uma amiga cristã não fundamentalisrta.Quando eles vêm a nossa casa, nós cantamos Hare Krsna e então eu ou minha espôsa lemos um verso do Bhagavad Gita ou do Srimad Bhagavatam e o significado de Srila Prabhupada..Eles sabem que nós pertencemos a uma determinada Instituição dentro do Gaudiya Vaisnavismo.Nós explicamo-lhes isto. E eles não tentam impor nada.Da mesma forma, quando vamos a casa deles participamos dos rituais deles e não tentamos impor nada. Cá em Portugal existe a segunda maior Comunidade Hindu fora da India, depois da Inglaterra. Eles tem um Templo enorme chamado Templo Radha Krsna.Também cá em Portugal existe um lugar muito importante para os Católicos chamado Fátima, aonde Nossa Senhora de Fátima manifestou-se para 3 pastorzinhos..


Certa vez, o Pujari da Comunidade Hindu do Templo Radha Krsna foi visitar Fátima, e no meio do Santuário realizou sem a autorização de ninguém um Arotik completo para Nossa Senhora.Isto gerou bastante desconforto para a comunidade Católica de Portugal.Posteriormente, o Pujari desculpou-se, e agora continua a visitar Fátima sem problemas. Recentemente o Papa Bento XVI ao visitar um Pais muçulmano, participou nas cerimônias em uma mesquita sem interferir.Também o fez numa Igreja Ortodoxa. Certa vez, um discípulo de Bhaktivedanta Swami deixou a associação dos devotos e alguns meses mais tarde voltou.Havia tornado-se cristão.Pediu a Srila Prabhupada para morar novamente no Templo mas gostaria de no Templo continuar suas práticas pessoais.Srila Prabhupada disse que ele teria que seguir o programa do TemploAlgum tempo depois este discípulo foi embora.


Podemos dizer que Srila Prabhupada não foi misericordioso? Srila Prabhupada era muito misericordioso e também muito cuidadoso em relação ao Sincretismo Religioso. O discípulo poderia associar-se com os devotos mas para viver entre eles teria que seguir o programa estabelecido. Na minha singela opinião, quando vamos a uma Igreja, Mesquita, Stupa, Sinagoga ou Matha que não seja a nossa devemos ir para ouvir e respeitar os rituais, mestres e diferentes humores das mesmas.


Vosso servoPrahladesh Dasa

Da Moralidade à Espiritualidade - From Morality to Spirituality





Artigo originalmente publicado em Back to Godhead [Volta ao Supremo] – Revista fundada por Srila Prabhupada no ano de 1944.




Da Moralidade à Espiritualidade
From Morality to Spirituality




Por Chaitanya Charana Dasa



Não faltam notícias falando sobre corrupção, nepotismo ou infidelidade. Os políticos dizem, "Uma educação ética e moral é a solução". Mas a maior parte das pessoas já não têm o errado como certo? Eu diria que sim. Elas acham que vão se dar melhor na vida se não seguirem códigos morais. E exortações por parte dos moralistas, ou legislações por parte dos políticos, não parecem inspirar essas pessoas a pensarem diferente.
Viver sob princípios morais é como seguir as leis de trânsito para se ter uma viagem segura e tranqüila. Não se viaja, todavia, com o propósito de se seguir as leis, mas com o propósito de alcançar um destino. Se uma pessoa que está viajando sente que as leis de trânsito atrapalham-no a alcançar seu destino, ela talvez quebre essas leis se acredita que pode ficar impune. Assim como as leis de trânsito, princípios morais promovem ordem, especialmente no âmbito das relações sociais. Mas a educação moderna não nos ensina sobre o objetivo das transações sociais ou sobre o objetivo da vida em si. Assim, as pessoas talvez sigam valores morais motivadas pela cultura ou tradição, mas abandonam estes valores quando seduzidas por algo ou quando as circunstâncias não forem muito favoráveis. Ainda pior, para se obter as incessantemente glorificadas metas da sociedade moderna de consumo - fama, riqueza, luxo, poder, prazer, prestígio - encoraja-se, e às vezes até mesmo se exige, um comportamento imoral. O Bhagavad-gita (16.8-15) explica que uma visão de mundo baseado no materialismo conduz a pessoa à luxúria insaciável e à cobiça, que, por sua vez, conduzem à execução de atos corruptos. Sendo constantemente bombardeadas com os valores materialistas, as pessoas talvez sintam que, se forem morais, perderão muito e não ganharão nada tangível. Além do mais, nossa educação sem valores religiosos não nos dá nenhum conhecimento acerca de qualquer lei superior a do homem. E a incapacidade de reformação de nosso sistema penal também é bem famosa. O resultado? A moralidade parece ser totalmente dispensável, especialmente para os espertos e poderosos. Em tal contexto, como podemos esperar que um simples conselho inspire as pessoas a serem morais?



Amor: A Base da Moralidade



"Moralidade significa falta de oportunidade". Este ditado americano expressa bem a abordagem utilitária da moralidade. Os textos Védicos da antiga Índia afirmam que moralidade sem espiritualidade é algo infundado e, portanto, impermanente. Se nós realmente aspiramos por moralidade em nossa sociedade, precisamos introduzir uma educação sistemática centrada em uma meta de vida positiva. Os textos Védicos nos informam de uma meta de vida espiritual que é universal e não-sectária: desenvolver amor puro por Deus. Somos todos seres espirituais destinados a desfrutar de nossa eterna relação amorosa com o supremo ser espiritual todo-atrativo, Deus. Sendo espirituais por natureza, não podemos encontrar verdadeira felicidade em aquisições materiais, mas unicamente em nosso inato amor por Deus. Quanto mais amamos Deus, mais felizes nos tornamos.
O amor por Deus tem por conseqüência o amor por todas as entidades vivas, sendo essas nossos irmãos e irmãs na grande família universal de Deus. Quando realmente amarmos todos os seres, não iremos querer explorá-los ou manipulá-los para a satisfação de nossos desejos egoístas. Ao contrário, nosso amor por Deus irá nos inspirar a nos amarmos e a nos servirmos mutuamente: criando uma cultura de amor e confiança, que traz o comportamento moral consigo. Já a cultura moderna de alienação e desconfiança, em grande contraste, traz a imoralidade consigo.



Práticas espirituais genuínas, mesmo nos primeiros dias de prática, despertam nosso inato sistema de valores. Nós intuitivamente realizamos que Deus é nosso maior bem-querente. Por conseqüência, de forma voluntária e amorosa, escolhemos seguir os princípios morais da vida espiritual, como sugeridos por Deus, sabendo que são o melhor para nós. E à medida que redescobrimos a felicidade de se amar a Deus, tornamo-nos livres da luxúria, da cobiça e das motivações egoístas. Já não mais achamos faltar algo porque somos morais. A moralidade deixa de ser a escolha "difícil mas necessária", e passa a ser a escolha fácil e natural no nosso caminho de amadurecimento espiritual.



Não se Trata de uma Utopia



Alguns talvez digam, "Isso soa muito bonito, mas não é científico, é utópico". Em outras palavras, vivemos em uma era em que apenas a visão de mundo prática e científica é considerada lógica e aceitável. Mas seria a visão de mundo Védica realmente ilógica e impraticável?
Nós temos sempre que lembrar que a ciência nunca provou a não-existência de Deus ou da alma; mesmo que muitos cientistas escolham a reducionista abordagem do universo como algo destituído de qualquer realidade espiritual. Mas de uma forma um tanto impressionante, mesmo dentro dessa priori reducionista, alguns cientistas aceitam que há fortes evidências que sugerem a existência de um criador supra-inteligente (Deus) e uma fonte de consciência não-material dentro do corpo (alma).
O amor por Deus só pode parecer utópico até o momento em que não conhecemos a coerente filosofia que traça o caminho para sua aquisição. Através de práticas espirituais genuínas, como orações, meditação e o cantar dos nomes de Deus, qualquer um pode experimentar um grande crescimento espiritual. Uma vez que tenhamos experimentado amor imortal, realizaremos que o amor é definitivamente a meta última da vida.



Moral Superior



Alguém que conheça alguns episódios da vida de Krsna e de Seus devotos talvez levante a objeção: "Mas o próprio Krsna, algumas vezes, age de forma imoral. E igualmente agem seus devotos. Como é possível que a adoração a um Deus imoral ajude-nos a nos tornamos morais?".
Para entender isso, precisamos, primeiramente, tecer algumas considerações acerca do propósito último de todos os valores morais. Estamos perdidos na escuridão da ignorância do mundo material, sem saber o que devemos fazer e o que não devemos fazer. Como um archote, os valores morais iluminam nosso caminho. Eles nos protegem de nos perdermos pelo caminho, e nos mantêm na direção de nosso objetivo maior - amar a Krsna e retornar a Ele. Mas Krsna é a fonte de toda a moralidade, assim como o sol é a fonte de toda a luz. Porque Ele é plenamente auto-satisfeito, Ele age unicamente por amor a nós, sem nenhuma mácula de egoísmo. Ele age ou para reciprocar nosso amor ou para ajudar-nos a não nos desviarmos de nosso caminho religioso. Ele não precisa de códigos morais porque não tem sequer o menor vestígio de desejos egoístas. Somos nós quem precisamos de códigos morais, exatamente porque estamos cheios de desejos egoístas. Mas se nos tornamos orgulhosos de nossa moralidade e tentamos examinar Krsna a partir dela, isso é como tentar iluminar o sol usando uma tocha. Isto não só é tolice, mas também perda de tempo.
Quando o sol nasce por seu próprio arranjo, sua refulgência revela toda a sua glória. Similarmente, quando Krsna decide se revelar espontaneamente, podemos entender como são imaculadas Suas glórias e moral. Até lá, o melhor a fazermos é seguirmos escrupulosamente os códigos morais para darmos prazer a Ele, até que, estando satisfeito, Ele se revele a nós. E devemos, também, tomar cuidado para não nos tornarmos orgulhosos de nosso comportamento adequado.
Se aceitarmos a posição de Krsna como o Senhor Supremo, podemos entender um pouco sobre como Suas atividade são morais. Krsna, por exemplo, rouba manteiga das casas das vaqueiras de Vrndavana. Mas como se pode considerá-lO um ladrão quando foi Ele quem criou tudo e portanto é o proprietário de tudo? Ele assume o papel de uma criança para reciprocar o amor maternal de Seus devotos. Seus furtos, executados como a diversão de uma criança travessa, aumentam o apego e afeto de Seus devotos amorosos. Como isso pode ser comparado aos nossos furtos, que têm por conseqüência o sofrimento, a dor e a punição?
De forma similar, Krsna aceita o papel de um belo jovem para reciprocar o amor dos devotos que anseiam por uma relação conjugal com Ele. Seu amor pelas gopis, as jovens vaqueirinhas, não é baseado na beleza de seus corpos, mas na devoção de seus corações. Algumas pessoas alegam que os passatempos de Krsna com as gopis são como as relações luxuriosas entre garotos e garotas comuns. Mas, então, por que grandes santos que renunciaram completamente o amor sexual deste mundo, aceitando-o como insípido e grosseiro, iriam adorar os passatempos de Krsna com as gopis. Mesmo hoje, milhares de pessoas ao redor de todo o mundo estão se livrando dos desejos luxuriosos por cantarem os nomes de Krsna e por adorá-lO. Se Krsna fosse controlado pela luxúria, como seria possível para Ele livrar Seus devotos da mesma?
Na batalha contra os Kauravas, Krsna insta os Pandavas a agirem imoralmente Mas isso é como uma autoridade instar um policial a exceder o limite de velocidade para que ele prenda bandidos que estão dirigindo acima do limite develocidade. O policial está (aparentemente) infringindo a lei para servir ao verdadeiro objetivo da lei. Similarmente, os Pandavas quebram valores morais para servirem ao objetivo superior de Krsna: estabelecer leis morais tirando os imorais Kauravas do poder.
Em circunstâncias excepcionais, os devotos de Krsna talvez tenham que agir de forma aparentemente imoral para cumprirem seu dever, que visa o benefício último de todas as entidades vivas. Mas, de forma geral, os devotos seguem códigos morais como uma oferenda devocional a Krsna. De fato, sem devoção, nós não teríamos a força interior necessária para manter por toda a vida os valores morais que aceitamos.
Nós temos que ser cautelosos ao tentarmos entender as ações de Krsna, que estão acima da moralidade. De outra forma, nós podemos entendê-lO errado e rejeitar Seu amor, condenando-nos, assim, a ficarmos longe da verdadeira moral e a sofrermos as reações karmicas provenientes de nossas compreensões equivocadas.
Se queremos ser morais de forma constante, exortações vazias e uma legislação ineficaz não bastam. Enquanto se incentivar às pessoas a conquistarem metas materiais, elas verão a moralidade como algo imprático ou até mesmo indesejável. Apenas quando tomarem o amor por Deus como a meta da vida é que a moralidade se tornará desejável e coerente. Portanto, em um nível sociológico, temos que introduzir a prática e a educação espiritual genuína, que conduzirá as pessoas ao amor por Deus e a objetivos interiores. E, em um nível individual, reconhecer a base espiritual da moralidade é algo muito motivador. Essa consciência permite-nos agir livre da necessidade de aprovação de outros, da apatia ou da indignação por ser o único a agir corretamente. Em um tecido cancerígeno, uma célula saudável pode ativar o processo de cura das demais. Similarmente, quando o câncer da imoralidade aflige a sociedade moderna, cadaum de nós pode, por conduzir sua própria vida de forma espiritual e íntegra, ativar o processo de cura da sociedade.



Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

sábado, 19 de janeiro de 2008

A GRANDE FUGA DE SANATANA



A GRANDE FUGA DE SANATANA




Sanatana Gosvami afastou-se de seu posto de ministro no governo Muçulmano na Bengala do século XVI, tendo decidido dedicar sua vida à missão de Sri Caitanya Mahaprabhu. O Nawab, ou governador, aprisionou Sanatana, irado com sua resignação. Ouvimos, agora, como Sanatana conheceu o Senhor Caitanya em Varanasi (Uttar Pradesh) e contou sua fuga da prisão e sua jornada pela Bengala.Sanatana Gosvami entrou na cidade de Varanasi no princípio da primavera de 1514. Tendo viajado por trilhas na floresta e estradas abandonadas pela Bengala e por Bihar, ele vestia roupas velhas e rasgadas. Seu longo cabelo, barba e bigode estavam bagunçados e empoeirados, e ele carregava uma cuia de esmolas em sua mão.
Feliz ao ouvir que o Senhor Caitanya Mahaprabhu havia chegado de barco em Allahabad, Sanatana foi até a casa de Candrashekhara, onde o Senhor estava hospedado, e sentou-se junto à porta de entrada.Sri Caitanya Mahaprabhu pôde entender que Sanatana estava do lado de fora.“Candrashekhara” , Ele disse, “há um Vaisnava, um devoto Hare Krsna, à sua porta. Por favor, vá e convide-o a entrar”.Candrashekhara foi lá fora para ver e, não vendo nenhum Vaisnava, voltou.“Mas há alguma pessoa lá fora?”, o Senhor perguntou.“Só um mendicante muçulmano”, Candrashekhara respondeu.“Por favor, traga-o aqui”.Voltando imediatamente à porta, Candrashekhara falou a Sanatana.“Caro mendicante muçulmano”, ele disse, “tenha a bondade de entrar. O Senhor está lhe chamando”.Satisfeito com esse convite, Sanatana entrou na casa, onde o Senhor Caitanya levantou-se prontamente para abraçá-lo, dar-lhe as boas-vindas e oferecer um acento ao Seu lado.
O Senhor Caitanya é a Suprema Personalidade de Deus fazendo o papel de Seu próprio devoto. Em ambas as posições, como Senhor e como devoto, Ele estava ávido por dar as boas-vindas a Seu visitante Vaisnava. Apesar dos protestos de Sanatana, Ele glorificou a influência santa de Sanatana como superior até mesmo a lugares sagrados como Varanasi. O Senhor citou um verso do Srimad-Bhagavatam (1.13.10): “Santos como você são em si mesmos lugares de peregrinação. Por causa de sua pureza, eles são companhias constantes do Senhor, e, portanto, podem purificar até mesmo os locais de peregrinação”.Poucas semanas atrás, Sri Caitanya Mahaprabhu havia se encontrado com o irmão de Sanatana, Rupa Gosvami, em Allahabad.
O Senhor havia instruído Rupa acerca da evolução da alma, primeiramente através de espécies materiais de vida neste universo e, então, sua evolução depois de estar de volta ao céu espiritual. Pelos próximos dois meses em Varanasi, o Senhor Caitanya iria desenvolver esses e outros temas em Seus ensinamentos a Sanatana Gosvami. Ele descreveria como o Senhor Supremo Se expande para presidir individualmente todos os inumeráveis planetas espirituais e para criar e governar os universos materiais. Ele informaria Sanatana sobre a localização e dimensão dos planetas espirituais e sobre as atividades e identidade de seus habitantes com a mesma precisão que se pode descrever os continentes e nações desta terra. E Ele delinearia a rota direta do cosmos material temporário e escuro até aqueles destinos espirituais auto-refulgentes e livres de nascimentos e mortes com a mesma clareza e detalhes dos mais modernos mapas de estradas e guias de viagem atuais.Apesar da exaltada e revolucionária natureza desses tópicos transcendentais, todavia, o Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu estava curioso por ouvir sobre as recentes viagens e aventuras de Sanatana.“Como você escapou da prisão?”, o Senhor ansiosamente perguntou, e Sanatana, com muita satisfação, contou sua história do começo ao fim.Afortunado CarcereiroSanatana contou como, amarrado com correntes de ferro na prisão de Chika Mosjud, próxima a Ramakeli, Bengala, ele recebera uma bilhete de Rupa, seu irmão mais novo.“Meu querido Sanatana”, Rupa Gosvami escrevera, “deixei uma quantia de dez mil moedas de ouro com um mercador local. Use aquele dinheiro para sair da prisão e venha encontrar o Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu em Mathura e em Vrndavana”.Para encorajar Sanatana ainda mais, Rupa incluiu em seu bilhete um belo e misterioso verso em sânscrito:yadu-pateh kva gata mathura-puriraghu-pateh kva gatottara- koshalaiti vicintya kurusva manah sthiramna sad idam jagad ity avadharaya
“Para onde foi a cidade de Mathura conhecida como Yadupati? Para onde foi a província da Koshala do norte, Raghupati? Refletindo, a mente se torna estável, pensando: ‘Este universo não é eterno’.”Yadupati é um nome do Senhor Krsna, e Raghupati é um nome do Senhor Ramacandra. Muito tempo atrás, Eles apareceram nesta terra e atuaram como seres humanos, exibindo Seus eternos passatempos na cidade de Mathura e na província de Koshala respectivamente. Agora, Eles haviam aparecido novamente como o Senhor Caitanya Mahaprabhu para libertarem os prisioneiros desta vida material neste universo temporário; e o Senhor Caitanya já estava em Seu caminho para Mathura, acompanhado por Rupa Gosvami.
Extasiado com o bilhete, Sanatana se dirigiu ao carcereiro muçulmano, um conhecido seu do tempo do governo, um homem simples com pouca educação ou instrução espiritual. Invocando as habilidades diplomáticas desenvolvidas durantes seus anos como primeiro ministro do Nawab, Sanatana começou a satisfazer o humilde guarda com bendizeres.“Caro senhor”, Sanatana começou, “você é uma pessoa muito afortunada, um santo em vida, e um erudito versado no conhecimento do Corão e livros similares. Então, você deve saber que se você libera um prisioneiro, de acordo com os princípios de sua religião, você é abençoado pelo Senhor Supremo”.Tocado pelas palavras agradáveis de seu colega de governo, o carcereiro não pôde negar que ele era, de fato, um erudito e santo. Ele ouvia com grande atenção enquanto Sanatana continuava, frisando a longa amizade entre eles, e pedindo que ele o libertasse como um favor pessoal.“Anteriormente, eu fiz muito por você”, Sanatana disse. “Agora eu estou em dificuldade. Por favor, libertando-me, devolva a felicidade de minha vida”.
Sanatana adoçou a amizade entre eles com uma oferta de cinco mil moedas de ouro. Aceitando o ouro e liberando um prisioneiro inocente, Sanatana explicou a seu amigo carcereiro que ele acumularia tanto atividades piedosas quanto riquezas materiais. Ele teria o melhor dos dois mundos.“Por favor, escute-me caro senhor”, o carcereiro disse ansioso. “Eu quero muito deixá-lo ir, porque você fez muito por mim quando trabalhávamos juntos para o governo. Mas eu temo o que Nawab fará quando souber que você está livre. Eu terei de explicar. O que eu direi?”.Sanatana tinha uma história.“Não há perigo”, ele assegurou a seu amigo. “O Nawab partiu para o sul para conquistar Orissa. Se ele voltar, diga a ele que Sanatana foi fazer suas necessidades próximo da margem do rio Ganges e, que quando ele viu o Ganges, pulou imediatamente dentro dele. Diga a ele: ‘Eu procurei por um longo tempo, mas não pude encontrar nenhum sinal dele. Ele pulou com suas algemas e afogou-se, levado pela correnteza’.”“E não se preocupe”, Sanatana adicionou. “Ninguém irá me encontrar. Eu me tornarei um mendicante e irei para a cidade sagrada de Mecca”.
Assim, o carcereiro tinha uma desculpa para o Nawab, uma desculpa religiosa para sua própria consciência, e uma promessa de cinco mil moedas de ouro. Ele ainda estava ansioso e indeciso, quando Sanatana subiu sua oferta para sete mil moedas de ouro e lentamente as derramou do saco perante o guarda. Vendo a pilha de ouro reluzente crescer diante de seus olhos, o carcereiro finalmente aceitou. Naquela noite, ele quebrou as correntes que prendiam Sanatana e o deixou escapar pelo Ganges.Jornada PerigosaEmbora ele tivesse ficado ainda com três mil moedas de ouro, e tivesse centenas de quilômetros para viajar da Bengala em direção a Mathura e Vrndavana, Sanatana deixou para trás todo o ouro e partiu a pé, observando o papel de um pedinte. O dinheiro comprara sua liberdade para servir o Senhor Caitanya, mas ele não tinha nenhum interesse em gastar o dinheiro para comprar uma viagem confortável ou algo do tipo. Como um prisioneiro fugitivo, bem como um homem famoso, Sanatana tinha de evitar ser notado.
Usando estradas abandonadas e trilhas, ele se manteve afastado da rodovia oficial conhecida como “o caminho das muralhas” [way of the ramparts], que o Nawab havia fortificado contra invasões.Um servo chamado Ishana acompanhou Sanantana, e, apesar das evidentes precauções de seu mestre, Ishana secretamente carregava oito moedas de ouro. Cruzando o que é hoje conhecido como a província de Bihar, Sanatana e Ishana chegaram a uma área montanhosa conhecida como Patada e pararam em um pequeno hotel, onde o ouro demonstrou-se quase fatal. O dono do hotel ficou sabendo das oito moedas através de um vidente perito e planejou roubar e matar seus dois hóspedes. Ele, então, demonstrou aparente respeito e preocupações com suas necessidades, fornecendo comida para que eles cozinhassem e prometendo guiá-los pelas montanhas.
Sanatana foi até o rio para se banhar e, uma vez que ele não se alimentava há dois dias, ele cozinhou e comeu sua refeição. Mas ele estava desconfiado. Como ministro de Nawab, ele conhecera muitos diplomatas e manipuladores. Ali estava um dono de hotel, um completo estranho, dando a ele tratamento real, embora ele e Ishana parecessem indigentes.“Ishana”, Sanatana perguntou, “eu acho que você deve ter alguma coisa valiosa consigo”.“Sim, eu tenho sete moedas de ouro”, Ishana admitiu, mostrando parcialmente sua riqueza.Sanatana ficou irritado e começou a censurar seu servo.“Por que você carrega esses comensais da morte?”Pegando as sete moedas, Sanatana foi até o dono do hotel com as moedas na mão.“Por favor, fique com essas sete moedas”, Sanatana pediu, “e nos ajude a cruzar as montanhas. Eu sou um preso político em fuga e não posso viajar pelo caminho das muralhas. Seria muito piedoso da sua parte aceitar esse dinheiro e me conduzir por entre as montanhas”.A combinação de ouro e sentimentos religiosos mais uma vez relevou-se efetiva.
O hoteleiro confessou saber que Ishana tinha oito moedas em seu bolso e que planejara matar a ambos.Agora, recusando-se a aceitar as moedas por vergonha e embaraço, como pedido de desculpe, ele ofereceu conduzir Sanatana pelas montanhas gratuitamente.“Não”, Sanatana respondeu. “Se você não aceitar essas moedas, outra pessoa me matará por elas. É melhor você me salvar desse perigo”.O acordo tendo sido firmado, o hoteleiro contratou quatro seguranças, que escoltaram por toda a noite Sanatana e Ishana pelas montanhas através de uma trilha na floresta. Sanatana então mandou Ishana voltar para casa com a moeda de ouro que Ishana tentara esconder, e viajou sozinho, vestindo roubas maltrapilhas, carregando uma cuia de esmolas e deixando para trás as preocupações que lhe acompanhavam a cada passo.
O Encontro com SrikantaApós muito caminhar, Sanatana chegou uma noite a uma pequena cidade chamada Hajipura e sentou-se em uma praça florida. Por coincidência, um cavalheiro chamado Srikanta, o esposo da irmã de Sanatana, estava em Hajipura a serviço do governo. O Nawab havia dado a Srikanta 300.000 moedas de ouro para comprar cavalos. Sentado em um assento elevado, fazendo seus negócios, Srikanta viu de relance Sanatana e, mais tarde, naquela noite, foi vê-lo. Os dois velhos amigos conversaram ao longo da noite, e Srikanta ouviu tudo sobre a prisão e fuga de Sanatana. Vendo Sanatana, o antigo primeiro ministro, naquela situação de pobreza, Srikanta ficou aflito e pegou-se pensando em como ajudá-lo.
Dono de uma grande fortuna em ouro, certamente ele poderia ajudar o irmão de sua esposa a começar uma nova vida.“Por que não fica aqui comigo por alguns dias”, Srikanta incitou Sanatana. “Você pode se livrar dessas roupas sujas e se vestir como um cavalheiro novamente”.Em sua viagem para se encontrar com o Senhor Caitanya, Sanatana já havia superado um ambicioso carcerário e um hoteleiro assassino, além de evitar, a todo tempo, os soldados e agentes do Nawab. Agora, ali, um obstáculo ainda mais formidável se apresentava: um amigo querido e parente próximo oferecendo dinheiro. Sanatana agradeceu a Srikanta, mas recusou sua oferta.“Eu não posso continuar mais aqui”, Sanatana disse. “Por favor, ajude-me a cruzar o Ganges para que eu possa partir daqui”.Insistindo que Sanatana levasse ao menos um valioso cobertor de lã, Srikanta o ajudou a atravessar o Ganges e, com afeição sincera, contemplou-o indo embora.Limpo como um VaisnavaSanatana deixara Srikanta em Hajipura poucos dias atrás. Agora, sentado ao lado do Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu na casa de Candrashekhara, em Varanasi, ele sentia felicidade ilimitada. Após ouvir sobre as aventuras de Sanatana, o Senhor Caitanya, por sua vez, narrou Seu recente encontro com o irmão de Sanatana em Allahabad. Então, Ele pediu a Sanatana para se banhar e fazer a barba antes de tomarem prasadam, e pediu a Candrashekhara para providenciar roupas novas a Sanatana.
A aparência desmazelada de Sanatana era compreensível considerando as circunstâncias de sua viagem, mas o Senhor Caitanya queria que Seus seguidores se vestissem como cavalheiros. Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada, escrevendo no começo dos anos 70, explica: “Por causa de seu cabelo longo, bigode e barba, Sanatana Gosvami parecia um hippie. Como Sri Caitanya Mahaprabhu não gostou das características hippies que Sanatana Gosvami trazia, Ele pediu a Candrashekhara para barbeá-lo e deixá-lo com boa aparência. Se qualquer pessoa com cabelo grande e barba quiser entrar para o movimento da consciência de Krsna e viver conosco, ele deve se limpar de forma similar”.Embora Candrashekhara tenha lhe oferecido trajes novos, Sanatana pediu um dhoti usado no lugar, então rasgou o dhoti ao meio para fazer dois dothis a partir daquele.
Um brahmana maharastriyan, que mais tarde organizaria o encontro do Senhor Caitanya com os sannyasis de Varanasi, convidou Sanatana a fazer todas as suas refeições com ele. Novamente, Sanatana recusou educadamente, preferindo evitar refeições completas, e humildemente mendigar um pouco de comida de porta em porta. A renúncia de Sanatana foi algo extraordinário e não pode ser imitada como uma regra. Ele estava determinado a abandonar toda opulência material. Mesmo o novíssimo cobertor de lã de Srikanta tinha que ir embora. Sanatana foi até a beira do Ganges e persuadiu um surpreso mendigo Bengali a ficar com o cobertor de lã em troca de sua remendada colcha de mendigo.
Observando todas essas mudanças, e vendo, por fim, que até mesmo o valioso cobertor havia sido rejeitado, o Senhor Caitanya tornou-se ilimitadamente feliz e disse a Sanatana Gosvami: “O Senhor Krsna mui misericordiosamente anulou todo o seu apego a coisas materiais. Por que, então, Ele permitiria que você mantivesse consigo aquele valioso cobertor, seu último fragmento de apego material? Após eliminar uma doença, o bom médico não deixa nenhuma remanente dela”.Nos dias que se seguiram, o Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu, satisfeito com Sanatana Gosvami, começou a falar com ele sobre a verdadeira identidade, qualidades transcendentais e atividades eternas do Senhor Sri Krsna. Sanatana, livre de seu último vestígio de apego material, estava plenamente preparado a ouvir.

por Mathuresha Dasa


Postado por Rasananda Dasa Swami

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Divorciando-nos da Filha do Tempo - Divorcing the Daughter of Time




Do site Krsna.com

Divorciando-nos da Filha do Tempo - Divorcing the Daughter of Time

por Ananta-Shakti Dasa


A busca do homem pelo elixir da imortalidade continua, e a velhice continua atacando suas esperanças.

Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonito do que eu?

"Certamente existem muitas pessoas mais bonitas do que eu", penso quando vejo um rosto feio e carrancudo refletido no espelho de meu banheiro. Ao que os anos vão passando, papadas vão crescendo ao redor dos olhos, varizes descolorem a pele que antes era lisa e bela, e os dentes são uma preocupação constante. Nas prateleiras das farmácias, há tonificantes para pessoas acima dos quarenta, e tônicos para a cura da queda de cabelo - apenas poucos exemplos de tudo o que querem vender.

A velhice, a "filha do tempo", ataca-nos a todos, quer gostemos quer não. Essa senhorita, não muito benquista, é assistida por muitas criadas, como a surdez, a artrite e a senilidade. Seu primeiro olhar sobre nós altera nosso caminhar e afrouxa a nossa pele. Esforçamo-nos em vão tentando impedir seus avanços com cirurgias estéticas e transplantes de órgãos. Senhoras com implante capilar vermelho e máscaras de pó de arroz escondem peritamente os odores do corpo com pesadas essências, e vestem luvas e jóias brilhantes para conduzirem nossos olhos para longe de sua pele seca.

Ah... Tudo isso é vaidade, uma triste máscara para a velhice. Ela é incansável
e nos coagi a nos rendermos a suas sempre-crescentes demandas, até que, como
vítimas desamparadas, somos facilmente entregues nas mãos da morte.

Não há nada mais efetivo do que a velhice para desfazer o mito da juventude
eterna neste mundo. Mesmo o yogi, que graças ao controle respiratório vive por
centenas de anos - ele, também, terá eventualmente que abandonar sua roupagem
mortal.

Ainda assim, apenar dos fatos serem como são, a aspiração pela juventude eterna é intrínseca a todos nós, assim como a doçura está presente em cada grão de açúcar.

A juventude eterna, então, seria um sonho impossível, algo idealizado por desespero? A resposta perfeita é dada pela pessoa perfeita - o Senhor Krsna, Deus em pessoa. No Bhagavad-gita (2.20), o Senhor Krsna se dirige a Arjuna, Seu querido amigo e devoto:

na jayate mriyate va kadacin
nayam bhutva bhavita va na bhuyah
ajo nityah shashvato 'yam purano
na hanyate hanyamane sharire

"Para a alma, não há, em tempo algum, nascimento ou morte. Ela não passou a existir, não passa a existir, nem passará a existir. Ela é não-nascida, eterna, sempre-existente e primordial. Ela não morre quando o corpo morre".

Os termos jovem e velho se referem unicamente ao corpo temporário, e não à alma. Aquele que se livra da consciência corpórea pode conhecer a natureza sempre-jovem da alma.


A chave para se obter tal desejado estado de consciência é entender que, como almas espirituais, somos eternas partes fragmentárias da alma espiritual suprema, o Senhor Krsna, e que nossa relação natural com Ele é de serviço devocional. Quando agimos com essa consciência, podemos desfrutar de felicidade ilimitada em relação com o Senhor Supremo.

O Senhor Krsna, embora a pessoa mais velha, é celebrado como nava-yauvana, eternamente jovem. Ele é Govinda, aquele que dá prazer aos sentidos, e Ele é Adi-purusha, o desfrutador original. Assim, Krsna é a fonte da juventude que ansiamos beber. Se fazemos parte de Seu serviço amoroso, especialmente através do cantar de Seus nomes, ganhamos Sua associação e nos tornamos plenamente
rejuvenescidos.

Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

TODAS AS GLÓRIAS AOS DEVOTOS REUNIDOS



Queridos(as) devotos(as).Por favor, aceitem minhas reverênciasHá alguns anos, quando eu trabalhava na BBT (por alguns tempos servi aoprograma Amigos de Krishna – hoje completamente descaracterizado das funçõespara as quais foi criado pela saudosa Adi-Lila) tive o prazer de conhecer oPrabhu Vaikuntha Murti, com quem trabalhei. Ele era pouco mais que ummenino, sempre de bom humor e muito tolerante e amoroso com os devotos. Etodos adoravam rir de suas trapalhadas que, na verdade faziam dele umapessoa adorável e especial. Entretanto, não imaginávamos que se tornaria umincansável homem de Srila Prabhupada, fortemente inspirado pelo oceano deamor por Deus derramado pelo Senhor Chaitanya Mahaprabhu.




Não se pode deixar de elogiar um fenômeno como o Festival da Índia, méritodo nosso querido Vaikhunta Murti, um filho que adotei. Quero registrar aquique, por causa de devotos como Vaikhunta Murti, sinto orgulho de ser HareKrishna. Sinto orgulho de ver crescer um programa como o Festival da Índia.Sinto orgulho de ver os devotos reunidos sedentos de distribuir amor porDeus.




E sinto orgulho de saber que, embora chamados de imorais, ainda há muitos,mas muitos mesmo, devotos que não deixaram o sankirtana morrer. É isso, aí.O sankirtana não morreu, vide o Festival da Índia, vide os sankirtaneirosque, rompendo as limitações atuais da BBT, distribuem *Valores da Liberdade*.Eles merecem todo nosso apreço porque são corajosos e destemidos. E é porcausa dos sankirtaneiros dos *Valores da Liberdade *e de todos os outrosdevotos produtores de literatura védica, que eu acredito que esta fasetriste da BBT vai passar. O coração de Srila Prabhupada vai voltar a pulsar!




Como não sou muito criativa, faço minhas as palavras do compositorGonzaguinha, "Eu acredito é na rapazeada, que segue em frente e segura orojão...". Essa rapazeada é a do Vaikhunta Murti e os sankirtaneirosdestemidos. Por isso, não me canso de repetir: Todas as glórias aos devotosreunidos! Todas as glórias ao Festival da Índia! Todas as glórias aossankirtaneiros dos *Valores da Liberdade*! Todas as glórias ao Movimento deSankirtana do Senhor Chaitanya Mahaprabhu, que faz pulsar o coração de SrilaPrabhupada!Haribol!




Desta serva inútil




Vanavihari dd