Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami

Dedicado a Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedenta Swami Prabhupada e Gurudeva Srila Dhanvantari Swami
Jagad Guru Srila Prabhupada

terça-feira, 24 de abril de 2007

Aos Pés de Lótus do Mestre Espiritual


Aos Pés de Lótus do Mestre Espiritual


Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização – IBAR. Uberaba, MG. 20/04/2007.

Aproximar-se de um mestre espiritual, creio que longe de ser uma mera questão de modismo ou algo impulsionado por qualquer outra motivação material significa sem duvida estar imbuído de uma forte vontade de resolver as grandes questões existenciais: de onde eu vim? Porque estou sofrendo? Para onde eu vou após a morte? E, ademais, expressa um imenso anseio por ouvir o som transcendental da boca de semelhante alma auto-realizada e ser por fim digno de sua misericórdia. Por isso o próprio Senhor Krishna aconselha:

tad viddhi pranipatena
pariprasnena sevaya
upadeksyanti te jnanam
jnaninas tattva-darsinah
(Bg. 4.34).

“Tenta aprender a verdade aproximando-te de um mestre espiritual. Faze-lhe perguntas com submissão e presta-lhe serviço. As almas auto-realizadas te podem transmitir conhecimento porque viram a verdade”.

Ao comentar esta instrução do Senhor Krishna, Srila Prabhupada alerta: “Condenam-se neste verso, a obediência cega e as perguntas absurdas. Não só é necessário ouvir com rendição o mestre espiritual, mas também se deve obter dele um entendimento claro, com submissão, serviço e indagações. Um mestre espiritual autentico é por natureza muito bondoso para o discípulo. Portanto, quando o aluno é submisso e está sempre disposto a prestar serviço, a troca de conhecimento e perguntas torna-se perfeita”.

Mas alguém poderá objetar, então que tipo de perguntas deve ser feito ao mestre espiritual? Creio que se seguirmos o exemplo de Arjuna, o estudante perfeito do Bhagavad-gita, poderemos espelhar-nos nas perguntas bastante significativas que endereça ali ao Senhor Krishna. Assim por entre diversas perguntas formuladas por Arjuna, no Bhagavad-gita, uma particularmente me parece bastante relevante para quem deseja investigar os caminhos tortuosos que levam ao labirinto da psique humana, e podendo também ser objeto de investigação sobre a natureza das perguntas que devem ser dirigidas ao mestre espiritual.

atha kena prayukto yam
papam carati purusah
aniccham api varsneya
balad iva niyojitah
(Bg. 3.36).

“Ó descendente de Vrshni, que impele alguém a atos pecaminosos, mesmo contra a sua vontade, como se ele agisse à força?”.

Creio que este tipo de indagação já passou pela mente de muitos de nós, na seguinte forma, “eu não queria ter feito isso, no entanto fiz, o que agora me envergonha e entristece, porque isso?”. É dito que uma pergunta bem formulada é meio caminho em direção as respostas certas. Portanto se examinarmos a pergunta de Arjuna, ela poderá nos revelar muitos aspectos de como devemos nos dirigir ao mestre espiritual em busca do conhecimento. Assim a indagação feita ao guru deve principalmente mostrar:

a profunda reverência e confiança que temos pelo mestre espiritual. A confiança é o termômetro da relação mestre-discípulo, se ela inexistente a corrente de transmissão de conhecimento é interrompida. É preciso, portanto, abandonar a armadura completamente diante do mestre espiritual e ficar aberto e receptivo;

uma atitude de inocência. Quando uma pergunta é considerada inocente? Se a resposta existe na mente do discípulo, a pergunta não é inocente, ela é ardilosa. Neste caso, ainda que o mestre espiritual responda, a resposta não alcançará o coração do discípulo, pois, este ultimo não está suficientemente vazio para receber a resposta. Inexiste um encontro de almas;

um grande anseio por saber, uma grande duvida. Na realidade um discípulo deve perguntar sabendo bem que não sabe. Isto é, ele está de fato com sede e pede água. Ele está com fome e pede comida;

Na realidade quando alguém formula uma pergunta assim como a de Arjuna, que contempla os aspectos acima assinalados, ele se torna um discípulo na verdadeira acepção da palavra. Quando não se sabe, se é humilde. Quando se sabe, se é na grande maioria das vezes, puro falso ego. Uma pergunta como a de Arjuna encontra um interlocutor na pessoa do mestre espiritual disposto a transmitir o conhecimento. Por isso, o Senhor Krishna responde de modo preciso à pergunta de Arjuna que é inocente, e surge em sua essência da ignorância, assim Ele esclarece-o, pois, o mestre é naturalmente bondoso com o discípulo:

kama esa krodha esa
rajo-guna-samudbhavah
mahasano maha-papma
vidhy enam iha vairinam
(Bg. 3.37).

“É somente a luxuria, Arjuna, que nasce do contato com o modo material da paixão e mais tarde se transforma em ira, e que é o inimigo pecaminoso que tudo devora neste mundo”. A resposta do mestre espiritual tal qual uma semente tem de encontrar uma terra fértil para poder germinar e produzir frutos. Isto é o significado do discipulado. Meditemos nisso.



HARE KRISHNA

quinta-feira, 19 de abril de 2007

Sastra Ninda


No livro "Sri Harinama Cintamani", Srila Bhaktivinoda Thakur explicadetalhadamente todos os tipos de Nama Aparadha, entre elas Sastra Ninda. Sastra Ninda - Criticar as escrituras Védicas "Srila Haridas Thakur disse: "Meu Senhor, criticar a literatura Védica e as demais escrituras que estão deacordo com a versão Védica, é uma grave ofensa que nega a uma pessoa o êxtaseda devoção pura." O Sruti Sastra (os Vedas) que incluem os Upanisads, os Puranas e as outrasescrituras corolarias emanou dos lábios do Senhor Supremo, Sri Krsna. Esta literatura estabelece e prova a Verdade Espiritual. Contém conhecimento transcendental que está além dos sentidos materiais, eeste conhecimento só pode ser compreendido pela graça do Senhor Krsna... ...Este conhecimento da transcendência, foi misericordiosamente dado peloSenhor Krsna para a bendição última da humanidade.... ....autorizada pelo Parampara. Os Vedas estão livres dos quatro defeitos. Os sábios receberam este conhecimento em Samadhi, ou numa total absorçãoespiritual. Os Dez Principais Ensinamentos dos Vedas Destroem a ignorância e estabelecem o verdadeiro conhecimento espiritual. Os três primeiros ensinamentos pertencem a Krsna: 1 - Krsna é a Suprema Verdade Absoluta. 2 - Ele é omnipotente, todas as energias estão contidas em Krsna. 3 - Ele é Rasamurti, é a personificação das Rasas espirituais. Os próximos três ensinamentos pertencem as Jivas: 4 - As Jivas são partes integrantes separadas do Senhor. Nitya Baddha (eternamente condicionadas) Nitya Siddha (eternamente liberadas) 5 - Demonstra que as almas condicionadas ficam enamoradas da deslumbrantepotência ilusória de Maya. 6 - Demonstra que as almas eternamente liberadas ou Nitya Muktas são eternosassociados de Sri Krsna. 7 - Acintya Bhedabheda Tattva Tudo que é material e espiritual provém de Acintya Bhedabheda Sambandha. AJiva e a matéria, ambos são a transformação da energia de Sri Krsna. Isto éinconcebível. Estes sete ensinamentos abrangem Sambandha Jnana, ou o conhecimento da nossarelação eterna. Os Vedas também dão o conhecimento de Abhideya, ou o conhecimento de comoalcançar esta meta. 8 - Abhideya Jnana São os nove processos do serviço devocional:ouvir, cantar, lembrar, adorar,prestar serviço, realizar as ordens do Senhor, ser um amigo do Senhor eentregar-se completamente ao Senhor. Cantar o Santo Nome é o mais importante. Os Vedas têm muitos volumes que descrevem as glórias do Santo Nome. 9 - Prayojana Jnana A Jiva deve refugiar-se no processo do serviço devocional puro. Pela misericórdia do Senhor Krsna, ela alcançará Krsna Prema, amor por Deus. 10 - O Guru O Sruti mantém que os nove ensinamentos definitivos e o Guru que está bemversado nas Escrituras são capazes de revelar todas estas verdades. Conhecimento Especulativo Jaimini, Kapila (Patanjali), Nagna, Nastika, Sugata e Gautama são seisfilósofos que estão enamorados pela lógica e raciocinio mundanos.. Não realizaram um serviço sincero aos ensinamentos dos Vedas e não aceitaramDeus. Jaimini difundiu que o melhor que os Vedas tem é a porção fruitivaritualística conhecida como Karma Kanda. Kapila (Patanjali) atreveu-se a dizer que Deus é imperfeito; aceitou oprocesso de Yoga sem entender suas implicações mais profundas. Nagna difundiu veneno ao ensinar Tantra que está na ignorância. Carvaka Nastika era um ateu que nunca aceitou a autoridade dos Vedas. Sugata, o budista deu um significado diferente dos Vedas. Gautama difundiu a lógica mundana e não adorou o Senhor Supremo. Astavakra, Dattatreya, Govinda, Gaudapada, Sankaracarya e todos os filósofosmaterialistas seguidores de Sankara são conhecidos como Gurus Mayavadis. Todos estes conceitos são diametralmente opostos a ciência eterna do serviçodevocional. Qualquer associação com estes pensamentos levam a Jiva a cometer NamaAparadha." Em relação aos Budistas e impersonalistas, o Senhor Caitanya disse: vedasraya nastikya-vada bauddhake adhika "Aqueles que refugiaram-se nos Vedas, mas que ainda assim pregam oagnosticismo (Mayavadis), são piores que os Budistas." Uma meia verdade é pior que nenhuma verdade. Srila Bhaktivinoda Thakur continua a explicar: "Quando todas as conclusões fundamentais da filosofia Védica são postasjuntas, elas somam-se ao serviço devocional, e a Jiva alcança amor puro porDeus." Cc Adi 7.132 "A literatura Védica auto-evidente é a maior de todas as evidências, mas seestas literaturas são interpretadas, perdem sua natureza auto evidente" Significado "Nós citamos a evidência Védica para apoiar nossas declarações, mas se nósinterpretamos de acordo com o nosso próprio julgamento, a autoridade daliteratura Védica torna-se imperfeita e inútil. Em outras palavras por interpretar a versão Védica minimizamos o valor daevidência Védica. Quando citamos a literatura Védica, deve-se entender que estas citações sãoautorizadas. Como nós podemos ter a autoridade sob o nosso controle? Este é um caso de principiis obsta." E quando todo este conhecimento desautorizado é desmascarado, o que acontece? Os Vaisnavas ficam muito felizes. Cc Adi 7.153 "Ouvindo os argumentos de Sri Caitanya Mahaprabhu e ao ver a Sua vitória,Candrashekara, Tapana Misra e Sanatana Goswami ficaram extremamente satisfeitos." Srila Bhaktivinoda Thakur continua: "Portanto, deve-se evitar de criticar as escrituras Sruti. Deve-se cantar constantemente o Santo Nome. Se alguém critica involuntariamente o Sruti, deve arrepender-se sinceramentedo seu erro e glorificar apropriadamente o Sruti. Deve adorar a literatura Védica e o Srimad Bhagavatam sentindo grande alegriae respeito, e oferecer flores e folhas de Tulasi as escrituras. O Srimad Bhagavatam é a essência da literatura Védica e a encarnaçãoliterária do senhor Krsna. O Bhagavatam com certeza mostrará misericórdia, porque o Bhagavatam é umoceano de misericórdia." Um passatempo interessante: "Certa vez, um jovem aproximou-se do seu Guru e disse: "Mestre, desejo encontrar Deus!" O Mestre sorriu gentilmente e nada disse. Todos os dias o jovem repetia o mesmo questionamento. Num dia em que fazia muito calor, o mestre convidou o discípulo para queambos fossem banhar-se no rio. Ao chegarem ao rio, o Mestre disse para o discípulo entrar primeiro, depoisentrou e manteve o discípulo à força debaixo da água, até o mesmo começar adebater-se com falta de ar. Depois de soltá-lo o Mestre perguntou: "Do que tivestes mais desejo?" O discípulo naturalmente respondeu: "De ar." O Mestre disse: "Desejas a Deus da mesma maneira? Enquanto este desejo não despertar, por mais que lutes com tua inteligênciamundana e tuas forças não serás capaz de encontrá-Lo. Enquanto este desejo não despertar não vales mais do que um ateu. No entanto, muitas vezes um ateu é mais sincero." Vosso servo Prahladesh Dasa www.bhakti-tattva.blogspot.com

terça-feira, 17 de abril de 2007

Integrando uma Missão de Amor


Integrando uma Missão de Amor


Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização – IBAR. Uberaba, MG. 06/04/2007.


Satsvarupa Goswami Maharaj em seu preciosismo compêndio das vinte seis qualidades do devoto traz ao nosso conhecimento um princípio muito interessante que transcrevo aqui para nossa reflexão: “Uma pessoa se torna compassiva, uma vez alistada na causa da compaixão”. Poderemos argumentar: “Acaso, isso basta para conquistarmos tão rara virtude nos dias de hoje?”. E certamente desejaríamos saber: “Se é que este princípio é valido, como opera na vida de alguém que segue a sua recomendação?”.
A este respeito, descrevendo uma das primeiras qualidades do devoto: Kripalu – misericordioso, Satsvarupa Goswami Maharaj formula uma pergunta para mostrar como que se efetiva o princípio acima formulado. Assim ele indaga: “Sim, o Senhor Chaitanya e Srila Prabhupada podem ser misericordiosos, mas como posso eu ser misericordioso?”. E logo em seguida, nos dá uma pista que leva a conquista de tão preciosa virtude: “A resposta é que servindo à uma grande alma misericordiosa e à sua causa, podemos agir misericordiosamente devido à ordem dela. Podemos servir ao mahatma misericordioso; assim, podemos participar em sua distribuição de misericórdia. Podemos distribuir a consciência de Krishna sob a autorização da grande alma misericordiosa e compassiva, e assim também nos tornaremos trabalhadores misericordiosos”.
Para ilustrar a resposta acima, Satsvarupa Goswami Maharaj estabelece o seguinte exemplo: “Um medico num campo de batalha ocupado no trabalho simples de fazer curativos, pode estar agindo sem um profundo sentimento de misericórdia, mas apesar disto ele é misericordioso, pois seu trabalho é uma missão misericordiosa. Ele é compassivo, porque se alistou na causa da compaixão”. Tentei levar o mesmo raciocínio a minha própria atuação na missão de Srila Prabhupada e constatei que tendo me ocupado ultimamente em escrever estes artigos, embora não me percebendo imbuído totalmente deste sublime sentimento de misericórdia, fiquei feliz em constatar que meu único mérito nisso, era agir tal qual um modesto funcionário da agência do correio, cumprindo a humilde tarefa de entregar em mãos a misericórdia de Srila Prabhupada. Isso me fez orar ao Senhor Krishna para que me mantivesse sempre a serviço do Seu devoto puro, vida após vida.
Tudo esse preâmbulo serviu para nos encaminharmos gradualmente ao tema central deste artigo, a saber, para alistarmo-nos numa missão de qualquer ordem que for, é preciso entendermos quais são os fundamentos que norteiam a atividade da mesma no mundo, para assim, ao integrarmos o quadro de seus agentes, termos uma consciência compatível aos ideais que ela difunde. A este respeito, encontrei uma fala de Srila Prabhupada em seu prefácio a sua edição impar do Bhagavad-gita, em que delineia claramente a ajuda beneficente oferecida pelo movimento da consciência de Krishna, à humanidade em geral. Irei dividir esta fala em duas pequenas sentenças entorno das quais me proponho aprofundar minha própria compreensão da missão de Srila Prabhupada, na forma de curtíssimas meditações e compartilhar isso com você, querido leitor.
“As pessoas em geral, especialmente nesta era de Kali, estão sob o encanto da energia externa de Krishna, e pensam que, com a melhora dos confortos materiais, todos serão felizes. Elas não têm nenhum conhecimento de que a natureza material, ou a natureza externa, é muito forte, pois todos estão firmemente atados às estritas leis da natureza material...”
Devemos perceber que assim como primavera, verão, outono e inverno imprimem certo colorido e qualidade ao ano, a manifestação cósmica material temporária se expressa ciclicamente através de quatro eras ou yugas, assim temos, a satya-yuga, treta-yuga, dvapara-yuga e por fim a kali-yuga. Se na satya-yuga, as pessoas de outrora estavam firmemente situadas em sua relação amorosa com o Senhor Supremo Krishna, a medida que as eras vão se sucedendo, este vinculo vai se deteriorando até atingir sua pior expressão na kali-yuga. Este momento que estamos vivenciando atualmente, a era das desavenças, em que somos na grande maioria, arrastados para uma vida hedonista, baseada na gratificação total e irrestrita dos sentidos, sofrendo inúmeras dores materiais, totalmente esquecidos de nossa relação com Deus. Completamente ciente desta condição lastimável das entidades vivas, Srila Prabhupada sabia que a libertação delas das leis coercivas da natureza material dependia muito da perfeição do seu conhecimento. Portanto, ele queria que todos fossem treinados de modo a se situarem acima da influência dos modos da natureza material (bondade, paixão e ignorância) que condicionam o ser vivo a esta existência material.
“...Em sua posição feliz original, a entidade viva é parte integrante do Senhor, e portanto sua função natural é prestar serviço ao Senhor. Sob o encanto da ilusão, as diferentes formas de entidades vivas tentam ser felizes buscando satisfazer os próprios sentidos, mas isto nunca as fará felizes. Em vez de satisfazer os próprios sentidos, a pessoa deve procurar satisfazer os sentidos do Senhor. Esta é a perfeição máxima da vida. O Senhor quer e exige isto. Deve-se entender este ponto central do Bhagavad-gita. Nosso movimento da consciência de Krishna está ensinando ao mundo inteiro este ponto central...”
Srila Prabhupada estava absolutamente certo de que o conhecimento perfeito além de libertar-nos da vida condicionada, proporciona o resgate de nossa consciência original, como partes integrantes e servas eternas do Senhor Supremo Krishna. Por isso, estabeleceu de forma autorizada, a sua sociedade internacional da consciência de Krishna, em cima dos perenes ensinamentos do Bhagavad-gita, cuja essência se resume na máxima acima enunciada: Em vez de satisfazer os próprios sentidos, a pessoa deve procurar satisfazer os sentidos do Senhor. Portanto, para alistarmo-nos na missão de Srila Prabhupada, e capacitarmo-nos adequadamente, é preciso entendermos que esta missão se alicerça resumidamente em duas pilastras:
1. Treinar sistematicamente as pessoas em geral na aquisição de um conhecimento perfeito conforme ensinado no Bhagavad-gita e no Srimad-bhagavatam, capaz de libertá-las do jugo da natureza material;
2. E ocupá-las no serviço devocional ao Senhor, resgatando sua consciência original, para assim poderem se lembrar de sua posição constitucional como partes integrantes e servas eternas da Suprema Personalidade de Deus, Sri Krishna.
HARE KRISHNA

segunda-feira, 2 de abril de 2007

Abrandando o Enredamento da Existência Material

Abrandando o Enredamento da Existência Material
Por Bir Krishna Das (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização – IBAR. Uberaba, MG. 23/02/2007.

Nesses dias de inicio de ano, vinha meditando sobre o quanto, eu estava ainda mergulhado em consciência material e como é de fato difícil livrar-se de tal condicionamento. Dei-me conta que após sete anos de uma entusiasta sadhana-bhakti (fase pratica do cultivo da devoção ao Senhor Krishna), ainda muito pouco havia suplantado desta consciência mundana – de querer assenhorear-me de todos os recursos a minha volta para meu próprio desfrute sensorial. O que me impedia de certa maneira de me situar de modo mais efetivo em consciência de Krishna (ou divina) que ao contrario da consciência mundana, impulsiona-nos a usar tudo para satisfação da Pessoa Suprema, Sri Krishna. Ademais, percebia nitidamente o quanto esta consciência mundana não me permitia lembrar e perceber Krishna em todas as coisas com as quais entrava em contato.
Mas, ocupando-me regularmente em krishna-katha (a audição dos passatempos transcendentais do Senhor Krishna), obteve pela misericórdia de Krishna uma resposta a minha meditação. O Senhor Krishna mostrou-me que seu discípulo e amigo Arjuna havia tido a mesma preocupação – isto é, como perante a uma atmosfera que leva a grande maioria das pessoas a pensar materialmente como podia ele lembrar de Krishna? Na realidade, como disse Srila Prabhupada: “A esta altura do seu colóquio com o Senhor Krishna, Arjuna estava convencido de que seu amigo, Krishna, é a Divindade Suprema, mas ele queria conhecer o processo geral pelo qual o homem comum pode perceber a onipresença do Senhor”. Assim, Arjuna disse:
katham vidyam aham yogims
tvam sada paricintayan
kesu kesu ca bhavesu
cintyo si bhagavan maya
(Bg. 10.17).
“Ó Krishna, ó místico supremo, como devo pensar constantemente em Ti, e como devo conhecer-Te? Quais as Tuas varias formas que devem ser lembradas, ó Suprema Personalidade de Deus?”. Logo no inicio do seu significado para este verso, Srila Prabhupada alerta-nos que a Suprema Personalidade de Deus, Sri Krishna é coberta por Sua yoga-maya (energia ilusória) e só as almas rendidas e os devotos puros podem vê-lo. Essas palavras logo remeteram-me a uma maravilhosa oração do Sri Isopanishad, onde o devoto implora fervorosamente a misericórdia do Senhor para que levante o véu (tejah – refulgência) que lhe cobre o semblante, dando-lhe olhos de ver.
pusann ekarse yama surya prajapatya
vyuha rasmin samuha
tejo yat te rupam kalyana-tamam
tat te pasyami yo sav asau purusah so ham asmi
(Sri Isopanishad, mantra 16).
“Ó meu Senhor, filósofo primordial, mantenedor do Universo, ó principio regulador, destino dos devotos puros, benquerente dos progenitores da humanidade, por favor, remove essa refulgência, teus raios transcendentais, para que eu possa ver Tua forma de bem-aventurança. O Senhor é a Suprema Personalidade de Deus eterna, parecida como o Sol, como eu”. Essa oração me apontou nitidamente a posição que devia adotar para abrandar minha mentalidade materialista crassa. Abrandar, segundo o dicionário Aurélio, significar dizer tornar brando, suavizar, amolecer. Usei essa palavra no titulo deste artigo para lembrar a mim mesmo o quanto este enredamento na existência material é forte, e, dar-me conta que libertar-se do mesmo é um processo gradativo e suave e que acima de tudo devemos contar com a misericórdia de Krishna, pois, Ele é o senhor desta yoga-maya que se interpõe entre nós e Ele. E, portanto, Krishna pode ordenar a esta senhora impetuosa (yoga-maya) que pare definitivamente de exercer sua força coerciva e ilusória sobre nós.
O fato, neste verso do Bhagavad-gita, objeto deste artigo, que deve merecer a nossa apreciação, como diz Srila Prabhupada, é que: “estas perguntas de Arjuna são para pessoas mergulhadas em consciência mundana. E que Arjuna sendo um devoto puro se preocupa não só com a compreensão por ele obtida, mas com a compreensão que toda a humanidade pode obter. Então Arjuna, por sua misericórdia, por ser um vaisnava, está desvendando para o homem comum, a compreensão acerca da onipresença do Senhor Supremo”. Alguém poderá perguntar em que consiste esta natureza onipresente do Senhor? Ele mesmo a define nos dois versos finais deste décimo capitulo do Bhagavad-gita.
yad yad vibhutimat sattvam
srimad urjitam eva va
tat tad evavagaccha tvam
mama tejo-mas-sambhavam
(Bg. 10.41).
“Fica sabendo que todas as criações opulentas, belas e gloriosas emanam de uma mera centelha do Meu esplendor”. E o Senhor Krishna conclui após descrever longamente e em minúcia sua onipresença, onipenetrância, a Arjuna:
atha va bahunaitena
kim jnatena tavarjuna
vistabhyaham idam krtsnam
ekamsena sthito jagat
(Bg. 10.42).
“Mas qual a necessidade, Arjuna, de todo esse conhecimento minucioso? Com um simples fragmento de Mim mesmo, Eu penetro e sustento todo este Universo”. De modo pratico, qual fora então a orientação do Senhor Krishna a Seu amigo e discípulo Arjuna para perceber e apreciar-lhe a Sua onipresença e conseqüentemente suplantar a consciência mundana? Srila Prabhupada resume a orientação do Senhor Krishna do seguinte modo: “Porque não podem compreender Krishna espiritualmente, os materialistas são aconselhados (pelo Senhor Krishna) a concentrar a mente nos elementos físicos para tentarem ver como Krishna manifesta-se nas representações físicas”.
Assim, para abrandar definitivamente meu condicionamento material, passei a apreciar as varias formas que o Senhor Krishna havia apontado a Arjuna para poder se lembrar e pensar nEle constantemente e conseqüentemente conhecê-lo. Portanto, passei a ver o Senhor Krishna no Sol radiante, num belo luar, nas belas chamas do fogo, nas montanhas imponentes, no vasto oceano, na gigantesca figueira-de-bengala, num belo cavalo, na força viva do elefante, na bela serpente, no senhor dos mares, o temido tubarão, em todos os rios, principalmente o Ganges, na realeza do leão, na singularidade de cada estação do ano, na morte que tudo devora, no sexo que procria, na linguagem afável, memória, inteligência, firmeza e paciência das mulheres. Por saber que o Senhor Krishna é tudo isso, mas principalmente por ouvi-lo dizer: yajnanam japa-yajno smi (Bg. 10.25) – “Dos sacrifícios, sou o cantar dos santos nomes (japa)”, eu continuo ocupando-me em sadhana-bhakti, cantando hare krishna, hare krishna, krishna krishna, hare hare/ hare rama hare rama, rama rama, hare hare, na certeza que no devido tempo, pela graça do Senhor, o condicionamento material que agora me parece intransponível e exerce uma pressão muito grande sobre mim será mitigado e já não terá mais influência em minha vida.
HARE KRISHNA

Seguir os Passos dos Acharyas Anteriores


Seguir os Passos dos Acharyas Anteriores
Por Bir Krishna Prabhu (DVS), Facilitador do Instituto Bhaktivedanta para Auto-Realização – IBAR. Uberaba, MG. 23/03/2007.


O acharya, através do seu próprio exemplo de vida, ensina a sua realização pessoal da verdade absoluta – Deus. Como bem salienta o ditado popular, mais vale um exemplo do que mil palavras. Srila Rupa Goswami em seu Upadeshamrta – um pequeno manual de instrução para o aspirante à senda espiritual, recomenda sato-vrtteh, seguir os passos dos acharyas anteriores. A este respeito, Srila Prabhupada costumava sempre alertar, seguir o acharya, não significa imitá-lo. Com isso, Srila Prabhupada incentivava todos a buscarem compreender a natureza essencial da realização espiritual do acharya. No Bhagavad-gita, o próprio Senhor Krishna aponta diversos desses aspectos. Mas dentro dos limites deste artigo, me contentarei em apresentar apenas um deles, o que será suficiente para posicionar-nos corretamente na operacionalização desta recomendação escritural - sato-vrtteh. Neste caso, o que seguir e como seguir? Assim, o Senhor Krishna declara:
vita-raga-bhaya-krodha
man-maya mam upasritah
bahavo jnana-tapasa
puta mad-bhavam agatah
(Bg. 4.10).
“Estando livre do apego, do medo e da ira, estando plenamente absortas em Mim e refugiando-se em Mim, muitas e muitas pessoas no passado purificaram-se através do conhecimento a respeito de Mim – e com isso todas alcançaram transcendental amor por Mim”. Trocando isso em miúdos, para buscarmos compreender como salientado anteriormente os aspectos fundamentais da realização espiritual do acharya, é preciso entender que semelhante grande alma é:
1. desapegada, isto é, está sempre situado além do conceito de vida corpóreo que deixa a grande maioria de nos identificados e confusos, ansiando o tempo todo por coisas materiais;
2. destemida, porque confia plenamente na proteção do Senhor Krishna em todas as circunstâncias;
3. firmemente situado além do jugo da ira e seus correlatos que a psicologia moderna chama das paixões irracionais como inveja, luxuria, gula, preguiça etc, denominados na teologia cristã como os sete pecados capitais;
4. constantemente absorta e busca sempre refugio no santos nomes do Senhor – hare krishna, hare krishna, krishna krishna, hare hare/ hare rama hare rama, rama rama, hare hare, meditando neles vinte quatro horas por dia.
Por ter a vida alicerçada nestes quatro aspectos, o acharya ergue-se à plataforma última de auto-realização, alcançando perfeito e pleno conhecimento acerca da Suprema Personalidade de Deus, Sri Krishna, e absorve-se em amor puro a Ele. Isso resume para nós, o que seguir e como seguir o exemplo de vida do acharya. Para nos auxiliar nesta empreitada, Srila Rupa Goswami, em seu famoso compendio Bhakti-rasamrta-sindhu (1.4.15-16), a ciência do serviço devocional aponta a escada que conduz a realização de Deus cujos degraus são estes, comentados pessoalmente por Srila Prabhupada:
* sraddha ( fé ), no começo, é preciso ter um desejo preliminar de auto-realização;
* sadhu-sanga (associação), com isto, o indivíduo sentir-se-á inclinado a associar-se com pessoas espiritualmente elevadas;
* bhajana-kriya (iniciação), na fase seguinte, ele é iniciado pelo mestre espiritual elevado, e, sob a sua instrução, o devoto neófito começa o processo do serviço devocional;
* anartha-nivrtih (purificação), pela execução do serviço devocional sob a orientação do mestre espiritual, ele se livra de todo o apego material;
* nistha (estabilidade), assim alcança firmeza na auto-realização;
* ruci (sabor), e adquire gosto por ouvir sobre a Absoluta Personalidade de Deus, Sri Krishna;
* saktis (apego), este gosto continua propiciando o seu avanço, e ele então desenvolve apego à consciência de Krishna;
* bhava (êxtase), este apego ao amadurecer, manifesta-se em constante absorção nesta fase preliminar do transcendental amor a Deus;
* prema (amor puro), o verdadeiro amor por Deus chama-se prema, a mais elevada etapa de perfeição de vida. Na fase prema, há uma constante ocupação no transcendental serviço amoroso ao Senhor. Então, pelo prolongado processo do serviço devocional, sob a instrução do mestre espiritual autêntico, é possível alcançar a fase mais elevada, livrando-se de todo o apego, deixando de ter medo de adquirir a sua própria personalidade espiritual individual e eliminando as frustrações que resultam em filosofia vazia. Então, atinge-se por fim a morada do Senhor Supremo.
Srila Prabhupada trilhou este caminho como acharya, apesar de ser uma alma eternamente liberada que adveio só para incutir em nossos corações krishna-prema, amor puro a Suprema Personalidade de Deus, Sri Krishna. Srila Prabhupada, para nos deixar como legado, o seu próprio exemplo de vida, percorreu degrau por degrau esta escada apontada por Srila Rupa Goswami sob a cuidadosa orientação de Sua divina Graça Om Vishnupada Paramahamsa Parivrajacacharya Astottara-sata Sri Srimad Bhaktisiddhanta Sarasvati Goswami Maharaja Prabhupada. Portanto, cantemos um hino a seu louvor, seguindo-lhe sempre os passos, e assim sermos bem sucedidos no caminho de volta ao Supremo.
nama om vishnu-padaya krsna-presthaya bhuta-le
srimate bhaktivedanta-svamin iti namine
namas te sarasvate deve goura-vani-pracharine
nirvisesha –sunyavadi-paschatya-desha-tarine
“Ofereço minhas respeitosas reverências à Sua Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupada, que é muito querido pelo Senhor Sri Krishna, pois se refugiou em Seus pés de lótus. Dirigimos a ti nossas respeitosas, ó mestre espiritual, servo de Sarasvati Goswami. Estás bondosamente pregando a mensagem do Senhor Chaitanyadeva e libertando os países
ocidentais, que estão cheios de impersonalismo e niilismo”.
HARE KRISHNA