Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Relatividade e o Caminho Para o Absoluto - Relativity and the Path to the Absolute

Originalmente publicado em Back to Godhead [Volta ao Supremo], revista fundada
por Sua Divina Graça Srila Prabhupada no ano de 1944

Artigo referente à edição do bimestre de maio/junho de 2008
Relatividade e o Caminho Para o Absoluto
Relativity and the Path to the Absolute
por Arcana Siddhi Devi Dasi

Porque muitos fatores influenciam a maneira com que vemos o mundo, muita fé
em nossa própria perspectiva pode ser algo material e espiritualmente perigoso.

Meu esposo e eu estávamos aconselhando um casal, e fazíamos algum progresso,
mas então chegamos a um impasse. O esposo insistia que suas percepções das
interações do casal eram a realidade e que qualquer coisa diferente daquelas
percepções era falsa ou ilusória. Em outras palavras, a visão de sua esposa era
errada se diferente da sua. Meu esposo e eu fizemos o melhor que podíamos para
ajudá-lo a expandir sua perspectiva. Nós esperávamos que ele poderia se
interessar pela possibilidade de ver as coisas de maneira diferente. Mas ele
não largaria seu posicionamento, e ele, por fim, encerrou o aconselhamento
matrimonial.

Depois deste incidente, refleti sobre um apaixonado debate que eu havia tido
com um amigo antes de me tornar devota. Ele insistia que não havia realidade
absoluta, mas apenas nossa realidade subjetiva individual, enquanto que minha
postura era que havia sim uma realidade absoluta – nós apenas não podíamos
percebê-la. Ele insistia que minha posição era apenas minha realidade
subjetiva. Nós dois voltamos para casa frustrados e irritados.

Posteriormente, depois de me tornar devota, descobri que, de acordo com os
ensinamentos Védicos, minhas assertivas estavam corretas. Mas agora eu podia
compreender algo sobre a natureza de tal realidade absoluta: ela é Krsna. Tudo
o que vemos neste mundo vem de uma das muitas energias de Krsna. Mas Sua
energia ilusória (maya) priva-nos de perceber as coisas apropriadamente. Da
mesma forma que um mágico pode fazer-nos pensar que estamos vendo algo que não
está ali, Krsna usa Sua energia ilusória para criar nossa suposta realidade.

Talvez uma pessoa se pergunte a razão para Deus querer privar-nos de ver a
verdade. Na realidade, esse não é o Seu desejo, antes Ele está apenas amparando
o nosso desejo de desfrutarmos separadamente dEle. Quando estamos completamente
desconectados de nosso Senhor, não podemos perceber a realidade. Ao invés
disso, acreditamos em uma “realidade” ilusória, como pessoas sob o feitiço de
um hipnotizador que pensam serem patos ou cachorros. Pela influência de maya, a
alma no mundo material realmente pensa ser um pato ou um cachorro ou um homem
ou uma mulher. Mas tal realidade relativa é temporária e irá desaparecer com a
morte. Apenas a alma eterna segue.

Dhruva Supera a Ilusão

Algumas vezes, mesmo grandes devotos são desnorteados pelas ilusões da
energia material. Dhruva Maharaja era um poderoso rei e devoto do Senhor. No
entanto, quando vingando a morte de seu irmão, Dhruva foi desnorteado pelas
proezas mágicas de seus oponentes, os Yaksas, que eram peritos na criação de
ilusões arrebatadoras. Dhruva acreditava estar no meio de uma grande
devastação. Ele via troncos de corpos humanos caindo do céu juntamente com
armas letais e grandes pedregulhos. Ele viu um tsunami e também um grande
número de animais selvagens vindo devorá-lo.

A energia divina protege os grandes devotos. Para Dhruva, essa energia divina
veio na forma de misericordiosos sábios que se aproximaram dele para ensiná-lo
como desfazer a ilusão. Seguindo suas instruções, Dhruva se lembrou de Krsna e
de Seus santos nomes e assim foi capaz de ver além das ilusões criadas pelos
Yaksas. Esse mesmo refúgio divino está disponível a todos nós. Quando cantamos
Hare Krsna, a ilusão do reino material começa se a dissipar. Krsna nos envia
ajuda na forma de guias espirituais que nos ensinam como desfazermos as ilusões
materiais e redespertarmos nosso adormecido amor a Deus. Então nos tornamos
perfeitamente situados na realidade absoluta.

Filtro Mental

O esposo que estávamos aconselhando estava certo da existência de uma
realidade absoluta, mas ele equivocadamente acreditava ser possível percebê-la
através de sentidos imperfeitos. A ciência nos diz que a todo instante somos
bombardeados por mais de seis milhões de bits de informação que correm para o
nosso interior através de nossos sentidos. Os cientistas postularam que o
sistema de ativação reticular, localizado na base do cérebro, age como um
porteiro, impedindo que sejamos subjugados pelo excesso de informações. Esse
sistema de filtragem permite que entrem em nossa percepção consciente
informações baseadas em nossas experiências e em nossas crenças sobre nós
mesmos.


No Bhagavad-gita, Krsna explica a Seu amigo e discípulo Arjuna que Ele é a
fonte de toda lembrança, de todo conhecimento e de todo esquecimento. Krsna,
como a Superalma dentro de nossos corações, sanciona quais informações vão até
nossa percepção consciente. De acordo com nossos desejos, Krsna fortalece nossa
fé em certas percepções ou idéias de forma a apoiar uma experiência em
particular dentro do reino material.


Embora a ciência moderna e a sabedoria antiga nem sempre estejam em harmonia,
explicações científicas podem, algumas vezes, serem úteis na apresentação de
pontos filosóficos. Podemos, por exemplo, dizer que nosso prarabdha karma
(karma manifesto) se manifesta por meio dos cromossomos ou do DNA.
Similarmente, a Superalma pode, por meio do sistema reticular, filtrar
informações contrárias a nossas crenças. Se algumas pessoas, por exemplo, dizem
que sou uma pessoa legal, eu talvez rejeite essas percepções e pense que elas
querem me vender algo ou me manipular de alguma maneira.


Além desse filtro de informações no cérebro, nossos sentidos também cometem
erros. Podemos ver uma corda e pensar que se trata de uma cobra. E, dependendo
do tamanho de nossa determinação em convencer outros sobre o que pensamos,
podemos apresentar informações enganadoras ou mentirosas. O desejo de um
experimentador por um resultado específico frequentemente contamina os
experimentos científicos.


Até que tenhamos purificado nossa consciência, nossa natureza condicionada
irá influenciar nossos pensamentos e nossa habilidade de compreender até mesmo
o conhecimento absoluto advindo de fontes puras. Se, por exemplo, em razão de
minha criação, eu acredito que Deus é vingativo e irado, eu irei filtrar as
informações que expõem como Ele é amável e misericordioso com Seus devotos.
Portanto, é prudente questionarmos nossas próprias percepções da realidade e
estarmos abertos as de outros, especialmente das pessoas espiritualmente
avançadas.


Estágios do Pensar


Outro aspecto de nossa constituição psicológica que afeta nossa habilidade em
perceber a realidade absoluta é nosso desenvolvimento cognitivo, ou a maneira
com que nosso processamento de pensamentos se desenvolve. William Perry, um
psicólogo desenvolvimentista, descreve estágios de desenvolvimento cognitivo
que acredito poderem ser úteis para os devotos distinguirem entre fanatismo e
iluminação. O primeiro estágio é o pensar preto e branco, no qual não podemos
tolerar pontos de vista diferentes dos nossos e no qual o nosso pensar é rígido
e dogmático. Alguns de nós não vão além desse estágio; o restante progride para
o pensar relativista e ouve e considera diferentes perspectivas e opiniões. O
pensar relativista ajuda as pessoas a iniciarem e manterem relacionamentos
íntimos. O estágio final, que Perry diz ser raramente alcançado, é o
comprometimento. A pessoa nesse estágio tem crenças fixas, mas tolera as
percepções de outros. De acordo com a pesquisa de Perry, as
pessoas de consciência espiritual altamente elevada que poderiam ser
classificadas dentro desse último estágio fazem parte de um grupo pequeno e
seleto.


À primeira vista, o pensador preto e branco e o comprometido talvez pareçam
iguais: ambos estão convencidos de suas crenças, diferentemente do pensador
relativista (estágio dois). Mas o pensador comprometido irá aceitar outros,
enquanto o pensador preto e branco é frequentemente fanático e irredutível.
Terroristas estão presos no estágio um e criam grande perturbação no mundo por
pensarem que sua realidade subjetiva é a única verdade. A missão deles é
converter outros à sua abominável maneira de pensar. Como a história moderna
mostra, esse tipo de pensamentos sectário com vestes de religião é extremamente
perigoso.


Perigos do Sectarismo


Srila Prabhupada, um Vaisnava superlativamente comprometido, enfatizou por
diversas vezes que sua sociedade, a Sociedade Internacional para a Consciência
de Krsna, era não-sectária. Ele não estava concentrando esforços para converter
pessoas de uma religião para outra; ele queria ajudar as pessoas a
desenvolverem amor por Deus. Bhaktivinoda Thakura, predecessor de Prabhupada,
listou o sectarismo como um dos principais obstáculos ao progresso espiritual
por ele dificultar o encontro de um guru e a associação com devotos sinceros
que possam não estar contidos no grupo rigorosamente definido da pessoa.


Juntamente com a aceitação da Verdade Absoluta, temos de lembrar que vivemos
em um mundo relativo e que nossas percepções e experiências são subjetivas. Se
eu sinto frio e outra pessoa sente calor, está calor ou está frio? Dizer “eu
estou com frio” expressa minha realidade subjetiva, mas dizer “está frio” é uma
imposição de minha realidade subjetiva sobre os outros. Prabhupada nos ensina a
não confiarmos em nossa realidade subjetiva para entendermos a verdade. Ele dá
o exemplo de um grupo de homens cegos tentando dizer a identidade de um
elefante tocando nele. Um dos homens, sentido sua tromba, declara que a
criatura é uma grande cobra. Outro, envolvendo uma das pernas do elefante com
seus braços, conjectura que o elefante é um grande pilar. A percepção limitada
e subjetiva de cada homem do grupo falha na identificação correta do objeto.
Para conhecerem a verdade, eles precisam da ajuda de uma pessoa com visão.


Relatividade é algo que irá nos influenciar até que nossa natureza
condicionada seja purificada. Prabhupada, portanto, ensina-nos a cultivarmos
uma atitude humilde e de serviço para com os outros, especialmente para com as
almas avançadas. Unicamente pela misericórdia delas podemos entender o reino do
Absoluto. Quando deixamos de defender nossas impressões e percepções como o
padrão absoluto e aceitamos as experiências de outros, tornamo-nos mais
amáveis.


Esse tipo de pensamento irá aprimorar nossa efetividade na difusão dos
ensinamentos do Vaisnavismo e também irá auxiliar na manutenção de nossos
relacionamentos com outros Vaisnavas, inclusive com nosso esposo ou esposa. O
pensamento preto e branco torna um casamento instável e com alta probabilidade
de divórcio. Se nos encontramos entrincheirados no desejo de estabelecermos
nossas perspectivas relativas como absolutas, devemos orar pelo progresso para
além desse estágio de pensamento.


Irmos para além do pensamento preto e branco irá nos ajudar a avançarmos
espiritualmente. Então, um dia, entraremos na realidade absoluta, onde nossas
percepções subjetivas são perfeitas. Nesse estágio, não mais contaminados pela
energia material, ficamos sob a influência da energia interna de Krsna e vemos
a realidade espiritual através de nossa relação particular com Krsna. Os
vaqueirinhos vêem Krsna como o seu melhor amigo, os vaqueiros e vaqueiras mais
velhos vêem-nO como seu filho, e as jovens vaqueirinhas vêem-nO como seu
amante. Todos eles acreditam que sua posição é a melhor, e todos eles estão
subjetivamente corretos.


Através de sinceridade, serviço e misericórdia, podemos transcender a
existência material e entrar em um mundo destituído de tensão entre as
realidades subjetivas e absolutas. No mundo material, o relativo e o absoluto
competem pela supremacia e podem destruir relacionamentos. No mundo espiritual,
o relativo e o absoluto trabalham juntos na intensificação dos relacionamentos
amorosos. Uma vez lá, nunca mais teremos de voltar para este mundo onde há
apenas duas possibilidades: “ou eu estou certo ou você está errado”.

Porque muitos fatores influenciam a maneira com que vemos o mundo, muita fé
em nossa própria perspectiva pode ser algo material e espiritualmente perigoso.
Meu esposo e eu estávamos aconselhando um casal, e fazíamos algum progresso,
mas então chegamos a um impasse. O esposo insistia que suas percepções das
interações do casal eram a realidade e que qualquer coisa diferente daquelas
percepções era falsa ou ilusória. Em outras palavras, a visão de sua esposa era
errada se diferente da sua. Meu esposo e eu fizemos o melhor que podíamos para
ajudá-lo a expandir sua perspectiva. Nós esperávamos que ele poderia se
interessar pela possibilidade de ver as coisas de maneira diferente. Mas ele
não largaria seu posicionamento, e ele, por fim, encerrou o aconselhamento
matrimonial.


Depois deste incidente, refleti sobre um apaixonado debate que eu havia tido
com um amigo antes de me tornar devota. Ele insistia que não havia realidade
absoluta, mas apenas nossa realidade subjetiva individual, enquanto que minha
postura era que havia sim uma realidade absoluta – nós apenas não podíamos
percebê-la. Ele insistia que minha posição era apenas minha realidade
subjetiva. Nós dois voltamos para casa frustrados e irritados.


Posteriormente, depois de me tornar devota, descobri que, de acordo com os
ensinamentos Védicos, minhas assertivas estavam corretas. Mas agora eu podia
compreender algo sobre a natureza de tal realidade absoluta: ela é Krsna. Tudo
o que vemos neste mundo vem de uma das muitas energias de Krsna. Mas Sua
energia ilusória (maya) priva-nos de perceber as coisas apropriadamente. Da
mesma forma que um mágico pode fazer-nos pensar que estamos vendo algo que não
está ali, Krsna usa Sua energia ilusória para criar nossa suposta realidade.


Talvez uma pessoa se pergunte a razão para Deus querer privar-nos de ver a
verdade. Na realidade, esse não é o Seu desejo, antes Ele está apenas amparando
o nosso desejo de desfrutarmos separadamente dEle. Quando estamos completamente
desconectados de nosso Senhor, não podemos perceber a realidade. Ao invés
disso, acreditamos em uma “realidade” ilusória, como pessoas sob o feitiço de
um hipnotizador que pensam serem patos ou cachorros. Pela influência de maya, a
alma no mundo material realmente pensa ser um pato ou um cachorro ou um homem
ou uma mulher. Mas tal realidade relativa é temporária e irá desaparecer com a
morte. Apenas a alma eterna segue.


Dhruva Supera a Ilusão


Algumas vezes, mesmo grandes devotos são desnorteados pelas ilusões da
energia material. Dhruva Maharaja era um poderoso rei e devoto do Senhor. No
entanto, quando vingando a morte de seu irmão, Dhruva foi desnorteado pelas
proezas mágicas de seus oponentes, os Yaksas, que eram peritos na criação de
ilusões arrebatadoras. Dhruva acreditava estar no meio de uma grande
devastação. Ele via troncos de corpos humanos caindo do céu juntamente com
armas letais e grandes pedregulhos. Ele viu um tsunami e também um grande
número de animais selvagens vindo devorá-lo.


A energia divina protege os grandes devotos. Para Dhruva, essa energia divina
veio na forma de misericordiosos sábios que se aproximaram dele para ensiná-lo
como desfazer a ilusão. Seguindo suas instruções, Dhruva se lembrou de Krsna e
de Seus santos nomes e assim foi capaz de ver além das ilusões criadas pelos
Yaksas. Esse mesmo refúgio divino está disponível a todos nós. Quando cantamos
Hare Krsna, a ilusão do reino material começa se a dissipar. Krsna nos envia
ajuda na forma de guias espirituais que nos ensinam como desfazermos as ilusões
materiais e redespertarmos nosso adormecido amor a Deus. Então nos tornamos
perfeitamente situados na realidade absoluta.


Filtro Mental


O esposo que estávamos aconselhando estava certo da existência de uma
realidade absoluta, mas ele equivocadamente acreditava ser possível percebê-la
através de sentidos imperfeitos. A ciência nos diz que a todo instante somos
bombardeados por mais de seis milhões de bits de informação que correm para o
nosso interior através de nossos sentidos. Os cientistas postularam que o
sistema de ativação reticular, localizado na base do cérebro, age como um
porteiro, impedindo que sejamos subjugados pelo excesso de informações. Esse
sistema de filtragem permite que entrem em nossa percepção consciente
informações baseadas em nossas experiências e em nossas crenças sobre nós
mesmos.


No Bhagavad-gita, Krsna explica a Seu amigo e discípulo Arjuna que Ele é a
fonte de toda lembrança, de todo conhecimento e de todo esquecimento. Krsna,
como a Superalma dentro de nossos corações, sanciona quais informações vão até
nossa percepção consciente. De acordo com nossos desejos, Krsna fortalece nossa
fé em certas percepções ou idéias de forma a apoiar uma experiência em
particular dentro do reino material.


Embora a ciência moderna e a sabedoria antiga nem sempre estejam em harmonia,
explicações científicas podem, algumas vezes, serem úteis na apresentação de
pontos filosóficos. Podemos, por exemplo, dizer que nosso prarabdha karma
(karma manifesto) se manifesta por meio dos cromossomos ou do DNA.
Similarmente, a Superalma pode, por meio do sistema reticular, filtrar
informações contrárias a nossas crenças. Se algumas pessoas, por exemplo, dizem
que sou uma pessoa legal, eu talvez rejeite essas percepções e pense que elas
querem me vender algo ou me manipular de alguma maneira.


Além desse filtro de informações no cérebro, nossos sentidos também cometem
erros. Podemos ver uma corda e pensar que se trata de uma cobra. E, dependendo
do tamanho de nossa determinação em convencer outros sobre o que pensamos,
podemos apresentar informações enganadoras ou mentirosas. O desejo de um
experimentador por um resultado específico frequentemente contamina os
experimentos científicos.


Até que tenhamos purificado nossa consciência, nossa natureza condicionada
irá influenciar nossos pensamentos e nossa habilidade de compreender até mesmo
o conhecimento absoluto advindo de fontes puras. Se, por exemplo, em razão de
minha criação, eu acredito que Deus é vingativo e irado, eu irei filtrar as
informações que expõem como Ele é amável e misericordioso com Seus devotos.
Portanto, é prudente questionarmos nossas próprias percepções da realidade e
estarmos abertos as de outros, especialmente das pessoas espiritualmente
avançadas.


Estágios do Pensar


Outro aspecto de nossa constituição psicológica que afeta nossa habilidade em
perceber a realidade absoluta é nosso desenvolvimento cognitivo, ou a maneira
com que nosso processamento de pensamentos se desenvolve. William Perry, um
psicólogo desenvolvimentista, descreve estágios de desenvolvimento cognitivo
que acredito poderem ser úteis para os devotos distinguirem entre fanatismo e
iluminação. O primeiro estágio é o pensar preto e branco, no qual não podemos
tolerar pontos de vista diferentes dos nossos e no qual o nosso pensar é rígido
e dogmático. Alguns de nós não vão além desse estágio; o restante progride para
o pensar relativista e ouve e considera diferentes perspectivas e opiniões. O
pensar relativista ajuda as pessoas a iniciarem e manterem relacionamentos
íntimos. O estágio final, que Perry diz ser raramente alcançado, é o
comprometimento. A pessoa nesse estágio tem crenças fixas, mas tolera as
percepções de outros. De acordo com a pesquisa de Perry, as
pessoas de consciência espiritual altamente elevada que poderiam ser
classificadas dentro desse último estágio fazem parte de um grupo pequeno e
seleto.


À primeira vista, o pensador preto e branco e o comprometido talvez pareçam
iguais: ambos estão convencidos de suas crenças, diferentemente do pensador
relativista (estágio dois). Mas o pensador comprometido irá aceitar outros,
enquanto o pensador preto e branco é frequentemente fanático e irredutível.
Terroristas estão presos no estágio um e criam grande perturbação no mundo por
pensarem que sua realidade subjetiva é a única verdade. A missão deles é
converter outros à sua abominável maneira de pensar. Como a história moderna
mostra, esse tipo de pensamentos sectário com vestes de religião é extremamente
perigoso.


Perigos do Sectarismo


Srila Prabhupada, um Vaisnava superlativamente comprometido, enfatizou por
diversas vezes que sua sociedade, a Sociedade Internacional para a Consciência
de Krsna, era não-sectária. Ele não estava concentrando esforços para converter
pessoas de uma religião para outra; ele queria ajudar as pessoas a
desenvolverem amor por Deus. Bhaktivinoda Thakura, predecessor de Prabhupada,
listou o sectarismo como um dos principais obstáculos ao progresso espiritual
por ele dificultar o encontro de um guru e a associação com devotos sinceros
que possam não estar contidos no grupo rigorosamente definido da pessoa.


Juntamente com a aceitação da Verdade Absoluta, temos de lembrar que vivemos
em um mundo relativo e que nossas percepções e experiências são subjetivas. Se
eu sinto frio e outra pessoa sente calor, está calor ou está frio? Dizer “eu
estou com frio” expressa minha realidade subjetiva, mas dizer “está frio” é uma
imposição de minha realidade subjetiva sobre os outros. Prabhupada nos ensina a
não confiarmos em nossa realidade subjetiva para entendermos a verdade. Ele dá
o exemplo de um grupo de homens cegos tentando dizer a identidade de um
elefante tocando nele. Um dos homens, sentido sua tromba, declara que a
criatura é uma grande cobra. Outro, envolvendo uma das pernas do elefante com
seus braços, conjectura que o elefante é um grande pilar. A percepção limitada
e subjetiva de cada homem do grupo falha na identificação correta do objeto.
Para conhecerem a verdade, eles precisam da ajuda de uma pessoa com visão.


Relatividade é algo que irá nos influenciar até que nossa natureza
condicionada seja purificada. Prabhupada, portanto, ensina-nos a cultivarmos
uma atitude humilde e de serviço para com os outros, especialmente para com as
almas avançadas. Unicamente pela misericórdia delas podemos entender o reino do
Absoluto. Quando deixamos de defender nossas impressões e percepções como o
padrão absoluto e aceitamos as experiências de outros, tornamo-nos mais
amáveis.


Esse tipo de pensamento irá aprimorar nossa efetividade na difusão dos
ensinamentos do Vaisnavismo e também irá auxiliar na manutenção de nossos
relacionamentos com outros Vaisnavas, inclusive com nosso esposo ou esposa. O
pensamento preto e branco torna um casamento instável e com alta probabilidade
de divórcio. Se nos encontramos entrincheirados no desejo de estabelecermos
nossas perspectivas relativas como absolutas, devemos orar pelo progresso para
além desse estágio de pensamento.


Irmos para além do pensamento preto e branco irá nos ajudar a avançarmos
espiritualmente. Então, um dia, entraremos na realidade absoluta, onde nossas
percepções subjetivas são perfeitas. Nesse estágio, não mais contaminados pela
energia material, ficamos sob a influência da energia interna de Krsna e vemos
a realidade espiritual através de nossa relação particular com Krsna. Os
vaqueirinhos vêem Krsna como o seu melhor amigo, os vaqueiros e vaqueiras mais
velhos vêem-nO como seu filho, e as jovens vaqueirinhas vêem-nO como seu
amante. Todos eles acreditam que sua posição é a melhor, e todos eles estão
subjetivamente corretos.


Através de sinceridade, serviço e misericórdia, podemos transcender a
existência material e entrar em um mundo destituído de tensão entre as
realidades subjetivas e absolutas. No mundo material, o relativo e o absoluto
competem pela supremacia e podem destruir relacionamentos. No mundo espiritual,
o relativo e o absoluto trabalham juntos na intensificação dos relacionamentos
amorosos. Uma vez lá, nunca mais teremos de voltar para este mundo onde há
apenas duas possibilidades: “ou eu estou certo ou você está errado”.




Tradução por Bhagavan dasa (DvS)por Arcana Siddhi Devi Dasi


Porque muitos fatores influenciam a maneira com que vemos o mundo, muita fé
em nossa própria perspectiva pode ser algo material e espiritualmente perigoso.

Meu esposo e eu estávamos aconselhando um casal, e fazíamos algum progresso,
mas então chegamos a um impasse. O esposo insistia que suas percepções das
interações do casal eram a realidade e que qualquer coisa diferente daquelas
percepções era falsa ou ilusória. Em outras palavras, a visão de sua esposa era
errada se diferente da sua. Meu esposo e eu fizemos o melhor que podíamos para
ajudá-lo a expandir sua perspectiva. Nós esperávamos que ele poderia se
interessar pela possibilidade de ver as coisas de maneira diferente. Mas ele
não largaria seu posicionamento, e ele, por fim, encerrou o aconselhamento
matrimonial.

Depois deste incidente, refleti sobre um apaixonado debate que eu havia tido
com um amigo antes de me tornar devota. Ele insistia que não havia realidade
absoluta, mas apenas nossa realidade subjetiva individual, enquanto que minha
postura era que havia sim uma realidade absoluta – nós apenas não podíamos
percebê-la. Ele insistia que minha posição era apenas minha realidade
subjetiva. Nós dois voltamos para casa frustrados e irritados.

Posteriormente, depois de me tornar devota, descobri que, de acordo com os
ensinamentos Védicos, minhas assertivas estavam corretas. Mas agora eu podia
compreender algo sobre a natureza de tal realidade absoluta: ela é Krsna. Tudo
o que vemos neste mundo vem de uma das muitas energias de Krsna. Mas Sua
energia ilusória (maya) priva-nos de perceber as coisas apropriadamente. Da
mesma forma que um mágico pode fazer-nos pensar que estamos vendo algo que não
está ali, Krsna usa Sua energia ilusória para criar nossa suposta realidade.


Talvez uma pessoa se pergunte a razão para Deus querer privar-nos de ver a
verdade. Na realidade, esse não é o Seu desejo, antes Ele está apenas amparando
o nosso desejo de desfrutarmos separadamente dEle. Quando estamos completamente
desconectados de nosso Senhor, não podemos perceber a realidade. Ao invés
disso, acreditamos em uma “realidade” ilusória, como pessoas sob o feitiço de
um hipnotizador que pensam serem patos ou cachorros. Pela influência de maya, a
alma no mundo material realmente pensa ser um pato ou um cachorro ou um homem
ou uma mulher. Mas tal realidade relativa é temporária e irá desaparecer com a
morte. Apenas a alma eterna segue.

Dhruva Supera a Ilusão


Algumas vezes, mesmo grandes devotos são desnorteados pelas ilusões da
energia material. Dhruva Maharaja era um poderoso rei e devoto do Senhor. No
entanto, quando vingando a morte de seu irmão, Dhruva foi desnorteado pelas
proezas mágicas de seus oponentes, os Yaksas, que eram peritos na criação de
ilusões arrebatadoras. Dhruva acreditava estar no meio de uma grande
devastação. Ele via troncos de corpos humanos caindo do céu juntamente com
armas letais e grandes pedregulhos. Ele viu um tsunami e também um grande
número de animais selvagens vindo devorá-lo.

A energia divina protege os grandes devotos. Para Dhruva, essa energia divina
veio na forma de misericordiosos sábios que se aproximaram dele para ensiná-lo
como desfazer a ilusão. Seguindo suas instruções, Dhruva se lembrou de Krsna e
de Seus santos nomes e assim foi capaz de ver além das ilusões criadas pelos
Yaksas. Esse mesmo refúgio divino está disponível a todos nós. Quando cantamos
Hare Krsna, a ilusão do reino material começa se a dissipar. Krsna nos envia
ajuda na forma de guias espirituais que nos ensinam como desfazermos as ilusões
materiais e redespertarmos nosso adormecido amor a Deus. Então nos tornamos
perfeitamente situados na realidade absoluta.






Filtro Mental

O esposo que estávamos aconselhando estava certo da existência de uma
realidade absoluta, mas ele equivocadamente acreditava ser possível percebê-la
através de sentidos imperfeitos. A ciência nos diz que a todo instante somos
bombardeados por mais de seis milhões de bits de informação que correm para o
nosso interior através de nossos sentidos. Os cientistas postularam que o
sistema de ativação reticular, localizado na base do cérebro, age como um
porteiro, impedindo que sejamos subjugados pelo excesso de informações. Esse
sistema de filtragem permite que entrem em nossa percepção consciente
informações baseadas em nossas experiências e em nossas crenças sobre nós
mesmos.

No Bhagavad-gita, Krsna explica a Seu amigo e discípulo Arjuna que Ele é a
fonte de toda lembrança, de todo conhecimento e de todo esquecimento. Krsna,
como a Superalma dentro de nossos corações, sanciona quais informações vão até
nossa percepção consciente. De acordo com nossos desejos, Krsna fortalece nossa
fé em certas percepções ou idéias de forma a apoiar uma experiência em
particular dentro do reino material.

Embora a ciência moderna e a sabedoria antiga nem sempre estejam em harmonia,
explicações científicas podem, algumas vezes, serem úteis na apresentação de
pontos filosóficos. Podemos, por exemplo, dizer que nosso prarabdha karma
(karma manifesto) se manifesta por meio dos cromossomos ou do DNA.
Similarmente, a Superalma pode, por meio do sistema reticular, filtrar
informações contrárias a nossas crenças. Se algumas pessoas, por exemplo, dizem
que sou uma pessoa legal, eu talvez rejeite essas percepções e pense que elas
querem me vender algo ou me manipular de alguma maneira.

Além desse filtro de informações no cérebro, nossos sentidos também cometem
erros. Podemos ver uma corda e pensar que se trata de uma cobra. E, dependendo
do tamanho de nossa determinação em convencer outros sobre o que pensamos,
podemos apresentar informações enganadoras ou mentirosas. O desejo de um
experimentador por um resultado específico frequentemente contamina os
experimentos científicos.

Até que tenhamos purificado nossa consciência, nossa natureza condicionada
irá influenciar nossos pensamentos e nossa habilidade de compreender até mesmo
o conhecimento absoluto advindo de fontes puras. Se, por exemplo, em razão de
minha criação, eu acredito que Deus é vingativo e irado, eu irei filtrar as
informações que expõem como Ele é amável e misericordioso com Seus devotos.
Portanto, é prudente questionarmos nossas próprias percepções da realidade e
estarmos abertos as de outros, especialmente das pessoas espiritualmente
avançadas.

Estágios do Pensar

Outro aspecto de nossa constituição psicológica que afeta nossa habilidade em
perceber a realidade absoluta é nosso desenvolvimento cognitivo, ou a maneira
com que nosso processamento de pensamentos se desenvolve. William Perry, um
psicólogo desenvolvimentista, descreve estágios de desenvolvimento cognitivo
que acredito poderem ser úteis para os devotos distinguirem entre fanatismo e
iluminação. O primeiro estágio é o pensar preto e branco, no qual não podemos
tolerar pontos de vista diferentes dos nossos e no qual o nosso pensar é rígido
e dogmático. Alguns de nós não vão além desse estágio; o restante progride para
o pensar relativista e ouve e considera diferentes perspectivas e opiniões. O
pensar relativista ajuda as pessoas a iniciarem e manterem relacionamentos
íntimos. O estágio final, que Perry diz ser raramente alcançado, é o
comprometimento. A pessoa nesse estágio tem crenças fixas, mas tolera as
percepções de outros. De acordo com a pesquisa de Perry, as
pessoas de consciência espiritual altamente elevada que poderiam ser
classificadas dentro desse último estágio fazem parte de um grupo pequeno e
seleto.

À primeira vista, o pensador preto e branco e o comprometido talvez pareçam
iguais: ambos estão convencidos de suas crenças, diferentemente do pensador
relativista (estágio dois). Mas o pensador comprometido irá aceitar outros,
enquanto o pensador preto e branco é frequentemente fanático e irredutível.
Terroristas estão presos no estágio um e criam grande perturbação no mundo por
pensarem que sua realidade subjetiva é a única verdade. A missão deles é
converter outros à sua abominável maneira de pensar. Como a história moderna
mostra, esse tipo de pensamentos sectário com vestes de religião é extremamente
perigoso.

Perigos do Sectarismo

Srila Prabhupada, um Vaisnava superlativamente comprometido, enfatizou por
diversas vezes que sua sociedade, a Sociedade Internacional para a Consciência
de Krsna, era não-sectária. Ele não estava concentrando esforços para converter
pessoas de uma religião para outra; ele queria ajudar as pessoas a
desenvolverem amor por Deus. Bhaktivinoda Thakura, predecessor de Prabhupada,
listou o sectarismo como um dos principais obstáculos ao progresso espiritual
por ele dificultar o encontro de um guru e a associação com devotos sinceros
que possam não estar contidos no grupo rigorosamente definido da pessoa.

Juntamente com a aceitação da Verdade Absoluta, temos de lembrar que vivemos
em um mundo relativo e que nossas percepções e experiências são subjetivas. Se
eu sinto frio e outra pessoa sente calor, está calor ou está frio? Dizer “eu
estou com frio” expressa minha realidade subjetiva, mas dizer “está frio” é uma
imposição de minha realidade subjetiva sobre os outros. Prabhupada nos ensina a
não confiarmos em nossa realidade subjetiva para entendermos a verdade. Ele dá
o exemplo de um grupo de homens cegos tentando dizer a identidade de um
elefante tocando nele. Um dos homens, sentido sua tromba, declara que a
criatura é uma grande cobra. Outro, envolvendo uma das pernas do elefante com
seus braços, conjectura que o elefante é um grande pilar. A percepção limitada
e subjetiva de cada homem do grupo falha na identificação correta do objeto.
Para conhecerem a verdade, eles precisam da ajuda de uma pessoa com visão.

Relatividade é algo que irá nos influenciar até que nossa natureza
condicionada seja purificada. Prabhupada, portanto, ensina-nos a cultivarmos
uma atitude humilde e de serviço para com os outros, especialmente para com as
almas avançadas. Unicamente pela misericórdia delas podemos entender o reino do
Absoluto. Quando deixamos de defender nossas impressões e percepções como o
padrão absoluto e aceitamos as experiências de outros, tornamo-nos mais
amáveis.

Esse tipo de pensamento irá aprimorar nossa efetividade na difusão dos
ensinamentos do Vaisnavismo e também irá auxiliar na manutenção de nossos
relacionamentos com outros Vaisnavas, inclusive com nosso esposo ou esposa. O
pensamento preto e branco torna um casamento instável e com alta probabilidade
de divórcio. Se nos encontramos entrincheirados no desejo de estabelecermos
nossas perspectivas relativas como absolutas, devemos orar pelo progresso para
além desse estágio de pensamento.

Irmos para além do pensamento preto e branco irá nos ajudar a avançarmos
espiritualmente. Então, um dia, entraremos na realidade absoluta, onde nossas
percepções subjetivas são perfeitas. Nesse estágio, não mais contaminados pela
energia material, ficamos sob a influência da energia interna de Krsna e vemos
a realidade espiritual através de nossa relação particular com Krsna. Os
vaqueirinhos vêem Krsna como o seu melhor amigo, os vaqueiros e vaqueiras mais
velhos vêem-nO como seu filho, e as jovens vaqueirinhas vêem-nO como seu
amante. Todos eles acreditam que sua posição é a melhor, e todos eles estão
subjetivamente corretos.

Através de sinceridade, serviço e misericórdia, podemos transcender a
existência material e entrar em um mundo destituído de tensão entre as
realidades subjetivas e absolutas. No mundo material, o relativo e o absoluto
competem pela supremacia e podem destruir relacionamentos. No mundo espiritual,
o relativo e o absoluto trabalham juntos na intensificação dos relacionamentos
amorosos. Uma vez lá, nunca mais teremos de voltar para este mundo onde há
apenas duas possibilidades: “ou eu estou certo ou você está errado”.

Tradução por Bhagavan dasa (DvS)