Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

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Jagad Guru Srila Prabhupada

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Fazendo a Escolha Certa


Publicado por Naveen Krsna Das (PGS) no Brazilian Forum


A natureza da vida é que em todo momento, nós temos uma escolha.Escolha do que pensar – é claro que, a mente, tantos pensamentos surgem, mascom nossa inteligência, nós temos a escolha: sobre o que ponderar, sobre oque meditar. Krsna diz *man mana bhava mad bhakto* – pense sempre em Mim,torne-se Meu devoto. Então nós temos essa escolha em todo momento – queremosmesmo contemplar os objetos dos sentidos? Krsna diz no Gita, qual é amentalidade que surge. O mecanismo psicológico que é ativado, quandocontemplamos os objetos dos sentidos. Quanto aos objetos dos sentidos, e osurgimento em nossa mente do desejo de desfruta-los, isso é algo que podeser inevitável para nós, neste estágio em particular do nossodesenvolvimento. No entanto, nós temos de fato a escolha do que contemplar. Desejo por atividades pecaminosas, desejo por gratificaçãoegoísta e mesquinha, pode vir à nossa mente, mas nós temos a escolha: eu voucontemplar isso? Ou eu vou contemplar Krsna? É muito importante, nós temosessa escolha. Nós temos uma escolha em todo momento – o que vamos contemplarem nossa mente. Nós temos uma escolha em nossa mente, se vamos simplesmentenos render aos ditames da mente e dos sentidos, ou se vamos tomar refúgio deArjuna, em sua carruagem, no campo de batalha de Kuruksetra, e lutar contrapensamentos baixos, imorais e desfavoráveis. Nós temos essa escolha. Nós temos uma escolha a cada uma das palavras que dizemos. Nóspodemos falar *prajalpa*. Sri Caitanaya Mahaprabhu explicou o que é *prajalpa*. E a pior *prajalpa* é criticar os outros. E a pior crítica aosoutros é criticar os devotos. O sabor é bom. Nós gostamos. Nossos egosgostam. Nossos egos gostam de ouvir os outros serem criticados. Nossos egosgostam de ser entretidos com assuntos mundanos. Mas Sri Caitanya Mahaprabhudisse, *quando você critica os outros, com sua boca, você está comendoveneno*. É venenoso. Como é venenoso? Porque mata a propensão espiritual dapessoa, a qual é nossa vida! Portanto, sim, a cada momento, nós temos uma escolha, quanto aoque pensar, e de acordo com nossa escolha nós estamos nos alimentando comnéctar ou veneno. Nós temos uma escolha a cada uma das palavras que dizemos,se iremos provar néctar ou veneno. E nós temos uma escolha a cada momento emnossas ações. Podemos agir piedosamente, podemos agir impiedosamente, e hátantos níveis de piedade e impiedade; ou nós podemos agir no serviço aoSenhor. Isto é livre arbítrio. Nós sempre temos esse livre arbítrio. Naespécie humana, esta é a qualidade especial, esta é a benção, que nós temoslivre arbítrio. E nós somos responsáveis, em todos os níveis, somosresponsáveis pelo que escolhemos em todo momento. Somos responsáveis pornossos pensamentos, somos responsáveis por nossas palavras, e nossas ações. Krsna diz no Gita, quando uma pessoa contempla os objetos dossentidos, desenvolve-se luxúria, desejo de desfrutar. Da luxúria, quando nãoé satisfeita, ira. Da ira, confusão da memória. Quando a memória estáconfusa, perde-se a inteligência. Quando perde-se a inteligência, nós agimosde certas maneiras cuja reação é que nós caímos novamente no poço materialda ignorância. Portanto, Krsna diz. Rupa Goswami explica que o primeirosintoma do serviço devocional, no espírito de rendição, é aceitar o que forfavorável à consciência de Krsna, e rejeitar o que for desfavorável àconsciência de Krsna. Este é o primeiro sintoma de rendição. Tudo tem a ver com fazermos nossas escolhas, em todo momento.Eu vou escolher contemplar, falar e agir de uma maneira que seja favorável àconsciência de Krsna, ou desfavorável? Se não soubermos, *maya* vaicertamente nos confundir. Nós iremos ao poço, com nossa profunda sede, epensaremos: deixe-me beber. E essa água pode ser tão doce. Mas pode terTifo. Ou pode ter arsênico em excesso. É veneno. E quanto mais bebemos, maisestamos destruindo nosso bem-estar, sem percebermos. Pode não fazer efeitoimediatamente, não é assim? Se você bebe água ruim, se ela tem um tipoparticular de doença, pode demorar vários dias até que essa doença façaalgum efeito em seu corpo. Portanto, devemos saber, é muito importante.-


Trecho de uma Aula de Radhanatha Swami no templo de Chowpatty, Bombaim.

Por que Krsna Aparece como Jagannatha


Da última edição americana de Volta ao Supremo [Back to Godhead] – Vol. 41, No 5 • Setembro / Outubro 2007
Da última edição americana de Volta ao Supremo [Back to Godhead] – Vol. 41, No 5 • Setembro / Outubro 2007
Por que Krsna Aparece como Jagannatha
Why Krsna appears as Jagannatha
Por Narada Rishi Dasa

Eu nasci em uma conservadora família Vaisnava em Puri, na costa leste da Índia. O Supremo Senhor Jagannatha e Seus devotos estavam no centro de minha vida. Quando criança, eu brincava com bonecos de Jagannatha, Baladeva (Balarama) e Subhadra, as deidades do famoso templo de Puri. Eu ainda me lembro como minha mãe me dava enormes pratos de Jagannatha Prasadam e dizia para eu sempre lembrar-me do Senhor. Eu via como as simples e devotadas pessoas de Orissa – mesmo doutores, engenheiros ou cientistas – nunca negligenciavam a adoração ao Senhor Jagannatha. Eu via como o rei de Puri se tornava um servo humilde e varria as ruas para o carro do Senhor Jagannatha desfilar no anual Ratha-yatra, ou festival de carruagens.

O Senhor Jagannatha talvez pareça peculiar ou estranho aos olhos ocidentais, mas Ele é a vida e alma do povo de Orissa. Embora eu tenha ido ao Festival de Ratha-yatra várias vezes durante minha juventude, foi quando eu me encontrei com os devotos da ISKCON que minha devoção pelo Senhor Jagannatha se tornou intensa.

Agora, o Senhor Jagannatha é adorado em vários templos da ISKCON ao redor do mundo, e eu, já mais maduro, posso percebê-lO como a pessoa mais misericordiosa e encantadora, que releva as ofensas de Seus devotos e os atrai dia após dia ao longo do caminho do serviço devocional.

Jagannatha significa “Senhor do Universo”. Vários livros Védicos mencionam que o Senhor Jagannatha é Krsna. Baladeva é Seu irmão, e Subhadra Sua irmã.

Embora Krsna seja absoluto e transcendental a natureza material, para aceitar o serviço amoroso de Seus devotos, Ele aparece perante nós como a deidade no templo feita de pedra, metal, madeira ou pintura. Jagannatha é uma forma de Krsna manifestada em madeira.

Porque o Senhor Jagannatha não se parece com Krsna, as pessoas talvez especulem “como Ele pode ser Krsna?”. As escrituras contam a história por trás da peculiar forma de Jagannatha.

O Advento Transcendental do Senhor Jagannatha

O Skanda Purana relata os esforços do rei Indradyumna para encontrar uma deidade de Krsna após sonhar com uma bela deidade azul chamada Nila Madhava. O nome descreve a cor de safira da deidade: Nila significa azul, e Madhava é um dos nomes de Krsna. O rei Indradyumna enviou mensageiros em todas as direções para encontrar Nila Madhava, e um brahmana de nome Vidyapati retornou com sucesso. Ele descobriu que em Vishvavasu, uma fazenda de porcos (savara) em uma remota vila tribal, estava-se adorando secretamente a Nila Madhava. Quando Vidyapati retornou ao local com Indradyumna mais tarde, entretanto, Nila Madhava não estava mais ali.

O rei Indradyumna cercou toda a vila com seus soldados e prendeu Vishavavasu, ao que uma voz vinda do céu proclamou “Deixe os criadores de porcos e construa um grande templo para Mim no topo da Colina Nila. Lá você me verá não como Nila Madhava, mas em uma forma feita de madeira de Nim.

Nila Madhava prometeu aparecer como madeira (daru), e por isso Ele é chamado de daru-brahma (“madeira-espírito”). Indradyumna esperava a beira mar, quando o Senhor apareceu como uma gigante tora boiando para dentro da praia.

Disfarçado como um senhor de idade, Vishvakarma, o arquiteto dos semideuses, apareceu para esculpir as deidades sob a condição de que só o faria se pudesse ficar por vinte e um dias sem ser perturbado em seu serviço. O rei Indradyumna consentiu, e o artista trabalhou a portas cerradas. Antes do período estipulado se esgotar, todavia, o barulho havia parado, e a intensa curiosidade do rei Indradyumna levou-o a abrir a porta. Vishvakarma havia desaparecido. Na sala, as deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra pareciam como se inacabadas – sem mãos ou pés – e Indradyumna ficou extremamente perturbado pensando que havia ofendido o Senhor.

Naquela noite, o Senhor Jagannatha falou ao rei durante um sonho e o tranqüilizou explicando que Ele estava se revelando naquela forma através de Seu próprio desejo inconcebível a fim de mostrar ao mundo que Ele pode aceitar oferendas sem mãos, e se mover sem pés.

O Senhor Jagannatha disse ao rei, “Certamente Minhas mãos e pés são o ornamento de todos os ornamentos, mas para sua satisfação, você pode Me dar mãos e pés de ouro e prata de tempos em tempos”.

Os devotos hoje adoram a mesma forma “inacabada” de Jagannatha, Baladeva e Subhadra em Puri e em templos ao redor do mundo. Essas formas são parte de Seus eternos passatempos.

Transformados pelas Narrações de Rohini

O Utkala-khanda do Skanda Purana trás outro relato em relação ao aparecimento de Krsna como Jagannatha. (Utkala é um nome tradicional para Orissa). Certa vez, durante um eclipse solar, Krsna, Balarama, Subhadra e outros residentes de Dwaraka foram se banhar em um lago sagrado em Kurukshetra. Sabendo que Krsna estaria presente no local de peregrinação, Srimat Radharani, os pais de Krsna, Nanda e Yashoda, e outros residentes de Vrndavana, que estavam queimando no fogo da separação do Senhor, foram até lá para se encontrarem com Ele. Dentro de uma das várias barracas que os peregrinos aviam levantado em Kurukshetra, Rohini, mãe do Senhor Balarama, narrou os passatempos de Krsna em Vrndavana para as rainhas de Dwaraka e outros.
É dito que os moradores de Dwaraka estão no humor de opulência (aishvarya), e que eles adoram a Krsna como o Senhor Supremo. Mas os residentes de Vrndavana estão no humor de doçura (madhurya), e têm uma relação confidencial com Krsna que transpassa a idéia de contemplação e reverência por ser baseada em amizade e amor. As histórias contadas por Rohini eram extremamente confidencias, então ela colocou Subhadra na porta para que ninguém ouvisse por acaso.
Krsna e Balarama foram também até a porta e ficaram cada um de um lado de Subhadra. Enquanto ouviam as narrações de Rohini dos passatempos íntimos de Krsna em Vrndavana, Krsna e Balarama se tornaram extáticos, e seus sentimentos internos se manifestaram externamente. Seus olhos se tornaram dilatados, Suas cabeças se compressaram junto ao corpo e seus membros se recolheram. Vendo essas transformações em Krsna e Balarama, Subhadra também entrou em êxtase e assumiu uma forma similar. Assim, por ouvirem acerca dos passatempos de Krsna em Vrndanva, Krsna e Balarama, com Subhadra no meio, exibiram suas formas extáticas de Jagannatha, Baladeva e Subhadra.

O Êxtase Máximo do Senhor

De acordo com o Skanda Purana, o Jyeshtha-purnima, o dia de lua cheia do mês de maio-junho, é o aniversário do Senhor Jagannatha. Jagannatha é Krsna, mas o aniversário de Krsna é o Janmastami, no mês de Bhadra (agosto-setembro). Esta aparente contradição é solucionada se entendermos que o Jyeshtha-purnima é o momento quando Krsna aparece na forma do Senhor Jagannatha com grandes olhos dilatados e membros reduzidos. Essa forma é conhecida como mahabhava-prakasha, a forma extática de Krsna. Mahabhava significa “o êxtase máximo”, e prakasha significa “manifestação”, assim o Senhor Jagannatha é literalmente a forma do Senhor em êxtase.

O poema Mahabhava Prakasha de um poeta da Orissa chamado Kanai Khuntia descreve o significado confidencial por trás da forma de Jagannatha: Ele é a corporificação do sentimento de saudades de Krsna dos residentes de Vrndavana, especialmente de Radha e das Gopis. As escrituras explicam que o intenso êxtase espiritual, particularmente neste humor de separação da pessoa amada, produz transformações no corpo. Uma vez que Krsna não é diferente de Seu corpo, Seus sentimentos mais internos manifestaram-se externamente, e Ele assumiu a forma de Jagannatha.

O êxtase de mahabhava é comparado a um oceano. No passatempo com o rei Indradyumna, um gigantesco tronco boiava no oceano. Similarmente, as formas de Jagannatha, Balarama e Subhadra bóiam no oceano de mahabhava.

Quando o sábio Narada viu Krsna transformado em Jagannatha, ele orou para que o Senhor aparecesse daquela forma novamente. Embora o Senhor não tenha nenhuma obrigação para com ninguém, Ele reciproca Seus devotos satisfazendo seus desejos. No Garga Samhita Krsna afirma (1.27.4): “Eu sou plenamente completo – todas as epopéias estão em mim. E mesmo assim eu Me rendo aos desejos de Meu devoto e apareço em qualquer forma que ele queira”. Assim, da mesma forma que Krsna aparece como Nila Madhava para satisfazer Vishvavasu, Ele aparece sob a forma da deidade de Jagannatha e reside em Jagannatha Puri para satisfazer o desejo de Narada Muni.

Essa forma especial de Krsna também é conhecida como Patita Pavana, o salvador dos caídos, e todo aquele que tem Sua audiência com a devida consciência é presenteado com a liberação espiritual.

Jagannatha como o Krishna de Vrindavana

Embora Jagannatha seja comumente identificado como o Krsna de Dwaraka, no humor de opulência, Sua real – e confidencial – identidade é como o Krsna de Vrndavana, o amante de Radharani. O Jagannatha Chaitanyam afirma, “Radha permanece no coração do Senhor Jagannatha, e Krsna no coração de Radha”.

Krsna é famoso por Seus relacionamentos, especialmente com os residentes de Vrndavana, e os devotos às vezes se referem ao Senhor Jagannatha nesse humor. Jagannatha é considerado o consorte de Radharani, que se associa com Krsna unicamente em Seu humor de Vrndavana. O êxtase resultante do amor de Krsna por Radharani é a causa de Sua transformação na forma de Jagannatha.

O poeta da Orissa, Banamali, canta, “Ó Jagannatha, amado filho de criação de Yashodadevi, Sua Radha é como o passarinho chataka que bebe apenas as puras gotas de chuva, e Você chove com muita graça”.

Em Vrndavana, Krsna assume a graciosa forma com três curvas corporais (tribanga-lalita) e usa uma pena de pavão e toca Sua flauta. O Jagannathashtakam (verso 2) identifica Jagannatha em tal humor: “Em sua mão esquerda, o Senhor Jagannatha segura uma flauta. Em Sua cabeça Ele usa uma pena de pavão e em Seus quadris Ele usa um fino tecido de seda amarelo. Pelo canto de Seus olhos, Ele olha de relance Seus amáveis devotos e sempre se revela através de Seus passatempos em Sua divina morada de Vrndavana. Que este Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão”.

A poetiza Madhavi-devi, a irmã de Ramananda Raya, escreve em uma de suas canções: “Os tenros e doces versos do Sri Gita-govinda, trazendo o nome de Radha, se entrelaçam com as khanduas [peças de roupas usadas por Jagannatha todas as noites}, que o Senhor Jagannatha mantém bem próximas de Seus membros”.

O Chaitanya-Chaitanya explica que Krsna vem como Caitanya a fim de entender os sentimentos de Radharani. Durante o Rathayatra, Ele dança em êxtase perante o Senhor Jagannatha (Krsna) para chamar Sua atenção. Em resposta, Jagannatha O consola: “Eu nunca esqueci nenhuma gopi ou gopa, muito menos Você, Srimat Radhika. Como poderia eu esquecê-lA?”.

Narada Muni revelou a Gopa-kumara no Brihad-bhagavatamrita (2.5.212–214): “Eternamente querida a Sri Krsnadeva, tanto quanto sua bela Mathura-dhama, é aquela Purushottama-kshetra. Lá, o Senhor não só exibe Sua opulência suprema, mas também encanta Seus devotos agindo como uma pessoa ordinária deste mundo. E se você continuar não estando plenamente satisfeito após chegar lá e vê-lO, então ao menos fique lá por algum tempo para conseguir sua meta desejada. É claro que sua meta última é amor puro pelos pés de lótus de Krsna, a vida e alma das divinas gopis – amor que segue o humor da própria Vraja-bhumi do Senhor. Você não está procurando por outra coisa”. Amor por Jagannatha é krishna-prema, amor por Krsna, que é nossa meta última. Krsna se tornou acessível a todos em sua forma como Jagannatha.

Uma vez que o Senhor Jagannatha não é outro senão Krsna, Sua morada é idêntica a Vrndavana, onde Krsna executa Seus passatempos infantis. Jagannatha Puri – também chamada Purushottama-kshetra, Sri Kshetra e Nilacala [o local da montanha azul] – contém todos os passatempos (lilas) de Krsna em Vrndavana, embora possam porventura estarem escondidos de olhos materiais. O Vaishnava-tantra afirma, “Qualquer lila de Krsna que é manifesta em Gokula, Mathura ou Dwaraka são encontradas em Nilacala, Sri Kshetra”.

Através da apropriada visão espiritual – olhos untados por amor puro por Deus, krishna-prema – a pessoa pode ver todos os passatempos de Krsna ali presentes.

Jagannatha não é ninguém senão a manifestação extática de Krsna que apareceu em Sua forma mais misericordiosa para ajudar-nos a voltar para casa, voltar ao Supremo. Por isso Srila Prabhupada introduziu o Ratha-yatra do Senhor Jagannatha em várias cidades ao redor do mundo, exatamente para retirar as almas condicionadas do feitiço de maya (ilusão). Tiremos todos, então, o máximo de benefício de tal evento.

Tradução por Bhagavan dasa (DvS)
Por Narada Rishi Dasa

Eu nasci em uma conservadora família Vaisnava em Puri, na costa leste da Índia. O Supremo Senhor Jagannatha e Seus devotos estavam no centro de minha vida. Quando criança, eu brincava com bonecos de Jagannatha, Baladeva (Balarama) e Subhadra, as deidades do famoso templo de Puri. Eu ainda me lembro como minha mãe me dava enormes pratos de Jagannatha Prasadam e dizia para eu sempre lembrar-me do Senhor. Eu via como as simples e devotadas pessoas de Orissa – mesmo doutores, engenheiros ou cientistas – nunca negligenciavam a adoração ao Senhor Jagannatha. Eu via como o rei de Puri se tornava um servo humilde e varria as ruas para o carro do Senhor Jagannatha desfilar no anual Ratha-yatra, ou festival de carruagens.

O Senhor Jagannatha talvez pareça peculiar ou estranho aos olhos ocidentais, mas Ele é a vida e alma do povo de Orissa. Embora eu tenha ido ao Festival de Ratha-yatra várias vezes durante minha juventude, foi quando eu me encontrei com os devotos da ISKCON que minha devoção pelo Senhor Jagannatha se tornou intensa.

Agora, o Senhor Jagannatha é adorado em vários templos da ISKCON ao redor do mundo, e eu, já mais maduro, posso percebê-lO como a pessoa mais misericordiosa e encantadora, que releva as ofensas de Seus devotos e os atrai dia após dia ao longo do caminho do serviço devocional.

Jagannatha significa “Senhor do Universo”. Vários livros Védicos mencionam que o Senhor Jagannatha é Krsna. Baladeva é Seu irmão, e Subhadra Sua irmã.

Embora Krsna seja absoluto e transcendental a natureza material, para aceitar o serviço amoroso de Seus devotos, Ele aparece perante nós como a deidade no templo feita de pedra, metal, madeira ou pintura. Jagannatha é uma forma de Krsna manifestada em madeira.

Porque o Senhor Jagannatha não se parece com Krsna, as pessoas talvez especulem “como Ele pode ser Krsna?”. As escrituras contam a história por trás da peculiar forma de Jagannatha.

O Advento Transcendental do Senhor Jagannatha

O Skanda Purana relata os esforços do rei Indradyumna para encontrar uma deidade de Krsna após sonhar com uma bela deidade azul chamada Nila Madhava. O nome descreve a cor de safira da deidade: Nila significa azul, e Madhava é um dos nomes de Krsna. O rei Indradyumna enviou mensageiros em todas as direções para encontrar Nila Madhava, e um brahmana de nome Vidyapati retornou com sucesso. Ele descobriu que em Vishvavasu, uma fazenda de porcos (savara) em uma remota vila tribal, estava-se adorando secretamente a Nila Madhava. Quando Vidyapati retornou ao local com Indradyumna mais tarde, entretanto, Nila Madhava não estava mais ali.

O rei Indradyumna cercou toda a vila com seus soldados e prendeu Vishavavasu, ao que uma voz vinda do céu proclamou “Deixe os criadores de porcos e construa um grande templo para Mim no topo da Colina Nila. Lá você me verá não como Nila Madhava, mas em uma forma feita de madeira de Nim.

Nila Madhava prometeu aparecer como madeira (daru), e por isso Ele é chamado de daru-brahma (“madeira-espírito”). Indradyumna esperava a beira mar, quando o Senhor apareceu como uma gigante tora boiando para dentro da praia.

Disfarçado como um senhor de idade, Vishvakarma, o arquiteto dos semideuses, apareceu para esculpir as deidades sob a condição de que só o faria se pudesse ficar por vinte e um dias sem ser perturbado em seu serviço. O rei Indradyumna consentiu, e o artista trabalhou a portas cerradas. Antes do período estipulado se esgotar, todavia, o barulho havia parado, e a intensa curiosidade do rei Indradyumna levou-o a abrir a porta. Vishvakarma havia desaparecido. Na sala, as deidades de Jagannatha, Baladeva e Subhadra pareciam como se inacabadas – sem mãos ou pés – e Indradyumna ficou extremamente perturbado pensando que havia ofendido o Senhor.

Naquela noite, o Senhor Jagannatha falou ao rei durante um sonho e o tranqüilizou explicando que Ele estava se revelando naquela forma através de Seu próprio desejo inconcebível a fim de mostrar ao mundo que Ele pode aceitar oferendas sem mãos, e se mover sem pés.

O Senhor Jagannatha disse ao rei, “Certamente Minhas mãos e pés são o ornamento de todos os ornamentos, mas para sua satisfação, você pode Me dar mãos e pés de ouro e prata de tempos em tempos”.

Os devotos hoje adoram a mesma forma “inacabada” de Jagannatha, Baladeva e Subhadra em Puri e em templos ao redor do mundo. Essas formas são parte de Seus eternos passatempos.

Transformados pelas Narrações de Rohini

O Utkala-khanda do Skanda Purana trás outro relato em relação ao aparecimento de Krsna como Jagannatha. (Utkala é um nome tradicional para Orissa). Certa vez, durante um eclipse solar, Krsna, Balarama, Subhadra e outros residentes de Dwaraka foram se banhar em um lago sagrado em Kurukshetra. Sabendo que Krsna estaria presente no local de peregrinação, Srimat Radharani, os pais de Krsna, Nanda e Yashoda, e outros residentes de Vrndavana, que estavam queimando no fogo da separação do Senhor, foram até lá para se encontrarem com Ele. Dentro de uma das várias barracas que os peregrinos aviam levantado em Kurukshetra, Rohini, mãe do Senhor Balarama, narrou os passatempos de Krsna em Vrndavana para as rainhas de Dwaraka e outros.
É dito que os moradores de Dwaraka estão no humor de opulência (aishvarya), e que eles adoram a Krsna como o Senhor Supremo. Mas os residentes de Vrndavana estão no humor de doçura (madhurya), e têm uma relação confidencial com Krsna que transpassa a idéia de contemplação e reverência por ser baseada em amizade e amor. As histórias contadas por Rohini eram extremamente confidencias, então ela colocou Subhadra na porta para que ninguém ouvisse por acaso.
Krsna e Balarama foram também até a porta e ficaram cada um de um lado de Subhadra. Enquanto ouviam as narrações de Rohini dos passatempos íntimos de Krsna em Vrndavana, Krsna e Balarama se tornaram extáticos, e seus sentimentos internos se manifestaram externamente. Seus olhos se tornaram dilatados, Suas cabeças se compressaram junto ao corpo e seus membros se recolheram. Vendo essas transformações em Krsna e Balarama, Subhadra também entrou em êxtase e assumiu uma forma similar. Assim, por ouvirem acerca dos passatempos de Krsna em Vrndanva, Krsna e Balarama, com Subhadra no meio, exibiram suas formas extáticas de Jagannatha, Baladeva e Subhadra.

O Êxtase Máximo do Senhor

De acordo com o Skanda Purana, o Jyeshtha-purnima, o dia de lua cheia do mês de maio-junho, é o aniversário do Senhor Jagannatha. Jagannatha é Krsna, mas o aniversário de Krsna é o Janmastami, no mês de Bhadra (agosto-setembro). Esta aparente contradição é solucionada se entendermos que o Jyeshtha-purnima é o momento quando Krsna aparece na forma do Senhor Jagannatha com grandes olhos dilatados e membros reduzidos. Essa forma é conhecida como mahabhava-prakasha, a forma extática de Krsna. Mahabhava significa “o êxtase máximo”, e prakasha significa “manifestação”, assim o Senhor Jagannatha é literalmente a forma do Senhor em êxtase.

O poema Mahabhava Prakasha de um poeta da Orissa chamado Kanai Khuntia descreve o significado confidencial por trás da forma de Jagannatha: Ele é a corporificação do sentimento de saudades de Krsna dos residentes de Vrndavana, especialmente de Radha e das Gopis. As escrituras explicam que o intenso êxtase espiritual, particularmente neste humor de separação da pessoa amada, produz transformações no corpo. Uma vez que Krsna não é diferente de Seu corpo, Seus sentimentos mais internos manifestaram-se externamente, e Ele assumiu a forma de Jagannatha.

O êxtase de mahabhava é comparado a um oceano. No passatempo com o rei Indradyumna, um gigantesco tronco boiava no oceano. Similarmente, as formas de Jagannatha, Balarama e Subhadra bóiam no oceano de mahabhava.

Quando o sábio Narada viu Krsna transformado em Jagannatha, ele orou para que o Senhor aparecesse daquela forma novamente. Embora o Senhor não tenha nenhuma obrigação para com ninguém, Ele reciproca Seus devotos satisfazendo seus desejos. No Garga Samhita Krsna afirma (1.27.4): “Eu sou plenamente completo – todas as epopéias estão em mim. E mesmo assim eu Me rendo aos desejos de Meu devoto e apareço em qualquer forma que ele queira”. Assim, da mesma forma que Krsna aparece como Nila Madhava para satisfazer Vishvavasu, Ele aparece sob a forma da deidade de Jagannatha e reside em Jagannatha Puri para satisfazer o desejo de Narada Muni.

Essa forma especial de Krsna também é conhecida como Patita Pavana, o salvador dos caídos, e todo aquele que tem Sua audiência com a devida consciência é presenteado com a liberação espiritual.

Jagannatha como o Krishna de Vrindavana

Embora Jagannatha seja comumente identificado como o Krsna de Dwaraka, no humor de opulência, Sua real – e confidencial – identidade é como o Krsna de Vrndavana, o amante de Radharani. O Jagannatha Chaitanyam afirma, “Radha permanece no coração do Senhor Jagannatha, e Krsna no coração de Radha”.

Krsna é famoso por Seus relacionamentos, especialmente com os residentes de Vrndavana, e os devotos às vezes se referem ao Senhor Jagannatha nesse humor. Jagannatha é considerado o consorte de Radharani, que se associa com Krsna unicamente em Seu humor de Vrndavana. O êxtase resultante do amor de Krsna por Radharani é a causa de Sua transformação na forma de Jagannatha.

O poeta da Orissa, Banamali, canta, “Ó Jagannatha, amado filho de criação de Yashodadevi, Sua Radha é como o passarinho chataka que bebe apenas as puras gotas de chuva, e Você chove com muita graça”.

Em Vrndavana, Krsna assume a graciosa forma com três curvas corporais (tribanga-lalita) e usa uma pena de pavão e toca Sua flauta. O Jagannathashtakam (verso 2) identifica Jagannatha em tal humor: “Em sua mão esquerda, o Senhor Jagannatha segura uma flauta. Em Sua cabeça Ele usa uma pena de pavão e em Seus quadris Ele usa um fino tecido de seda amarelo. Pelo canto de Seus olhos, Ele olha de relance Seus amáveis devotos e sempre se revela através de Seus passatempos em Sua divina morada de Vrndavana. Que este Senhor Jagannatha seja o objeto de minha visão”.

A poetiza Madhavi-devi, a irmã de Ramananda Raya, escreve em uma de suas canções: “Os tenros e doces versos do Sri Gita-govinda, trazendo o nome de Radha, se entrelaçam com as khanduas [peças de roupas usadas por Jagannatha todas as noites}, que o Senhor Jagannatha mantém bem próximas de Seus membros”.

O Chaitanya-Chaitanya explica que Krsna vem como Caitanya a fim de entender os sentimentos de Radharani. Durante o Rathayatra, Ele dança em êxtase perante o Senhor Jagannatha (Krsna) para chamar Sua atenção. Em resposta, Jagannatha O consola: “Eu nunca esqueci nenhuma gopi ou gopa, muito menos Você, Srimat Radhika. Como poderia eu esquecê-lA?”.

Narada Muni revelou a Gopa-kumara no Brihad-bhagavatamrita (2.5.212–214): “Eternamente querida a Sri Krsnadeva, tanto quanto sua bela Mathura-dhama, é aquela Purushottama-kshetra. Lá, o Senhor não só exibe Sua opulência suprema, mas também encanta Seus devotos agindo como uma pessoa ordinária deste mundo. E se você continuar não estando plenamente satisfeito após chegar lá e vê-lO, então ao menos fique lá por algum tempo para conseguir sua meta desejada. É claro que sua meta última é amor puro pelos pés de lótus de Krsna, a vida e alma das divinas gopis – amor que segue o humor da própria Vraja-bhumi do Senhor. Você não está procurando por outra coisa”. Amor por Jagannatha é krishna-prema, amor por Krsna, que é nossa meta última. Krsna se tornou acessível a todos em sua forma como Jagannatha.

Uma vez que o Senhor Jagannatha não é outro senão Krsna, Sua morada é idêntica a Vrndavana, onde Krsna executa Seus passatempos infantis. Jagannatha Puri – também chamada Purushottama-kshetra, Sri Kshetra e Nilacala [o local da montanha azul] – contém todos os passatempos (lilas) de Krsna em Vrndavana, embora possam porventura estarem escondidos de olhos materiais. O Vaishnava-tantra afirma, “Qualquer lila de Krsna que é manifesta em Gokula, Mathura ou Dwaraka são encontradas em Nilacala, Sri Kshetra”.

Através da apropriada visão espiritual – olhos untados por amor puro por Deus, krishna-prema – a pessoa pode ver todos os passatempos de Krsna ali presentes.

Jagannatha não é ninguém senão a manifestação extática de Krsna que apareceu em Sua forma mais misericordiosa para ajudar-nos a voltar para casa, voltar ao Supremo. Por isso Srila Prabhupada introduziu o Ratha-yatra do Senhor Jagannatha em várias cidades ao redor do mundo, exatamente para retirar as almas condicionadas do feitiço de maya (ilusão). Tiremos todos, então, o máximo de benefício de tal evento.

Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

Krsna como Rei (Krishna as King


Da última edição americana de Volta ao Supremo [Back to Godhead] – Vol. 41, No 5 • Setembro / Outubro 2007
Krsna como Rei
Krishna as King

Por Karuna Dharini devi dasi


A deidade de Krsna adorada no templo Hare Krsna de Los Angeles, onde moro, é chamada Dvarakadhisha, “o Senhor de Dvaraka”. Dvaraka é a impoluta ilha que o Senhor Krsna governou em Sua idade adulta. (Embora Krsna tenha vivido em Dvaraka quando presente na Terra há cinco mil anos atrás, Dvaraka existe eternamente no mundo espiritual. Portanto, neste artigo, eu usarei algumas vezes o tempo verbal presente de indicativo quando me referir a Dvaraka ou às atividades de Krsna na mesma). De maneira geral, os devotos de Krsna pensam nEle primeiramente como a Suprema Personalidade de Deus que fala o Bhagavad-gita e executa estonteantes passatempos espirituais na vila pastoril de Vrndavana. Em tal ambiente rural, Ele brinca e desfruta da vida entre vários parentes e amigos. Gaudiya Vaisnavas, ou seguidores de Sri Caitanya Mahaprabhu, sabem que Krsna, como um vaqueirinho, troca os mais íntimos sentimentos amorosos com Seus devotos. Todavia, Krsna é sempre Krsna, e os devotos O amam quando Ele se exibe em outros humores também. Ele é também muito doce e simples em Sua atuação como Dvarakadhisha.
Krsna não é um governante ordinário. Reis ou presidentes representam grandeza e poder neste mundo. Mas, mesmo assim, a mais elegante, educada e incrível personalidade é apenas uma diminuta indicação das opulências da Suprema Personalidade de Deus, cujo corpo é constituído de eternidade, conhecimento e bem-aventurança.
Embora Krsna, como Dvarakadhisha, desfrute de muitas batalhas esportivas, Ele não tem nada ou ninguém a conquistar, sendo sempre completo em si mesmo. Ele sempre sabe exatamente o que fazer no que concerne aos deveres de um rei em relação a seu povo, ministros e soldados. Seu rosto nunca é destorcido pela ansiedade de obrigações diplomáticas.
Embora Krsna governe como um adulto, Ele é de fato nava yauvanam, eternamente jovem. De acordo com o Brihad-bhagavatamrta, de Sanatana Gosvami, o rei de Dvaraka tem “toda a beleza da juventude acentuada por traços de doçura e de inocência”.
Como governante, Dvarakadhisha tem apenas as melhores intenções para com os demais. Seu único objetivo é derrotar as influências demoníacas e proteger Seus puros e rendidos devotos. Sua autoridade é inesgotável e a original. Obedecer a Sua autoridade é a natureza constitucional de toda entidade viva.
Um Reino Extraordinário
O livro Krsna, A Suprema Personalidade de Deus, de Srila Prabhupada, descreve Dvaraka como a mais bela e ostentosa cidade de toda a história. A ilha de Dvaraka é decorada com 900.000 extraordinárias mansões construídas do mais puro mármore, com portões e portas feitas de prata e pedras preciosas. O límpido oceano azul-esverdeado cerca a cidade por todos os lados. Os residentes das mansões, todos devotos puros de Krsna, são de beleza ímpar.
Os inúmeros jardins e parques de Dvaraka são cheios de flores de variados perfumes e cores, e abundam pomares repletos de frutas. Belíssimos pássaros cantores, pavões caminhando como bêbados, e lagos repletos de lírios e lótus são um deleite para os sentidos. Os residentes decoraram todas as ruas e passeios com potes de água, guirlandas, folhas de bananeira e flores fragrantes, apenas um pouco antes de Krsna ir passear por ali.
O Bhakti-rasamrta-sindhu de Srila Rupa Goswami descreve, “Os servos na morada de Dvaraka sempre adoram Krsna como a mais respeitável e venerável Personalidade de Deus. Eles são cativados por Krsna devido a Suas opulências supra excelentes”.
Através do Brihad-bhagavatamrta, aprendemos que, embora Dvarakadhisha seja absolutamente o mais poderoso rei dentre todos os reis, desfrutando de todas as opulências, Ele também é humilde, amigável e cheio de ilimitado amor. Seus devotos, em um extasiante humor de servidão, respeito e reverência, estão absortos em sentimentos amorosos por seu Senhor.
Um exemplo seria Rukmini, a singular e mais exaltada personalidade feminina, a principal rainha do Senhor. Ela é uma expansão da potência de prazer de Deus, sendo assim Deus em uma forma feminina, plena de todas as graciosidades e virtudes imagináveis. Ela manifesta sua beleza primorosa exclusivamente para o prazer do Senhor de Dvaraka.
Sri Rukmini está sempre satisfeita com Seu Senhor e sempre submissa a Ele. Ela compreende todos os Seus humores e guarda dentro de seu coração os detalhes de sua personalidade jovem e inocente. Embora centenas de criadas qualificadas atendam a todas as Suas necessidades, Rukmini abana o Senhor pessoalmente, segurando uma camara branca como a neve com suas jovens mãos ricamente adornadas. Ciúmes e ira nunca a afetam.
Um Rei Extraordinário
Em Sua juventude, Krsna deixou Vrndavana e viajou para a cidade de Mathura, onde assumiu Seu papel na dinastia Yadava. Ele lutou e matou o mais temido tirano de Seu tempo, Kamsa, e libertou Seus pais da prisão de Kamsa. Ele então construiu um forte na ilha de Dvaraka e transferiu todos os cidadãos de Mathura para lá a fim de protegê-los dos impiedosos parentes de Kamsa, que queriam se vingar a qualquer custo.
Mais tarde Krsna raptaria Sua rainha, a jovem princesa Rukmini. O irmão da jovem havia arranjado um casamento para ela como parte de uma aliança política. Mas ela só tinha o desejo de ter Krsna como esposo, então ela pediu a Ele, através de um mensageiro, para vir socorrê-la. Raptar uma princesa era algo comum para os reis daquela época, mas Krsna fez isso totalmente sozinho contra um exército de furiosos príncipes guerreiros. Krsna conseguiu a mão de várias outras princesas belas e estonteantes de várias outras maneiras heróicas. Ele resgatou 16.000 princesas que foram encarceradas pelo cruel rei Bhaumasura. Ele se casou com cada uma delas e forneceu a cada uma um palácio real na ilha de Dvaraka. Por muitas vidas de penitências e austeridades, elas rezaram pelo favor especial de Krsna.
O Néctar da Devoção afirma, “Enquanto Krsna vivia em Dvaraka, Ele expandiu-se em 16.108 formas, e cada uma dessas expansões residia em um palácio com uma rainha. Não só estava Krsna plenamente feliz vivendo com Suas rainhas em Seus palácios, mas Ele dava em caridade para os demais palácios um total de 13.054 vacas completamente decoradas com belas vestes e ornamentos diariamente. Isto significa que 13.054 multiplicado por 16.108 vacas eram dadas em caridade por Krsna todos os dias. Este era o comportamento caridoso exemplar de Krsna enquanto vivia em Dvaraka”.
Várias batalhas incríveis aconteceram entre Krsna e uma variedade de demoníacos reis rivais. O rei Jarasandha, o sogro de Kamsa, atacou Dvaraka com numerosas falanges militares que consistiam de dezenas de milhares de quadrigas, cavalos, elefantes e soldados. Krsna observou a imensa força militar de Jarasandha, que se assemelhava a um oceano prestes a engolir uma praia. Krsna pensou sobre a situação e Sua missão de livrar o mundo de influências demoníacas, e aceitou aquela oportunidade para afrontar e destruir aquelas falanges.
Depois, o Senhor Balarama, irmão de Krsna, prendeu Jarasandha. Krsna fingiu compaixão por Jarasandha e deixou-o ir embora, mas Ele tinha um plano: Jarasandha iria, no futuro, atacar por todos os lados a cidade de Mathura por dezessete vezes, e a cada vez Krsna e Balarama destruiriam centenas de milhares de soldados demoníacos. Jarasandha foi mais tarde vencido, eventualmente, pelo primo de Krsna, Bhimasena.
A Jóia Syamantaka e Outros Episódios
Devida a uma intriga envolvendo a jóia conhecida como Syamantaka, Krsna foi, certa vez, erroneamente difamado. A Syamantaka podia produzir ouro através de seu poder místico. Muitas pessoas cobiçavam a jóia, e quando ela desapareceu, alguns acusaram Krsna de tê-la roubado. A jóia, na verdade, estava nas mãos de uma pessoa que sequer podia cuidar dela e estava quase louco devido ao seu poder. Um cidadão, por fim, entregou tanto a jóia quanto sua filha a Krsna, tendo realizado que tudo o que há de valioso é mera demonstração da benevolência de Krsna e que deveriam ser oferecidas no serviço a Ele.
Um rival louco, chamado Paundraka, estava com tanta inveja das supra excelentes qualidade de Krsna que se convenceu ser o próprio Krsna. Ele se propôs a derrotar Dvarakadhisha vestindo alguns falsos braços extras e carregando imitação das armas que na verdade só são usadas pelo próprio Visnu. Declarando ser ele mesmo Deus, ele estava decidido a matar o Senhor. Eventualmente, Krsna decapitou Paundraka, que alcançou a liberação por ter meditado tão intensamente na Personalidade de Deus em sua ridícula intenção de matá-lO.
O inseparável primo de Dvarakadhisha, Maharaja Yudhisthira, certa vez, fez um grande sacrifício, o qual incluía uma cerimônia de louvor a pessoa mais proeminente na platéia. Embora Krsna estivesse posando como um rei comum, Yudhisthira adorava o Senhor como não outro senão a Suprema Personalidade de Deus, e assim ele escolheu a Ele para ser honrado e adorado na cerimônia. Mas o invejoso primo de Krsna, Sishupala discordou da decisão de Yudhisthira e censurou Krsna. Krsna, por sua vez, cortou eventualmente a cabeça de Sishupala com Seu disco e permitiu à alma de Sishupala a imergir em Seu corpo.
Durante Seu reinado, parte da missão de Dvarakadhisha era entronar Seu grande devoto Yudhisthira, a encarnação da religião, como imperador do mundo. O Senhor de Dvaraka agiu como um pacífico mensageiro em nome de Yudhisthira para tentar prevenir a guerra com os mal intencionados Kurus. Quando as negociações falharam, o irmão de Yudhisthira, Arjuna, ocupou o Senhor como seu quadrigário na batalha. Naquele momento, o Senhor Krsna, adornado com um elmo de ouro, falou o Bhagavad-gita a Arjuna a fim de iluminar a ele (e a nós) e de encorajá-lo a lutar. O Senhor era plenamente capaz de lutar na batalha e vencê-la rapidamente para Arjuna, mas Ele queria servir e aumentar as glórias de Seu devoto Arjuna ocupando-o em lutar por uma questão de dever em consciência de Krsna.
Os Episódios Mais Confidenciais
Se o reinado de Krsna como um rei parece repleto de acontecimentos incríveis, apenas tente imaginar quão incrível Ele parece aos olhos de Seus respeitosos servos em Dvaraka. Eles são sempre surpreendidos por Seu comportamento imprevisível. Eles se lembram de quando Sudama, um amigo de Krsna do tempo de escola, veio visitá-lO. Os guardas e esposas de Krsna testemunharam o que parecia um morador de rua indo para o quarto do Senhor sem nenhum pudor. Para o espanto deles, eles viram como Krsna reagiu com o mais sincero e espontâneo amor ao ver Seu querido e velho amigo.
Embora Sudama fosse muito magro e estivesse vestido com roupas gastas e velhas, Dvarakadhisha o abraçou, sentou-o em Sua própria cama e banhou seus pés enquanto Rukmini o abanava. Quando Sudama timidamente ofereceu a Krsna sua única posse, um saquinho com arroz branco ressecado, as rainhas de Dvaraka observaram espantadas a forma com que o Senhor aceitou o arroz: como se fosse o mais irresistível de todos os presentes.
Mais motivos para surpresa podem ser encontrados no Uddhava-sandesha, onde Rupa Gosvami diz que Dvarakadhisha se torna muito emotivo lembrando Sua família e amigos em sua antiga casa na vila pastoril. Ele tem muita saudade deles. Ele pede a Uddhava, Seu primo e amigo mais íntimo, para enviar uma mensagem Sua a eles. Embora fosse um rei com muitas esposas e um enorme reino a governar, para o espanto de Uddhava, o Senhor lembrava detalhadamente de cada pessoa que Uddhava deveria encontrar em seu serviço de mensageiro pela vila pastoril.
Talvez, o mais surpreendente episódio tenha ocorrido em um grande festival realizado em Kuruksetra durante o eclipse solar, quando os residentes de Dvaraka encontraram os residentes de Vrndavana. Os simples vaqueirinhos e vaqueirinhas de Vrndavana sentiram-se extremamente afortunados por poderem ver Krsna novamente. De dentro de seus corações, eles recontaram espontaneamente todos os passatempos infantis de Krsna. Infelizes ao ver Krsna vestido como rei, eles não podiam se imaginar voltando para Vrndavana sem Ele, então Krsna ficou em Kuruksetra por mais tempo do que havia planejado. Por verem o amor puro por Krsna dos aldeões de Vrndanva, os residentes de Dvaraka sentiram grande êxtase. O festival de Rathayatra do Senhor Jagannatha comemora esse passatempo. Em Krsna, Srila Prabhupada escreve, “O festival de Rathayatra observado pelo Senhor Caitanya é o processo emocional de levar Krsna de volta a Vrndavana”.
O Rei dos Reis
Krsna não é uma pessoa material, e Suas atividades não são atividades deste mundo. Seu ilimitado e sem paralelo passatempo de gozar da associação de Seus simples amigos e parentes vaqueiros é o coração do Vaisnavismo Gaudiya.
O Senhor Caitanya ensina que acima da adoração reverencial a Deus, está o amor puro nas relações de maior intimidade, como um amigo, um filho ou amante. Se o Senhor deixou de lado Sua adoração real em reverência e deslumbramento por causa da doçura, familiaridade e espontaneidade do amor dos habitantes de Vrndavana, isto é mais um exemplo de Seu amor transcendental como o Deus que é leal e devotado a Seus devotos.
Krsna é o original e supremo desfrutador. Meditar em Sua forma como o rei dos reis é sólido alimento espiritual. Isto nos ajuda a entender a dimensão ilimitada de puro poder e puro amor em suas formas espirituais originais. Os passatempos de Dvarakadhisha nos dão realização transcendental acerca do amor, poder e compaixão do maior herói e líder espiritual de toda a eternidade.


Tradução por Bhagavan dasa (DvS)