Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

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Jagad Guru Srila Prabhupada

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

A Liberação de Jagai e Madhai

A obra integral da qual este excerto foi retirado encontra-se disponível para venda clicando aqui.

A Liberação de Jagai e Madhai
Da obra Chaitanya-Bhagavata, de Vrindavana dasa Thakura, Madhya-khanda, Capítulo 13

(parte 1/2)

Na companhia dos devotos, o Senhor Chaitanya afogava-Se na bem-aventurança de Seus passatempos. Àqueles afortunados, Ele revelava a verdade referente a Si. Daqueles absortos no mundo material, Ele Se escondia. Um dia, muito de repente, o Senhor Chaitanya apresentou uma ordem a Nityananda e Haridasa. “Escute, Nityananda. Escute, Haridasa. Sob todos os aspectos, sigam, por favor, a ordem que darei a vocês. Vão a toda casa e mendiguem o seguinte: ‘Por favor, cantem o nome de Krishna, adorem Krishna e ensinem outros sobre Krishna’. Apenas repitam estas palavras e façam com que cantem. Ao fim do dia, voltem e Me reportem o que conseguiram. Implorem para que cantem. Se alguém não ceder ao pedido de vocês, então, com Minha cakra em riste, farei esse alguém em pedaços!”. Ouvindo esta ordem do Senhor; contentes, os vaishnavas sorriram. Quem poderia desobedecer a uma ordem do Senhor Chaitanya? Considerando que o Senhor Nityananda aceitou esta ordem com extremo respeito, qualquer um que não tenha fé nela não passa de um louco insensato.

Público Favorável e Público Hostil

Carregando a ordem do Senhor Chaitanya sobre suas cabeças, Nityananda e Haridasa foram sorridentes para as ruas. Conforme instruídos pelo Senhor, eles iam de casa em casa e pediam: “Por favor, cantem o nome de Krishna, adorem Krishna e ensinem outros sobre Krishna. Krishna é sua própria vida; Krishna é seu verdadeiro tesouro; Krishna sustenta sua vida; portanto, por favor, cantem o nome Krishna”. Assim, seguindo a ordem de Chaitanya, o Senhor dos universos, os dois foram a cada casa de Nadiya. Nas vestes de sannyasis, a única esmola que queriam era que todos cantassem o nome de Krishna, adorassem-nO e ensinassem outros sobre Ele. “Por favor, dêem-nos esta caridade”, eles diziam. Depois de dizerem essas palavras, eles partiam.

Se piedosos eram os residentes da casa, eles ficavam felizes com a visita dos renunciantes. Cada pessoa reagia de maneira diferente aos dois pedintes. Alguns diziam com alegria: “Sim, eu farei isso! Farei sim!”. Outros, contudo, diziam: “Vocês dois estão confusos devido a maus conselhos! A má associação com que se envolveram acabou por enlouquecê-los. Por que querem nos tornar loucos também? Todas as pessoas antes boas e sãs agora são loucas; e tudo por causa da má influência de Chaitanya”. As pessoas que não haviam recebido autorização para entrar na casa de Srivasa quando queriam ver o Senhor Chaitanya dançar afugentavam os dois pregadores dizendo: “Matem-nos! Matem-nos!”. Outra pessoa disse: “Eles são ambos ladrões, indo de casa em casa para roubar. Por que homens santos deveriam se comportar dessa maneira? Se vierem à minha casa novamente com seu pretexto falso, levarei eles à corte real”. Embora ouvissem repetidamente tais palavras, Nityananda e Haridasa apenas riam. Devido ao poder da ordem do Senhor Chaitanya, eles nada tinham a temer. Todos os dias, iam eles de casa em casa. Ao retornarem, contavam tudo em detalhes para o Senhor Chaitanya.

“Quem São Estes Homens? Por que Agem Dessa maneira?”

Certo dia, pelas ruas, Nityananda e Haridasa cruzaram com dois ladrões completamente bêbados. Gigantes em tamanho e com a aparência pior do que a de piratas, as histórias que contavam eram de atos abomináveis, e não havia um único pecado que os dois não houvessem cometido. A despeito de terem nascido em família de brahmanas, ambos bebiam vinho e comiam carne de vaca. Entre seus hábitos, também estavam roubar e incendiar casas alheias. Os dois beberrões desobedeceram às injunções da corte de lá comparecerem, e assim tinham sempre de evitar serem vistos por oficiais da lei. Ao longo de todo o dia, seu tempo era usado bebendo vinho e comendo carne. Eles rolavam pelas ruas públicas; e, quando um via que o outro não estava atento, esse o golpeava com socos. À distância, Nityananda, Haridasa e muitos outros assistiam às palhaçadas dos dois bêbados. Em um momento, eles eram muito carinhosos entre eles dois; mas, logo em seguida, um estava puxando o cabelo do outro. Também gritavam alto palavras obscenas, como aquela iniciada com “c” e aquela iniciada com “b”. Eles destruíam completamente a reputação dos brahmanas de Nadiya. O vinho arruína toda a vida e o caráter de quem o bebe.

Embora tenham cometido todo pecado concebível, os dois ainda estavam livres do maior dos pecados – a blasfêmia a um vaishnava. Dia e noite, eles se associavam com outros alcoólatras. Contudo, eles nunca haviam ofendido um vaishnava. Mesmo que o grupo que se ocupe em criticar os vaishnavas seja de pessoas muito altamente piedosas, todas elas perdem toda a boa fortuna que acaso tivessem. Mesmo que os ofensores sejam sannyasis, em virtude da ofensa aos vaishnavas, devem ser considerados mais baixos do que os bêbados. Isto porque os alcoólatras ainda têm chance de serem liberados, mas, quanto aos blasfemadores, toda a esperança já se perdeu. Caso uma pessoa critique os vaishnavas, mesmo que tenha estudado todas as escrituras, sua inteligência é destruída. No caso de uma pessoa que critica o Senhor Nityananda, não apenas sua inteligência é destruída, senão que ela é destruída por completo.

Enquanto rolavam pelo chão, os dois bêbados brigavam trocando socos. Mantendo-se afastados, Nityananda e Haridasa assistiam. O Senhor Nityananda voltou-Se a um grupo qualquer na multidão de espectadores e perguntou a eles: “Quem são estes homens? Por que agem dessa maneira?”. Eles responderam: “Goswami, estes dois homens são brahmanas. Seus pais descendem de famílias muito exaltadas. Seus membros familiares, que há muitas gerações vivem em Nadiya, jamais tiveram qualquer mácula em termos de reputação. Tais homens traíram a tradição de honradez de sua família. Desde pequenos que assim se ocupam em atividades pecaminosas. Vendo quão mal se comportavam, a família deles os renegou. Como dois desterrados, eles vagueiam aqui e ali com outros beberrões. Quando os vêem, as pessoas sentem medo considerando que a qualquer momento eles podem incendiar suas casas. Eles são ladrões, alcoólatras e comedores de carne; não há nenhum pecado que eles não tenham cometido”.

Nityananda Decide Liberar Jagai e Madhai

Ao ouvir a descrição dos dois, o coração do Senhor Nityananda apiedou-se deles, e Ele decidiu que iria liberá-los. Ele pensou: “O Senhor Chaitanya descendeu a este mundo para salvar as almas mais caídas, e quem pode ser mais degradado do que esses dois? Como Chaitanya Mahaprabhu oculta Suas glórias e opulências; sem saberem de Sua identidade verdadeira, as pessoas zombam dEle. Se Meu Senhor, entretanto, for misericordioso com esses dois, então o mundo inteiro saberá de Seu poder supremo”, considerou Nityananda Prabhu. “Caso Eu seja capaz de fazer com que esses dois recobrem a Consciência de Krishna original deles, então Eu, Nityananda, serei um verdadeiro servo do Senhor Sri Chaitanya. Os dois estão tão bêbados que sequer sabem quem são. Se eles puderem se perder dessa mesma forma no cantar do santo nome do Senhor Krishna, se puderem exclamar o nome de Meu Senhor enquanto choram, então Minha pregação terá sido bem-sucedida. Quando tocadas pela sombra de um dos dois, as pessoas correm para se banhar no Ganges sem nem mesmo retirarem suas roupas. Se, quando estas mesmas pessoas virem os dois, considerarem que tal visão é tão purificante quanto um banho no Ganges, então Me sentirei digno de Meu nome e feliz Me sentirei ao escrevê-lo”.

As glórias e a misericórdia do Senhor Nityananda são um oceano sem costa. Para libertar os mais caídos é a razão de Seu aparecimento neste mundo. Após pensar conSigo dessa maneira, Ele sugeriu que Haridasa observasse os dois bêbados: “Olhe, Haridasa, veja como estão em péssimo estado. Apesar de terem nascido em uma família brâmane, eles agem tão mal que não lhes há escapatória para as punições infernais de Yamaraja. Mesmo quando os muçulmanos o tentavam matar, você seguiu indulgente para com eles em seu coração. Se seu coração também se apiedar desses dois homens, certamente o Senhor também concederá a eles a liberação. O próprio Senhor disse ser incapaz de ir contra seus desejos. Você deseja, e Ele dispõe. Com o nosso Senhor Chaitanya liberando estes dois homens deploráveis, deixemos que todos vejam quão magnânimo Ele é! Da mesma forma que cantam os Puranas sobre a liberação de Ajamila, que todos os mundos testemunhem a liberação destes dois pecadores”.

Haridasa conhecia muito bem a verdade referente à posição do Senhor Chaitanya. Assim, no íntimo de seu coração, Haridasa sabia que aqueles dois já estavam salvos. Haridasa disse a Nityananda: “Por favor, ouça, ó Senhor. Tudo o que Você deseja certamente o Senhor Chaitanya realiza. Você me engana dizendo que eu posso falar com o Senhor porque eu sou um animal e preciso ser enganado; Você age repetidamente dessa maneira apenas para bondosamente me lembrar de minha posição baixa”. Sorrindo, o Senhor Nityananda abraçou Haridasa e disse de maneira muito gentil: “Cumprindo a ordem do Senhor, falemos a esses dois bêbados a mensagem de Sri Chaitanya Mahaprabhu. O Senhor instrui que todos cantem o nome de Krishna, especialmente os mais degradados. Falar com estes dois pecadores é o nosso dever. Eles cantarem ou não os santos nomes, depende do Senhor”.

Dois Sannyasis em Apuros

Tomada a decisão, Nityananda e Haridasa colocaram-se em direção aos dois para repetirem a mensagem do Senhor Chaitanya. As pessoas piedosas que estavam próximas, no entanto, disseram a Nityananda e Haridasa: “Para manterem suas vidas seguras é melhor não se aventurarem a se aproximar deles. Próximos a esses dois homens, sempre tememos por nossas vidas. Como poderemos suportar ver vocês dois se aproximando deles? Porque desde muito se ocupam eles em matar brahmanas e em abater vacas, não esperem que eles possam entender a posição gloriosa de um sannyasi!”. A despeito dos avisos, cantando repetidamente o nome de Krishna, eles se aproximaram dos dois pecadores. Aproximando-se o bastante para que eles pudessem ouvir, Nityananda e Haridasa repetiram alto a mensagem do Senhor Chaitanya: “Digam Krishna, adorem Krishna, cantem o nome de Krishna. Krishna é sua mãe, Krishna é seu pai, e Krishna é seu tesouro e sua vida. O Senhor Krishna descendeu a este mundo unicamente para salvar todos vocês. Portanto, abandonem, por favor, suas atividades pecaminosas e adorem o Senhor Krishna”.

Ouvindo tais palavras pronunciadas com autoridade, os dois alcoólatras levantaram suas cabeças e olharam para os dois pregadores com seus olhos vermelhos em fúria. Ao verem a quem pertenciam as vozes, eles fitaram os dois sannyasis e gritaram: “Pegue-os! Pegue-os”, e colocaram-se a correr atrás deles. Nityananda e Haridasa fugiram às pressas, enquanto os dois bêbados corriam atrás deles e gritavam. Seus gritos eram insultosos, e, assustados, os dois devotos fugiam deles. As pessoas começaram a dizer: “Nós os avisamos. Não tendo nos ouvido, agora correm perigo os dois sannyasis”. Dentro de seus corações, os materialistas e ofensores riam e maliciosamente pensavam: “É bem apropriado que o Senhor Narayana puna esses charlatões”. Já os brahmanas piedosos diziam: “Krishna, proteja-os! Krishna, proteja-os!”. Com medo, todos se dispersaram. Os devotos corriam em fuga e os dois vadios seguiam atrás deles. Embora gritassem: “Eu vou pegar vocês! Eu vou pegar vocês!”, eles não conseguiam alcançá-los.

O Senhor Nityananda disse: “Se sobrevivermos a isso, seremos certamente bons vaishnavas”. Haridasa disse: “Ó meu Senhor, por que Você fala? Por causa de Suas idéias, agora estamos prestes a ter uma morte brutal. Porque Você considerou que seria uma boa idéia instruir esses bêbados sobre o Senhor Krishna, nossas vidas estão prestes a ser findadas”. Falando dessa maneira, o Senhor Nityananda ria e Se divertia, enquanto que os dois vadios os perseguiam e lhes atiravam insultos e desaforos. Os dois bêbados eram gordos e desajeitados; embora não pudessem correr muito rápido, corriam tão rápido quanto podiam. “Ei, irmãos!”, disseram os dois ladrões. “Por que vocês estão correndo? Por que fogem de Jagai e Madhai? Vocês não entendem a verdadeira natureza de Jagai e Madhai; vocês nos julgaram erroneamente”. Tais palavras apenas incentivaram Nityananda e Haridasa a continuarem correndo. “Krishna! Salve-nos! Krishna! Salve-nos! Govinda!”, eles gritavam com medo. Haridasa disse a Nityananda: “O Senhor Krishna me salvou algum tempo atrás das mãos cruéis dos algozes muçulmanos, hoje, todavia, em virtude das idéias de um encrenqueiro de natureza inquieta que me acompanha, terei de me deparar com o fim de minha vida”. Sri Nityananda respondeu: “Eu não sou encrenqueiro. Olhe em seu coração e você verá que o seu mestre sim é um encrenqueiro. Conquanto seja um brahmana, seu mestre dá ordens como se fosse um rei. É por causa das ordens dEle que estávamos indo de casa em casa falando aquilo que falamos. Eu jamais ouvi alguém dar as ordens que Ele dá. ‘Vá até os ladrões e pecadores’. Ninguém diz isso. Se não seguirmos Suas ordens, tudo estará acabado. Se as seguirmos, tudo também estará acabado. Uma vez que você pensa que seu mestre não tem culpa, ambos deveríamos dizer: ‘Eu sou culpado’.”.

Enquanto os dois fatigados ladrões corriam atrás deles, os devotos jocosamente discutiam dessa maneira. Assim corriam em direção à casa de Srivasa Thakura. Confusos em consequência da intoxicação do vinho, os dois ladrões tropeçavam enquanto desvairadamente perseguiam os devotos. Não sendo mais capazes de ver os dois sannyasis, os dois beberrões pararam. Por fim, os dois começaram a se empurrar e a brigar, causando grande comoção. “Para onde eles foram?”. Desorientados pelo vinho, eles não sabiam. Ao olharem rapidamente para trás para saberem se os dois ladrões ainda estavam a persegui-los, os devotos puderam constatar que não. Tendo parado de correr, os dois devotos se abraçaram. Rindo, eles foram ao encontro do Senhor Chaitanya.

O Senhor Chaitanya Ouve o Passatempo de Sankirtan

Já na casa de Srivasa, Nityananda e Haridasa encontraram o Senhor Chaitanya sentado em meio aos devotos com Seus encantadores olhos de lótus e Seus membros de beleza ímpar. A pulcritude do Senhor encantava até mesmo o Cupido. Nessa assembléia de vaishnavas, o único tópico discutido era a Consciência de Krishna. Como o Senhor de Svetadvipa na companhia de Sanaka e outros sábios, o Senhor Chaitanya, na companhia de Seus devotos, explicava a verdade acerca de Si mesmo. Então, Nityananda e Haridasa aproximaram-se do Senhor para Lhe contarem as atividades do dia. “Um estranho incidente hoje ocorreu”, eles começaram. “Nós nos cruzamos com dois homens singulares. Embora nos tenham dito que nasceram em famílias de brahmanas, eles estavam completamente alcoolizados. Visando o bem deles próprios, nós dissemos a eles: ‘Por favor, cantem o nome do Senhor Krishna’. Mas eles reagiram demonstrando descontentamento e nos perseguiram querendo nos agredir. Por pouco, conseguimos escapar com vida”.

“Quem são esses dois homens?”, o Senhor Chaitanya perguntou. “Qual o nome deles? Se são brahmanas, por que agem dessa forma grosseira?”. Gangadasa e Srivasa, que estavam sentados próximos a Chaitanya Mahaprabhu, descreveram os pecados de Jagai e Madhai. Eles disseram: “Senhor, seus nomes são Jagai e Madhai. Eles nasceram aqui nesta cidade, e ambos são filhos de um piedoso brahmana. Más companhias, entretanto, fizeram com que os dois se degradassem; eles, Senhor, não conhecem nada além de intoxicação. Seus nomes instigam medo no coração das pessoas. Não há ninguém como eles aqui. Além deles dois, ninguém mais rouba casas. É impossível descrever todos os seus pecados. Você, no entanto, tudo vê e tudo sabe, meu Senhor”.

O Senhor Chaitanya disse: “Eu sei. Eu sei. Se esses dois pecadores aparecerem diante de Mim, Eu os reduzirei a pedaços”. “Se Você os reduzir a pedaços”, o Senhor Nityananda disse, “Eu não ficarei aqui. Por que Você está irado com eles? Deixe-Me primeiramente fazê-los cantar o nome de Govinda! Pessoas naturalmente piedosas irão facilmente cantar o nome do Senhor Krishna, mas esses dois conhecem apenas atividades irreligiosas. Se nós os liberarmos e os trouxermos para o serviço devocional, então ficaremos verdadeiramente conhecidos como Patita-pavanas, os salvadores dos caídos. Por Me salvar, Você Se tornou glorioso. Contudo, caso salve esses dois pecadores, Sua glória crescerá de maneira exponencial!”. Sorrindo, o Senhor Chaitanya disse: “No instante em que O viram, todos os dois foram imediatamente liberados. Visto que Você está preocupado com o bem-estar deles, o Senhor Krishna logo Se encarregará de beneficiá-los com toda auspiciosidade”. Ao ouvirem estas palavras saindo da boca do Senhor, os devotos irromperam em uma jubilante exclamação de “Jaya! Jaya!”. Todos estavam convencidos de que os pecadores já estavam salvos.

A Liberação de Jagai

Em seu hábito de deambular de um lugar a outro, por arranjo divino, os dois bêbados chegaram ao trecho do Ganges no qual Se banhava o Senhor Chaitanya. Ali, seguiam com sua ocupação de aterrorizar as pessoas. Famosos e importantes, ricos ou pobres – todos sentiam o medo nascer em seus corações. À noite, ninguém se aventurava ir ao Ganges. Se fossem, iam em grupos de dez ou vinte. Durante a noite, os dois beberrões ficavam próximos à casa do Senhor Chaitanya. Ouvindo o Senhor cantar, eles ficavam acordados a noite toda. Ao longo da noite, quando ouviam o kirtana do Senhor com o acompanhamento de karatalas e mrdangas, os dois bêbados dançavam alegremente. Mesmo distantes, eles podiam ouvir o kirtana. Ao som transcendental, eles dançavam e então bebiam mais vinho. Ouvindo o kirtana, eles cantavam, sentavam-se, ficavam de pé, dançavam. Afogados na intoxicação do vinho, eles não sabiam nem onde estavam nem quem eles mesmos eram. Ao se depararem acidentalmente com o Senhor, eles diziam: “Nimai Pandita! Cante as belas canções da deusa Durga! Você canta muito bem! Nós iremos visitá-lO e levaremos a parafernália para o kirtana de Durga”. Vendo os dois ladrões, o Senhor Chaitanya mantinha distância. Outros, ao verem os dois, tomavam uma rota diferente.

Um dia, enquanto andava pela cidade, o Senhor Nityananda foi parado pelos dois bêbados. “Quem? Quem?”, Jagai e Madhai perguntaram aos gritos. “Estou indo para a casa do Senhor”, respondeu Nityananda. Embriagados, eles perguntaram: “Qual é o Seu nome?”. Nityananda respondeu: “Meu nome é Avadhuta”. O tempestuoso Senhor Nityananda, perdido em Seu humor de garotinho, conversou com os dois bêbados como se em uma brincadeira. Ele já havia decidido em Sua mente que libertaria os dois, daí Ele ter premeditado Se encontrar com eles passando por aquele lugar naquele horário. Quando ouviu o nome “Avadhuta”, Madhai pegou um pote de barro e raivosamente o quebrou contra a cabeça do Senhor Nityananda. Quando Nityananda foi atingido pelo pote que antes trazia vinho, sangue escorreu por Sua face. Nityananda meditava silenciosamente no Senhor Krishna. Ao ver ensanguentada a cabeça do Senhor, Jagai ficou compassivo. Quando Madhai posicionou-se para golpear novamente o Senhor, Jagai o censurou: “Por que você age dessa maneira cruel e impiedosa? Por que golpear esse estrangeiro? Não O golpeie novamente. Que benefício lhe traria machucar um sannyasi avadhuta?”.

As pessoas correram desesperadamente até o Senhor Chaitanya para Lhe contarem o que havia acontecido. Acompanhado por muitos devotos, Chaitanya Mahaprabhu imediatamente foi até onde estava Nityananda. Ainda com os dois bêbados Ele Se encontrava. Embora o sangue de Sua cabeça tivesse escorrido por todo o Seu corpo, Nityananda sorria. Ao ver Seu amado Nityananda coberto de sangue, o Senhor Chaitanya ficou imensamente encolerizado. Esquecido do mundo externo, Ele chamou por Seu disco devastador. “Cakra! Cakra! Cakra!”, Ele exclamou repetidamente. Imediatamente se fez presente Sua Sudarsana-cakra – brilhando assustadoramente diante dos olhos de Jagai e Madhai. Os devotos pressentiram uma grande calamidade por vir, mas o Senhor Nityananda rapidamente Se aproximou de Sri Chaitanya e Lhe suplicou: “Senhor, embora Madhai quisesse Me acertar, Jagai o deteve. É unicamente devido ao Meu mau karma passado que sangrei um pouco, mas Eu não estou infeliz. Senhor, por favor, dê os corpos destes dois homens para Mim. Eu não experiencio nenhuma dor; por favor, fique calmo”.

Assim que ouviu as palavras “Jagai o deteve”, um radiante Senhor Chaitanya abraçou Jagai. “Que o Senhor Krishna seja misericordioso com você”, Ele disse a Jagai. “Como você protegeu Nityananda, agora você Me tem como sua propriedade. Você pode pedir-Me qualquer coisa que deseje seu coração. De hoje em diante, você está firmemente situado em uma vida de serviço devocional puro, na qual experimentará amor por Krishna”. Em apreciação à bênção do Senhor a Jagai, todos os devotos gritaram tumultuosamente “Jaya! Jaya!” e “Hari! Hari!”. Em simultaneidade com os dizeres do Senhor Chaitanya “você está firmemente situado em uma vida de serviço devocional puro”, Jagai desfaleceu subjugado pelo intenso êxtase amoroso. O Senhor Chaitanya disse: “Jagai, levante-se e olhe para Mim. Eu realmente o presenteei com a dádiva do amor e da devoção puros ao Supremo”. Jagai então viu o Senhor Chaitanya manifestar Sua forma de quatro braços, na qual portava búzio, cakra, maça e lótus. Vendo tal manifestação, Jagai novamente desmaiou. Com Jagai caído ao chão, Chaitanya Mahaprabhu acomodou Seu pé sobre o peito dele. Jagai pôde entender o grande tesouro que são os pés do Senhor, tesouro este que é a própria vida de Laksmidevi – um tesouro inestimável. Agarrado aos pés de lótus do Senhor, Jagai chorou como uma criança. Assim desfruta eternamente o Senhor de passatempos extraordinários.

A Liberação de Madhai

Uma única vida residia nos dois corpos de Jagai e Madhai. A mesma pureza e o mesmo pecado residia em ambos. Quando o Senhor demonstrou misericórdia para com Jagai, o coração de Madhai imediatamente se purificou. Negligenciando a presença do Senhor Nityananda, Madhai apressou-se em cair como uma vara diante de Sri Chaitanya, agarrando então Seus pés de lótus. Ele disse: “Senhor, Jagai e eu cometemos ambos os mesmos pecados. Assim sendo, Senhor, por que Você não é igualmente misericordioso para com nós dois? Por favor, seja misericordioso comigo. Eu cantarei Seu nome, pois, além de Você, não há ninguém que possa me libertar”. O Senhor Chaitanya respondeu: “Porque você fez com que o corpo de Nityananda sangrasse, Eu não irei proteger você”... (continua)


Tradução de Bhagavan dasa (DvS), revisão de Naveen Krishna dasa (HdG), Prana-vallabha devi dasi (DvS) e Prema Vardhana devi dasi (DvS)