Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Sannyasa-yoga - Ocupando-nos em Satisfazer Única e Exclusivamente o Senhor Krishna



Sannyasa-yoga




Ocupando-nos em Satisfazer Única e Exclusivamente o Senhor Krishna




Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização.


29/11/2007.




Ocorreu-me esses dias meditar sobre alguns princípios básicos da consciência de Krishna e encontrei no transcorrer do meu estudo diário do Bhagavad-gita, esta definição de Srila Prabhupada para sannyasa-yoga que, creio eu, resume um dos preceitos fundamentais do cultivo do amor à Pessoa Suprema, Sri Krishna. Assim, Srila Prabhupada explica que sannyasa-yoga significa que a pessoa deve procurar conhecer sua posição constitucional como entidade viva, e agir em conformidade. Vejamos o que quer dizer isso? Srila Prabhupada esclarece mais adiante a sua fala dizendo: “O ser vivo não tem identidade separada independente. Ele é uma energia do Supremo. Quando está acorrentado a energia material, é condicionado, e quando consciente de Krishna, ou está inteirado da energia espiritual, então, está em seu verdadeiro estado de vida”. E prosseguindo em sua definição de sannyasa-yoga, Srila Prabhupada pontua: “Portanto, quando alguém está em conhecimento completo, cessa todo o gozo dos sentidos materiais, ou renuncia a todas as espécies de atividades que produzem o gozo dos sentidos. Isto é praticado pelos yogis que eliminam dos sentidos o apego material. Mas quem é consciente de Krishna não deixa aparecer a oportunidade de ocupar seus sentidos em algo que não seja para o propósito de Krishna. De modo que pode se considerá-lo ao mesmo tempo como um sannyasi (renunciante) e um yogi”. Srila Prabhupada expõe tudo isso como uma preliminar a seu significado para o verso do Bhagavad-gita que se segue e elucida ainda mais o termo sannyasa-yoga: yam sannyasam iti prahur yogam tam viddhi pandaya na hy asannyasta-sankalpo yogi bhavati kascana (Bg. 6.2). “Fica sabendo que aquilo que se chama renuncia é o mesmo que yoga, ou união com o Supremo, ó filho de Pandu, pois só pode tornar-se um yogi quem renuncia ao desejo de gozo dos sentidos”. O conceito de sannyasa-yoga é bastante significativo para aquele que cultiva o amor a Deus, pois, no momento histórico que atravessamos, onde cada vez mais os ditames do consumo e da gratificação irrestrita dos sentidos se alastram por toda parte, fico aqui pensando o quanto é trabalhoso não se deixar arrastar por tal mentalidade avassaladora. Portanto, situarmo-nos em sannysasa-yoga, isto é, conhecer nossa posição constitucional como partes integrantes e servos eternos do Senhor e ocuparmo-nos em satisfazê-lO única e exclusivamente através de todas nossas atividades rotineiras, revela-se de fundamental importância para uma vida bem sucedida. A este respeito, Srila Prabhupada declara: “O verdadeiro objetivo da auto-realização é que a entidade viva abandone toda a satisfação egoísta e esteja preparada para satisfazer o Supremo. O devoto consciente de Krishna não deseja nenhuma espécie de gozo pessoal. Ele sempre se preocupa em dar prazer ao Supremo. Quem não tem nenhuma informação sobre o Supremo fatalmente ocupa-se em buscar sua satisfação, porque ninguém pode permanecer inativo. Todos os propósitos se cumprem perfeitamente através da prática da consciência de Krishna”. Portanto, sannyasa-yoga ou bhakti se cumpre quando ouvimos sobre Krishna em livros tais como o Bhagavad-gita e o Srimad-bhagavatam, cantamos os Seus santos nomes, nos associamos com os Seus devotos, comemos prasada (alimento oferecido ao Senhor), prestamos algum serviço na missão de Srila Prabhupda (como distribuir os seus livros), adoramos as deidades ou visitamos os lugares sagrados onde o Senhor desempenhou alguns de Seus passatempos eternos. Isso é facil, muito simples e agradável de ser praticado.




HARE KRISHNA

O Gita Condensado - The Gita Condensed



Artigo originalmente publicado em Back to Godhead [Volta ao Supremo] – Revista fundada por Sua Divina Graça Srila Prabhupada no ano de 1944




O Gita Condensado The Gita Condensed




por Kalakantha Dasa




Em 1968, Sua Divina Graça A. C. Bhaktivedanta Svami Prabhupada publicou o Bhagavad-gita Como Ele É, que desde então vendeu dezenas de milhões de cópias em várias línguas. Como um devoto de Krsna em tempo integral e sanscritólogo perito, Srila Prabhupada reportou com todas as letras a clara conclusão do Gita, que muitos comentadores obscurecem com suas traduções liberais, e por terem também outros importantes afazeres em suas agendas. Os significados de Srila Prabhupada iluminam para nós os versos falados por Krsna e Arjuna. A versão condensada desse diálogo histórico que será aqui apresentada combina pontos chaves de versos e significados na mesma seqüência em que aparecem no original. Os versos não são citações diretas, e por isso não substituem o Bhagavad-gita Como Ele É em sua versão original. Em vez disso, esta versão provém uma visão geral do tratado filosófico do Gita. Ela está em conformidade com a compreensão apresentada por Srila Prabhupada e pode ser usada com fim introdutório ou para revisão. Parte 1: Ação Arjuna: Krsna, por favor, conduza minha quadriga até o meio de ambos os exércitos. Deixe-me ver quais seguidores do infrator das leis, Duryodhana, vieram até aqui para lutar. Krsna (Guiando a bela quadriga dourada para o meio dos dois gigantescos exércitos que se contemplavam no campo de batalha): Apenas veja, meu primo, todos os grandes guerreiros aqui reunidos. Arjuna (horrorizado): Krsna, eu não posso lutar contra esses parentes queridos, professores e mais velhos. Toda a minha família seria destruída. Prefiro morrer, ou simplesmente viver como um mendigo. Krsna (sorrindo gentilmente): Você esqueceu-se que todos são almas eternas, e não corpos físicos. Você pode matar o corpo, mas não a alma. Arjuna: Krsna, como eu poderia matar esses homens dignos de adoração? Qualquer possível vitória seria maculada pelo derramamento do sangue deles. Eu não sei o que fazer. Por favor, instrua-me. Krsna: Meu amigo, você é um guerreiro. Lute, mas não para seu prazer pessoal. Lute para o prazer do Supremo. Então você estará agindo como a alma eterna que você de fato é. Lute contra todas as variedades de materialismos e seja um yogi. Arjuna: O que fazem os yogis? Como eles agem? Krsna: Os yogis executam seus deveres externos sem apego, porque eles se tornaram senhores de seus sentidos e mente. Eles desfrutam de uma felicidade interior, que está esquecida por muitos. Arjuna: Você está me dizendo para ser feliz interiormente e ao mesmo tempo pedindo que eu lute. Isso é contraditório. Krsna: Você não pode viver sem agir, Arjuna. Ao invés de agir para seu prazer pessoal, faça o que você faz como um sacrifício ao Supremo. Assim, você será feliz. Arjuna: O que é isso que me faz agir egoistamente? Krsna: Luxúria, Arjuna, nascida de desejos inesgotáveis. A luxúria destrói sua habilidade de pensar claramente. Por muitos anos Eu venho ensinando as pessoas a como usar a yoga para que se livrem da luxúria. Eu ensinei ao deus do sol, que ensinou ao seu filho, que começou uma longa corrente de professores. De alguma forma, todavia, o conhecimento original se perdeu, por isso, hoje, Meu caro amigo, Eu irei ensinar este conhecimento para você. Arjuna: Como Você pode ter ensinado algo ao deus do sol, que é muito mais velho do que Você? Krsna: Corpos comuns envelhecem e morrem, Arjuna, mas Meu corpo é espiritual e jamais se deteriora. De tempos em tempos, Eu apareço na sociedade para ajudar as pessoas boas e aniquilar as más. As pessoas boas tornam-se livres da luxúria e direcionam seu amor para Mim. Mas existem vários tipos de pessoas, e Eu reciproco a cada uma individualmente. Aja em harmonia com Meu plano, Arjuna. Quando assim o fizer, tudo o mais – seu trabalho, seu equipamento, seu conhecimento – se tornarão parte de uma bem-aventurada oferenda, um sacrifício para o Supremo. Há vários tipos de sacrifício, Arjuna, por isso você deve encontrar um guru verdadeiramente iluminado para que lhe ajude explicando cada sacrifício. Agir sem apego e agir para o Meu prazer são ambas formas de yoga. Todavia, agindo para Mim, você automaticamente age sem apego. Lembre-se que sou Seu amigo, o proprietário de tudo, que todas as ações se destinam a mim. Então você terá interminável paz interior. Você cumprirá seu dever em perfeita yoga, ou união coMigo. Para isso, você talvez ache útil executar as longas austeridades do processo místico da yoga e da meditação. Arjuna: Fazer a mente sentar-se quieta é como tentar controlar os ventos. A yoga mística parece muito difícil para mim. Krsna: Sim, ela é difícil, mas não impossível. Arjuna: E se eu começar a trilhar o caminho da yoga e falhar? Eu então serei um perdedor, tanto material quanto espiritualmente. Krsna: Como pode haver perda, quando se faz o que deve ser feito? No mínimo, sua próxima vida será melhor. Por outro lado, se você conseguir aprender a Me amar, na hora da morte virá a Mim e deixará para trás este mundo terrível. Parte 2: Devoção Krsna: Arjuna, escute o que tenho a lhe dizer. Você é uma das poucas almas que querem conhecer a verdade. Apenas tente entender estes pontos: Tudo emana de Mim, Arjuna, até mesmo os três tipos de materialismos, que afetam a todos, exceto a Mim, que os criei. Pessoas que sejam materialistas, arrogantes, pseudo-sábios ou tolos, ignoram-Me. As pessoas buscam por Mim quando estão curiosas, desesperadas, tristes ou quando são sábias. Pessoas que pensam que sou apenas uma manifestação do Brahman, o espírito sem forma, jamais Me conhecem pessoalmente. Mas os sábios que servem a Mim, vêm a Mim após a morte. Arjuna: Fale-me, por favor, sobre este espírito sem forma, bem como dos deuses, da alma, do karma, e de Sua presença em meu coração. E, por favor, diga-me como posso conhecê-lo na hora da morte. Krsna: O espírito sem forma, ou Brahman, é minha refulgência espiritual, e as almas espirituais - ou centelhas individuais – são da mesma natureza espiritual. Por natureza, as almas individuais são servos, mas, se elas decidem servir a este temporário mundo material, elas sofrem com a lei do karma. Quanto aos deuses, eu os criei para administrarem este mundo material. E, sim, Eu vivo em seu coração como a Superalma, Arjuna. Para lembrar-se de Mim à hora da morte, pratique lembrar-se de Mim enquanto luta. Em outros momentos, pense em mim como o mais velho e sempre jovem, grande e minúsculo, mas sempre como uma pessoa, radiante como o sol. Os yogis místicos se submetem a longos, profundos e mecânicos processos de meditação para deixarem seus corpos em um momento exato. Isso os ajuda a irem ao Meu encontro no mundo espiritual – o único mundo livre da miséria dos repetidos nascimentos e mortes. Mas lhe é possível chegar lá simplesmente por lembrar-se de Mim. De fato, por servir a Mim, você obtém tudo o que por ventura ganharia através do estudo, da austeridade, da caridade, renúncia ou de qualquer outra atividade religiosa. Diria mais. Essa instrução é o rei da educação, Arjuna. Porque você não Me inveja, você é qualificado para receber este conhecimento. Você deve apenas ouvir com fé. Eu crio o universo e tudo o mais dentro dele, mas Eu continuo um indivíduo, intocado por Minha criação. Tolos me vêm como um homem comum, mas as grandes almas se curvam perante Mim e Me servem com amor. Outros, ao contrário, oferecem grandes sacrifícios aos deuses, porque têm interesse nos prazeres materiais que os deuses podem lhes dar. Mas se alguém me oferece apenas um pouco de água ou uma flor ou algum alimento vegetariano, Eu aceito. Mesmo que você cometa erros, Eu lhe aceitarei; Sou equânime para com todos, mas parcial para com Meus devotos. Seja Meu devoto, e Eu lhe prometo que virá a Mim. Em resumo, apenas saiba que Eu crio tudo. Sempre Me sirva e fale sobre Mim, e você será feliz, pois Eu, situado dentro de seu coração, destruirei com a luz brilhante do conhecimento a escuridão nascida na ignorância. Arjuna: Eu sinto muito prazer em ouvi-lO, Krsna. Parece-me que apenas Você pode conhecer a Si mesmo. Como poderia eu conhecê-lO? Krsna: Quando você se deparar com o melhor de algum grupo – como o tubarão entre os peixes, ou o leão entre as feras, por exemplo – lembre-se de Mim. Lembre-se que qualquer beleza que você contemple neste mundo é apenas uma centelha de Meu verdadeiro esplendor. Arjuna: Krsna, Você gentilmente desfez minha ilusão. Embora eu possa vê-lO agora como Você é, se Você acha que sou capaz de contemplar essa forma, mostre-me Sua forma na qual Você é todo este universo e tudo o que há dentro dele. Krsna: Sim, Arjuna. Eu lhe darei agora olhos divinos para contemplar essa visão divina. Contemple-a! Arjuna (espantado): Krsna, eu vejo os grandes deuses com suas armas e jóias, vejo inumeráveis planetas, tudo é deslumbrante, com todas as cores imagináveis. A refulgente glória de tudo isto está me cegando. Mesmo os deuses se curvam com medo perante Você. Você é mesmo a origem de tudo, Krsna! Você testemunha a tudo com Seus olhos, que são o sol e a lua. (com medo) Agora posso vê-lO destruindo os corpos de todas as entidades vivas com Seus dentes afiados e assustadores. Meus parentes, meus amigos – todos estão indo em direção a seus dentes! Por que está fazendo isso? Krsna: Eu sou o tempo, a morte de tudo. Todos estes guerreiros já estão mortos por meu arranjo, Arjuna. Lute como Meu instrumento e tenha para si a fama eterna! Arjuna (tremendo): Grandioso Senhor, ofereço-Lhe minhas reverências de todas as formas! Toda entidade viva deveria glorificá-lO, mas eu tolamente Lhe tratei como um amigo. Por favor, perdoe-me, assim como um pai perdoa um filho ou uma esposa perdoa o marido. E, por favor, permita-me vê-lo novamente como Krsna. Krsna: Minha forma universal lhe assustou, Arjuna. Fique calmo. Contemple novamente a forma que lhe é querida. Arjuna, mesmo que uma pessoa execute todo tipo de atividade piedosa, ela não pode ver-Me assim, como Krsna. Apenas através do serviço devocional é possível conhecer-Me como sou. Arjuna: Meu Senhor, eu devo contemplá-lO como Krsna ou como o infinito, como o espírito sem forma? Krsna: Alguns meditam em Mim como o espírito sem limites. Este tipo de meditação é problemática, mas eles acabam Me alcançando. Mas se você pensar diretamente em Mim, Eu prontamente lhe resgatarei do oceano de nascimentos e mortes. Se você não é capaz de pensar sempre em Mim, então escute e cante minhas glórias através da prática de bhakti, ou serviço devocional. Se você não pode fazer isso, então trabalhe para Mim, ou ao menos trabalhe em caridade, porque desapego da mentalidade egoísta traz paz – mais do que traz o mero conhecimento. Pessoas que pensam em Mim com devoção desenvolvem grandes qualidades, como gentileza, tolerância, estabilidade emocional e determinação. Elas amam a Mim, e Eu as amo. Parte 3: O Conhecimento Espiritual Arjuna: Krsna, qual a relação do corpo e da alma? Krsna: A alma é como um campo de atividades para a alma. Uma alma comum se interage com o corpo usando os sentidos para experimentar diferentes emoções, como a luxúria e o ódio. Todavia, com a ajuda de um mestre espiritual [guru], uma alma sábia se torna desapegada do corpo material. Tal pessoa é humilde, equilibrada e verdadeiramente livre. Como a Superalma, Eu ofereço instrução para todas as almas, sejam elas sábias ou não. Toda alma pode escolher entre Mim e o materialismo. Aqueles que escolhem o materialismo sofrem repetidos nascimentos e mortes em diferentes espécies de vida. Aqueles que escolhem a Mim, passam a conhecer todas as coisas: espirituais e materiais. Deixe-Me falar-lhe mais sobre a energia material. Ela se manifesta em três variedades, ou modos: bondades, paixão e ignorância. Como o Pai que dá a semente, Eu animo a matéria inerte dando a ela as almas espirituais. Então os modos controlam o resto. O modo da bondade condiciona a alma à felicidade temporária, o da paixão à ambição, e o da ignorância à ilusão. Os três modos da natureza competem entre si pela supremacia, levando você, a alma eterna, de uma condição material para outra. Apenas quando estiver livre do controle desses modos, você poderá provar o sabor da felicidade verdadeira. Arjuna: Como alguém se situa acima dos três modos? E tendo conquistado os três modos, como a pessoa se comporta? Krsna: Para conquistar os modos e ficar livre tanto do bom karma quanto do mau karma, simplesmente ame e sirva a Mim em todas as circunstâncias. Assim, quando os oscilantes modos irem e virem, você apenas os observará, sem apego ou aversão. Nesse estado, você será inabalavelmente calmo e tratará a todos com equanimidade. Arjuna, imagine este mundo como uma grande e ancestral figueira de bengala, cujos galhos crescem para baixo e se transformam em raízes. É impossível dizer onde esta árvore começa ou termina. Se você quiser escapar do enredamento desses galhos, você deve cortar esta árvore. Então, você poderá entrar em Minha morada auto-refulgente, na qual não há necessidade de luz solar ou eletricidade. Quando você chegar à Minha morada, você não terá saudades dessa árvore mortal. Eu quero que todos venham à Minha morada, por isso Eu sento-Me no coração de todos como a Superalma, e ofereço instrução espiritual. Eu também escrevo a literatura Védica para que as pessoas possam conhecer a Mim. Eu sou superior tanto aos materialistas quanto às almas iluminadas. Se você conhecer a Mim, você se tornará sábio, e tudo o que fizer redundará em perfeição. Eu acabei de lhe dizer algo sobre as almas iluminadas: elas são honestas, puras, auto-controladas e desapegadas. Você está entre essas pessoas, Arjuna, mas deixe-Me falar-lhe um pouco sobre os materialistas, os desvirtuados ateístas. Pessoa não-divinas não sabem o que deve ser feito ou o que não deve ser feito. Elas são sujas, desonestas e exageradamente interessadas em sexo. Pensando que Minha criação na verdade pertence a eles, eles constroem armas destrutivas e se sentem poderosos e orgulhosos. Suas ocasionais manifestações de religiosidade e caridade são destituídas de significado, pois são escravos da luxúria. Presos no materialismo pela avareza e irá, eles caem em formas inferior de vida nascimento após nascimento. As escrituras sagradas, que podem salvá-los desse fado, não lhes interessam. Arjuna: O que acontece com aqueles que não se baseiam nas escrituras sagradas [Vedas], mas criam seus próprios processos de adoração? Krsna: Uma religião imaginada é produto dos três modos. No modo da bondade a pessoa adora os deuses; no modo da paixão, políticos e homens poderosos; e na ignorância, fantasmas que podem lhe fazer favores. Os três modos afetam a tudo, mesmo sua comida. Sucos, gordura natural e alimentos integrais são do modo da bondade; alimentos amargos, salgados, ácidos e picantes são do modo da paixão; e alimentos putrefatos, frios ou velhos são da ignorância. Os modos também influenciam o tipo de caridade que você dá e qual tipo de disciplina você estabelece para si mesmo. Mesmo assim, você não deve abandonar os atos de caridade e penitência. Arjuna: O que significa, portanto, ser renunciado? Krsna: Renúncia significa desapego aos frutos do trabalho. Uma pessoa no modo da bondade trabalha por uma questão de dever, renunciando aos resultados. Outra, no modo da paixão, renuncia o trabalho quando ele apresenta algum obstáculo. Outra ainda, no modo da ignorância, trabalha com preguiça e de forma confusa. Vendo outros como almas espirituais e agindo com esse conhecimento, você se situará no modo da bondade. Isso requer um esforço da mente, mas a dificuldade inicial logo é retribuída com a chegada da felicidade verdadeira. Felicidade no modo da paixão parece esplendida no começo, mas termina sendo dolorosa. Felicidade no modo da ignorância, como o uso de drogas, é amarga do começo ao fim. Aqueles que agem no modo da bondade, ou brahmanas, normalmente são juízes, professores ou sacerdotes. Ksatriyas, aqueles que trabalham no modo da paixão, normalmente são administradores, policiais ou soldados. Paixão e ignorância se combinam para produzir os vaisyas, comerciantes e agricultores. Aqueles com predominância do modo da ignorância são chamados sudras, e trabalham como artesãos, operários ou subordinados. Independente do melhor tipo de trabalho que se adéqüe a você, trabalhando para o Supremo, seu trabalho é yoga, e portanto é divino. Assim, é melhor cumprir seu dever, mesmo que imperfeitamente, do que cumprir o dever de outrem com perfeição. Meu querido Arjuna, apresentarei agora um resumo de tudo o que ensinei até então. Servindo a Mim, você aprenderá a agir e a viver com conhecimento e de forma simples, controlando sua mente e seus sentidos e renunciando os frutos de seu trabalho. Muito em breve você desfrutará de paz e obterá internamente uma felicidade sem precedentes, e apreciará todas as entidades vidas. Em tal estado de consciência, você alcançará Minha morada. Pense sempre em Mim e mantenha-se devotado a Mim; Eu livrarei seu caminho de qualquer obstáculo. Se você tornar-se egoísta e pensar que pode trilhar esse caminho sozinho, você se perderá. Você é um guerreiro, Arjuna; devido a sua natureza você terá invariavelmente que lutar por algo. Lute para Mim e você retornará para Minha morada. Acabei de lhe dizer os segredos da perfeição. Pense em tudo o que lhe falei, e faça aquilo que for de seu desejo. Como você é muito, muito querido a Mim, eu concluo aqui: Pense sempre em Mim. Torne-se Meu devoto. Adore-Me e ofereça-Me suas homenagens, e você retornará a Mim. Abandone todas as suas outras ocupações, Arjuna, e se submeta a Mim. Não tema: Eu lhe livrarei dos resultados de qualquer erro do passado. Por favor, repita essas Minhas palavras, mas apenas para pessoas piedosas. Isso garantirá plenamente que você voltará a Mim, pois ninguém pode ser-Me mais querido do que aquele que distribui esta mensagem. E todo aquele que ouve está mensagem com fé, sem nenhum sentimento de inveja, alcança o mundo dos piedosos. Arjuna, você entendeu o que Eu lhe disse? Arjuna (confiante): Infalível Krsna, você destruiu minhas ilusões e dúvidas. Por Sua misericórdia, eu pude lembrar-me quem eu sou. Agora, seguindo suas instruções, estou pronto para lutar.




Tradução por Bhagavan dasa (DVS)

Acordando do Sonho


Originalmente publicado em Back to Godhead [Volta ao Supremo], revista fundadapor Sua Divina Graça Srila Prabhupada no ano de 1944Acordando do SonhoWaking from the Dream


por Jahundvipa Dasa


Nós, almas que habitamos o mundo material, estamos sob a influência da potênciailusória de Krsna, Maya Devi. Assim como uma pessoa esquece sua vida enquantosonha a noite, nós que vivemos no mundo material vivemos em ignorância de nossaidentidade verdadeira, e por isso se diz que estamos dormindo. A "realidade" aqual estamos tão acostumados é apenas um sonho. Nossa existência espiritual,aquela da qual nos esquecemos - nossa existência eterna no reino espiritual - éa realidade.Como podemos distinguir entre realidade e ilusão? Em um sonho, tudo parece maisou menos real. Nós experimentamos os mesmos registros de emoções e impressõesde quando estamos acordados. Sonhos parecem bastante reais. O que, então, fazdo sonho irreal? No Bhagavad-gita, o Senhor Krsna responde dizendo querealidade é aquilo que existe sem cessação, que existe de forma contínua eeterna. Um sonho, portanto, uma vez que tem começo e fim, não pode ser real. Aexistência real é contínua."Aqueles que são videntes da verdade concluíram que não há continuidade para oinexistente [o corpo material] e que não há interrupção para o existente [aalma]. Eles concluíram isto estudando a natureza de ambos". (Bhagavad-gita2.16)Quando o Senhor Krsna se refere ao corpo material como "inexistente", Ele estádizendo que ele é temporário; sua existência não é um fato permanente."Inexistente" não quer dizer que o corpo e o mundo material simplesmente nãoestejam aqui, ou que são "falsos", como afirmam alguns impersonalistas.Em contraste com a existência eterna, nossa atual existência é efêmera einsubstancial - apenas um breve momento, como um sonho. Por mais longa que sejaa vida dentro deste sonho, ela encontrará fim, e, no reino da eternidade, nossaduração de vida de sessenta ou oitenta anos não é mais que um piscar de olhosna vastidão da eternidade, que sequer registra esse tempo. Essa verdade seaplica também ao computador que estou usando agora para escrever. Mesmo que eufosse embora e deixasse o computador aqui sozinho, sem nunca mais tocar nele, otempo iria destruí-lo, e sua identidade, ou forma, deixaria de existir.Para nós, mil ou um milhão de anos pode parecer uma quantia de tempoconsiderável, mas, do ponto de vista, digamos, do Senhor Brahma, o primeiro servivo criado no universo (que vive inimagináveis 311.040 trilhões de anos),certamente o meu computador, a mesa que sustenta meu computador, bem como acasa que abriga a mesa, não podem ser tidas como existentes. Antes que o SenhorBrahma tenha terminado sua higiene matinal, nós teremos nascido e morridomilhares de vezes.A vida do Senhor Brahma dura tanto quanto o universo no qual estamos vivendo.Ou seja, ele vive enquanto o universo existe. Então, em relação à percepção detempo do Senhor Brahma, nossas vidas são tão curtas e insignificantes que, paratodos os fins, elas praticamente não existem. De forma similar, no tempo eternodo reino espiritual, o Senhor Brahma e o universo no qual vivemos são tãoinsignificantes e inexistentes quanto nós somos em relação ao universo. Krsnaexplica isso no Bhagavad-gita (8.17-20):"Pelo cálculo humano, quando se soma um total de mil eras, obtém-se a duraçãode um dia de Brahma. E esta é também a duração de sua noite"."No início do dia de Brahma, todos os seres vivos se manifestam a partir doestado imanifesto, e depois, quando cai a noite, voltam a fundir-se noimanifesto"."Repetidas vezes, quando chega o dia de Brahma, todos os seres vivos passam aexistir, e, com a chegada da noite, são desamparadamente aniquilados"."Entretanto, há uma outra natureza imanifesta, que é eterna e transcendental aesta matéria manifesta e imanifesta. Ela é suprema e jamais é aniquilada.Quando todo este mundo é aniquilado, aquela região permanece inalterada". Outro PlanoKrsna diz existir um reino eterno, transcendental a este mundo temporário emanifesto. Aqui neste plano todas as nossas experiências e atividades sãosimilares as de um sonho porque, com o tempo, são reduzidas a uma lembrançavaga, e, então, perdem-se completamente como se nunca tivessem existido. E, porfim, dormimos na morte. Mas, nos plano espiritual, desfrutamos de umaexperiência contínua de eternidade - tendo acordado para nossa vida real.Por isso nossa presente existência em um corpo que muda da infância para ajuventude e em seguida para a velhice é irreal e semelhante a um sonho. Nossavida neste determinado corpo tem começo e fim, e por isso se trata de um sonho.Nossa vida não é irreal no sentido de que não tenha seu papel e posição. Éclaro que tem. Se eu bater minha cabeça contra a parede, ela vai doer, e essador é bastante real. Portanto, o fator de irrealidade do corpo é que ele acabae que ele nunca poderá cumprir sua promessa de nos dar a felicidade que tantoansiamos.Essa é a verdadeira ilusão do mundo material. Uma pessoa talvez considere odesfrute no mundo material como algo substancial. O que há de errada em sedesfrutar? O que há de errado em se buscar felicidade? A resposta é que oprazer da vida sempre acaba. É isso que há de errado. Tal prazer jamais poderásatisfaze o eu, porque o eu é eterno e, portanto, anseia por prazer eterno."Uma pessoa inteligente não se envolve com as fontes de miséria, que se devemao contato com os sentidos materiais. Ó filho de Kunti, tais prazeres têmcomeço e fim, e, por tanto, o sábio não busca prazer neles". (Bhagavad-gita5.22)Como podemos ver pelas palavras de Krsna acima, não só não podemos encontrarsatisfação nos prazeres temporários, mas os mesmos objetos de prazer nos trazemsofrimento. A miséria sempre acompanha a felicidade material. Sendo a almaeterna por constituição, não podemos encontrar satisfação no temporário. A vidano mundo material nunca irá nos satisfazer, não importa o quanto degratificação sensorial consigamos. É exatamente como um sonho. Podemosexperimentar alguma felicidade sensorial enquanto nos envolvemos com atividadesprazerosas, mas sempre temos que acordar para a realidade cheia de miséria elamentação. De um sonho, acordamos para a nossa vida diária; e de nossa vida,acordamos para doenças, velhice, morte e outras calamidades. Lembranças que se Apagam Na vida, as atividades a que nos dedicamos se tornam memórias, e essas memóriasse tornam sonhos. Todas as experiências que tivemos, boas e ruins, são apenasmemórias agora - fracas e sem substância - como um sonho que tivemos. Nós asesquecemos como se, de fato, nunca tivessem existido. Em essência, não hádiferença entre um sonho que tivemos e as experiências que de fato aconteceramconosco. Quando um homem velho senta-se na praça e fica contemplando as jovensque passam apressadas, não lhe é muito agradável lembrar de todo o prazer quesentiu quando tinha a companhia de mulheres. Algumas pessoas, às vezes, dizem que viveram plenamente, que têm boaslembranças para se apoiarem. Mas, de fato, as memórias do passado não sãosuficientes para nos satisfazer. As lembranças de momentos de desfrute quetivemos no passado ou a esperança de tê-los no futuro não podem satisfazer aprofunda carência que existe em nossos corações. Nossos sentidos e nossa mentepodem encontrar algum alívio em relacionamentos, ou mesmo em posses, mas porpouco tempo. Mesmo que amemos fielmente a mesma pessoa por toda a nossa vida eaquela pessoa reciproque nosso amor, a felicidade não será eterna -obrigatoriamente haverá separação, e a miséria tomara espaço novamente. Não hámaneira de evitar isto: a vida material é um poço de lamentações.Krsna diz: "Partindo do planeta mais elevando do mundo material e descendo aomais baixo, todos são lugares de miséria, onde ocorrem repetidos nascimentos emortes. Mas quem alcança a Minha morada, ó filho de Kunti, jamais volta anascer". (Bhagavad-gita 8.16)Agora, se não houvesse alternativa para a vida material, a existência seriaalgo realmente sombrio. Muitas pessoas que não têm conhecimento da alternativapositiva da consciência de Krsna acham a verdade acerca do mundo material algomuito deprimente. Mas, da mesma forma que um sonho denota algo real, nossa vidamaterial temporária é nada um reflexo distorcido de nossa vida real e eterna.O véu de nossa percepção material cobre, atualmente, nossa consciência e nossamentalidade. É isso que faz com que acreditemos ser possível encontrarfelicidade no mundo material através do corpo temporário. A alma deixa seu meiooriginal e eterno e entra no mundo temporário da matéria. Srila Prabhupadacompara tal posição como a de um peixe fora d'água. Fora de seu meio natural, opeixe não pode desfrutar, e logo morre. Não importa quanto prazer sejaoferecido ao peixe: ele não poderá desfrutar estando fora de seu meio natural.De forma similar, temos que morrer repetidas vezes, debatendo-nos por poucosmomentos inconseqüentes na praia do tempo. Esse ciclo só encontra fim quandoacordamos para nossa existência real.Nós viemos ao mundo material porque desejamos imitar a posição de Krsna como osupremo desfrutador e controlador. Como jamais poderemos usurpar a posição deKrsna, Ele bondosamente nos coloca para dormir na vida material para quepossamos sonhar que somos os desfrutadores e controladores.O processo espiritual genuíno da consciência de Krsna ajuda a alma que dorme nocolo de Maya a acordar para a realidade - a realidade da vida espiritual. Emrealidade, somos eternamente plenos de conhecimento e bem-aventurança. Mas,dormindo, não podemos realizar isso, senão que tentamos encontrar felicidade emnossos sonhos - sejam eles a busca pelo amor, a família, o sucesso, a riquezaou qualquer outra solução dentre diversas soluções temporárias. Procuramos afelicidade fora de nós, sendo que ela está o tempo todo dentro de nós. Somocomo um cervo que ignora o riacho próximo e corre para o deserto em busca deágua.Os sábios nos informam que a solução para essa lastimável condição, a maneirade se livrar dessa ignorância existencial, é o cantar do mantra Hare Krsna. Porisso, os membros do movimento Hare Krsna anseiam em ver todos cantando HareKrsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama,Hare Hare. O Kali-santarana Upanisad diz sobre o cantar do maha-mantra: "Essa éa única maneira de se combater os males de Kali-yuga. Mesmo que se busque portodos os Vedas, não se encontrará uma forma de religião mais sublime".


Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

A ciência do Ayurveda


A ciência do Ayurveda

Krishna Kishora Dasa(*)




A ciência do Ayurveda, a medicina védica milenar, é o mais antigo sistema de medicina codificada que a humanidade conhece. Há e houve inúmeros intentos para estabelecer uma data de origem deste conhecimento, assim como esforços para encontrar um precursor.

Como toda ciência védica, a sua origem se perde no tempo em que a história se confunde com o mito. Na verdade, a necessidade de estabelecer um marco histórico, cronológico, é só uma necessidade acadêmica, pois para os estudiosos praticantes, essa referência é irrelevante e inexata.

O Ayurveda é aceito como uma medicina espiritual, um caminho iniciático, uma parte de acesso a alma, através da compreensão das bioenergias do corpo, e, como tal, uma revelação divina. Revelação não tem data, só descobre um véu ilusório para mostrar o que sempre existiu.

O Ayurveda vê o corpo, assim como todo o Universo, como uma interação de três bioenergias. A que gera o movimento e faz que tudo funcione, se transporte, se una, se separe. A que transforma, que metaboliza, digere, destrói e mantém a temperatura. E a que armazena o metabolizado e digerido, para formar massa, estrutura. A primeira dessas bioenergias é chamada vata; a segunda, pitta; e a terceira, kapha.

No ser humano, encontramos a primeira no oxigênio que circula através do corpo, nos impulsos nervosos, nos neurotransmissores que levam informação sensação e consciência. A segunda, no processo digestivo encabeçado pela bile e as poderosas enzimas, suco pancreático e sistema endócrino, e também no processo racional de formação de idéias. A terceira, na ação anabólica da formação de tecidos e líquidos do corpo, encarregada da solidificação das estruturas, das formas, das paredes dos órgãos e das coberturas do corpo.

Estas bioenergias interagem constantemente possibilitando a ação de cada uma. Quando esta interação se realiza harmoniosamente, isto é chamado de equilíbrio, requisito fundamental para a saúde. Já que é ação energética, devemos observar que o movimento se efetua no plano físico e psíquico também. A informação logo é processada, digerida e forma estrutura de pensamento, opiniões e memória.

O conceito de saúde no Ayurveda se poderia resumir assim: boa digestão; boas eliminações; sentidos aguçados; mente pacífica, feliz e satisfeita. A boa digestão é ponto de partida para a saúde. Sem ela, não só não há possibilidade de um bom aproveitamento do que se come, como também não há uma boa discriminação – separação do que deve ficar no corpo por ser útil e o que deve ser expulso por ser nocivo.

A digestão se realiza primeiramente no estômago, duodeno e intestino delgado, porém, depois, ela se realiza no organismo inteiro. Tal qual a luta do bem contra o mal, o fogo sagrado da digestão, agni, combate o mal, as toxinas. Dependendo da eficiência da digestão, o sagrado ar vital ou prana, através de seus diferentes movimentos de ar, vata, se encarrega de expulsar o indesejado, na forma de excreções – fezes, urina, suor, menstruação. Um corpo sadio elimina fácil e diariamente ou regularmente. No caso da menstruação, de forma indolor e sem alterar o ânimo.

Quando a atividade física se realiza perfeitamente, a mente também fica aliviada. Pois, um corpo, com boa digestão, também terá uma boa digestão mental. Ou seja, saberá separar o que serve, o que ensina, o que acrescenta, o que dá felicidade, o que nos confunde, nos degrada e nos aflige.

Boa digestão mental também significa eliminar mágoas, rancores, traumas, apegos. Estando assim a mente limpa, ela também fica ágil, dinâmica, e os sentidos ficam claros, agudos, atuantes, ágeis. A mente é o espaço final a ser atingido. Mais do que isto, ela é o objetivo principal, pois, sem que ela esteja em paz, não há possibilidade alguma de felicidade e bem-estar.

As doenças em grande parte se originam nas emoções, por isso são chamadas dehomanasa (deho = corpo; manasa = mente), que é o mesmo que psicossomáticas (psiquis = mente ou alma: soma = corpo). A mente é tão enigmática e enganosa como um labirinto e nos faz pensar que está tudo sobre controle. Poderíamos classificar as doenças em três categorias: adiatmikas – originadas pelo corpo e pela mente; adibhauticas – originadas por outras entidades; adidaiviksa – originadas pela ação dos deuses.

Doenças adiatmikas podem se considerar as próprias e as herdadas. As herdadas são aquelas que chegam pela história genética, doenças familiares quase que já instaladas nos genes da família. Em linhas gerais, os homens herdam da família da mãe, e as mulheres, da família do pai. Porém, há exceções, tais como a depressão, que vem em linha reta: mãe depressiva, filha depressiva; e o mesmo no caso de pai e filho. Também são hereditárias as adquiridas da mãe durante a gravidez. O tipo de alimentação, ou de circunstâncias especiais, durante esse período, são fatores que resultam na constituição do filho e sua conseqüente saúde e fortaleza.

As próprias podem ser de duas naturezas – as que se adquirem por maus hábitos alimentares ou vícios e as que se provocam por desequilíbrios emocionais. Estas últimas são as mais freqüentes e são difíceis de tratar só com remédios. Os remédios aliviam, mas, como há uma questão de fundo, se não se praticam terapias desintoxicantes e rejuvenescedora, somadas a mudanças de dieta e hábitos, além de práticas espirituais, dificilmente se obterá um resultado completo.

Doenças adibhaitikas são as que se adquirem por influência de outras entidades, como, por exemplo, contágios com vírus, bactérias, picadas, mordidas, agressões físicas e coisas similares, e as provocadas por entidades em corpo sutil – fantasmas. Estes últimos se hospedam como parasitas espirituais e causam doenças em órgãos determinados, ou causam dores, ou afetam o sistema nervoso, já que eles se alojam no ar vital, e este é o alimento dos nervos.

Quaisquer que sejam as manifestações da doença, elas são reconhecidas como influências de obsessores quando são difíceis de diagnosticar. Não se detectam nos exames técnicos, nem de análises. Nesses casos, não se obtêm resultados satisfatórios usando medicina química, o tratamento tem que ser natural. O uso de mantras e talismãs protetores ajudam.

As doenças adidaivikas são causadas pelos controladores celestiais – os devas. Elas ocorrem, por um lado, sob influência do clima, da temperatura ambiente, das bruscas mudanças destes, das catástrofes naturais etc. e, por outro, mais profundo e misterioso, em decorrência do karma – a lei de causa e efeito, que move o Universo. É muito complexo explicar como funciona o karma, mas podemos entender que, quando cometemos alguma falta que afete a alguém, o nível de sofrimento que causamos é proporcional ao que recebemos. A doença é uma ansiedade e um sofrimento, por isso é que a padecemos.

Quando nascemos, já se mostram em nosso corpo saúde e fraqueza em certos órgãos, identificadas pelo biótipo físico ao qual a pessoa pertence e que lhe foi designado. Também podemos identificá-las astrologicamente. No horóscopo de uma pessoa, aparecem os planetas que têm muita ou boa força e aqueles que estão debilitados. Estes últimos são os que indicam onde está a fraqueza orgânica e que tecidos não são fortes e bem formados.

Cada uma das doze casas zodiacais, que formam o horóscopo, correspondem a alguma região do corpo. Então, se alguma delas esta afetada pela presença de algum planeta maléfico, ou, se o planeta regente dessa casa se encontra desfavorável, isto indica a possibilidade de doença e de que tipo. As doenças deste tipo se apresentam geralmente devido aos trânsitos planetários, quando algum planeta se manifesta proeminente perante os outros.

A abordagem que a medicina Ayurveda faz é holística, utilizando todos os métodos e recursos que a natureza oferece. Dieta é fundamental para começar o processo. Há uma máxima Ayurveda que diz: “sem uma boa alimentação, a medicina não funciona, e, com uma boa alimentação, a medicina não faz falta”.

E uma boa alimentação significa uma dieta apropriada ao biótipo da pessoa. Porque saudável não é só o alimento que é natural, e sim o alimento que é apropriado para a pessoa em questão. Pois o que é comida para um pode ser veneno para outro.

Além da correta dieta, uma pessoa deve observar bons hábitos, em todo sentido – bons hábitos de higiene, boa conduta social e principalmente hábitos espirituais, meditação, oração, Yoga e atividades devocionais para incrementar a fé. Charaka, o pai do Ayurveda moderno, sentenciou no seu famoso tratado, o Charaka Samhita, que “o princípio da doença é falta de fé em Deus”.

(*) Krishna Kishora Dasa é terapeuta de Ayurveda, pesquisador da cultura védica, e discípulo de A. C. Bhaktiedanta Swami

Apreço pelos Escritos Sagrados


Apreço pelos Escritos Sagrados



É moda na sociedade secular moderna tratar a literatura sagrada como o entretenimento mitológico de pessoas menos desenvolvidas intelectualmente. As escolas ensinam que com nossos atuais avanços, como a física, a medicina, a psicologia, a democracia e assim por diante, as escrituras religiosas têm pouca utilidade fora do campo artístico-literário. Aqueles que aceitam as escrituras de forma literal são tachados com termos pejorativos, como “fundamentalistas”, por exemplo. Talvez seja chique roubar algumas idéias das escrituras Védicas, como yoga, meditação e cantar de mantras, mas viver de acordo com as leis escriturais é visto como algo simplista e fora de moda.Para se conseguir benefícios espirituais do processo do cantar dos nomes de Krsna, todavia, é preciso ter reverência por Krsna em todas as Suas formas, incluindo Sua forma como as escrituras. Krsna apareceu na Terra, em Sua forma original, há cerca de cinco mil anos. Após retornar à Sua morada eterna, Sua “encarnação literária”, Vyasadeva, compilou o néctar das escrituras Védicas na forma do Srimad-Bhagavatam. Srila Prabhupada escreveu que ler essa escritura é como ver Krsna pessoalmente, sem nenhuma diferença. Porque as palavras do Bhagavatam descrevem Krsna, elas são espiritualmente idênticas a Ele. Se blasfemamos o Bhagavatam, outros livros Védicos, ou alguma literatura de acordo com a versão Védica, ofendemos o santo nome, o que dificulta em muito o nosso processo do cantar.A que se refere “literatura Védica”? Diferente dos acadêmicos modernos, Srila Prabhupada não usava o termo Védico para denotar apenas um período particular da história da Índia. Tendo como referência os mestres espirituais anteriores de sua linha e lançando mão de sua razão, ele usou o termo para se referir a todos os tradicionais livros sagrados da Índia. E “literatura de acordo com a versão Védica” se refere a qualquer livro que, como fazem os Vedas, direcionem-nos para nossa relação com Deus.Evitamos essa ofensa contra o santo nome de Krsna se aceitamos o conceito de escritura revelada de maneira geral, reverenciamos as escrituras autênticas de outras tradições diferentes da nossa, respeitamos mas evitamos escrituras que ensinem práticas religiosas válidas todavia inferiores, e se rejeitamos pseudo-escrituras que se opõem ao amor por Deus como meta última.Também evitamos essa ofensa ao adorarmos Krsna com nossa inteligência através de cuidadoso estudo e aplicação da literatura sagrada. Tal estudo nos dota tanto com o entusiasmo por servir Krsna quanto com as direções para tal. Encontramos a verdadeira felicidade ao explorarmos cada detalhe que lemos das escrituras Védicas. E com o uso de nossa razão, aceitamos a consistência, veracidade e aplicabilidade dos escritos por eles mesmos e também pelo exemplo de almas liberadas.Uma Cultura para a IluminaçãoUma razão para as pessoas rejeitarem o conceito de escritos sagrados é porque a palavra escritura lhes evoca sociedades que proibiam o riso durante o sabá ou que declaravam que o processo para a perfeição era um sistema de procedimentos ritualísticos intrincados que poucos poderiam fazer parte e ainda menos poderiam entender. As escrituras também trazem histórias fantásticas de milagres e acontecimentos sobrenaturais que a ciência moderna afirma há muito tê-los desmentido. E, além do mais, não são as escrituras produto de pessoas imperfeitas?A verdade é que, quando corretamente entendidas e aplicadas, as escrituras genuínas agem como um guia e manual de instruções para a vida humana e o cosmo. Elas são o manual de fábrica da máquina da criação material. Das escrituras, casadas com a tradição oral, aprendemos sobre métodos de elevação espiritual, como o cantar do santo nome. Das escrituras aprendemos sobre a vida de santos e sábios do passado e sobre as encarnações de Krsna. De fato, as histórias das escrituras, sejam transmitidas pela escrita ou pela tradição oral, são a base para a transmissão e estabelecimento de uma cultura que tenha por fim a iluminação.Entendendo o FantásticoCertamente, diversas histórias dos escritos sagrados parecem fantásticas para nosso mundo científico. Mas muitas das maravilhas tecnológicas atuais também pareceriam fantásticas e ficcionais há algumas décadas. Não é, portanto, implausível que sociedades antigas tenham tido habilidades e perícias técnicas que não são disponíveis hoje. É virtualmente impossível, por exemplo, recriar a arquitetura milenar do Peru usando qualquer recurso moderno de que dispomos. A idéia de que a tecnologia sempre progrediu, e que não possa jamais ter existido uma superior à atual, talvez seja incorreta. Mesmo os estudos recentes de história indicam que muito do conhecimento que existia na Grécia se perdeu na Europa da Idade Média e foi gradualmente restabelecido. É lógico e racional, então, assumir que aquilo que é comum hoje, como televisão e internet, talvez se perca e seja esquecido no futuro, para ser restabelecido apenas mais tarde.Vale adicionar que, mesmo hoje, há muitas fortes evidências empíricas para a existência do sobrenatural. Mas porque a atual ciência não pode explicar as evidências, elas são omitidas.Os Vedas – com suas informações acerca do espírito e da matéria sutil – provêem uma visão de mundo que faz o aparentemente-impossível ser facilmente aceito como verdade. Uma vez que você entenda que o espírito, ou a vida, por exemplo, é independente da matéria, é muito fácil acreditar que entidades vivas possam viver em qualquer lugar do universo e fazer todo o tipo de coisas incríveis.Níveis de InstruçãoUma queixa válida acerca das escrituras por parte de pessoas espiritualmente inclinadas é que elas se focam muito em rituais e ganhos materiais. Krsna valida esse sentimento quando Ele diz a Seu amigo Arjuna que aqueles que praticaram yoga em vidas passadas estão acima da maior parte dos ritos escriturais. A dura verdade, todavia, é que poucas pessoas estão interessadas em genuína realização espiritual. Portanto, Krsna e Seus grandes devotos dão instruções e exemplos nas escrituras para todo o tipo de pessoas. Há diferentes escrituras para várias classes de pessoas com diversas inclinações e desejos. Daí ter vários níveis e tipos de instrução no mesmo cânone escritural.O Senhor, ou Seu representando ou filho, talvez ensine verdades eternas em nível mais baixo ou de alguma maneira enevoada a depender do tempo, local ou circunstância. Escrituras nascidas de tais ensinamentos talvez ensinem menos do que o puro e desmotivado amor devocional pelo Senhor, mas elas têm sua função de gradualmente conduzir as pessoas ao pináculo da realização espiritual. Sabendo que a perfeição é, de forma geral, obtida após muitas vidas, uma pessoa absorta no cantar do mantra da verdade absoluta ajuda e encoraja cada pessoa em diferentes níveis.Escrituras autorizadas vêm, por excelência, diretamente de Deus ou de almas livres das imperfeições e egoísmos das pessoas comuns. A verdade inadulterada pode fluir através de uma pessoa conectada com Deus e livre dos desejos egoístas da mesma forma que se pode ver o céu azul lá fora através de uma janela limpa.Nosso Dever de DiscriminarAinda, não se deve simplesmente aceitar qualquer escrito como sagrado simplesmente porque ele o diz ser. Parte da ofensa de blasfemar as escrituras é aceitar uma filosofia contrária ao serviço devocional à forma pessoal do Senhor. Também, se um sistema “religioso” afirma que outros livros e métodos genuínos são pecaminosos, esse deve ser evitado por sua mentalidade simplória e sectarista. Devemos rejeitar também qualquer sistema ou filosofia que negue a alma, a Personalidade de Deus, ou a meta da vida como o sucesso no processo de obtenção do amor puro por Ele. Portanto, cantar Hare Krsna enquanto se mantém uma postura monista – pensando que a verdade última é apenas energia e luz – é parte dessa ofensa ao santo nome.Um devoto de Krsna deve depender unicamente das tradições que estudam e promovem bhakti – devoção amorosa à personalidade de Krsna. Oferecendo respeitos à distância, deve-se evitar escrituras que promovam poderes místicos, trabalhos caridosos com recompensas celestiais, ou salvação fora de bhakti, para não dizer de formas inferiores de adoração que visam poderes obtidos através da negociação com seres demoníacos e fantasmagóricos.O Harinama Cintamani de Srila Bhaktivinoda Thakura enumera nove princípios essenciais de krsna-bhakti. Podemos identificar as escrituras de bhakti como aquelas que promovem estes nove princípios:(1) Há um único Senhor Supremo, Krsna. (2) Ele é aquele que possui todas as energias. (3) Krsna é a fonte dos relacionamentos transcendentais e está situado em Sua morada espiritual, onde Ele compraz todas as entidades vivas. (4) As entidades vivas são partículas do Senhor, ilimitadas em número, infinitesimais em tamanho, e conscientes. (5) Algumas entidades vivas estão condicionadas a universos materiais desde tempos imemoriais, tendo sido atraídas por prazeres ilusórios. (6) Algumas entidades vivas são eternamente liberadas e se ocupam em adorar Krsna; elas residem com Ele como Seus associados no mundo espiritual e se relacionam amorosamente com Ele. (7) Krsna existe com Suas energias – material, espiritual, e as entidades vivas – em um estado de igualdade e diferença simultâneas, permeando tudo e, ao mesmo tempo, existindo à parte. (8) Há nove processos que caracterizam o processo pelo qual a entidade viva realiza Krsna: ouvir sobre Krsna, cantar, lembrar, servir, adorar, orar, agir como um servo, ser amigo do Senhor, e se render completamente. (9) A meta última de uma entidade via é bhakti – amor desmotivado por Krsna, que Krsna desperta em uma alma devido a Sua misericórdia.Se uma pessoa aceita a mais pura das escrituras, rejeita as várias tradições mundanas que se vendem sagradas, e respeita as escrituras genuínas que estão em um nível inferior; ainda assim, é preciso estudar com muito cuidado essa escritura. Mesmo uma tradição eterna de escritos imaculados, ou de revelação oral de mesma natureza, pode ser distorcida através de interpretações inventadas e más aplicações. Para mostrarmos respeito para com as escrituras, devemos entendê-las através do significado mais claro e direto possível, estudando a vida dos devotos anteriores que seguiram a cabo suas instruções como verdadeiros devotos puros de Krsna. Devemos, também, abordar as escrituras através da direção de um guru, que nos dará instruções específicas quanto ao que há de mais relevante para a nossa atual condição. Interpretações ou aplicações equivocadas podem ser mais perigosas do que a negação completa das escrituras. Um lobo em pele de cordeiro é muito mais perigoso do que um lobo aparente.Nós Precisamos das EscriturasCom tantas considerações e complicações em relação às escrituras, não seria melhor simplesmente cantar Hare Krsna, Hare Krsna, Krsna Krsna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare, e esquecer de vez as escrituras? É verdade que simplesmente por se cantar pode-se alcançar a perfeição; mas para tanto, é precisa que o cantar seja sem ofensas, o que exige uma atitude reverencial perante as escrituras sagradas genuínas.E quanto prazer e consolo podemos obter das escrituras! Podemos nos tornar muito felizes e confiantes lendo o Bhagavad-gita, as palavras diretas de Krsna. E também podemos encontrar semelhantes benefícios em trabalhos de escritores contemporâneos – devotos que tomam os princípios trazidos por Krsna e os colocam dentro da vida familiar moderna, por exemplo.Claro que consolo e deleite não são os únicos motivos para lermos os escritos sagrados. Nós precisamos das escrituras. Na busca pela verdade sem as escrituras, não temos outra escolha senão nos basearmos em nossas próprias faculdades sensoriais e mental e na de outros com as mesma limitações que nós. Isso pode nos dar apenas conhecimento parcial e relativo. Nossos sentidos são imperfeitos, mesmo com o suporte de sofisticados instrumento. Cometemos erros devido a maus hábitos, falta de atenção ou por preconceitos inconscientes. Temos a tendência a enganar os outros e a nós mesmos. E quando identificamos o corpo como o eu, vivemos uma grande ilusão. Portanto, as verdades axiomáticas – o ponto de partida para conclusões lógico-sensoriais – devem partir de uma fonte livre de defeitos se quisermos basear nossas ações em um conhecimento infalível.Quando nossa base de conhecimento vem da verdade absoluta, o cantar do santo nome de Krsna rapidamente nos conduz a Ele. Ouvir das escrituras sobre a beleza, a forma e as incríveis atividades de Krsna no mundo espiritual irá nos inspirar a cantar com o intenso desejo de obter Seu serviço amoroso. Satisfeito com nosso desejo, Krsna irá nos purificar com Sua misericórdia resplandecente como sol, e nosso progresso se fará nítido.


por Urmila Devi Dasi

Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

“Certamente Você Virá a Mim” “Surely You Will Come to Me”: The Divine, Eternal Promises of the Lord




Artigo originalmente publicado na revista Volta ao Supremo [Back to Godhead] – Fundada por Srila Prabhupada no ano de 1944



“Certamente Você Virá a Mim”
As Promessas Divinas e Eternas do Senhor



“Surely You Will Come to Me”: The Divine, Eternal Promises of the Lord



por Bhranti Devi Dasi
No verão do ano 2000, aconteceu algo que iria mudar drasticamente minha vida e a de minha família. Também testaria nossa fé em Krsna e nos faria ver a vida considerando com mais seriedade um certo fator - o fator morte.
Nós estávamos viajando pela América quando, numa estrada de terra sem nenhum movimento, o pneu traseiro de nossa minivan se rasgou em uma pedra afiada. O carro ficou totalmente desgovernado e capotamos várias vezes até que a van parou de cabeça para baixo.
Um de meus filhos, Keshava Kumara, sofreu um ferimento na cabeça que tiraria sua vida no dia seguinte. Ele tinha apenas doze anos. Fizemos tudo o que pudemos para que sua saída do corpo fosse a mais auspiciosa possível. Ele deixou esse mundo com as marcas de tilaka, água do Yamuna e poeira de Vrndavana sobre seu corpo, e com suas mãos sobre os livros de Srila Prabhupada.
O tempo parecia não fazer sentido: estávamos um dia de férias com a família, no outro dia no hospital, e no seguinte no crematório. Quando o médico nos informou que ele não sobreviveria ao ferimento, meu primeiro pensamento foi: “Esta vida está acabada para mim”. A bolha de sabão da vida feliz neste mundo estourara diante dos meus olhos. Eu nunca havia me sentido tão perdida. Como aquilo era possível? Sete meses atrás, nós tínhamos visitado Vrndavana-dhama e tínhamos planos para retornar ao dhama sagrado após o verão. Aquilo parecia ser um pesadelo que simplesmente não podia ser real.
Ao lado da cama de Keshava, nós desesperadamente tentávamos buscar abrigo nos versos do Segundo Capítulo do Bhagavad-gita, que descrevem a imortalidade da alma. Acredito que a dor da perda repentina de uma pessoa amada é a pior e mais desorientadora de todas. Eu precisei de meses para começar a acreditar no que havia acontecido. O sofrimento muito intenso faz você querer ficar sozinho, pois é raro encontrar alguém que possa entender quão tamanha é sua dor.
Posteriormente, relendo o Gita e orando para que Srila Prabhupada me ajudasse a superar tudo aquilo, eu percebi que muitos dos versos falados pelo Senhor estavam em forma de promessas, divinas e eternas. Krsna declara que somos eternamente ligados a Ele. Ele traz palavras de amor e confiança, que brilham como um archote na escuridão. Dicionários definem uma promesa como “um compromisso verbal”, “um pacto”, “fundamento para esperanças e expectativas”. Toda promessa é preciosa, mas ela é ainda mais preciosa quando vem diretamente do coração de Deus e é eterna. Sendo Ele onipotente, não há nenhuma possibilidade de que Ele não possa cumprir Suas promessas, enquanto que talvez um ser humano comum, por mais sincero que seja, não consiga fazer valer sua palavra. Eu entendi que uma promessa é um presente – um presente falado. Eu me dei a essas promessas do Senhor de todo o coração, e recebi grande consolo e conforto. Eu pensei, “Se eu sou eternamente ligada ao Senhor Supremo, igualmente é meu filho – e todos são ligados a Ele”.
Toda e cada entidade vida tem uma relação intrínseca e eterna com Krsna. No Bhagavad-gita, o Senhor fala para Arjuna o conhecimento atemporal, e esse se aplica a todas as entidades vivas em qualquer tempo e lugar. Eu gostaria de compartilhar com vocês leitores algumas das promessas de Krsna; seis para ser exata. Eu espero que encontrem grande encorajamento nessas eternas juras de amor, faladas pessoalmente pelo Senhor Supremo a todas as almas.
Seis Promessas do Senhor Krsna
Sri Krsna promete: “Portanto, Arjuna, você deve sempre pensar em Mim na forma de Krsna e ao mesmo tempo cumprir com seu dever prescrito de lutar. Com suas atividades dedicadas a Mim e sua mente e inteligência fixas em Mim, não há dúvida de que você Me alcançará”. (8.7)
Esse verso não se trata de uma promessa vaga, mas de uma declaração concreta e clara. O Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam apresenta uma afirmação similar, também muito clara, acerca do resultado de se ouvir as glórias do Senhor: “O serviço amoroso à Personalidade de Deus é obtido como um fato irrevogável”. Irrevogável: permanente, que não pode ser anulado. Qualquer serviço que façamos para Krsna nesta vida é permanente, e seu resultado permanecerá conosco mesmo após abandonarmos este corpo e esta vida temporária.
Sri Krsna promete: “Ocupe sua mente a pensar sempre em Mim, torne-se Meu devoto, ofereça-Me reverências e Me adore. Estando absorto por completo em Mim, certamente você virá a Mim”. (9.34)
Essa promessa é belíssima. Srila Prabhupada afirma em seu significado a esse verso que nós devemos pensar em Krsna de forma amorosa e continuamente cultivar conhecimento acerca dEle. Essa é nossa parte nesse relacionamento recíproco tão real com a pessoa suprema.
Escrevendo sobre a relação recíproca entre o Senhor e o devoto, Srila Prabhupada invoca uma imagem mental muito bonita em seu significado ao verso 9.29: “O Senhor e a entidade viva brilham eternamente, e ao inclinar-se para o serviço ao Senhor Supremo, a entidade viva parece ouro. O Senhor é um diamante, e essa combinação é muito bonita”.
Sri Krsna promete: “Para aqueles que estão constantemente devotados a Me servir com amor, Eu dou a compreensão pela qual eles podem vir a Mim”. (10.10)
As palavras usadas aqui são “constantemente devotadas”, que indicam uma devoção sem cessação ou pausa, mas contínua. Muitas pessoas adoram Deus a fim de conseguirem benefícios materiais, e isso é piedoso, uma vez que se submetem a Ele através de orações. Mas, neste verso, Krsna está falando sobre as pessoas que não desejam nada além dEle.
Nós não somos capazes de ir até Krsna através de nossos próprios esforços. Se Ele está satisfeito conosco, Ele nos permite ir até Ele. Desde o começo da criação, os Vedas estão disponíveis como um guia, e, ao longo das eras, o Senhor envia regularmente encarnações e pessoas santas trazendo conhecimento transcendental para as almas jivas.
Tomar refúgio em um mestre espiritual autêntico, completamente devotado ao Senhor, é um ponto muito importante, e não deve ser subestimado. O momento em que Arjuna aceita Krsna como seu mestre é um divisor de águas dentro do Bhagavad-gita. Após exibir aparentes aflição, lamentação e confusão, Arjuna diz: “Sou uma alma rendida a Você. Por favor, instrua-me”. (2.7) Nossa sociedade moderna dá grande ênfase para as credenciais e diplomas dos profissionais em geral, mas as pessoas tendem a aceitar orientação sobre assuntos espirituais de qualquer um que escreva um livro interessante sobre o tema. A vida é temporária, e nossa conexão com Deus é a área mais importante de estudo. Nós temos que selecionar um professor com muito cuidado, assim como somos muito cautelosos escolhendo um médico. Nós não confiaríamos nossa cirurgia a um médico que não tivesse nenhuma outra qualificação senão ser um bom contador de histórias.
Sri Krsna promete: “Meu querido Arjuna, aquele que se ocupa em Meu serviço devocional puro, livre das contaminações das atividades fruitivas e da especulação mental, que trabalha para Mim e faz de Mim a meta suprema de sua vida, sendo amigo de todos os seres vivos – com certeza virá a Mim”. (11.55)
Srila Prabhupada diz em seu significado a este verso que todo aquele que deseja estar intimamente conectado com Krsna deve acatar a formula apresentada por Krsna ali. Ele ainda afirma que tal verso é a essência do Bhagavad-gita. O Senhor Krsna descreve o devoto aqui como alguém que é amigo de todas as entidades vivas. Em uma canção em glorificação aos seis Gosvamis de Vrndavana, Srinivasa Acarya diz que eles são “populares tanto entre os cavalheiros quanto entre os grosseiros, pois eles não invejavam ninguém”.
Como podemos demonstrar verdadeira preocupação e amizade pelos outros? Pregando essa fórmula apresentada por Krsna, assim as pessoas não perderão a valiosíssima oportunidade da forma de vida humana, senão que poderão livrar-se de todas as misérias deste mundo. Podemos até mesmo beneficiar as almas que não estão atualmente em corpos humanos, cantando alto o santo nome ou dando para elas prasadam, alimento oferecido ao Senhor Supremo.
Sri Krsna promete: “Fixe sua mente em Mim, a Suprema Personalidade de Deus, e ocupe toda a sua inteligência em Mim. Assim, não há dúvida alguma de que você viverá sempre em Mim”. (12.8)
Como no verso 8.7, o Senhor novamente enfatiza sua promessa com “não há dúvida”. Em seu significado, Srila Prabhupada afirma: “Alguém que está ocupado no serviço devocional ao Senhor Krsna se relaciona diretamente com o Senhor Supremo, então, não há dúvida de que sua posição é transcendental desde o início. O devoto não vive no plano material – ele vive em Krsna”.
Sri Krsna promete: “Pense sempre em Mim e torne-se Meu devoto. Adore-Me e ofereça-Me homenagens. Agindo assim, você virá a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isso porque você é Meu amigo muito querido”. (18.65)
Eu escolhi esse verso para uma placa que seria colocada na última escola que Keshava estudou – em Alachua, Flórida - como forma de homenageá-lo. Eu achei essa promessa do Senhor Supremo muito confortante e pessoal – Ele realmente conhece cada um de nós, e Ele realmente quer que voltemos para Ele.
No significado, Srila Prabhupada se refere a essa mensagem de Krsna em particular como uma promessa. É uma promessa trazida com muita intimidade: “Porque você é meu amigo muito querido – porque você está conectado a Mim em uma relação devocional – Eu estou lhe revelando esses segredos”.
O conhecimento mais confidencial é o de como restabelecermos nossa relação original com Deus. Esse é o mais secreto de todos os segredos. Em sua obra Vrndavana Mahimamrta, Srila Prabodhananda Sarasvati escreve: “Eu anseio pelo humor mais elevado [o de amor por Deus], que é um segredo até para os Vedas”.
Srila Prabhupada também diz em seu significado que devemos concentrar nossa mente na forma de Krsna tal qual é descrita no Brahma-samhita: um garoto de dois braços e de tez enegrecida com um belo rosto semelhante ao lótus, uma pena de pavão em Sua coroa e uma flauta em Sua cintura. Essa é a forma de Syamasundara, uma forma tão atrativa que atrai a mente e o coração de todos.
A dor resultante de se perder um filho coloca sua sanidade em teste. Arjuna experimentou essa dor simplesmente por imaginar a perda de seus membros familiares, e realizou tal dor ao perder um de seus filhos no campo de batalha. A perda de meu filho fez meu mundo ficar de cabeça para baixo. Mas as promessas de Krsna são-me palavras rejuvenescedoras, nas quais acredito. Elas me protegeram diversas vezes contra o desespero. Eu oro diariamente porque quero ser qualificada o suficiente para fazer minha parte nessa divina reciprocidade com o Senhor, e para que eu tenha fé inabalável que Suas eternas promessas serão certamente cumpridas, com toda a glória que lhes cabe.
“Você virá a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isso porque você é Meu amigo muito querido”. (18.65)
Tradução por Bhagavan dasa (DvS) “Surely You Will Come to Me”: The Divine, Eternal Promises of the Lord
por Bhranti Devi Dasi
No verão do ano 2000, aconteceu algo que iria mudar drasticamente minha vida e a de minha família. Também testaria nossa fé em Krsna e nos faria ver a vida considerando com mais seriedade um certo fator - o fator morte.
Nós estávamos viajando pela América quando, numa estrada de terra sem nenhum movimento, o pneu traseiro de nossa minivan se rasgou em uma pedra afiada. O carro ficou totalmente desgovernado e capotamos várias vezes até que a van parou de cabeça para baixo.
Um de meus filhos, Keshava Kumara, sofreu um ferimento na cabeça que tiraria sua vida no dia seguinte. Ele tinha apenas doze anos. Fizemos tudo o que pudemos para que sua saída do corpo fosse a mais auspiciosa possível. Ele deixou esse mundo com as marcas de tilaka, água do Yamuna e poeira de Vrndavana sobre seu corpo, e com suas mãos sobre os livros de Srila Prabhupada.
O tempo parecia não fazer sentido: estávamos um dia de férias com a família, no outro dia no hospital, e no seguinte no crematório. Quando o médico nos informou que ele não sobreviveria ao ferimento, meu primeiro pensamento foi: “Esta vida está acabada para mim”. A bolha de sabão da vida feliz neste mundo estourara diante dos meus olhos. Eu nunca havia me sentido tão perdida. Como aquilo era possível? Sete meses atrás, nós tínhamos visitado Vrndavana-dhama e tínhamos planos para retornar ao dhama sagrado após o verão. Aquilo parecia ser um pesadelo que simplesmente não podia ser real.
Ao lado da cama de Keshava, nós desesperadamente tentávamos buscar abrigo nos versos do Segundo Capítulo do Bhagavad-gita, que descrevem a imortalidade da alma. Acredito que a dor da perda repentina de uma pessoa amada é a pior e mais desorientadora de todas. Eu precisei de meses para começar a acreditar no que havia acontecido. O sofrimento muito intenso faz você querer ficar sozinho, pois é raro encontrar alguém que possa entender quão tamanha é sua dor.
Posteriormente, relendo o Gita e orando para que Srila Prabhupada me ajudasse a superar tudo aquilo, eu percebi que muitos dos versos falados pelo Senhor estavam em forma de promessas, divinas e eternas. Krsna declara que somos eternamente ligados a Ele. Ele traz palavras de amor e confiança, que brilham como um archote na escuridão. Dicionários definem uma promesa como “um compromisso verbal”, “um pacto”, “fundamento para esperanças e expectativas”. Toda promessa é preciosa, mas ela é ainda mais preciosa quando vem diretamente do coração de Deus e é eterna. Sendo Ele onipotente, não há nenhuma possibilidade de que Ele não possa cumprir Suas promessas, enquanto que talvez um ser humano comum, por mais sincero que seja, não consiga fazer valer sua palavra. Eu entendi que uma promessa é um presente – um presente falado. Eu me dei a essas promessas do Senhor de todo o coração, e recebi grande consolo e conforto. Eu pensei, “Se eu sou eternamente ligada ao Senhor Supremo, igualmente é meu filho – e todos são ligados a Ele”.
Toda e cada entidade vida tem uma relação intrínseca e eterna com Krsna. No Bhagavad-gita, o Senhor fala para Arjuna o conhecimento atemporal, e esse se aplica a todas as entidades vivas em qualquer tempo e lugar. Eu gostaria de compartilhar com vocês leitores algumas das promessas de Krsna; seis para ser exata. Eu espero que encontrem grande encorajamento nessas eternas juras de amor, faladas pessoalmente pelo Senhor Supremo a todas as almas.
Seis Promessas do Senhor Krsna
Sri Krsna promete: “Portanto, Arjuna, você deve sempre pensar em Mim na forma de Krsna e ao mesmo tempo cumprir com seu dever prescrito de lutar. Com suas atividades dedicadas a Mim e sua mente e inteligência fixas em Mim, não há dúvida de que você Me alcançará”. (8.7)
Esse verso não se trata de uma promessa vaga, mas de uma declaração concreta e clara. O Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam apresenta uma afirmação similar, também muito clara, acerca do resultado de se ouvir as glórias do Senhor: “O serviço amoroso à Personalidade de Deus é obtido como um fato irrevogável”. Irrevogável: permanente, que não pode ser anulado. Qualquer serviço que façamos para Krsna nesta vida é permanente, e seu resultado permanecerá conosco mesmo após abandonarmos este corpo e esta vida temporária.
Sri Krsna promete: “Ocupe sua mente a pensar sempre em Mim, torne-se Meu devoto, ofereça-Me reverências e Me adore. Estando absorto por completo em Mim, certamente você virá a Mim”. (9.34)
Essa promessa é belíssima. Srila Prabhupada afirma em seu significado a esse verso que nós devemos pensar em Krsna de forma amorosa e continuamente cultivar conhecimento acerca dEle. Essa é nossa parte nesse relacionamento recíproco tão real com a pessoa suprema.
Escrevendo sobre a relação recíproca entre o Senhor e o devoto, Srila Prabhupada invoca uma imagem mental muito bonita em seu significado ao verso 9.29: “O Senhor e a entidade viva brilham eternamente, e ao inclinar-se para o serviço ao Senhor Supremo, a entidade viva parece ouro. O Senhor é um diamante, e essa combinação é muito bonita”.
Sri Krsna promete: “Para aqueles que estão constantemente devotados a Me servir com amor, Eu dou a compreensão pela qual eles podem vir a Mim”. (10.10)
As palavras usadas aqui são “constantemente devotadas”, que indicam uma devoção sem cessação ou pausa, mas contínua. Muitas pessoas adoram Deus a fim de conseguirem benefícios materiais, e isso é piedoso, uma vez que se submetem a Ele através de orações. Mas, neste verso, Krsna está falando sobre as pessoas que não desejam nada além dEle.
Nós não somos capazes de ir até Krsna através de nossos próprios esforços. Se Ele está satisfeito conosco, Ele nos permite ir até Ele. Desde o começo da criação, os Vedas estão disponíveis como um guia, e, ao longo das eras, o Senhor envia regularmente encarnações e pessoas santas trazendo conhecimento transcendental para as almas jivas.
Tomar refúgio em um mestre espiritual autêntico, completamente devotado ao Senhor, é um ponto muito importante, e não deve ser subestimado. O momento em que Arjuna aceita Krsna como seu mestre é um divisor de águas dentro do Bhagavad-gita. Após exibir aparentes aflição, lamentação e confusão, Arjuna diz: “Sou uma alma rendida a Você. Por favor, instrua-me”. (2.7) Nossa sociedade moderna dá grande ênfase para as credenciais e diplomas dos profissionais em geral, mas as pessoas tendem a aceitar orientação sobre assuntos espirituais de qualquer um que escreva um livro interessante sobre o tema. A vida é temporária, e nossa conexão com Deus é a área mais importante de estudo. Nós temos que selecionar um professor com muito cuidado, assim como somos muito cautelosos escolhendo um médico. Nós não confiaríamos nossa cirurgia a um médico que não tivesse nenhuma outra qualificação senão ser um bom contador de histórias.
Sri Krsna promete: “Meu querido Arjuna, aquele que se ocupa em Meu serviço devocional puro, livre das contaminações das atividades fruitivas e da especulação mental, que trabalha para Mim e faz de Mim a meta suprema de sua vida, sendo amigo de todos os seres vivos – com certeza virá a Mim”. (11.55)
Srila Prabhupada diz em seu significado a este verso que todo aquele que deseja estar intimamente conectado com Krsna deve acatar a formula apresentada por Krsna ali. Ele ainda afirma que tal verso é a essência do Bhagavad-gita. O Senhor Krsna descreve o devoto aqui como alguém que é amigo de todas as entidades vivas. Em uma canção em glorificação aos seis Gosvamis de Vrndavana, Srinivasa Acarya diz que eles são “populares tanto entre os cavalheiros quanto entre os grosseiros, pois eles não invejavam ninguém”.
Como podemos demonstrar verdadeira preocupação e amizade pelos outros? Pregando essa fórmula apresentada por Krsna, assim as pessoas não perderão a valiosíssima oportunidade da forma de vida humana, senão que poderão livrar-se de todas as misérias deste mundo. Podemos até mesmo beneficiar as almas que não estão atualmente em corpos humanos, cantando alto o santo nome ou dando para elas prasadam, alimento oferecido ao Senhor Supremo.
Sri Krsna promete: “Fixe sua mente em Mim, a Suprema Personalidade de Deus, e ocupe toda a sua inteligência em Mim. Assim, não há dúvida alguma de que você viverá sempre em Mim”. (12.8)
Como no verso 8.7, o Senhor novamente enfatiza sua promessa com “não há dúvida”. Em seu significado, Srila Prabhupada afirma: “Alguém que está ocupado no serviço devocional ao Senhor Krsna se relaciona diretamente com o Senhor Supremo, então, não há dúvida de que sua posição é transcendental desde o início. O devoto não vive no plano material – ele vive em Krsna”.
Sri Krsna promete: “Pense sempre em Mim e torne-se Meu devoto. Adore-Me e ofereça-Me homenagens. Agindo assim, você virá a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isso porque você é Meu amigo muito querido”. (18.65)
Eu escolhi esse verso para uma placa que seria colocada na última escola que Keshava estudou – em Alachua, Flórida - como forma de homenageá-lo. Eu achei essa promessa do Senhor Supremo muito confortante e pessoal – Ele realmente conhece cada um de nós, e Ele realmente quer que voltemos para Ele.
No significado, Srila Prabhupada se refere a essa mensagem de Krsna em particular como uma promessa. É uma promessa trazida com muita intimidade: “Porque você é meu amigo muito querido – porque você está conectado a Mim em uma relação devocional – Eu estou lhe revelando esses segredos”.
O conhecimento mais confidencial é o de como restabelecermos nossa relação original com Deus. Esse é o mais secreto de todos os segredos. Em sua obra Vrndavana Mahimamrta, Srila Prabodhananda Sarasvati escreve: “Eu anseio pelo humor mais elevado [o de amor por Deus], que é um segredo até para os Vedas”.
Srila Prabhupada também diz em seu significado que devemos concentrar nossa mente na forma de Krsna tal qual é descrita no Brahma-samhita: um garoto de dois braços e de tez enegrecida com um belo rosto semelhante ao lótus, uma pena de pavão em Sua coroa e uma flauta em Sua cintura. Essa é a forma de Syamasundara, uma forma tão atrativa que atrai a mente e o coração de todos.
A dor resultante de se perder um filho coloca sua sanidade em teste. Arjuna experimentou essa dor simplesmente por imaginar a perda de seus membros familiares, e realizou tal dor ao perder um de seus filhos no campo de batalha. A perda de meu filho fez meu mundo ficar de cabeça para baixo. Mas as promessas de Krsna são-me palavras rejuvenescedoras, nas quais acredito. Elas me protegeram diversas vezes contra o desespero. Eu oro diariamente porque quero ser qualificada o suficiente para fazer minha parte nessa divina reciprocidade com o Senhor, e para que eu tenha fé inabalável que Suas eternas promessas serão certamente cumpridas, com toda a glória que lhes cabe.
“Você virá a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isso porque você é Meu amigo muito querido”. (18.65)
Tradução por Bhagavan dasa (DvS)
“Surely You Will Come to Me”: The Divine, Eternal Promises of the Lord



por Bhranti Devi Dasi



No verão do ano 2000, aconteceu algo que iria mudar drasticamente minha vida e a de minha família. Também testaria nossa fé em Krsna e nos faria ver a vida considerando com mais seriedade um certo fator - o fator morte.
Nós estávamos viajando pela América quando, numa estrada de terra sem nenhum movimento, o pneu traseiro de nossa minivan se rasgou em uma pedra afiada. O carro ficou totalmente desgovernado e capotamos várias vezes até que a van parou de cabeça para baixo.
Um de meus filhos, Keshava Kumara, sofreu um ferimento na cabeça que tiraria sua vida no dia seguinte. Ele tinha apenas doze anos. Fizemos tudo o que pudemos para que sua saída do corpo fosse a mais auspiciosa possível. Ele deixou esse mundo com as marcas de tilaka, água do Yamuna e poeira de Vrndavana sobre seu corpo, e com suas mãos sobre os livros de Srila Prabhupada.
O tempo parecia não fazer sentido: estávamos um dia de férias com a família, no outro dia no hospital, e no seguinte no crematório. Quando o médico nos informou que ele não sobreviveria ao ferimento, meu primeiro pensamento foi: “Esta vida está acabada para mim”. A bolha de sabão da vida feliz neste mundo estourara diante dos meus olhos. Eu nunca havia me sentido tão perdida. Como aquilo era possível? Sete meses atrás, nós tínhamos visitado Vrndavana-dhama e tínhamos planos para retornar ao dhama sagrado após o verão. Aquilo parecia ser um pesadelo que simplesmente não podia ser real.
Ao lado da cama de Keshava, nós desesperadamente tentávamos buscar abrigo nos versos do Segundo Capítulo do Bhagavad-gita, que descrevem a imortalidade da alma. Acredito que a dor da perda repentina de uma pessoa amada é a pior e mais desorientadora de todas. Eu precisei de meses para começar a acreditar no que havia acontecido. O sofrimento muito intenso faz você querer ficar sozinho, pois é raro encontrar alguém que possa entender quão tamanha é sua dor.
Posteriormente, relendo o Gita e orando para que Srila Prabhupada me ajudasse a superar tudo aquilo, eu percebi que muitos dos versos falados pelo Senhor estavam em forma de promessas, divinas e eternas. Krsna declara que somos eternamente ligados a Ele. Ele traz palavras de amor e confiança, que brilham como um archote na escuridão. Dicionários definem uma promesa como “um compromisso verbal”, “um pacto”, “fundamento para esperanças e expectativas”. Toda promessa é preciosa, mas ela é ainda mais preciosa quando vem diretamente do coração de Deus e é eterna. Sendo Ele onipotente, não há nenhuma possibilidade de que Ele não possa cumprir Suas promessas, enquanto que talvez um ser humano comum, por mais sincero que seja, não consiga fazer valer sua palavra. Eu entendi que uma promessa é um presente – um presente falado. Eu me dei a essas promessas do Senhor de todo o coração, e recebi grande consolo e conforto. Eu pensei, “Se eu sou eternamente ligada ao Senhor Supremo, igualmente é meu filho – e todos são ligados a Ele”.
Toda e cada entidade vida tem uma relação intrínseca e eterna com Krsna. No Bhagavad-gita, o Senhor fala para Arjuna o conhecimento atemporal, e esse se aplica a todas as entidades vivas em qualquer tempo e lugar. Eu gostaria de compartilhar com vocês leitores algumas das promessas de Krsna; seis para ser exata. Eu espero que encontrem grande encorajamento nessas eternas juras de amor, faladas pessoalmente pelo Senhor Supremo a todas as almas.
Seis Promessas do Senhor Krsna
Sri Krsna promete: “Portanto, Arjuna, você deve sempre pensar em Mim na forma de Krsna e ao mesmo tempo cumprir com seu dever prescrito de lutar. Com suas atividades dedicadas a Mim e sua mente e inteligência fixas em Mim, não há dúvida de que você Me alcançará”. (8.7)
Esse verso não se trata de uma promessa vaga, mas de uma declaração concreta e clara. O Primeiro Canto do Srimad-Bhagavatam apresenta uma afirmação similar, também muito clara, acerca do resultado de se ouvir as glórias do Senhor: “O serviço amoroso à Personalidade de Deus é obtido como um fato irrevogável”. Irrevogável: permanente, que não pode ser anulado. Qualquer serviço que façamos para Krsna nesta vida é permanente, e seu resultado permanecerá conosco mesmo após abandonarmos este corpo e esta vida temporária.
Sri Krsna promete: “Ocupe sua mente a pensar sempre em Mim, torne-se Meu devoto, ofereça-Me reverências e Me adore. Estando absorto por completo em Mim, certamente você virá a Mim”. (9.34)
Essa promessa é belíssima. Srila Prabhupada afirma em seu significado a esse verso que nós devemos pensar em Krsna de forma amorosa e continuamente cultivar conhecimento acerca dEle. Essa é nossa parte nesse relacionamento recíproco tão real com a pessoa suprema.
Escrevendo sobre a relação recíproca entre o Senhor e o devoto, Srila Prabhupada invoca uma imagem mental muito bonita em seu significado ao verso 9.29: “O Senhor e a entidade viva brilham eternamente, e ao inclinar-se para o serviço ao Senhor Supremo, a entidade viva parece ouro. O Senhor é um diamante, e essa combinação é muito bonita”.
Sri Krsna promete: “Para aqueles que estão constantemente devotados a Me servir com amor, Eu dou a compreensão pela qual eles podem vir a Mim”. (10.10)
As palavras usadas aqui são “constantemente devotadas”, que indicam uma devoção sem cessação ou pausa, mas contínua. Muitas pessoas adoram Deus a fim de conseguirem benefícios materiais, e isso é piedoso, uma vez que se submetem a Ele através de orações. Mas, neste verso, Krsna está falando sobre as pessoas que não desejam nada além dEle.
Nós não somos capazes de ir até Krsna através de nossos próprios esforços. Se Ele está satisfeito conosco, Ele nos permite ir até Ele. Desde o começo da criação, os Vedas estão disponíveis como um guia, e, ao longo das eras, o Senhor envia regularmente encarnações e pessoas santas trazendo conhecimento transcendental para as almas jivas.
Tomar refúgio em um mestre espiritual autêntico, completamente devotado ao Senhor, é um ponto muito importante, e não deve ser subestimado. O momento em que Arjuna aceita Krsna como seu mestre é um divisor de águas dentro do Bhagavad-gita. Após exibir aparentes aflição, lamentação e confusão, Arjuna diz: “Sou uma alma rendida a Você. Por favor, instrua-me”. (2.7) Nossa sociedade moderna dá grande ênfase para as credenciais e diplomas dos profissionais em geral, mas as pessoas tendem a aceitar orientação sobre assuntos espirituais de qualquer um que escreva um livro interessante sobre o tema. A vida é temporária, e nossa conexão com Deus é a área mais importante de estudo. Nós temos que selecionar um professor com muito cuidado, assim como somos muito cautelosos escolhendo um médico. Nós não confiaríamos nossa cirurgia a um médico que não tivesse nenhuma outra qualificação senão ser um bom contador de histórias.
Sri Krsna promete: “Meu querido Arjuna, aquele que se ocupa em Meu serviço devocional puro, livre das contaminações das atividades fruitivas e da especulação mental, que trabalha para Mim e faz de Mim a meta suprema de sua vida, sendo amigo de todos os seres vivos – com certeza virá a Mim”. (11.55)
Srila Prabhupada diz em seu significado a este verso que todo aquele que deseja estar intimamente conectado com Krsna deve acatar a formula apresentada por Krsna ali. Ele ainda afirma que tal verso é a essência do Bhagavad-gita. O Senhor Krsna descreve o devoto aqui como alguém que é amigo de todas as entidades vivas. Em uma canção em glorificação aos seis Gosvamis de Vrndavana, Srinivasa Acarya diz que eles são “populares tanto entre os cavalheiros quanto entre os grosseiros, pois eles não invejavam ninguém”.
Como podemos demonstrar verdadeira preocupação e amizade pelos outros? Pregando essa fórmula apresentada por Krsna, assim as pessoas não perderão a valiosíssima oportunidade da forma de vida humana, senão que poderão livrar-se de todas as misérias deste mundo. Podemos até mesmo beneficiar as almas que não estão atualmente em corpos humanos, cantando alto o santo nome ou dando para elas prasadam, alimento oferecido ao Senhor Supremo.
Sri Krsna promete: “Fixe sua mente em Mim, a Suprema Personalidade de Deus, e ocupe toda a sua inteligência em Mim. Assim, não há dúvida alguma de que você viverá sempre em Mim”. (12.8)
Como no verso 8.7, o Senhor novamente enfatiza sua promessa com “não há dúvida”. Em seu significado, Srila Prabhupada afirma: “Alguém que está ocupado no serviço devocional ao Senhor Krsna se relaciona diretamente com o Senhor Supremo, então, não há dúvida de que sua posição é transcendental desde o início. O devoto não vive no plano material – ele vive em Krsna”.
Sri Krsna promete: “Pense sempre em Mim e torne-se Meu devoto. Adore-Me e ofereça-Me homenagens. Agindo assim, você virá a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isso porque você é Meu amigo muito querido”. (18.65)
Eu escolhi esse verso para uma placa que seria colocada na última escola que Keshava estudou – em Alachua, Flórida - como forma de homenageá-lo. Eu achei essa promessa do Senhor Supremo muito confortante e pessoal – Ele realmente conhece cada um de nós, e Ele realmente quer que voltemos para Ele.
No significado, Srila Prabhupada se refere a essa mensagem de Krsna em particular como uma promessa. É uma promessa trazida com muita intimidade: “Porque você é meu amigo muito querido – porque você está conectado a Mim em uma relação devocional – Eu estou lhe revelando esses segredos”.
O conhecimento mais confidencial é o de como restabelecermos nossa relação original com Deus. Esse é o mais secreto de todos os segredos. Em sua obra Vrndavana Mahimamrta, Srila Prabodhananda Sarasvati escreve: “Eu anseio pelo humor mais elevado [o de amor por Deus], que é um segredo até para os Vedas”.
Srila Prabhupada também diz em seu significado que devemos concentrar nossa mente na forma de Krsna tal qual é descrita no Brahma-samhita: um garoto de dois braços e de tez enegrecida com um belo rosto semelhante ao lótus, uma pena de pavão em Sua coroa e uma flauta em Sua cintura. Essa é a forma de Syamasundara, uma forma tão atrativa que atrai a mente e o coração de todos.
A dor resultante de se perder um filho coloca sua sanidade em teste. Arjuna experimentou essa dor simplesmente por imaginar a perda de seus membros familiares, e realizou tal dor ao perder um de seus filhos no campo de batalha. A perda de meu filho fez meu mundo ficar de cabeça para baixo. Mas as promessas de Krsna são-me palavras rejuvenescedoras, nas quais acredito. Elas me protegeram diversas vezes contra o desespero. Eu oro diariamente porque quero ser qualificada o suficiente para fazer minha parte nessa divina reciprocidade com o Senhor, e para que eu tenha fé inabalável que Suas eternas promessas serão certamente cumpridas, com toda a glória que lhes cabe.
“Você virá a Mim impreterivelmente. Eu lhe prometo isso porque você é Meu amigo muito querido”. (18.65)



Tradução por Bhagavan dasa (DvS)

terça-feira, 20 de novembro de 2007

O Relacionamento Entre Os Devotos do Senhor Krishna


O Relacionamento Entre Os Devotos do Senhor Krishna


Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização. 17/11/2007.

Esta semana, uma notícia em particular sobre o mundo hare (a Sociedade Internacional para Consciência de Krishna – ISKCON) me inspirou a escrever sobre este tema tão precioso à disciplina de bhakti-yoga. De fato, é com grande satisfação que recebi as fotos enviadas por meu irmão espiritual Dhavali Das à comunidade de devotos no Brasil, mostrando o piquenique organizado para comemorar o Vyasa-puja (dia do aniversario do mestre espiritual) de Srila Acharyadeva (Hridayananda Das Goswami) em Los Angeles, num belíssimo parque em Beverly Hills. Expressando em uma mensagem pela NET toda a sua satisfação pelo carinho que discípulos e amigos tiveram com ele neste dia festivo, Srila Acharyadeva definia o relacionamento entre os devotos como de estímulo e inspiração recíproco, citando o nono verso do capítulo dez do Bhagavad-gita que trata da opulência do Senhor Krishna, para contextualizar a sua fala. Neste verso, a Pessoa Suprema, Sri Krishna diz:
mac-citta mad-gata-prana
bodhayantah parasparam
kathayanthas ca mam nityam
tusyanti ca ramanti ca
(Bg. 10.9).

“Os pensamentos de Meus devotos puros residem em Mim, suas vidas são plenamente devotadas a Mim, e eles obtém grande satisfação e bem-aventurança sempre se iluminando uns aos outros e conversando sobre Mim”. O dia do vyasa-puja é uma data muito significativa na tradição vaishnava (o culto de adoração à Sri Vishnu ou Krishna). Pois, nesta ocasião o mestre espiritual é glorificado ou reverenciado (puja) como um representante genuíno e fidedigno de Vyasadeva, uma encarnação do Senhor responsável pela composição dos Vedas (livros de conhecimento da ciência sagrada) - daí o termo vyasa-puja.

Neste dia, discípulos, amigos e simpatizantes mandam oferendas (pequenas mensagens escritas) manifestando sua gratidão ao mestre espiritual por mantê-los constantemente entusiasmados e determinados no transcendental serviço amoroso ao Senhor Krishna. De modo que ao citar o verso acima, Srila Acharyadeva expressava o quanto estas oferendas o estimulavam e inspiravam no serviço à Pessoa Suprema e ao mesmo tempo incentivava a todos a cultivar no cotidiano este tipo de relacionamento. O Senhor Krishna é o foco para o qual convergem todas as trocas afetivas e amorosas compartilhadas entre os devotos.

Por ser glorificado como Prabhupada, isto é, aquele que ocupa a posição (pada) do Senhor (prabhu), o mestre espiritual é no dia do vyasa-puja, o centro de atenção especial para discípulos, amigos e simpatizantes. Os pensamentos destes últimos ficam totalmente voltados para aquele que consideram como o seu maior benquerente. Assim, eles se juntam para relembrar os feitos do mestre espiritual na propagação das glorias do Senhor Krishna. E isso, é neste dia, uma fonte de grande satisfação e bem-aventurança para discípulos, amigos e simpatizantes. De modo que além daqueles que puderam desfrutar da associação direta de Srila Acharyadeva em Los Angeles, no aconchego do belíssimo parque de Beverly Hills, em todas as cidades do mundo festejou-se também o vyasa-puja deste discípulo e servo íntimo de Sua Divina Graça Srila Bhaktivedanta Swami Prabhupada, fundador-acharya da Sociedade Internacional para Consciência de Krishna – ISKCON. Srila Acharyadeva ki jaya!

HARE KRISHNA

Exemplos de Transcendência


Nityananda Prabhu, o mestre espiritual de todos os mundos




Manifestando a tez dourada e o sentimento de êxtase de Srimati Radharani, da Rainha de Vrindavana, o Senhor Chaitanya veio inundar o mundo num oceano de misericórdia e amor, enquanto pessoalmente cantava e propagava o cantar do maha-mantra Hare Krishna. Apesar de desfrutar eternamente em Vraja com Seus mais íntimos e devotados servos, amigos e amantes, o Senhor sente-Se insatisfeito em ver as almas condicionadas deste mundo sendo sugadas por um redemoinho de atividades insensatas, enquanto tentam se salvar, se agarrando à sociedade, amizade e amor mundanos, que se assemelha a agarrar-se no rabo de um cachorro em meio ao oceano revolto.
"Já faz muito tempo que não concedo aos habitantes do mundo o imaculado serviço amoroso a Mim", diz o Senhor. "Todos Me adoram segundo preceitos escriturais. Porém, por tal adoração não se obtém Vraja-bhava, os sentimentos amorosos dos devotos de Vrajabhumi". Pensando assim, o Senhor desceu a este mundo e pessoalmente inaugurou o sankirtana, o canto congregacional do santo nome, e fez o mundo todo dançar no êxtase das doçuras do serviço amoroso.
Trocando Sua forma da cor de uma bela nuvem carregada de chuva por uma magnífica forma da cor do ouro derretido, Ele graciosamente aparece em Navadvipa, nos primórdios desta era de Kali, juntamente com Sua expansão imediata, Sri Balarama, que recebe o nome "Nityananda", porque além de acompanhar o Senhor Chaitanya na missão de ensinar ao mundo as glórias dos passatempos de Sri Radha-Krishna, Nityananda saboreia eternamente (nitya) a bem-aventurança (ananda) da devoção.
Revelando o êxtase do amor puro pelo Senhor Chaitanya, Nityananda Se torna Seu principal associado e distribui gratuitamente o amor a Deus às almas mais caídas deste mundo. É somente por Sua misericórdia que a verdade sobre as glórias do Senhor Chaitanya podem se manifestar no coração de uma pessoa, e somente Seus pés de lótus podem remover para sempre todas as dificuldades e más fortunas da vida. Portanto, para se cruzar o perigoso oceano da era de Kali nada melhor do que se abrigar aos Seus pés e mergulhar no oceano de néctar do amor a Deus com completa fé e amor.
Da Bhagavad-gita se aprende que a verdade última é Sri Krishna, a Pessoa Suprema, e que todos devem ajustar suas vidas de modo a oferecer-Lhe serviço devocional com amor. Mas, como os seres humanos caídos desta era foram incapazes de compreender Seu aspecto pessoal, Sri Krishna e Balarama trajaram-Se como devotos e desceram a Terra para redimir as almas caídas, ensinando-os o caminho auspicioso da devoção.
Os filósofos especuladores procuram a liberação do envolvimento material, pois querem se fundir no Brahmajyoti impessoal, a região onde repousa o brilho espiritual do Senhor. Os yogis adotam métodos místicos de aperfeiçoamento para realizarem o Paramatma, a Superalma localizada dentro do coração. No entanto, aqueles que se tornam devotos de Chaitanya-Nitai ultrapassam as realizações de Brahman e Paramatma pois alcançam Bhagavan Sri Krishna, a forma completa de sac-chit-ananda.
Ao compreender o Brahman impessoal, pode-se realizar unicamente o aspecto sat, a existência ilimitada do Todo-completo. A realização chit consiste em perceber a Superalma localizada, o aspecto do conhecimento ilimitado do Senhor. Contudo, estas duas realizações não podem outorgar ananda, a bem-aventurança ilimitada que todo ser vivo anseia. E, sem ananda, a realização espiritual permanece incompleta. Segundo o Senhor Chaitanya, tal ananda ilimitada é alcançada, única e exclusivamente, quando o ser vivo se dedica ao serviço amoroso puro aos pés de lótus de Sri Krishna, a origem de Brahman e Paramatma.
É em Goloka-Vrindavana, a residência eterna de Sri Krishna, onde o Senhor e Seus associados imaculados mais íntimos desfrutam eternamente de passatempos espirituais conhecidos como ananda-lila. Tais lilas bem-aventuradas são executadas muito além dos limites do mundo material e, para tal, o Senhor Krishna Se expande primeiramente como Sri Balarama. De modo semelhante, quando Krishna vem a este mundo como Sri Chaitanya, o Senhor Balarama expande-Se como o Senhor Nityananda e, na forma de um devoto sublime, passa a auxiliá-lO em Sua missão. Sri Krishna é o manancial de todas as encarnações e Balarama é o Seu segundo corpo. Eles têm a mesma identidade e diferem apenas em forma, sendo que Krishna é escuro, enquanto Balarama é claro. Pessoalmente, Balarama é o primeiro a ajudar o Senhor Krishna a desfrutar de Seus passatempos. Como uma manifestação transcendental do serviço ao Senhor Krishna, Ele Se expande em cinco formas:
1. Maha-Sankarshana, a deidade atraente do mundo espiritual e o abrigo da energia espiritual.
2. Mahavishnu, a expansão do Senhor através da qual emanam todos os universos, o purusha original e Senhor da energia ilusória.
3. Garbhodakashayi Vishnu, a expansão do Senhor da qual nasce Brahma, o arquiteto do universo, e em cujo umbigo nasce uma flor de lótus que abriga quatorze mundos.
4. Kshirodakashayi Vishnu, a expansão do Senhor que reside em Svetadvipa e, ao mesmo tempo, mantém tudo, localizando-Se no coração de todos como Paramatma.
5. Ananta Sesha, o responsável por executar uma diversidade ilimitada de serviço a Krishna.
Assim como Balarama serve ao Senhor de muitos modos, Nityananda o faz em relação ao serviço do Senhor Chaitanya. Atuando como um companheiro inseparável do Senhor, Ele saboreia a bem-aventurança da devoção pura e manifesta poder espiritual ilimitado e inconcebível. Ele é o próprio Vishnu, e todos os avataras surgem simplesmente de uma parte de Sua porção plenária. Sob a forma de Ananta Sesha, a serpente divina com milhares de capelos, Nityananda sustenta todos os planetas, embora sinta a existência de todos estes planetas como uma simples semente de mostarda em Sua cabeça, que é adornada com jóias que superam o brilho do sol. Ele está incansavelmente cantando as glórias de Krishna e para o Seu bem-estar, Se expande como o guarda-sol, chinelos, camas, travesseiros, roupas, tronos etc. do Senhor. Sua posição é tão gloriosa que, certas vezes, Ele pessoalmente atua como o próprio guru do Senhor Chaitanya! Em certas ocasiões, Nityananda atua também como um amigo, de igual para igual, assim como Balarama que, como um touro, lutava cabeça a cabeça com o Senhor Krishna, ou às vezes deixava Krishna massagear Seus pés de lótus. Embora Balarama participe das lilas do Senhor Chaitanya como Nityananda, Sua posição supera a de Balarama, porque, como Nityananda, Ele distribui o amor puro por Krishna às almas mais caídas.
Assim como Krishna e Balarama são iguais, do mesmo modo, Nityananda não é diferente do Senhor Chaitanya. Ele é Sua primeira manifestação, num corpo diferente, próprio para auxiliá-lO na lila de salvar o mundo. No entanto, Sua concepção é de um devoto (bhakta) e Sua atitude é a de um perfeito servo. Sri Krishna é Deus sendo servido, enquanto Sri Balarama é Deus atuando como um servo. O brincalhão Sri Krishna é lilamaya, pois está sempre absorto em Suas divertidas lilas, enquanto é assistido por Balarama. De modo semelhante, Nityananda serve Chaitanya de várias maneiras. Nityananda é também guru-tattva, que é não-diferente de bhagavat-tattva. Nityananda é o samasti-guru, ou o guru coletivo e todos os gurus individuais são os Seus vários braços. Não é possível alcançar Bhagavan ou prema sem a misericórdia de Nityananda.
Balarama é o companheiro (parikara) de Krishna, enquanto Nityananda é o parikara do Senhor Chaitanya. A função do parikara é a de assistir Bhagavan em Sua lila conforme Seu desejo. A lila que Krishna revela em Vraja é prema-lila ou a lila de desfrutar do amor e não distribuí-lo. Assim, mesmo sendo a própria imagem da misericórdia, na Vraja lila Balarama não pode distribuir prema. Mas como a lila do Senhor Chaitanya é prema-dana, a lila da distribuição do amor divino, o oceano de misericórdia Nityananda foi de porta em porta para distribuir vraja-prema (que até mesmo Brahma e Laksmi anseiam, mas não podem obter) para shudras ou brahmanas, para pessoas piedosas ou impiedosas, homens ou mulheres etc. Além disso, assim como Gouranga é a encarnação combinada de Radha e Krishna, Nityananda é a encarnação combinada de Balarama e de Ananga Mañjari, a irmã mais nova de Srimati Radharani. Portanto, como Balarama e Ananga Mañjari, o Senhor Nityananda é a origem de todos os relacionamentos espirituais (rasa) possíveis de ser intercambiados com Krishna.
A conclusão é que alcançar o serviço puro ao Senhor Chaitanya é possível para qualquer alma sincera que simplesmente se aproxime dos pés de lótus de Nityananda Prabhu com humildade. Como o mestre espiritual original, Ele corporifica o princípio ­ guru-tattva e, na forma de Ananga Mañjari, a irmã mais nova de Srimati Radharani, Ele serve ao divino casal em madhurya-rasa. Srimati Radhika é o guru principal no círculo íntimo dos servos de Krishna e Ela só aceita a oferenda do serviço daquelas almas afortunadas que são especialmente favorecidas por Nityananda. Existe, portanto, um relacionamento muito íntimo entre a função de Nityananda Prabhu e Srimati Radharani. Por isso, é dito que o guru é a manifestação de Nityananda Prabhu. Na verdade, é o Senhor Nityananda quem outorga ao guru a autorização de distribuir a misericórdia do Senhor Chaitanya e, através d'Ele, o mestre espiritual permite que um discípulo avançado entre na confidencial chaitanya-lila, a qual não é diferente da lila de Sri Radha-Krishna em Vraja. Vendo que as pessoas desta era são tão caídas e desafortunadas e nem têm grandes dificuldades de apreciar a consciência de Krishna, estando no coração de todos, Nityananda faz diferentes arranjos para que as almas caídas da era de Kali se aproximem cada vez mais do serviço ao Senhor Chaitanya, através do método do parampara.
Extraído do livro "Nityananda, o Mestre Espiritual de Todos os Mundos"por Chandramukha Swami

Haridas, o Servo Perfeito dos Santos Nomes


Ao iniciar seus estudos da Consciência de Krishna e passar a se dedicar às atividades do serviço devocional, todo praticante sincero se vê deslumbrado com o oceano de néctar que se descortina diante dele. Trata-se do oceano inesgotável do amor a Deus, onde somente os seguidores estritos de Sri Chaitanya podem mergulhar profundamente e saborear este néctar divino. Este oceano é o habitat natural dos associados pessoais do Senhor que se deleitam nas águas refrescantes do serviço devocional amoroso ao Senhor, sempre ocupados em ouvir, cantar, lembrar, oferecer orações, servir os pés de lótus, fazer amizade e entregar-se totalmente. Os associados do Senhor são almas eternamente liberadas e, por se ocuparem constantemente no serviço devocional, são considerados como idênticos em qualidade ao próprio Senhor. Tais servos perfeitos do Senhor são Seus associados pessoais e permanecem completamente conscientes de Krishna mesmo vivendo neste mundo material, pois se ocupam unicamente na missão da Suprema Personalidade de Deus. Eles compreendem que só o serviço devocional a Krishna pode aliviar alguém de todos os problemas da vida, e, por isso, fazem grande esforço para introduzi-lo neste mundo. A este respeito, Srila Prabhupada comenta (Bg.11.55):
"Na história, há muitos exemplos de devotos do Senhor que arriscaram suas vidas para difundirem a consciência de Deus... tais como Haridas e Prahlada Maharaja. Por que correr este risco? Porque eles queriam espalhar a consciência de Krishna, e isso é difícil. Quem é consciente de Krishna sabe que as pessoas sofrem porque se esqueceram de sua eterna relação com Krishna. Portanto, o maior benefício que se pode prestar à sociedade humana é aliviar o semelhante de todos os problemas materiais. Por isso, o devoto puro ocupa-se a serviço do Senhor."
Neste comentário, Srila Prabhupada mostra a posição elevada do devoto puro do Senhor, citando Haridas como exemplo. O único interesse de tais devotos puros neste mundo material é transmitir lições de conhecimento transcendental, o que pode ser feito de duas maneiras: através de palavras e através de exemplos de vida prática. No Chaitanya-charitamrita (Antya 4.99-103), encontramos alguns versos onde Sanatana Goswami afirma que Haridas ocupa uma posição de destaque especial, sendo o devoto mais avançado:
Ó Haridas, quem é igual a ti? Você é um associado de Sri Chaitanya. Por isso, Você é o mais afortunado. A missão de Sri Chaitanya, devido à qual Ele veio como uma encarnação, é propagar a importância de se cantar os santos nomes do Senhor. Agora, ao invés de fazer isso pessoalmente, Ele a está propagando por teu intermédio. Meu querido cavalheiro, cantas o santo nome trezentas mil vezes por dia e informas a todos sobre a importância desse cantar. Alguns comportam-se muito bem, mas não pregam o culto da consciência de Krishna, ao passo que outros pregam, mas não se comportam adequadamente. No tocante aos santos nomes, tu, com teu comportamento pessoal e com Sua pregação, executa ambos os deveres ao mesmo tempo. Por isso, Você é o mestre espiritual do mundo inteiro, pois é o devoto mais avançado dentro deste mundo.
O movimento Hare Krishna tem a importante missão de salvar as almas condicionadas de sua loucura pelo gozo dos sentidos, que as faz desperdiçar a forma de vida humana. Por que as almas condicionadas não fazem idéia de que estão correndo o risco de, na próxima vida, tornarem-se animais ou coisa pior, o Senhor Chaitanya desceu a este mundo acompanhado de Seus mais importantes associados, os quais não possuem interesses diferentes dos interesses do Senhor. Na verdade, tais associados do Senhor Chaitanya, como Haridas, são dotados de poder espiritual pelo Senhor para aSuarem como Seus representantes autorizados, ou mestres espirituais. Para encorajar as almas condicionadas a aceitarem o serviço devocional, tais devotos imaculados nos oferecem exemplos perfeitos de comportamento espiritual enquanto propagam ensinamentos valiosos que podem nos convencer a adotar o serviço à Verdade Absoluta. Desse modo, os ensinamentos deixados por Haridas nos encorajam a nos dedicar cada vez mais ao cantar dos santos nomes e, ao mesmo tempo, despertam um grande interesse de nos empenharmos a alcançar uma vida espiritual livre de qualquer tipo de ofensas, quer seja aos santos nomes, quer seja aos santos vaishnavas.
O comportamento de Haridas de extrema humildade, somado aos seus exemplos incomparáveis de devoção pura pelos santos nomes, nos serve como uma referência ideal para que possamos trilhar com segurança nossa jornada de volta ao lar. Ainda que os santos nomes não sejam diferentes do próprio Senhor, é um fato que, sem seguir os passos dos grandes acharyas dos santos nomes, como Haridas, ninguém obtém tal percepção transcendental – mesmo depois de muitos nascimentos! Por outro lado, ao permitirmos que a nossa mente seja como uma abelha enlouquecida pelo néctar da poeira dos pés do lótus dos devotos do Senhor Chaitanya, a fé inabalável, a atração espontânea e o verdadeiro amor irão brotar naturalmente em nossos corações. Portanto, o santo Haridas veio a este mundo para nos revelar qual é a atitude ideal que devemos adotar para que nossas atividades devocionais sejam completamente bem-sucedidas. Por sua graça, o processo da consciência de Krishna se revelou muito claro, bastante acessível e cada vez mais encorajador.
No princípio, é preciso desenvolver confiança, ouvindo sobre a ciência de bhakti da boca de lótus de um mestre espiritual. Então, à medida que adotamos os métodos apresentados pelo mestre espiritual, nossas dúvidas e demais obstáculos desaparecem, graças a execução autorizada de tal serviço devocional. A partir deste ponto, surge um gosto sublime por executar serviço devocional e o interesse por ouvir sobre as atividades do Senhor e Seus associados se intensifica ainda mais. À medida que continuamos a ouvir sobre as glórias do Senhor e Seus associados, o apego ao serviço devocional se torna cada vez mais forte. Se, pela graça do Senhor, conseguimos prosseguir firmemente, com certeza iremos nos elevar ao estágio de amor espontâneo por Deus. Portanto, os exemplos e os ensinamentos de Haridas nos enchem de convicção, atração e amor aos santos nomes de Deus e aos demais devotos do Senhor. Devido ao seu comportamento e ensinamentos transcendentais, portanto, Haridas será glorificado eternamente como namacharya, o exemplo ideal daquele que alcançou a perfeição através do processo de cantar os santos nomes.
No Bhagavad-gita se afirma que, simplesmente ao compreender o aparecimento e as atividades da Suprema Personalidade de Deus, uma pessoa se qualifica para ser transferida ao mundo espiritual. De forma similar, o aparecimento e as atividades dos devotos eternamente liberados, tais como Haridas, são completamente transcendentais, e, se pudermos compreendê-los, também podemos alcançar a liberação. Como afirmamos anteriormente, ao aparecer neste mundo material, o devoto puro tem o mesmo propósito do Senhor: ajudar a todos a se fixarem no caminho de volta ao lar, de volta ao Supremo. Tal caminho é tão afiado como um fio de navalha, pois a energia ilusória do Senhor, que se apresenta na forma de riquezas, prestígio mundano e atração sexual, é quase impossível de transpor. Desenvolver verdadeiro conhecimento espiritual, superar a todos os encantos dessa energia ilusória, e, finalmente, despertar o amor imaculado pela Pessoa Suprema, não são tarefas fáceis, acessíveis a seres vivos comuns. Somente as grandes almas que se refugiaram exclusivamente na potência interna de Krishna e se ocuparam completamente em serviço devocional sem cair em nenhuma circunstância puderam transpor os inúmeros obstáculos da vida condicionada. Na verdade, segundo as escrituras, ninguém jamais alcançará a perfeição dependendo exclusivamente de seu esforço pessoal. Tampouco tal perfeição será obtida se alguém se precipita em algum caminho criado por algum cérebro mundano, confundido pela energia material ilusória. Só alcançará a perfeição da vida quem seguir fielmente os passos das grandes almas (mahatmas) como Haridas, e não se desviar. Quando as escrituras dizem "seguir os passos", elas estão nos indicando que a mahatma, através de seu próprio exemplo perfeito, nos indicou o caminho seguro que pode nos conduzir ao mundo espiritual e, uma vez revelado pelas escrituras, tal caminho irá tornar nossa tentativa de voltar ao Supremo bem mais acessível e segura. Tais mahatmas, portanto, possuem um relacionamento amoroso com o Senhor que faz com que Ele sempre permaneça situado em seus corações. Quanto a isto, o próprio Senhor Vishnu afirma no Srimad-Bhagavatam (9.4.68):
"Os santos são Meu coração, e apenas Eu sou seus corações. Eles não conhecem ninguém além de Mim, e por isso Eu não reconheço ninguém além deles como Meus"
Segundo a filosofia do Senhor Chaitanya, achintya-bhedaabheda-tattva, há igualdade e diferença simultânea entre o Senhor e Seus devotos. O Senhor é único e inigualável e, consequentemente, o energético Todo-poderoso. Ele possui energias inconcebíveis, sendo que os seres vivos são considerados uma destas energias. Estas energias nunca podem ser consideradas como o energético, pois o objetivo de sua existência é servir eternamente ao Senhor. No entanto, quando estão desta maneira siSuadas em serviço devocional puro, como no caso de Haridas, elas são consideradas idênticas ao Senhor em qualidade espiritual. Tais seres vivos perfeitos nos servem como uma grande fonte de purificação, pois, através da associação com eles, qualquer pessoa pode se livrar de suas reações pecaminosas e transcender sua fase de vida condicionada. Certamente, a perfeição da prática de serviço devocional pode ser alcançada através do processo de cantar os santos nomes, como exemplificado por Haridas. O comportamento profundamente humilde e tolerante de Haridas é maravilhoso, e suas santas qualidades personificavam os ensinamentos do Senhor Chaitanya, como se expressa no Sikshastaka, 3:
"Devem-se cantar os santos nomes do Senhor num estado de espírito humilde, julgando-se inferior à palha na rua. Deve-se ser mais tolerante do que uma árvore, desprovido de todo o sentido de falso prestígio e deve-se estar pronto a oferecer todo o respeito aos outros. Neste estado de espírito, podem-se cantar os santos nomes constantemente."
Houve muitas encarnações preciosas de Deus, mas nenhuma delas foi tão compassiva, amável e magnânima como Sri Chaitanya, que veio curar a doença da ilusão de Maya, a qual confunde profundamente a todos, fazendo-os julgarem-se corpos materiais temporários. Esquecendo-se de seu relacionamento amoroso como o Senhor, os seres vivos também se esquecem de sua verdadeira natureza como almas espirituais eternamente bem-aventuradas. Na verdade, não há a menor necessidade de se viver em função simplesmente das obrigações referentes ao corpo material. No entanto, sob o encanto de Maya, os seres vivos são impelidos pela própria natureza material a buscar a satisfação das necessidades do seu presente corpo, e lutam inutilmente por aquisição de fama, respeito e falso prestígio materiais.
O Senhor Chaitanya e Seus associados vieram trazer o único remédio eficaz para eliminar a doença do materialismo que impera nos habitantes da era de Kali: o maha-mantra Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare. Assim, qualquer pessoa que queira participar desta sublime missão precisa desenvolver as qualidades de humildade, tolerância, ausência de falso prestígio e inclinação por respeitar os outros, apresentadas por Haridas, o mais importante instrumento de Sri Chaitanya na pregação de hari-nama.
Para destacar ainda mais a importância de Haridas, uma vez Sri Chaitanya disse a Sri Vallabhacharya: "Eu aprendi a importância de hari-nama com Haridas!" Noutra ocasião, Sri Chaitanya indagou: "Ó Haridas! Estou muito preocupado com os muçulmanos, que cometem grandes pecados ao matarem brahmanas e vacas. Diga-me, como eles poderão ser liberados?" Haridas respondeu com um doce sorriso: "Prabhu! Não Se preocupe com eles, pois, quando eles expressam desgosto por qualquer coisa, eles dizem "Haram, Haram!" Desta maneira, inconscientemente eles pronunciam a palavra "Ram" (Rama) e pavimentam o seu caminho para a liberação. Ajamila chamou o seu filho Narayana no momento da morte e obteve e liberação".
Sri Chaitanya perguntou outra vez: "Querido Haridas! Além dos muçulmanos, há inúmeros outros seres, tanto animados quanto inanimados. Como eles poderão ser liberados?" Haridas disse de mãos postas: "Prabhu! Você garantiu que as preces de Vasudeva Datta permitiriam a liberação de todas os seres vivos. Você as está liberando com o processo de hari-nama. Os seres animados são liberados por ouvir o kirtana, os inanimados pelo ecoar do kirtana. Este eco não é um simples eco – ele é o kirtana dos seres inanimados". Ficando muito satisfeito em ouvir estas explicações, Sri Chaitanya abraçou afetuosamente Haridas.
Extraído do livro "Haridas, o Servo Perfeito dos Santos Nomes"por Chandramukha Swami


Sri Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura


Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, o guru de Srila A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, apareceu em Sri Ksetra Dhama (Jagannatha Puri) a 6 de fevereiro, 1874 como filho de Srila Saccidananda Bhaktivinoda Thakura. Em sua infância ele rapidamente dominou os Vedas, memorizou o Bhagavad-gita, e saboreava as obras filosóficas de seu pai. Tornou-se conhecido como "A Enciclopédia Viva" devido a seu vasto conhecimento.
Ele pregava convincentemente contra os fanáticos pelas castas e os desvios filosóficos do Gaudiya Vaisnavismo. Tentou unir as quatro sampradayas Vaisnavas publicando seus ensinamentos. Srila Sarasvati Thakura ganhou o título de Nrisimha Guru por seu destemor e poderosa transmissão do siddhanta Vaisnava. Mayavadis atravessavam a rua para evitar de confrontar o " guru -leão." Além de ser um corajoso pregador, era ornamentado com todas qualidades divinas e cheio de amor extático por Deus. Estabeleceu 64 templos Gaudiya Math na Índia e centros na Birmânia (Miyanmar), Inglaterra e Alemanha.
Srila Sarasvati Thakura escavou o local do aparecimento do Senhor Chaitanya no Yogapitha em Sridhama Mayapur, apesar de pesada oposição por parte dos Goswamis de casta de Navadvipa, ávidos de dinheiro. Construiu um belo templo Gaudiya Math ali.
Suas três Brhat-mrdangas (prensas tipográficas) em Madras, Calcutá, e Krishna-nagara, costumavam jorrar livros, revistas, e jornais para espalhar a mensagem de Sri Gauranga Mahaprabhu.
Quando perguntado porque imprimia um jornal espiritual diário intitulado Nadia Prakash, Srila Sarasvati Thakura respondeu: "Se uma insignificante cidade pode produzir cinco jornais diários, então porque não podemos publicar um jornal a cada segundo sobre as eternas, sempre novas atividades da Suprema Personalidade de Deus em Seu ilimitado planeta espiritual, Goloka Vrindavana?"
Além dos escritos de seu pai, ele publicou muitos shastras autorizados: Bhagavad-gita, Srimad Bhagavatam, Chaitanya Bhagavata, Chaitanya Mangala, Prema-bhakti-chandrika, e seu livro favorito Chaitanya Charitamrta. Predisse que estrangeiros iriam aprender Bengali a fim de saborear o néctar deixado por Srila Krishna Das Kaviraja no Chaitanya Charitamrta.
Ele introduziu muitas inovações para expandir a pregação. Por toda Índia organizava exposições teístas grátis e dioramas retratando os passatempos de Sri Krishna e Sri Chaitanya Mahaprabhu. Empregando a mais recente tecnologia, até mesmo tinha bonecos animados. Para comemorar os muitos locais sagrados visitados pelo Senhor Chaitanya ele instalou impressões de mármore dos pés de lótus do Senhor. Quebrando a tradição, permitia que seus sannyasis usassem kurtas e casacos costurados, que andassem em carros e barcos a motor, e carregassem a mensagem de Mahaprabhu atravessando o mar até a Europa.
As revolucionárias idéias de pregação de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati originavam-se do princípio shastrico de yukta-vairagya exposto pelo rasa acharya Srila Rupa Goswami. Sendo uma alma eternamente liberada, Srila Sarasvati Thakura sabia como ocupar perfeitamente Maya (a energia ilusória) no serviço do Senhor Krishna.
Seguindo os passos de Srila Thakura Bhaktivinoda, ele pregou daivi varnashrama para harmonizar a sociedade e proporcionar realização espiritual a todos. Advogando os ensinamentos de Sri Rupa e Sri Raghunatha Das Goswamis, ensinou a ciência do serviço devocional, e mostrou a milhares como obter amor puro por Sri-Sri Gandharvika-Giridhari (Radha-Krishna).
Além de seu fenomenal sucesso na pregação da Índia, a maior contribuição de Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura foi Srila A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, que ele iniciou e inspirou a distribuir consciência de Krishna pelo mundo todo. Quando pediram a Srila Prabhupada para descrever seu mestre espiritual Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, ele disse: "Que posso dizer? Ele era um homem de Vaikuntha."
Nos passatempos eternos de Radha-Govinda em Goloka Vrindavana, Srila Sarasvati Thakura serve como Nayana-mani manjari. Seus pushpa samadhis estão no Radha-kunda e Radha Damodara. (16, 35)
Extraído do livro "Santos Vaishnavas"por Mahaniddhi Swami

Sri Goura Kishora Das Babaji Maharaja


Em 1849, Srila Gaura Kishora Das Babaji deixou a vida de grhasta após a morte de sua esposa. Ele mudou-se para Vrindavana e tomou iniciação de Sri Bhagavata Das Babaji, um discípulo de Sri Jagannatha Das Babaji. Por mais de trinta anos Gaura Kishora Das permaneceu em Vrindavana realizando bhajan sob as árvores em Giri-Govardhana, Nandagrama, Varsana, Radha-kunda, Surya-kunda, Raval, Gokula.
Sentado no isolamento, ele cantava 200.000 nomes de Krishna todo dia (128 voltas de japa). Ele sentia dolorosa separação de Radha-Govinda e chorava profusamente. Enquanto vagava pelas dvaDas vana (12 florestas) de Vraja, cantava alto os santos nomes numa voz profunda cheia de lamentação. Ele também saboreava o seguinte bhajan:
kothay go prema-mayi radhe radhe!radhe radhe go jaya radhe radhe!dekha diya prana rakho radhe radhe!tomar kangal tomay dake radhe radhe!radhe vrindavana-vilasini radhe radhe!radhe kanu-mano-mohini radhe radhe!radhe astha-sakhir siromani radhe radhe!radhe vrsabhanu-nandini radhe, radhe!
"Ó Radhe Radhe! Onde estás, ó Deusa do amor extático? Ó Radhe Radhe! Todas as glórias a Ti, ó Radhe Radhe!
Ó Radhe Radhe! Por favor mostra-Te para mim e através disso mantenha minha vida. Teu mais desprezível servo caído clama a Ti, ó Radhe Radhe!
Ó Radhe! Ó engenhosa desfrutadora de Vrindavana. Ó Radhe Radhe! Ó Radhe! Ó encantadora da mente de Kanu (Krishna). Ó Radhe Radhe!
Ó Radhe! Ó jóia real de Tuas oito principais amigas. Ó Radhe Radhe! Ó Radhe! Ó deliciosa filha de Maharaja Vrsabhanu. Ó Radhe Radhe!"
O humor de renúncia de Srila Babaji Maharaja era sem paralelo. Às vezes ele comia argila das margens do Radha-kunda ou do Yamuna. Outras vezes ele tomava madhukari dos Vrajavasis. Madhukari é a prática diária de um babaji de mendigar um pouco de alimento de uma a sete casas, assim como uma abelha coleta uma gota de mel de cada flor. Ele via todos os Vrajavasis (residentes de Vrindavana) como sendo associados pessoais diretos de Radha e Krishna. Como resultado desta visão, ele prestava respeitos a cada pessoa, vaca, animal, ave, árvore, trepadeira, inseto, formiga no sagrado dhama.
Enquanto permaneceu em Varsana ele fazia uma guirlanda de flores todo dia para Rai e Kanu (Radha-Krishna). Após trinta anos de prestar serviços íntimos a Radha e Krishna em Vrindavana, Babaji sentiu-se inspirado pelo Casal Divino a ver Sri Navadvipa Dhama. Ele visitou todos os lila sthanas do Senhor Gauranga em Gaura Mandala. Em Navadvipa, ele costumava cantar um bhajan que significa: "Por receber a misericórdia de Nitai se consegue a misericórdia de Gauranga, que nos torna elegível para Krishna prema. Com Krishna prema se pode obter o serviço de Srimati Radharani e das gopis."
Gaura Kishora Das Babaji era a forma encarnada da renúncia de Sri Rupa-Raghunatha. Completamente desapegado, ele lavava pano descartado para cobrir seu corpo. Bebia de um pote de barro rejeitado. Arroz ressecado misturado com água do Ganges ou simplesmente algum barro da margem do Ganga sustinha sua vida.
Ele carregava dois livros escritos por Sri Narottama Das Thakura: Prarthana e Prema-bhakti-chandrika. No Ekadasi ele nem comia ou bebia uma gota d'água. Reconhecendo-o como um mahabhagavata muitos tentavam servir, porém nunca ele aceitava.
Regularmente, ele se associava com e ouvia o Srimad Bhagavatam de Srila Thakura Bhaktivinoda em Svananda sukhada kunja em Godrumadvipa. Constantemente absorvido em bhajan, Srila Babaji Maharaja não tinha desejo de fazer discípulos. A pedido de Bhaktivinoda Thakura, contudo, ele reconsiderou. Ao ver a verdadeira humildade e profundo apego do filho de Thakura Bhaktivinoda por bhajan, Srila Gaurakishora Das Babaji aceitou um discípulo – Sri Varsabhanavi-dayita Das (Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura).
Para evitar que pessoas mundanas se aproximassem dele para bençãos materiais, uma vez residiu nos lavatórios no Kuliya Dharmashalla (em Koladvipa) por seis meses. Quando funcionários públicos vieram se oferecer para construírem um bhajan kutir adequado, Babaji Maharaja trancou-se por dentro e disse que já tinha um. Ele acreditava que associar-se com pessoas materialistas é muito pior que o cheiro de fezes na latrina.
Gaura Kishora Das Babaji aconselhou um médico de Calcutá que queria abrir uma clínica de saúde gratuita em Navadvipa Dhama: "Se realmente quer viver em Navadvipa Dhama, então abandone seu desejo de administrar uma clínica grátis para curar desfrutadores dos sentidos. Se quer prestar serviço substancial, então renuncie a tudo exceto ao que promove Hari bhajan. Todos outros tipos de deveres e serviços simplesmente nos atam ao medonho ciclo de reações karmicas."
Babaji Maharaja falou gravemente para um homem recém-casado: "Uma esposa Vaisnava é extremamente rara e difícil de encontrar neste mundo. Caso se tenha a boa fortuna de possuir uma, deve-se ver isto como uma benção de Krishna. A esposa adora o marido como seu senhor e amo. Similarmente, o marido deve adorar a esposa porque ela é Krishna dasi, uma serva de Krishna. Desta maneira, o marido pode proteger seu entusiasmo devocional ao não considerar sua esposa como sendo sua serva, mas que ela sempre é a serva de Krishna."
"Quem quer bhojana (comer gostosamente) irá estragar seu bhajan," era uma citação favorita de Srila Babaji Maharaja. Em outras palavras, comer aqui e ali simplesmente para gratificar a língua (bhojana) destroi qualquer tentativa de adorar Krishna (bhajan). Uma vez um devoto comeu um pouco de prasadam de festival em seu bhajan kutir. Babaji Maharaja não queria falar com ele durante três dias. No quarto dia ele disse: "Aceitaste " prasadam de festival" dada por meretrizes de baixa classe e belas mulheres. Porque tomaste alimento sem considerar sua origem teu bhajan é inútil."
A essência das instruções de Srila Gaura Kishora Das Babaji: "O Divino Nome de Krishna oferece o único refúgio. Nunca se deve tentar lembrar dos passatempos de Radha-Damodara mediante métodos artificiais. O cantar constante dos Nomes Divinos irá purificar o coração. Por cantar Hari Nama as sílabas do maha-mantra (Hare Krishna Hare Krishna Krishna Krishna Hare Hare, Hare Rama Hare Rama Rama Rama Hare Hare) irão gradualmente revelar a forma, qualidades, passatempos espirituais de Sri Krishna. Então se realizará a própria forma espiritual eterna, serviço, e as onze particularidades de sua identidade espiritual."
Seguindo a declaração de Babaji Maharaja, "arrastem meu corpo morto através das ruas de Navadvipa," um grupo de assim chamados devotos avançados propuseram cometer dito sacrilégio. Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, entretanto, desafiou-os: "Segundo o shastra, quem teve associação carnal com uma mulher largada dentro das últimas vinte e quatro horas está contaminado, e portanto não qualificado para tocar meu Guru Maharaja." Ouvindo esta ousada declaração, os brahmanas de coração enegrecido bateram em rápida retirada.
Em 19 de novembro de 1915, Srila Gaura Kishora Das Babaji Maharaja juntou-se aos eternos passatempos bem-aventurados de Gandharvika-Giridhari. Seu amado discípulo, Srila Bhaktisiddhanta Sarasvati Thakura, estabeleceu seu samadhi nas margens do Radha-kunda do Sri Chaitanya Matha, perto do Yogapitha do Senhor Chaitanya em Sridhama Mayapur.
Na Vraja lila ele serve Srimati Radharani como Guna-manjari. Seu pushpa samadhi fica ao lado do Radha-Kunja Bihari Gaudiya Matha perto do Radha-kunda. (16, 15)
Extraído do livro "Santos Vaishnavas"por Mahaniddhi Swami


Sri Rupa Goswami


Em 1517, Sri Rupa Goswami e Sri Sanatana Goswami, seu irmão mais velho, vieram para Vrindavana para executar quatro ordens do Senhor Chaitanya: 1) Descobrir os locais dos passatempos de Krishna há muito perdidos. 2) Instalar Deidades, começar puja. 3) Escrever bhakti-shastras. 4) Propagar as regras da bhakti-yoga.
Usando somente kaupina (tanga) e kantha (colcha de retalhos), Sri Rupa Goswami vivia uma vida de mendicante absorvido em ouvir, cantar, e escrever sobre os doces passatempos amorosos de Radha-Govinda em Sri Vrindavana-dhama. Mais detalhes acerca de sua conduta e caráter são mencionados na biografia de Sanatana Goswami.
Sri Rupa Goswami escreveu livros transcendentais práticos porém profundos. Ele estabeleceu Sri-Sri Radha-Govindaji, as amadas Deidades da Gaudiya sampradaya inteira. Por meio de extensa pesquisa védica, Sri Rupa Goswami provou que os ensinamenos de Sri Chaitanya apresentam a mais elevada filosofia e a perfeição da religião.
Gaudiya Vaisnavas são conhecidos como rupanugas, seguidores de Sri Rupa Goswami. Todo devoto rupanuga aspira a tornar-se um servo do servo dos pés de lótus de Sri Rupa Goswami. Sri Narottama Das Thakura canta, sri-rupa-manjari-pada, se more sampada, sei mor bhajan pujana: "Os pés de lótus de Sri Rupa-manjari (a forma eterna de Rupa Goswami como serva de Sri Radha em Vraja) são minha única riqueza. Eles são o único objeto de meu serviço e adoração."
Sri Chaitanya Mahaprabhu encarregou Sri Rupa Goswami de escrever sobre a ciência de rasa-tattva. No Chaitanya-chandrodaya, Sri Kavi Karnapura diz que Sri Rupa Goswami é a forma do real amor fiel e devoção. Sri Chaitanya empoderou-o para explicar Seu próprio amor e devoção, e propagá-lo para o mundo. O Senhor Chaitanya manifestou Seus próprios passatempos através de Sri Rupa Goswami. Ele recebeu o título de bhakti-rasacharya (guru das doçuras devocionais) devido a seus clássicos devocionais, Bhakti-rasamrta-sindhu, Ujjvala Nilamani, Lalita Madhava e outros. Bhakti-rasamrta-sindhu dá a essência de todas escrituras védicas com relação ao reino de bhakti. Em grande detalhe, explica como avançar em consciência de Krishna e obter prema-bhakti, amor puro inadulterado por Radha-Govinda em Sri Vrindavana.
Para entender os casos amorosos de Radha e Krishna, diz Narottama Das Thakura, se deve servir os pés de lótus de Sri Rupa Goswami com intensa ânsia. Servir significa ouvir (estudar), cantar e seguir estritamente os ensinamentos de Sri Rupa Goswami. Servir também significa orar para, clamar a, meditar em, e dedicar nossa vida inteira aos pés de lótus de Sri Rupa Goswami (Sri Rupa-manjari). Sadhana Dipika declara que aqueles no caminho do serviço devocional devem sempre associar-se com as doutrinas de Sri Rupa Goswami sobre prema-bhakti. Pela graça de Sri Jiva Goswami se pode entender as verdades transcendentais dos ensinamentos de Rupa Goswami.
A seguinte citação mostra a incrível potência dos escritos transcendentais de Sri Rupa Goswami:
"Quando Sri Rupa Goswami ficava sentado em seu bhajan kutir em Ter Kadamba (Nandagram, Vrindavana), e escrevia sobre as dores da separação que Sri Radha e Sri Krishna sentiam um pelo outro, as folhas da árvore kadamba caíam, assim como lágrimas escorrendo pela face de alguém sentindo dor. E quando Sri Rupa escreveu sobre a extática reunião amorosa de Radha e Krishna, essa radiante árvore kadamba imediatamente se encheu de folhas novas brotando e flores desabrochando. Pela misericórdia de um Vaisnava puro como Srila Rupa Goswami a árvore kadamba podia compreender e apreciar os assuntos íntimos e confidenciais que permanecem além de nossa compreensão." (Sripad B.V. Narayana Maharaja)
Sri Rupa Goswami estabeleceu as Deidades de Radha-Govinda em Vrindavana. Bhakti-ratnakar cita uma canção de Srinivasa Acharya para descrever a beleza da amada Deidade de Govindaji de Rupa Goswami: "Tendo visto a incomparável beleza de Sri Govinda, Sri Radhika começa a descrevê-la para Suas sakhis: "Quem esculpiu aquele rosto semelhante à lua e quem esculpiu aqueles dois olhos de lótus? Somente Meus ouvidos sabem como Me sinto quando O vejo. Quem formou Seus brincos, de jóias cuidadosamente cortadas? Minha mente está fixa neles. A pérola do nariz Dele cercada por um anel de ouro parece uma flor branca igual à lua rodeada pelo relâmpago, sorrindo por trás de umas nuvens azuis.
A testa Dele está decorada com tilaka de sândalo e lindos desenhos que encantam a mente. Ele brilha dentro de Meu coração. No entanto Meu coração dói por ser incapaz de contemplar Sua linda face à Minha inteira satisfação. Se Deus tivesse Me dado o poder, Eu poderia continuamente desfrutar da doce voz Dele. Seus braços são mais fortes que as trombas de elefantes. Meu corpo jovem anseia pelo toque de Seus dedos. Seus movimentos graciosos rivalizam com o andar de um elefante louco. Ele é um oceano de beleza."
Hoje em dia em Jaipur, Rajasthan, as Deidades originais Radha-Govindaji de Sri Rupa Goswami estão para sempre expandindo sua ilimitada beleza. Diariamente dez mil devotos correm para comparecer ao mangala arotika Delas. Uma Deidade prati-bhu de Govindaji reside no ‘novo' templo Govindaji atrás da histórica obra-prima de arquitetura que antigamente servia Radha-Govinda em Vrindavana.
Sri Krishna Das Kaviraja diz que a Deidade de Radha-Govindaji nos mostra como adorar Radha e Krishna. Radha-Govindaji aceitam nosso serviço e dão inspiração para aumentar nossa rendição na senda de bhakti. Atuando exatamente como o shiksha-guru, Govindaji nos dirige e dá oportunidades para serví-Lo.
Algumas autoridades asseveram que em 1564 Sri Rupa Goswami entrou na nitya-lila de Radha-Govindaji, apenas vinte e sete dias depois do desaparecimento de Sri Sanatana Goswami. O samadhi e bhajan kutir de Sri Rupa Goswami ficam no Seva Kunja dentro do pátio do templo Radha-Damodara. O samadhi de Sri Rupa Goswami aparece na capa deste livro. (23)"
Extraído do livro "Santos Vaishnavas"por Mahaniddhi Swami


Sri Sanatana Goswami


Sri Sanatana Goswami apareceu em 1488, cinco anos antes de Sri Rupa Goswami, numa família de Sarasvata brahmanas em Bengala. Sanatana e seus dois irmãos, Rupa e Anupama, estavam sempre absortos em bhava bhakti desde a primeira infância. Lembrando de Vrindavana, eles nomeavam as florestas nas quais brincavam conforme as doze florestas de Vraja (Talavana, Madhuvana, Kamyavana, Mahavana). Chamavam suas lagoas favoritas para tomar banho Rhada-kunda e Shyama-kunda.
Em sua juventude, Sri Sanatana sonhou que um lindo menino brahmana lhe deu um Srimad Bhagavatam. Sentindo-se extático, ele acordou. Mas não vendo nem o menino e nem o Bhagavatam, sentiu-se triste. Quando Sanatana começou seu puja naquela manhã, contudo, o próprio Krishna, disfarçado como um lindo menino brahmana, veio e disse: "Tome este Srimad Bhagavatam de Mim, sempre estude-o, e alcançarás a perfeição."
No Krishna-lila-stava, Sri Sanatana Goswami glorifica o Srimad Bhagavatam: "Ó santo Bhagavatam, és minha única companhia, meu único amigo, e meu guru. És meu maior tesouro e meu salvador pessoal. És o emblema de minha mais elevada fortuna e a própria forma do êxtase. Ofereço minhas reverências a ti."
Forçado a submeter-se ao governo muçulmano reinante, Sri Rupa e Sri Sanatana se tornaram ministros e viviam em Ramakeli. Mas a verdadeira ocupação deles era ensinar shastras que eles aprendiam de Vidyavacaspati, irmão de Sarvabhauma Bhattacharya. Pandits e brahmanas de toda Índia vinham estudar sob os dois irmãos. Sri Rupa e Sanatana eram aclamados como "as jóias reais dos eruditos Gaudiya Vaisnavas." Depois que o Senhor visitou Ramakeli e os libertou, eles renunciaram a tudo pelo serviço ao Senhor Gauranga.
Sri Chaitanya Mahaprabhu ordenou que Sri Rupa e Sanatana se mudassem para Vrindavana e realizassem quatro serviços: 1) Descobrir os locais dos passatempos de Krishna. 2) Instalar Deidades, fazer arranjos para o puja Delas. 3) Compilar escrituras bhakti. 4) Propagar as regras da vida devocional. "Ingressando no serviço do Senhor Chaitanya, resolutamente abandonaram o poder, riquezas, e posição para viver em Vrindavana como humildes mendicantes absorvidos em bhajan. Não se pode fazer bhajan corretamente até que se renuncie a todos apegos tanto interna quanto externamente, e se adote uma vida de simplicidade e humildade." (Sri Vraja Mandala Parikrama)
Eles viajaram extensamente através da Vraja mandala descobrindo muitos lila sthanas de Radha-Madhava. Não tendo residência fixa, eles roubavam alguns momentos de sono (nunca mais que uma e meia hora por dia) sob uma árvore ou moita. Sri Rupa e Sri Sanatana Goswamis passavam todo seu tempo discutindo os passatempos de Krishna, e cantando os santos nomes de Krishna.
Para manter-se, Sanatana mendigava um pouco de farinha de trigo, rolava-a fazendo uma bola adicionando água do Yamuna, e jogava esta nos carvões em brasa para cozinhar. Ele oferecia este bati (bola de pão assado sem sal) a sua Deidade de Madana Mohana. Abandonando todo tipo de desfrute material, os Goswamis aceitavam o mais pobre meio de vida como mendicantes. Comiam apenas o bastante para manter seus corpos.
O Radha-Madana Mohana Mandir estabelecido por Sanatana Goswami foi o primeiro aberto em Vrindavana pelos seis Goswamis. Descrito como "a extensão pessoal do corpo de Sri Chaitanya Mahaprabhu," Sri Sanatana é o mestre espiritual ideal porque ele nos dá abrigo aos pés de lótus de Madana Mohana. As três Deidades de Vrindavana (Madana Mohana, Govindaji e Gopinatha) são a vida e a alma dos Gaudiya Vaisnavas. A Deidade de Madana Mohana tem a qualidade específica de ajudar os devotos neófitos a compreender seu relacionamento eterno com a Suprema Personalidade de Deus, o Senhor Sri Krishna.
"Madana Mohana" significa Krishna que é tão indescritívelmente belo que Ele atrai Cupido, Kamadeva. Sanatana Goswami é o sambandha acharya que nos dá conhecimento sobre nosso devido relacionamento com Krishna. E sua Deidade, Madana Mohana, nos ajuda a vencer nossa atração pela gratificação sensorial material (Cupido) e fixa nossas mentes no serviço devocional.
Sri Sanatana Goswami passou quarenta e três anos vagando de aldeia em aldeia em Vrindavana. Os Vrajavasis cuidavam afetuosamente dele, tratando-o como pai deles. Com pacíência e interesse ele ouvia os problemas deles. Então ele satisfazia todos aldeões mediante sua pregação e conselho prático sobre tudo, desde aumentar o rendimento das safras até resolver rusgas familiares.
"Renunciando a todos prazeres mundanos, Sanatana Goswami era humilde, desapegado, sempre absorvido em estudo. Mahaprabhu frequentemente dizia que Sanatana Goswami era Seu devoto favorito. Como um oceano de amor e misericórdia, Sanatana sobrepujava todos outros devotos em sua compaixão para com as almas caídas." (Bhakti-ratnakar)
Em seus últimos anos, ele deixou sua amada Deidade de Madana Mohana com Krishna Das brahmachari, seu discípulo. Fazia bhajan nas margens do Manasi Ganga junto a Cakalesvara Mahadeva em Govardhana. Diariamente ele caminhava pelo parikrama de vinte e quatro milhas (a rota original mais longa) da Colina de Govardhana. Embora tivesse sessenta e cinco anos de idade, mantinha seu voto diário de oferecer 1.008 reverências à Colina de Govardhana e a quaisquer Vaisnavas que encontrasse.
Compreendendo a dificuldade de Seu devoto puro, Sri Madana Mohana apareceu um dia e disse: "Baba! Estás velho. Não faça tanto esforço caminhando em torno da Colina de Govardhana todo dia."
Sanatana respondeu: "Esta é uma de minhas atividades diárias no meu bhajan. Tenho que mantê-la."
"Como estás velho" disse Madana Mohana "agora podes deixar este voto."
Começando a caminhar de novo, Sanatana retrucou: "Nunca hei de deixar meus princípios religiosos."
A firme determinação de Sanatana Goswami em completar seu voto devocional diário agradou a Sri Madana Mohana (Krishna). Porém nas relações amorosas entre o Senhor e Seu devoto puro, o desejo de Krishna de satisfazer Seu devoto frequentemente derrota o desejo do devoto de agradar a Ele. Assim, por compaixão amorosa por Seu devoto, Sri Krishna ficou de pé sobre uma grande pedra plana (Govardhana shila) tirada de Giriraja. Ele tocou Sua irresistível flauta. A Govardhana shila derreteu de êxtase, capturando a impressão dos pés de lótus de Krishna.
Apresentando isto a Sanatana, Krishna disse: "Se puderes circumambular esta shila todo dia será o mesmo que ir em torno da Colina de Govardhana diariamente. Manterás teu voto intato e não comprometerás teus princípios religiosos." Vendo que o próprio Giriraja (Sri Krishna) havia lhe dado a shila, Sanatana Goswami agradecido aceitou. Ainda se pode ver essa Govardhana shila no templo Radha Damodara.
Sri Bhaktivinoda Thakura disse no Jaiva Dharma: "Sanatana Goswami foi empoderado para explicar os aspectos esotériocs das Vraja lilas manifestas e imanifestas de Krishna." Sanatana Goswami fez uma significante contribuição literária a Gaudiya sampradaya com seu Hari-bhakti-vilasa, Brhad-Bhagavatmrta, e Brhad-Vaisnava-tosani.
Na forma de Labanga manjari, Sanatana Goswami serve Srimati Visakha-devi na nitya-nikunja-lila. O samadhi de Sanatana Goswami fica atrás do templo de Radha Madana Mohana. (17, 29)
Extraído do livro "Santos Vaishnavas"por Mahaniddhi Swami

Sri Raghunatha Das Goswami


Nascido numa dinastia de Vaisnavas, Raghunatha Das Goswami era o filho único de um rico proprietário de terras. Na meninice, ele recebeu associação e bençãos de HariDas Thakura. Aos quinze anos ele encontrou o Senhor Chaitanya. Pela misericórdia do Senhor Nityananda ele renunciou a uma linda esposa e uma opulenta família. Correu para Jagannatha Puri para servir intimamente Sri Gaura Raya e seu shiksa guru Svarupa Damodara Goswami por dezesseis anos. O Senhor Gauranga deu Sua Govardhana shila pessoal e gunja mala para Raghunatha Das Goswami.
Raghunatha Das não conseguia viver depois que Sri Chaitanya Mahaprabhu deixou este mundo. Assim, ele veio para Vrindavana a fim de acabar com sua vida pulando da Colina de Govardhana. Sri Rupa e Sanatana Goswamis receberam-no afetuosamente. Eles o convenceram a continuar vivendo e iluminar todos os Vrajavasi Vaisnavas com os passatempos de Puri de Sriman Mahaprabhu. Por três horas diárias às margens do Radha-kunda ele falava sobre Sri Chaitanya Mahaprabhu.
Raghunatha Das fez Radha-Krishna bhajan no Radha-kunda por quarenta anos. Ele viveu uma vida austera de pura devoção. Raghunatha Das Goswami mostrou o padrão de renúncia necessário para obter o eterno serviço amoroso de Radha-Giridhari nas nitya nikunja lilas no Radha-kunda. Seu perfeito exemplo entusiasma todos Gaudiya Vaisnavas a desenvolver puro amor inadulterado por Radha-Krishna.
O bhajan diário de Sri Raghunatha Das Goswami incluía: cantar 64 voltas de japa (100.000 santos nomes); fazer manasi-seva em seu corpo espiritual; adorar a Govardhana shila ; tomar banho três vezes no Radha-kunda; oferecer mil reverências a Krishna; oferecer duas mil a Vaisnavas e abraçá-los; descansar noventa minutos, e em alguns dias não descansar nada. Tenham em mente, no entanto, que quando um associado eterno do Senhor descansa externamente, internamente ele continua a servir. Comia apenas um copo feito de folha (100 gramas) de leitelho por dia.
Durante sua vida ele nunca comia nada para gratificação sensorial. Tomava o mínimo para manter corpo e alma unidos. Dizem que depois do desaparecimento do Senhor Chaitanya, Raghunatha Das só comia frutas e leite. Depois de Sri Sanatana Goswamipada ir-se, ele subsistia com um copo feito de folha de leitelho a cada dia ou dois. E quando Sri Rupa Goswami entrou na nitya lila, Raghunatha deixou de comer e beber! Ele estava lentamente queimando no fogo da separação do Senhor e Seus servos amorosos. Os Vrajavasis choravam ao ver sua condição enfraquecida.
Sri Raghunatha Das Goswami escreveu três livros: Stavavali (contém Manah Shiksha, Vilapa-kusumanjali e mais), Muktacharita, Dana Keli Cintamani). No Jaiva Dharma, Srila Thakura Bhaktivinoda diz: "Raghunatha Das Goswami mostrou o método esotérico de ocupar-se no serviço amoroso de Sri-Sri Radha-Krishna." Raghunatha Das escreveu e ensinou que o divino serviço de Srimati Radharani em Vrindavana é a mais elevada perfeição espiritual. Devido a isso ele era conhecido como o prayojana acharya, o mestre que revela a mais alta realização na vida.
Raghunatha Das Goswami claramente estabeleceu a supremacia de Srimati Radharani. Em Vilapa-kusumanjali, uma coleção de orações íntimas, ele declara que o serviço de Sri Radha é a mais elevada realização. Sentindo extrema impaciência e desepero, devido à separação da "Rainha de sua vida," ele desesperadamente ora pelo serviço de Radharani:
"Minha vida não tem valor. Vou abandoná-la sem receber Tua misericórdia. Viver no Radha-kunda e Vrindavana é sem sentido para mim. Sem falar em Vrindavana, mesmo o próprio Krishna é inútil para mim sem Ti. Ó Srimati Radharani, és o único objeto de minha vida. Por favor seja misericordiosa comigo. Chorando profusamente em grande lamentação, seguro Teus pés de lótus junto a meu coração e imploro por Teu serviço amoroso. Possa este Vilapa-kusumanjali trazer até mesmo mínima satisfação a Ti."
Srila Raghunatha Das serve Sri Radha como Rati-manjari em Sri Vrindavana-dhama. Seu samadhi está no Radha-kunda e na Área dos 64 Samadhis. (16, 25, 15)
Extraído do livro "Santos Vaishnavas"por Mahaniddhi Swami

Sri Jagannatha Das Babaji


Siddha Jagannatha Das Babaji Maharaja viveu por cento e quarenta e quatro anos. Ele tomou diksha de Sri Madhusudana Das Babaji e fez bhajan durante muitos anos no Surya Kunda em Vrindavana. Thakura Bhaktivinoda recebeu valiosas instruções sobre serviço devocional puro de Jagannatha Das Babaji.
Sua prática era de viver seis meses em Sri Navadvipa Dhama e seis em Vraja mandala. "Durante sua época," disse Thakura Bhaktivinoda, "Sri Jagannatha Das Babaji era o mais avançado rasika Vaisnava em Gaura e Vraja mandalas, e Purusottama Ksetra (Jagannatha Puri)." Bhaktivinoda Thakura deu-lhe o título de Sarvabhauma, o chefe dos Vaisnavas.
Aos vinte e cinco anos de idade seu corpo parecia curvo como um semi-círculo. Suas pálpebras pendiam sobre seus olhos tal como pesadas cortinas de palco. De pé, um de cada lado, dois discípulos levantavam suas pálpebras caídas para que ele pudesse oferecer tulasi manjaris para sua Deidade de Sri Giriraja Govardhana.
Como Jagannatha Das Babaji mal podia caminhar, Bihari, seu servo Vrajavasi, costumava carregá-lo em seus ombros. Mas quando havia um Nama kirtana, Jagannatha Das Babaji debandava de sua cesta e dava pulos no ar de quatro pés de altura. Em grande êxtase ele começava a cantar e dançar. Ele realizava vigoroso bhajan apesar de suas limitações físicas.
Gostava de cantar alto tanto na japa como no kirtana. Durante o kirtana ele cantava: Nitai ki nama enechi re! Ki nama enechi re! Ki nama diteche re! ‘ Ó Senhor Nityananda, que maravilhoso nome trouxeste. Ó Nitai, que nome maravilhoso Tu nos deste. ' Após cantar quase a noite inteira, na manhã seguinte ele oferecia 1.108 dandavats às Deidades. Estava sempre entusiasmado por servir os Vaisnavas.
Vivia como um asceta seguindo uma dieta estrita e o Caturmasya (jejum de quatro meses) anual. No primeiro mês comia apenas quatro bananas de noite; no segundo mês apenas goiabas; no terceiro mês somente soro de leite; e no quarto mês unicamente flores de bananeira cozidas sem sal.
Uma vez ele mendigou um roti (pão achatado) de um varredor de rua de Vrindavana. Ouvindo sobre isso, os principais homens de Vrindavana disseram para Jagannatha Das Babaji: "Baba, és a jóia real de Vraja. Nos dói ver alguém criticá-lo. Mas agora todos estão falando do senhor. Eles dizem: "Baba ficou maluco. Se ele desafia as antigas tradições o que irá acontecer com nossa sociedade?"
Babaji Maharaja respondeu: "Vocês são todos pessoas eruditas. Não sabem da importância do pó de Vrindavana? É tão sobrecarregado de Krishna prema que até mesmo o Senhor Brahma deseja se tornar uma partícula de Vraja raja (poeira de Vrindavana). Portanto, não é que um varredor de rua de Vrindavana, que está constantemente servindo o pó, respirando-o, rolando nele, e se banhando nele, é mais puro que qualquer outra pessoa?" O silêncio enchia o ar, indicando a aceitação da resposta de Babaji Maharaja por todos."
Enquanto vivia em Navadvipa dhama, Jagannatha Das Babaji mostrou profundo respeito para com todos residentes. Mesmo quando alguns cachorrinhos comeram de seu prato ele nem protestou. Bihari, seu servo, ficou desgostoso ao ver cães devorando a prasadam de seu guru e os espantou. Jagannatha Das Babaji repreendeu Bihari: "Estes filhotinhos são residentes do sagrado dhama. Eles não são entidades vivas comuns. Não comerei enquanto eles não voltarem para compartilhar a maha-prasadam de meu prato."
Com a idade de cento e quarenta e dois ele não enxergava e nem andava. Para confirmar seus achados, Thakura Bhaktivinoda pediu a Jagannatha Das para ver o local do aparecimento do Senhor Chaitanya. Intoxicado de Gauranga prema, Jagannatha Das Babaji pulou alto no ar e começou a cantar e dançar ante a descoberta do Yogapitha de Sri Chaitanya Mahaprabhu. "Por compaixão por todas almas condicionadas Jagannatha Das transferiu seu poder de bhajan, conhecimento dos shastras, e prema bhakti diretamente para dentro do coração de Bhaktivinoda Thakura," disse Sripad B.V. Narayana Maharaja.
Jagannatha Das Babaji tinha muitos discípulos. Ele frequentemente dava as seguintes instruções:
• "Vocês devem evitar mulheres, homens que se associam com mulheres, ou com um homem que de alguma maneira se associa com um homem que se associa com uma mulher."
• "Para realizar a meta suprema da vida vocês devem repetir Harinama regular e constantemente. A constância é tão importante que deve ser mantida até mesmo ao preço da própria vida."
• "Nunca esqueçam Goura que é mais misericordioso e benevolente que Krishna. Krishna é como um governante justo que leva em consideração suas ofensas. Gaura não leva em consideração suas ofensas. Ao passo que, Krishna está mais interessado na dispensação da justiça, Gaura está mais interessado na distribuição da misericórdia. Deste ponto de vista, Gaura- kirtana é mais útil que Krishna- kirtana. Goura- kirtana significa: Sri Krishna Chaitanya, Prabhu Nityananda, Sri Advaita, Gadadhara, Srivasadi, Gaura bhakta vrnda. "
• "Krishna é o avatara da Dvapara-yuga. Gaura é o Kali-yuga avatara. Devemos cantar o nome e glórias do avatara em cuja era vivemos; assim como no reino nós louvamos o rei governante." Jaya saci-nandana goura hari, jaya saci-nandana goura hari.
O templo de Sonar Gauranga em Gopala Bagh, Vrindavana, abriga Deidades Gaura-Nitai de outra feita adoradas no Surya-kunda por Sri Jagannatha Das Babaji. Na Krishna- lila ele serve como Rasika-manjari.
Extraído do livro "Santos Vaishnavas"por Mahaniddhi Swami

Sri Jiva Goswami


Aparecendo como o sobrinho de Sri Rupa e Sanatana Goswami, Sri Jiva Goswami demonstrou todas características encantadoras de um mahapurusha (pessoa divina). Tinha olhos de lótus, um nariz e testa altos, peito largo, longos braços, e um radiante corpo dourado.
Em sua infância ele fez uma Deidade de Krishna-Balarama. Expressando sua devoção pura, frequentemente ele chorava enquanto Os adorava. Após oferecer roupas, chandana, flores, ornamentos, e saborosos doces para Krishna-Balarama, ele pegava alguns e dava maha-prasadam para seus colegas. Desde o início Jiva demonstrou sua bondade para com outras jivas (entidades vivas). Jiva era tão apegado a Krishna-Balarama que na hora de deitar à noite abraçava suas Deidades e caía no sono. Seus pais achavam que estava apenas brincando. Porém os aldeões regozijavam-se ao ver o amor de Jiva por Krishna-Balarama.
Na escola ele rapidamente dominou a gramática sânscrita, poesia, lógica e filosofia. Srimad Bhagavatam dava vida à vida dele. Krishna- katha enchia-o de felicidade. Ninguém se atrevia a falar outra coisa com ele a não ser sobre Krishna. Ele excursionou por Navadvipa-dhama com Sri Nityananda Prabhu, estudou sânscrito em Benares, e depois residiu em Vrindavana. Após humildemente servir Sri Rupa Goswami lavando os pés dele, preparando seus manuscritos, e editando seus livros, ele recebeu diksha.
Uma vez o idoso Vaisnava, Vallabhacharya, deu conselho crítico a Sri Rupa Goswami sobre seus escritos. Embora muito mais jovem que o venerável Vallabha, Sri Jiva impudentemente falou em defesa de seu guru. Sri Rupa Goswami repreendeu Sri Jiva dizendo-lhe para deixar Vrindavana. Morando num buraco abandonado de crocodilo em Nanda Ghat (a 45 minutos do bhajan kutir de Sri Rupa), Sri Jiva Goswami começou a jejuar. Ele subsistia de farinha de trigo, que mendigava, misturada com água do Yamuna. Vendo sua estrita abnegação, Sanatana Goswami trouxe-o de volta ao serviço de Sri Rupa Goswami.
Srila Prabhupada uma vez comentou sobre este "passatempo de guru -discípulo." "Sri Rupa Goswami extraditou Jiva Goswami para ensinar a nós, devotos de hoje em dia, uma lição. Não foi feito para ensinar ou punir Sri Jiva Goswami, que é perfeitamente liberado, um associado eterno do Senhor Krishna. Rupa Goswami mandou Jiva Goswami para fora de Vrindavana para ensinar todas jivas o que ele escreveu no Upadesamrta: vaco vegam manah sah krodah vegam, jihva vegam... Em todas ocasiões, um devoto deve controlar sua língua, sua fala, e sempre permanecer humilde, trnad api sunicena. "
Após o desaparecimento de Sri Rupa e Sri Sanatana Goswamis, Sri Jiva Goswami se tornou o Gaudiya sampradayacharya para guiar todos Vaisnavas em Navadvipa, Vrindavana, Jagannatha Puri. Embora ele fosse o líder indisputado, sempre agia como um humilde servo de todas jivas. Sempre que Vaisnavas Bengalis visitavam Vrindavana ele os recebia amorosamente, arranjava-lhes prasadam e aposentos confortáveis, e até mesmo os guiava no Vraja mandala parikrama.
Um superexcelente erudito no sânscrito, Sri Jiva Goswami compunha versos sânscritos em sua mente e os escrevia sem modificar nada. Escrevê-los significava que usava um estilete de metal para gravá-los permanentemente em folhas de palmeira. Este método de inscrição não permitia apagar, editar, reescrever ou revisar a ortografia. Contudo, cada verso era uma jóia inavaliável de perfeita métrica, ritmo, poesia e significado. Foi o maior filósofo em toda história da India. Sanscritistas contemporâneos aclamam-no como maior erudito que jamais viveu.
Sri Jiva Goswami era o mais jovem porém mais prolífico escritor entre os Goswamis. Escreveu meio milhão estonteante de versos sânscritos (uns 25 livros). Seus livros provam que a filosofia de Sri Chaitanya dá a essência da sabedoria védica e a perfeição da religião. Gopala Champu, Sat Sandarbhas, e Hari Nama-vyakarana são três de suas obras mais famosas. Os Sandarbhas estabelecem firmemente as verdades transcendentais do Srimad Bhagavatam. Também confirmam que o Senhor Sri Krishna é a Suprema Verdade Absoluta (svayam bhagavan), a causa de tudo e a fonte de todos avataras. Qualquer um que fielmente leia estes livros irá se tornar um devoto de Krishna.
Satyaranarayana das, um estudioso de sânscrito Gaudiya Vaisnava que ora está traduzindo os Sandarbhas para o inglês pela ISKCON BBT (Bhaktivedanta Book Trust) dá esta explicação sobre o nome de Jiva Goswami: "Na verdade, o nome de Sri Jiva Goswami, jiva, é muito interessante quando considerado à luz do verso Bhagavata : ahastani sahastanam apadani catus padam... jivo jivasya jivanam, "Animais sem mãos são alimento para os que tem mãos, aqueles sem pés são alimento para os de quatro patas... em todo lugar uma jiva (entidade viva) é alimento para outra." Outro significado para jiva é, "aquele que dá vida aos outros." Assim o conhecimento espiritual dado por Jiva Goswami em seus vinte e cinco livros dá vida a todos devotos.
Outro nome para Jiva é jivakah, "aquele que faz as jivas (seres vivos) emitir sons extáticos." Sri Jiva Goswami fazia isso ao suprir o significado esotérico do Srimad Bhagavatam através de seus comentários Bhagavata e os Sat Sandarbhas. Quem expande a natureza da jiva, seu relacionamento com o Senho, o processo de alcançar a meta, e o propósito final da vida é jivakah ou jiva."
A seguinte citação provém do nectáreo Gopala Champu de Sri Jiva Goswami, que descreve os lúdicos passatempos de Vrindavana de Radha-Damodara. "Da Colina de Govardhana uma grande forma de Govardhana Se manifestou. Todos Vrajavasis junto com o próprio Krishna então ofereceram reverências para aquela forma gigantesca. Enquanto Sri Krishna assistia de mãos postas, aquela grande personalidade Govardhana vociferou: ‘Vou comer todas vossas oferendas.' Ele comeu e bebeu água esvaziando todos kundas em torno da colina. Enquanto comia todas preparações feitas pelos Vrajavasis com Sua mão direita, Ele estalava os dedos da mão esquerda.
Os vaqueiros correram saindo do caminho quando Govardhana esticou Suas mãos para pegar mais e clamou: Aniyor! Aniyor! Aniyor! ‘ Tragam mais, tragam mais, tragam mais.' A pedido de Acharyarani Jahnavi Devi Thakurani, Sri Jiva Goswami fez Srinivasa Acharya, Narottama Das Thakura, e Shyamananda Prabhu levar os escritos dos Goswamis de Vrindavana para Bengala. Eles traduziram-nos para Bengali e distribuíram-nos através da Bengala e Orissa. Também pregaram extensivamente e iniciaram centenas de devotos. Em 1542, Sri Jiva Goswami estabeleceu a adoração de Sri Sri Radha-Damodara no Seva Kunja, Vrindavana. Seu samadhi fica no complexo do templo. Sri Jiva Goswami é Vilasa Manjari na nitya Vrindavana lila de Radha-Damodara. (17, 35)
Extraído do livro "Santos Vaishnavas"por Mahaniddhi Swami

Sri Bhaktivinoda Thakura


Sri Saccidananda Bhaktivinoda Thakura apareceu em 1838 numa família abastada do distrito de Nadia, Bengala ocidental. Ele revelou que era um associado eterno de Sri Chaitanya Mahaprabhu através de suas extraordinárias atividades de pregação e prolíficos escritos. Vivendo como um mahabhagavata Vaisnava, permaneceu no grhasta ashram até os últimos anos de sua vida. Aí então renunciou a tudo, aceitou babaji, e entrou em samadhi, totalmente absorto no serviço amoroso de Gaura-Gadadhara e Radha-Madhava.
"Ele tinha uma posição governamental responsável como Magistrado Distrital (juiz da corte elevada), mantinha uma família consciente de Krishna, e escreveu quase cem livros sobre consciência de Krishna. Ao mesmo tempo, ele servia o Senhor Supremo de tantas maneiras. Esta é a beleza de sua vida. Após um dia cheio de serviço governamental, ele dormia quatro horas, levantava à meia-noite e escrevia até de manhã. Esse era seu programa diário." (Srila Prabhupada)
Thakura Bhaktivinoda tomou diksha Vaisnava de Sri Vipinvihari Goswami na linhagem de Sri Jahnava Mata. Depois, ele recebeu inspiração espiritual e orientação de Srila Jagannatha Das Babaji. Ter uma exaltada posição governamental, vasta erudição, e realização espiritual, nunca perturbava Bhaktivinoda Thakura. Ele permanecia sem orgulho, sempre humilde, amigável com todos. Aqueles em busca de caridade sempre íam embora da casa dele alegres e satisfeitos. Um bem-querente de todos, nunca mantinha rancores, mesmo com oponentes à sua pregação. De fato, ele nunca falava uma palavra que fosse ferir os sentimentos de outrem.
"O Thakura era sempre corajoso e agia para o bem-estar de todos. Mantendo as necessidades pessoais a um mínimo, levava a mais simples das vidas," disse um pandit. No seguinte texto do Sharanagati, Srila Bhaktivinoda, que tinha todas qualidades divinas puras, assume o papel de uma alma condicionada para ensinar-nos como avançar em consciência de Krishna:
‘Vocês devem sempre absorver sua mente em cantar atentamente as glórias de Krishna. Por realizar Krishna kirtana haverão de obter o domínio sobre a mente. Abandonem todo falso orgulho. Sempre pensem em si como sem valor, destituídos, mais baixos e mais humildes que a palha na rua. Pratiquem o perdão como a árvore. Abandonando toda violência para com outros seres vivos, vocês devem mantê-los. Através de suas vidas vocês nunca devem dar ansiedade aos outros. Mas façam o bem a eles, façam-nos felizes, e esqueçam de sua própria felicidade.
Assim quando se tornarem piedosas almas boas por possuírem todas boas qualidades, vocês devem abandonar todos desejos pela fama e honra. E apenas tornem seus corações humildes. Sabendo que o Senhor Sri Krishna vive dentro de todos seres vivos, vocês devem respeitar e honrar todos em todas ocasiões. Vocês obterão virtude sendo humildes, misericordiosos, respeitando outros, e renunciando a desejos pela fama e honra. Em tal estado, vocês devem cantar as glórias do Senhor Supremo. Chorando, Bhaktivinoda submete sua oração aos pés de lótus do Senhor. Ó Senhor, quando me darás tais qualidades como estas?'"
Sempre ansioso por utilizar cada momento no serviço amoroso de Krishna, ele seguia uma estrita programação diária:
• 20-22 hs. Descanso (duas horas)• 22-04 hs. Escrever• 4-4:30 hs. Descanso• 4:30-7 hs. Cantar Japa• 7-7:30 hs. Correspondência• 7:30-9:30 hs. Estudar shastras • 9:30-10 hs. Banho, prasadam (meio litro de leite, frutas, 2 chapatis)• 10-13 hs Deveres da Corte Judicial • 13-14 hs Refrescar-se em casa• 14-17 hs Deveres da Corte Judicial • 17-19 hs. Traduzir shastras sânscritos para Bengali• 19-20 hs. Banho, prasadam (meio litro de leite, arroz, 2 chapatis)
Sumário da Rotina Diária:
• Dormir 3 horas• Escrever 8,5 horas• Japa e Estudo 4,5 horas• Trabalhar 6 horas
Srinivasa Acharya louva os seis Goswamis de Vrindavana, nana-shatra-vicaranaika-nipunau sad-dharma samsthakapau, lokanam hita karinau... "Os seis Goswamis estudavam profundamente todos os shastras a fim de estabelecer princípios religiosos eternos para o benefício de todos." Similarmente, Thakura Bhaktivinoda fez ilimitadas contribuições de pregação para ajudar a humanidade. E por isso ele é conhecido como o "Sétimo Goswami."
Biógrafos listam três realizações maiores de pregação de Srila Bhaktivinoda Thakura:
1) Escreveu 100 livros espirituais autorizados. 2) Descobriu o local de aparecimento do Senhor Chaitanya. 3) Introduziu inovações na pregação.
Além de livros (em Bengali, Oriya, inglês) reavivando e explicando a mensagem de Mahaprabhu, ele escreveu centenas de poemas e canções cheias de sentimento espiritual e siddhanta shastrico (conclusões filosóficas).
"Seus escritos tornaram os sagrados ensinamentos de Sri Chaitanya Mahaprabhu plenamente disponíveis a cada leitor moderno. E são apresentados numa forma que encerra irresistível convicção e devoção," disse um finado discípulo de Thakura Bhaktivinoda.
Sri Krishna Samhita, Kalyana Kalpa-taru, Sri Chaitanya-shikshamrta, Sri Navadvipa-dhama Mahatmyam, Jaiva Dharma, Sri Harinama-cintamani, Bhajana-rahasya, Gita-mala, Gitavali, Sharanagati, e comentários sobre o Bhagavad-gita e Chaitanya-charitamrta são algumas de suas obras. A seguinte citação vem do Gitavali de Thakura Bhaktivinoda:
"Aquele que falhou em adorar cuidadosamente os pés de lótus de Sri Radhika, que são as moradas de toda auspiciosidade; aquele que não tomou refúgio na transcedental morada de Vrindavana, que é decorada com a flor de lótus chamada Radha; aquele que nesta vida não se associou com os devotos de Radhika, que são cheios de sabedoria e amor por Radhika; como uma pessoa assim irá sentir algum dia o êxtase de banhar-se no oceano das sublimes doçuras do Senhor Shyamasundara?
Por favor compreendam isso mui atentamente. Sri Radhika é a mestra de madhurya rasa (doçuras do amor conjugal). Radha-Madhava madhurya prema destina-se a ser discutido e meditado. Aquele que adora os pés de lótus de Srimati Radharani obtém os pés de lótus de Madhava, que são jóias inavaliáveis. Sem tomar refúgio nos pés de lótus de Radha nunca se pode encontrar Krishna. As escrituras védicas declaram que Krishna é a propriedade das servas de Sri Radha. Deixem esposa, filhos, amigos, riqueza, seguidores, conhecimento especulativo, todas ações materialistas. Só se absorvam na doçura de servir os pés de lótus de Srimati Radharani. Esta é a solene declaração de Bhaktivinoda."
Durante os últimos quinhentos anos, o local original do aparecimento do Senhor Chaitanya havia desaparecido sob o indomável Rio Ganges. Em 1888, Srila Bhaktivinoda Thakura revelou Sridhama Mayapur. Srila Jagannatha Das Babaji Maharaja, um famoso santo siddha e Vaisnava paramahamsa rasika, confirmou a descoberta do Thakura. Este evento muito auspicioso deleitou os Gaudiya Vaisnavas desde Gaura-mandala até Vraja-bhumi. Ele estabeleceu a adoração do Senhor Gauranga e Srimati Vishnupriya no Yogapitha.
No humor da inovação, em 1896 ele enviou às universidades pelo mundo inteiro um livro de slokas, Sri Gauranga-lila Smarana, que continha uma introdução de quarenta e sete páginas em inglês: "Sri Chaitanya Mahaprabhu: Sua Vida e Preceitos." Este ato surgia de um penetrante desejo de espalhar os ensinamentos do Senhor Chaitanya nos países ocidentais.
Bhaktivinoda Thakura fez três previsões concernentes a uma pessoa e um fenômeno: "Brevemente surgirá uma pessoa," escreveu ele, "que viajará pelo mundo todo para espalhar os ensinamentos do Senhor Chaitanya."
Sua segunda previsão: "Dentro em breve o cantar de Hari Nama sankirtana irá se espalhar pelo mundo inteiro. Oh, quando virá o dia quando as pessoas da América, Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, irão tomar karatals e mdrangas e cantar Hare Krishna em suas cidades?"
A terceira previsão: "Quando virá esse dia em que estrangeiros de pele clara irão vir para Mayapur-dhama e juntar-se aos Vaisnavas bengalis para cantar Jaya Sacinandana, Jay Sacinandana. Quando será esse dia?"
Srila Prabhupada disse que era espiritualmente significante que ele próprio apareceu em 1896, o mesmo ano em que Bhaktivinoda Thakura enviou seus livros por além-mar. A vontade do Senhor Chaitanya, o desejo de Thakura Bhaktivinoda, e a misericórdia de Srila Sarasvati Thakura empoderaram Srila A.C.Bhaktivedanta Swami Prabhupada para espalhar os ensinamentos de Sri Chaitanya e o cantar de Hare Krishna pelo mundo inteiro. Prabhupada realizou as três previsões do Thakura!
Isento de orgulho, cheio de humildade, radiante com amor puro por Radha-Govinda, Srila Prabhupada deu todo crédito aos acharyas anteriores. "Devemos aceitar" disse Srila Prabhupada, "que Srila Bhaktivinoda Thakura foi a origem do Movimento para Consciência de Krishna (ISKCON) em sua forma pura."
Em 1986, apenas cem anos após a terceira previsão de Bhaktivinoda Thakura, três mil "devotos de pele clara" da América, Inglaterra, França, Alemanha, Rússia, e cinquenta outros países, se reuniram no ISKCON Mayapura Chandrodaya Mandir em Sridham Mayapur. Eles se juntaram a mil "Vaisnavas bengalis" para embalar o universo cantando Jaya Sacinandana, Jaya Sacinandana, Jay Sacinandana, Gaura-Hari. Srila Saccidananda Bhaktivinoda Thakura ki jay!
Em 1914, no tirobhava tithi (dia do desaparecimento) de Sri Gadadhara Pandit (a encarnação de Sri Radha), Thakura Bhaktivinoda entrou nos passatempos eternos de Gaura-Gadadhara e Radha-Madhava. Em Godrumadvipa (Navadvipa) Sri-Sri Gaura-Gadadhara, as Deidades de Thakura Bhaktivinoda aguardam para abençoar quaisquer visitantes do Svananda-sukhada-kunja. Na nitya-vraja lila de Radha-Madhava Bhaktivinoda Thakura toma a forma de Kamala-manjari para servir Srimati Radharani. Seu pushpa samadhi fica em seu bhajan kutir no Radha-kunda. (16,15)
Extraído do livro "Santos Vaishnavas"por Mahaniddhi Swami

Sri Madhvacharya


Sri Madhvacharya apareceu em 1238 D.C. perto de Udupi, Karnataka no Sul da Índia. Tinha um físico incomumente forte e extraordinário poder intelectual. Uma vez um feroz tigre de Bengala atacou o discípulo sannyasa de Madhvacharya, Satya Tirtha. Madhvacharya lutou com o tigre e mandou-o embora com o rabo entre as pernas. Madhvacharya tomou diksha aos cinco anos de idade, sannyasa aos doze, e partiu de casa. Ele apareceu com uma missão – combater e derrotar a filosofia Mayavada (impersonalista) de Shankara. Dando uma interpretação pura do Vedanta-sutra ele promoveu o verdadeiro teísmo. Chamou sua explicação shastrica inovadora de dvaita-dvaita-vada (dualismo puro).
Após Shankaracharya, que anteriormente tinha viajado pela Índia divulgando o impersonalismo, Madhvacharya também viajou por toda extensão da Índia pregando teismo personalista e devoção pelo Senhor Vishnu. Derrotou inúmeros jainistas, budistas, mayavadis, ateus, lógicos, e agnósticos.
Com a esperança de encontrar o próprio Srila Vyasadeva, Madhvacharya subiu andando os Himalayas. Vyasadeva lhe deu uma shalagrama-shila chamada Astamurti, aprovou seu comentário ao Bhagavad-gita, e abençôou Madhvacharya com profundas realizações dos shastras.
Em Udupi, Madhvacharya instalou uma bela Deidade de Gopala de pé sozinho, segurando uma vara de pastorear. Esta Deidade manifestou-Se de um pedaço de gopi-chandana (argila sagrada). Ele estabeleceu oito mathas (templos) para servir amorosamente "Udupi Krishna." Os líderes sannyasis de cada matha adoram a Deidade de Krishna com um rigoroso regime de ritual cerimonial, pontualidade, e impecável conduta pessoal. A cada ekadasi eles observam nirjala (jejum total de alimento e água).
A sampradaya Gaudiya Vaisnava origina-se nos Madhvas. Sri Chaitanya Mahaprabhu e Seus seguidores estudaram profundamente as obras de Madhva antes de compilarem sua filosofia. Para os Sat Sandarbhas Sri Jiva Goswami extraiu bastante dos escritos de Madhva. Jiva Goswami encontrou a filosofia Gaudiya de achintya-bheda-abheda tattva no Bhagavat-parya de Madhva. O próprio Sri Chaitanya visitou Udupi, a matriz da seita de Madhva. O Senhor introduziu Hari Nama sankirtana na seita.
Os Madhvas e Gaudiyas compartilham muitos dos mesmos pontos filosóficos. Ambos consideram necessário render-se aos pés de lótus do guru (gurupadashraya). No Sutra Bhasya, Madhvacharya cita o Brihat Tantra e Mahasamhita para mostrar que um discípulo tem que rejeitar um "guru fictício" que acaba provando ser inútil. Ele pode então aceitar outra pessoa auto-realizada qualificada como seu guru.
No Prameya-ratnavali, Sri Baladeva Vidyabhushana resumiu os novo princípios comuns a ambos ensinamentos, os de Sri Chaitanya e os de Madhva. No Vainava Siddhanta Mala, Srila Bhaktivinoda Thakura diz que Sri Chaitanya Mahaprabhu ordenou que todos Gaudiya Vaisnavas observem cuidadosamente as nove instruções da verdade dada por Sri Madhvacharya através de nosso guru parampara.
Os Nove Ensinamentos de Sri Madhvacharya:
1) Só Bhagavan Sri Krishna é a Suprema Verdade, única e sem igual.
2) Ele é o objeto do conhecimento em todos os Vedas.
3) O universo é real, satya.
4) As diferenças entre Isvara (Deus), Jiva (alma) e Matéria são reais.
5) As almas jivas são por natureza servas do Supremo Senhor Hari.
6) Há duas categorias de jivas: liberadas e iludidas.
7) Liberação (moksha) significa alcançar os pés de lótus de Bhagavan Krishna, em outras palavras, entrar num relacionamento eterno de serviço ao Senhor Supremo.
8) Serviço devocional puro a Krishna é o único meio de obter esta liberação.
9) A verdade pode ser conhecida por pratyaksa (percepção direta), anuman (inferência ou lógica), shabda (som espiritual ou autoridade védica).
Sri Madhvacharya serve como Madhavi-gopi nos eternos passatempos prazerosos de Radha-Govinda em Vrindavana.


Extraído do livro "Santos Vaishnavas"por Mahaniddhi Swami