Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Felicidade interminável: possível?


Felicidade interminável: possível?
Por Urmila Devi Dasi

Uma felicidade que seja interminável, sempre crescente, interessante e pura: Seria tal felicidade possível?
É possível encontrar felicidade neste mundo? Para muitos de nós, o que chamamos de “felicidade” é o alívio temporário de aflição, ou tristeza. Sem tristeza, não há, praticamente, significado para felicidade dentro de uma concepção material de vida.
Primeiramente, tudo aquilo que tratamos por “felicidade” depende, de certa forma, de algum sofrimento prévio. Nós desfrutamos ao comer porque sentimos a dor da fome; sem fome ou apetite, comer não nos daria nenhum prazer - não importa quão saborosa ou bem preparada seja a comida. Sentimos prazer em dormir, por encontrarmos alívio da fadiga; se se ordena a uma criança, que não está cansada, que “vá dormir”, isto é uma punição e não uma recompensa. Sexo é prazeroso devido à necessidade urgente de satisfazer nossa luxúria. Aqueles que desejam aumentar seu prazer sexual, necessariamente, desejam aumentar sua luxúria. Da mesma forma, na plataforma emocional, ter companhia passa a ser algo muito importante após termos experimentado o sentimento de solidão. Se examinarmos qualquer tipo de prazer material, constataremos que a experiência é prazerosa na mesma proporção em que trás alívio para algum sofrimento. O assim-chamado-prazer, não terá nenhum sentido se não houver sofrimento à priori, ou será, até mesmo, motivo para sofrimento. Para um estômago cheio, mais comida é motivo de aflição, da mesma forma que para uma pessoa descansada, ficar na cama é estressante. Portanto, “felicidade” pode ser definida como “a ausência ou alívio temporário de sofrimento”.
Nós precisamos sentir a falta do prazer para desfrutarmos dele – um complemento à definição. O prazer neste mundo diminui com a exposição ao objeto fonte-do-prazer. Se comermos nossa comida favorita – pizza, por exemplo – no café da manhã, no almoço e na janta, em poucos dias, ou em algumas semanas, não só deixaremos de obter prazer comendo pizza, mas iremos odiar pizza. Uma pessoa que esteja constantemente rodeada por outras pessoas, mesmo que sejam bons amigos, irá gradualmente deixar de sentir prazer em suas companhias e desejará um tempo sozinho. Todo prazer material, portanto, exige um “afastamento” para que se experimente sua ausência. Esse ciclo é designado em sânscrito como “bhoga-tyaga”: o desfrute e em seguida a abstinência de tal desfrute.
O ciclo de desfrute e abstinência do desfrute pode ser percebido em nosso revezamento entre trabalho e férias, comer e não comer, e assim por diante. Simplesmente não há nenhum tipo de atividade que vá dar prazer da mesma forma e intensidade continuamente – é preciso que aconteçam alguns momentos de abstinência para reavivar o apetite de antes, e mesmo assim, o prazer tende a diminuir.
Todavia, o tipo de felicidade descrita acima não é a única que existe. Evidencia disso é que nós, seres humanos, desejamos uma felicidade que não exija abstinência e que não coexista com sofrimento. Nós escrevemos, cantamos e sonhamos com uma felicidade que permaneça eternamente, que seja sempre intensa e crescente, e que não acompanhe nenhuma forma de sofrimento.
Nossas músicas românticas estão sempre prometendo a felicidade eterna, que cresce ao longo do tempo, e nós imaginamos que isso seja nosso progresso ao longo da vida: nos formar, constituir família, conseguir dinheiro e outros itens e realizações. Essas músicas fazem com nossa idéia equivocada de satisfação e felicidade cresça.
Por que desejamos uma felicidade interminável, sempre crescente e que não seja concomitante com nenhuma tristeza, em um mundo que não demonstra nenhuma posição favorável a satisfazer tal desejo? Em outras palavras, se tal felicidade não existe, por que alguém buscaria por ela?
A resposta é que não somos deste mundo, senão que somos seres espirituais eternos, excepcionalmente condicionados em um corpo material em um mundo material. Nós temos, gravadas em nossas lembranças, diversas trocas de amor que compartilhamos com Deus, trocas amorosas que são, de fato, sempre crescentes em êxtase, e que crescem eternamente sem uma gota sequer de sofrimento. Nós buscamos e glorificamos tal felicidade porque é natural para nós, embora não visível no momento. Um animal natural da floresta, temporariamente em um deserto, desejará sombra e água, enquanto que um animal do deserto pode viver sem isso (alguns animais adquirem das plantas que comem toda a água de que necessitam), analogamente, nós, seres espirituais, buscamos arduamente a felicidade, que nos é inerente, mesmo nesta terra que visivelmente não a dispõe.
Claro que, com nossa constatação de que a felicidade é transitória e interdependente de tristeza, alguns concluiriam que toda felicidade se torna enfadonha e enfraquecida caso não tenha períodos de ausência da mesma ou períodos de aflição. Para aqueles que chegaram a essa conclusão seria impossível imaginar, não importando quanto tentassem, que seja possível existir um mundo perpetuamente feliz e nunca desinteressável. Eles consideram o assunto da felicidade espiritual como um mito, ou afirmam que a felicidade constante se tornaria insípida.
Entretanto, há muitas pessoas santas que descrevem a felicidade espiritual como dinâmica e variada. Essa felicidade é baseada em uma relação individual de amor com um Senhor ilimitado, Sri Krsna, que reciproca o sentimento de seus devotos com inesgotáveis arranjos e variadas atividades transcendentais. De fato, há muitos tipos de felicidade espiritual. Algumas delas parecem, externamente, com o que consideraríamos sofrimento – medo, aflição, ansiedade, etc. Devido à similaridade superficial entre esses avançados sentimentos de êxtase e o sofrimento material, muitas das elevadas atividades do Senhor e de Seus devotos são mal compreendidas, devido à projeção de nossas experiências materiais.
Não experimentamos diferentes variedades do mesmo prazer material? Pode-se, por exemplo, comer vários sabores de sorvete. Sorvete de creme é um pouco diferente do de leite condensado, que é radicalmente diferente do de morango. E se forem combinados diferentes sabores com diferentes coberturas, tem-se várias maneiras de se saborear um sorvete. A variedade de prazer espiritual é algo como sabores de sorvete e coberturas.
Os tipos de prazer decorrentes do amor a Deus podem ser entendidos, de certa forma, se examinarmos como as pessoas tentam ser felizes dentro da vida material. Não é raro que as pessoas paguem por filmes e livros que elas sabem que as deixaram assustadas, ou até horrorizadas. De alguma forma, nestas emoções que associamos a falta de felicidade, essas pessoas encontram alguma variedade de prazer.
Na verdade, o prazer que sentem não está nas emoções “negativas” em si, mas, simplesmente, na chance de esquecer os problemas de sua própria vida, ou na necessidade de ter emoções intensas, não importando o tipo.
Ainda que, por mais deturpada e infeliz que seja a busca por felicidade, por exemplo, em um filme de terror do tipo “carnificina”, o ponto é que há muita variedade até mesmo na forma em que as pessoas materialistas buscam por prazer. Por que seria a felicidade espiritual destituída de tal variedade? De fato, por ser o mundo material um reflexo do espiritual, o mundo espiritual tem muito mais possíveis trocas e nuanças amorosas, que, dinamicamente, intensificam o encanto daqueles que amam o Senhor.
Não há dúvidas que amor por Krsna, mesmo neste mundo, pode nos dar uma vida que é fascinante e inovador a cada momento, e na qual não há nenhum espaço para tristeza.


Tradução por Bhagavan dasa (DvS), Revisão por Bhaktin Celeste (DvS).